DOI: 10.36638/1981-061X.2020.v26.584
Lucas Parreira Álvares
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Engels, etnógrafo do capitalismo?
Lucas Parreira Álvares
1
Resumo: O presente artigo tem por objetivo contrapor as formulações que
advogam em defesa da posição de que A situação da classe trabalhadora na
Inglaterra é uma obra fruto de uma investigação “etnográfica”. Para tanto,
através de uma análise imanente investigaremos o processo de pesquisa que
permeou a produção desta obra de Engels e seus textos suplementares. O
argumento é que embora seja possível extrair desta obra certos elementos
semelhantes às etnografias contemporâneas, o ato de reduzir a obra A situação
da classe trabalhadora na Inglaterra nesses marcos implica em uma traição
aos próprios pressupostos da investigação de Engels.
Palavras-chave: Etnografia; capitalismo; Friedrich Engels; observação
participante.
Engels, capitalism's ethnographer?
Abstract: The purpose of this article is to oppose the formulations that
advocate in defense of the position that The condition of the working class in
England is a work resulting from an “ethnographic” investigation. Therefore,
through an immanent analysis we will investigate the research process that
permeated the production of this work by Engels and its supplementary texts.
The argument is that although it is possible to extract from this work certain
elements similar to contemporary ethnographies, the act of reducing the work
The situation of the working class in England in these milestones implies a
betrayal of the very assumptions of Engels' investigation.
Keywords: Ethnography; capitalism; Friedrich Engels; participant
observation.
Em novembro de 1842, Friedrich Engels parte da Alemanha para a
Inglaterra com uma missão inusitada para aquele jovem que arriscava alguns
traços poéticos e estava bastante envolvido com os círculos intelectuais
alemães. Sua ida ao país anglicano tinha como justificativa um estágio na
empresa Ermen & Engels, uma fábrica de algodão cujo nome revela a
associação de sua família. Mais que um “estágio”, tratou-se de um momento
1
Doutorando em antropologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). E-mail:
lucasparreira1@gmail.com.
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decisivo no itinerário intelectual de Engels: nos 21 meses em que fez parte da
empresa, acentuou consideravelmente seus estudos e pôde viver de perto as
intempéries que envolviam os trabalhadores da produção fabril. Como
resultado de suas investigações e observações, publicou uma obra capaz de
desnudar os segredos da ordem capitalista, levar a público dimensões
concretas da sociabilidade vigente e compartilhar com outros trabalhadores a
necessidade de superação da sociedade adjetivada por aquele modo de
produzir. Nascia, em 1845, A situação da classe trabalhadora na Inglaterra.
A composição desta obra e textos a ela complementares, impõe alguns
caminhos que contribuem para sua apreensão. O corpo do texto em si, onde é
exposta a investigação de Engels é apenas uma de suas faces. O livro foi
originalmente escrito em alemão, mas no mesmo ano de sua primeira
publicação, Engels escreveu um texto suplementar direcionado aos
trabalhadores ingleses: impresso de maneira externa ao corpo do texto, a
dedicatória Às classes trabalhadoras da G-Bretanha” foi enviada a partidos,
movimentos de trabalhadores e políticos. Nela, alguma dimensão do
interesse de Engels com sua obra; o público a que ela se dirige; e as intenções
que estão nela subjacentes. Também, os prefácios de Engels às edições
estadunidense (1887), inglesa (1892) e alemã (1892), oferecem materiais que
possibilitam a análise sobre as particularidades existentes nesta importante
investigação. Desse modo, a investigação que aqui se inicia terá como
referência primária o corpo do texto original de Engels e os demais materiais
suplementares que contribuem para entendimento do todo.
A situação da classe trabalhadora na Inglaterra é uma obra que
provocou constantes disputas metodológicas. Em função das
particularidades que constituem sua investigação, o caráter informativo e
analítico desta obra a coloca em uma posição “seminal” para a história
econômica, a sociologia e uma série de ciências humanas e sociais aplicadas
surgidas ou repaginadas ao longo do século XIX (COTRIM; SOUZA, 2018, p.
15). Com o desenvolvimento das ciências parcelares, diversos intérpretes
tentaram reivindicar para si a fração de Engels que cabia a seus respectivos
campos de conhecimento. Não bastasse o balizamento nos marcos
disciplinares, o objetivo passou a ser a categorização desta obra complexa no
interior de subcampos acadêmicos. Desde então, A situação da classe
trabalhadora na Inglaterra foi anunciada como uma obra de “sociologia
urbana” (cf. RIBEIRO, 2019), e frequentemente é tida como a primeira
“etnografia urbana” (cf. PATTERSON, 2014; MAGUBANI, 1985;
KATZNELSON, 1992).
