Verinotio - Revista on-line de Filosofia e Ciências Humanas. ISSN 1981-061X. ano XV. jan./jun. 2020. v. 26. n. 1
Miguel Vedda
14
daqueles que se subordinam imediatamente ao capital comercial, financeiro
ou portador de juros não é produtivo, mas é essencial para a reprodução do
modo de produção capitalista, a burguesia promove um alargamento acrítico
do termo trabalho produtivo, distanciando-o do operário de cuja força de
trabalho é extraído o mais-valor e aproximando-o dos funcionários da
maquinaria estatal, do que se poderia chamar de setor de serviços, dos
rentistas da terra etc. Sartori chama a atenção para o fato de que o crescimento
do trabalho improdutivo é o resultado também do aumento da produtividade
do trabalho e dos “diversos liames novos que acompanham tal incremento”,
destacando-se aí o adensamento de camadas com maior grau cultural e ligadas
somente de modo mediado ao processo imediato de produção (inventores,
médicos, juristas) que realizam um trabalho intelectual ao mesmo tempo
subordinado à produção capitalista e mantendo para com seu processo
imediato certa autonomia relativa. Conclui que o desenvolvimento científico
abre possibilidades para as capacidades humanas que não se realizam na
produção capitalista, por não caberem na medida do valor, e que a pauta do
trabalho não é uma sociabilidade calcada no trabalho produtivo (e, portanto,
na valorização do valor), mas uma em que o tempo livre é medida de riqueza.
O artigo A particularidade da constituição do capitalismo alemão em
Marx: algumas passagens dos anos 1840, de Vladmir Luis da Silva, realiza uma
análise imanente de textos marxianos da década de 1840, com foco nas
observações marxianas sobre seu país natal, a Alemanha, tema constante,
ainda que não tratado diretamente, em diversas obras do período: é que o
pensador alemão buscava no modo particular de constituição do capitalismo o
núcleo estruturador das múltiplas configurações espirituais e práticas, donde
o debate sobre a particularidade do capitalismo alemão estar tratado, em
diferentes níveis de aprofundamento, nos textos desse período de constituição
da própria posição teórica e de crítica da filosofia especulativa alemã. O
diagnóstico marxiano acerca das condições particulares de desenvolvimento
da Alemanha não passa por mudanças no período, de acordo com o autor,
conhecendo, porém, um aprofundamento e um desenvolvimento conforme o
próprio processo histórico se desdobra. Marx sintetiza as condições objetivas
de atraso social e político do país e as debilidades das suas classes sociais
modernas na expressão miséria alemã, à qual contrapõe o processo de
formação dos países de via clássica, como Inglaterra, França e Estados Unidos.
Como observa Silva, porém, a crítica marxiana passa longe dos simplismos,
uma vez que é capaz de apontar a coexistência do atraso e da conciliação com
a modernidade no campo teórico, no qual a Alemanha alcançou o máximo
nível de desenvolvimento possível ao pensamento burguês. Bem assim, ao
criticar a miséria alemã Marx não faz a defesa dos países capitalistas então
mais avançados, mas demonstra também as suas contradições (como o caráter