Verinotio - Revista on-line de Filosofia e Ciências Humanas. ISSN 1981-061X. ano XV. jul./dez. 2020. v. 26. n. 2
Gabriel Martins Furquim
Mauro Cardoso Simões
Milena Pavan Serafim
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condições para a exploração. O que quer dizer que, “induzindo e promovendo
as migrações, o capital estaria produzindo e controlando a oferta de força de
trabalho em mercados distintos” (GOMES, 2009, p. 42). Até porque o
desenvolvimento da acumulação capitalista depende de instrumentos para
aumentar ou diminuir a oferta de força de trabalho, entre os quais o controle
migratório, como sustenta, de forma mais ampla, David Harvey:
O progresso da acumulação depende e pressupõe: 1) a existência de
um excedente de mão-de-obra, isto é, um exército de reserva in-
dustrial, que pode alimentar a expansão da produção. Portanto,
devem existir mecanismos para o aumento da oferta de força de
trabalho, mediante, por exemplo, estímulo ao crescimento popula-
cional, a geração de correntes migratórias, a atração de elementos
latentes – força de trabalho empregada em situações não-
capitalistas; mulheres, crianças etc. – para o trabalho, ou a criação
de desemprego pelo uso de inovações que poupam trabalho.
(HARVEY, 2005, p. 44)
As formas de controle e de restrições aos fluxos migratórios, portanto,
que determinam a mobilidade dos sujeitos de direito, suportes da mercadoria
força de trabalho, são funcionais à dinâmica do capitalismo. Significa isso que
são uma condição estrutural, implicada pela força de trabalho e pela
acumulação do capital, “da qual emerge a mobilidade populacional”
(BRUMES; SILVA, 2011, p. 125).
Há, nesse sentido, a constituição de um excedente que, por
conseguinte, favorece melhores condições para exploração, como a
manutenção de salários baixos, comprimindo-o “dentro dos limites
favoráveis à produção de mais-valor” (MARX, 2017, p. 809).
Mantém-se, desta forma, uma superpopulação, um exército de reserva,
ou seja, “um excesso de população em relação às necessidades momentâneas
de valorização do capital, embora esse fluxo populacional seja formado por
[sujeitos, em nossa leitura] que se substituem uns aos outros rapidamente”
(MARX, 2017, p. 341), com objetivo de manter as condições de exploração,
senão também na manutenção do nível dos salários. Com isso, esta população
trabalhadora excedente é indispensável, como condição de existência, para
acumulação e desenvolvimento do capital, na medida em que “fornece a suas
necessidades variáveis de valorização o material humano sempre pronto para
ser explorado" (MARX, 2017, p. 707)
Em última instância, a mobilidade do trabalho tende a minimizar a
queda da taxa de lucro, o que garante o funcionamento do capital. Significa
isto a sustentação de uma contratendência desta queda, na medida em que
possibilitaria uma crescente taxa de exploração do trabalho, redução dos
custos dos meios de produção, aumento do exército industrial de reserva de
mão de obra e novas formas de produção com trabalho intensivo (HARVEY,
2011, p. 82). Discorrendo sobre este papel de enfrentamento da queda
tendencial da taxa de lucro, Gaudemar pontua que a “mobilidade do trabalho