O objetivo deste artigo é contrapor as formulações que advogam em
favor da posição de que A situação da classe trabalhadora na Inglaterra é um
trabalho etnográfico. Para tanto, centraremos nossa investigação no processo
que envolveu a produção desta obra de Engels e seus textos suplementares. A
partir das determinações contidas nesta importante obra, levaremos adiante
algumas proposições que podem se tornar um convite para uma resposta às
associações enunciadas que ainda provocam inquietações àqueles que
tentaram desvendar as razões e os limites investigativos de um dos principais
pensadores do século XX e que possui, em sua biografia, contribuições
inestimáveis que constituem versos da “poesia do futuro”.
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O primeiro destino de nosso breve itinerário anunciado corresponde ao
entendimento de algumas especificidades da investigação de Engels que
culminou na obra A situação da classe trabalhadora na Inglaterra.
No fatídico “Prefácio” à Contribuição à crítica da economia política, um
dos mais citados textos de Karl Marx e onde se encontra alguma de suas
citações célebres” - como ironizava Althusser - o autor diz que “não se julga o
indivíduo pela ideia que de si mesmo faz” (MARX, 2008, p. 48). Pede
passagem uma investigação que confronte esta citação de Marx aos
pressupostos da pesquisa etnográfica, mas o intuito de trazer tal “citação
célebre” neste momento é o cometimento de uma aparente heresia: apresentar
o que Engels disse de seu próprio trabalho. Mas isso, não de maneira descolada
de sua investigação, mas sim, pela confrontação do que ele diz fazer com o que
de fato fez.
Ao falar de sua própria obra, Engels reflete sobre adjetivações de sua
pesquisa, suas intenções e até mesmo algumas questões pessoais que
atravessaram seu trabalho. É momento de investigarmos três dimensões que
comportam a pesquisa de Engels que culminou com a obra em questão. São
elas: 1) a pesquisa de documentos oficiais e não oficiais; 2) a pesquisa por
observação e relação direta; 3) a dimensão moral suscitada pela experiência de
campo.
Durante 21 meses, tive a oportunidade de conhecer de perto, por
observações e relações pessoais, o proletariado inglês, suas
aspirações, seus sofrimentos e suas alegrias ao mesmo tempo em
que completava minhas observações recorrendo às necessárias
fontes originais. Tudo que vi, ouvi e li está reelaborado neste livro.
(ENGELS, 2010, p. 41)
Logo no seu prefácio, Engels nos brinda com algumas informações de
sua investigação. A primeira delas é que sua experiência junto aos
trabalhadores da fábrica Ermen & Engels durou 21 meses, ou seja, quase dois
anos inteiros. As documentações que comprovam a estadia de Engels em
Manchester entre novembro de 1842 ao fim de agosto de 1844 coincidem com
o período no qual o autor afirma ter pesquisado a condição do trabalho e dos
trabalhadores na fábrica inglesa.
A observação ofereceu ao trabalho de Engels uma adjetivação singular
frente a outras investigações anteriores (cf. PARKINSON, 1841; GASKELL,
1833) que tentaram, cada qual a seu modo, apreender os nexos entre os quais
os trabalhadores ingleses eram envolvidos. No entanto, Engels não propõe
uma primazia da observação frente a outras formas de investigação. Por isso
assumiu que ao mesmo tempo em que sua relação com os operários produzia
informações imediatas, era fundamental recorrer às “necessárias fontes
originais” para completar suas observações.
Nesse aspecto, uma correspondência íntima entre o que Engels diz
de sua obra e o que ele de fato fez. Engels dispôs de uma série de informações
de origem concreta e estatística. Se orientando por investigações anteriores e
por uma série de documentos oficiais (como “relatórios sobre a condição de
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mulheres e crianças na atividade agrícola”, “relatórios sobre a condição
sanitária dos trabalhadores ingleses” etc.), pôde se utilizar de materiais
quantitativos acerca do número de prisões por crimes penalmente qualificados
entre 1805 e 1842 (ENGELS, 2010, p. 168), o aumento considerável da
exploração nas minas de carvão (ENGELS, 2010, p. 56), e a densidade
demográfica nos principais distritos industriais (ENGELS, 2010, p. 53);
também se utilizou de métodos cartográficos, desde uma antiga planta de
Manchester que denunciava as falibilidades de sua arquitetura urbanística
(ENGELS, 2010, pp. 87-92), até mapas que orientavam o cálculo da ventilação
ou da ausência desta nas residências operárias (ENGELS, 2010, pp. 98-9).
A profundidade da investigação de Engels revela uma versatilidade
notável deste autor no tratamento dos mais variados recursos à sua disposição.
É interessante perceber que Engels demonstra um apetite insaciável pelas
implicações que, no decorrer desses quase dois anos inteiros, sua investigação
suscitou. A imprevisibilidade é sempre um elemento presente nas pesquisas de
campo, e provavelmente Engels certamente não devia antever que a
“ventilação das residências operárias” fosse um dos aspectos relevantes que
sua investigação enunciaria. É comum que os escopos de pesquisas sejam
alterados em razão das dinâmicas colocadas no campo, e a convivência com os
operários, em seus mais distintos recintos, impôs a ele uma necessidade de se
aprofundar em algo que estava geograficamente distante da linha de
montagem, mas que intercedia diretamente na condição de saúde do
trabalhador fabril.
Pode parecer inusitado insistir nesse argumento, mas subjacente a ele
encontra-se adjetivações que compõe a especificidade de sua pesquisa. Engels
percebeu com primazia que “todas as grandes cidades têm um ou vários
‘bairros de má fama’ onde se concentra a classe operário” – o que, a propósito,
evidencia a associação entre a expansão de agrupamentos urbanos frente à
incidência da produção capitalista. Duas das “grandes cidades” por meio das
quais Engels se utilizou como exemplo ilustrativo são Londres e Manchester,
no entanto, a exposição de sua obra revela que o tratamento dado por esse
autor a essas cidades foi distinto. Vejamos, portanto, como Engels lida com a
ventilação nos bairros operários em Londres em comparação com o modo que
lida nas residências de Manchester.
Referente a capital inglesa, Engels demonstra que “a ventilação na área
[residências operárias] é precária, dada a estrutura irregular do bairro e, como
nesses espaços restritos vivem muitas pessoas, é fácil imaginar a qualidade do
ar que se respira nessas zonas operárias” (ENGELS, 2010, p. 70) não é de se
espantar que o bairro com o qual Engels se utilizou de recurso ilustrativo fosse
conhecido como “ninho dos corvos” [rookery]. ao se referir a Manchester,
após fazer uma extensa descrição das condições precárias da residência dos
operários, Engels confessa: “relendo a descrição que apresentei, devo
confessar que, longe de ser exagerada, é muito débil para evidenciar a
imundície, a degradação e o desconforto dessa área que abriga, pelo menos,
entre 20 e 30 mil habitantes” e que sua “estrutura urbana é um desafio a
qualquer princípio de ventilação, salubridade e higiene”. Logo em seguida,
completa: “Basta vir até aqui para saber de quão pouco espaço para mover-se,
de quão pequena quantidade de ar e que ar! para respirar necessitam os
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homens e em que tão baixo nível de civilidade eles podem sobreviver quando
obrigados pela necessidade” (ENGELS, 2010, pp. 95-6).
Com as informações sobre as condições precárias das habitações
urbanas em Londres e a baixa circulação de ar nos bairros operários, Engels,
que se dispôs de dados estatísticos e cartográficos para apresentar tal
conclusão, afirma que “é fácil imaginar a qualidade do ar que se respira nessas
zonas operárias”. Diferente do ar dos bairros operários de Manchester, cujo
tratamento é distinto: “basta vir até aqui para saber /.../ quão pequena [é a]
quantidade de ar e que ar!”. Ou seja, diferente daquele, este ar Engels
respirou, e por meio dos apetites da sensibilidade pôde extrair conclusões
sobre a péssima condição do ar que os operários respiram em seus ambientes
de morada “e que ar!”.
A consulta aos dados estatísticos, através dos documentos oficiais,
parecia não corresponder à dimensão das pretensões e expectativas de Engels.
Insaciável, a diferença entre o tratamento dado à circulação de ar nos
diferentes bairros operários revela como a observação de Engels contribuiu
para o desenvolvimento de sua pesquisa e a consequente investigação. Nas
palavras do autor, em uma dedicatória redigida para os próprios trabalhadores
ingleses que foram seus interlocutores de pesquisa, Engels afirma que A
situação da classe trabalhadora na Inglaterra é
uma obra na qual me esforcei por apresentar aos meus compatriotas
alemães um quadro fiel de vossas condições de vida, de vossos
sofrimentos e lutas, de vossas esperanças e perspectivas. Vivi entre
vós tempo bastante para alcançar o conhecimento de vossas
condições de existência, às quais consagrei a mais séria atenção,
examinando os inúmeros documentos oficiais e não oficiais que tive
a oportunidade de consultar. Contudo, não me contentei com isso:
não me interessava um conhecimento apenas abstrato de meu tema
eu queria conhecer-vos em vossas casas, observar-vos em vossa
vida cotidiana, debater convosco vossas condições de vida e vossos
tormentos; eu queria ser uma testemunha de vossas lutas contra o
poder social e político de vossos opressores (ENGELS, 2010, p. 37).
certa modéstia nessa afirmação de Engels, pois ele definitivamente
não foi apenas uma testemunha” das condições de vida e das lutas dos
operários contra o poder opressivo. Ele participou avidamente dos meios de
vida e de trabalho dos operários. A presença deste autor nos bairros pobres de
Manchester é apenas um exemplo de que ele realmente conviveu de perto com
seus interlocutores através de observações e relações sociais. Em suma, a
posição de Engels sobre sua pesquisa corresponde, mais uma vez, ao que ele
efetivamente fez.
um contraste entre a vida que levava na Alemanha em comparação
à que passou a ter na Inglaterra. Nos enleios de uma família bem afortunada,
pôde frequentar na infância um ginásio de ótima reputação; sempre esteve
diante de círculos artístico e intelectuais e, mesmo que desde jovem tenha
manifestado certas resistências a seus meios de vida, não deixou de receber de
seus progenitores uma solicitude constante e preocupada, fruto, por óbvio, do
fato de que Engels era o herdeiro designado da atividade empresarial da
família (STEDMAN-JONES, 1979, p. 388). Era de se esperar que o ato de
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frequentar espaços distintos daqueles que normalmente compunham seu
cotidiano destilasse espanto à sua família.
uma dimensão do afeto que também perpassa a investigação de
Engels. Os quase dois anos de pesquisa junto aos trabalhadores da fábrica
Ermen & Engels representava uma renúncia à vida que tinha à sua disposição,
que pode ser entendida também como um acerto de contas com seu passado.
Eis como procedi: renunciei ao mundanismo e às libações, ao vinho
do Porto e ao champanhe da classe média, e consagrei quase
exclusivamente minhas horas vagas ao convívio com simples
operários e estou, ao mesmo tempo, feliz e orgulhoso por ter agido
assim. Feliz, porque vivi muitas horas alegres dedicando-me a
conhecer vossa verdadeira existência, horas que, de outro modo,
seriam dissipadas em conversas fúteis e em cerimônias entediantes;
e orgulhoso, porque desse modo pude fazer justiça a uma classe de
homens oprimidos e caluniados e à qual, apesar de todos os seus
defeitos e de todas as dificuldades de sua situação, só podem recusar
estima aqueles que têm alma de negociante inglês; orgulhoso,
também, porque assim tive oportunidade de defender o povo inglês
do inelutável e crescente desprezo produzido no continente pela
política brutalmente egoísta, bem como pela conduta geral, de vossa
classe média dominante. (ENGELS, 2010, p. 37)
A experiência vivida em campo pode significar o divisor de águas sobre
como o pesquisador se enxerga no mundo. O compromisso com a investigação,
e consequentemente com os interlocutores, “é importante para conhecer as
pessoas intimamente, ver e compreender os conflitos e contradições entre eles
e, o mais importante, desafiar nossas próprias ideias e premissas” (SHAH,
2017, p. 51). Talvez Engels tivesse projetado as consequências que esses
quase dois anos na Ermen & Engels poderiam causar em seu percurso
intelectual e nas suas relações familiares. Mas a renúncia aos vinhos e
champanhes de classe média aparentemente valeram a pena. Conforme
afirmou 40 anos depois de sua primeira estadia naquela cidade, “vivendo em
Manchester, por assim dizer eu pegara com as mãos que os fatos econômicos,
que até então a historiografia desprezara ou menosprezara, constituem uma
força histórica decisiva” e que eles formam a base dos atuais contrastes de
classe” (ENGELS apud STEDMAN JONES, 1979, p. 394). E nesse processo as
visões, os sons e os cheiros tiveram papel decisivo para o aprimoramento de
suas consequentes investidas críticas à economia política, a seu modo e a
contrapelo.
***
O segundo destino de nosso itinerário passa pela delimitação do que
normalmente é conhecido como “pesquisa etnográfica”, prática que,
contemporaneamente, pode ser enunciada como a coluna vertebral do
conhecimento antropológico.
O mais notório exemplo de uma produção etnográfica, cujo alcance
ainda ressoa além das aulas de Introdução à Antropologia, é Argonautas do
Pacífico Ocidental, de Bronislaw Malinowski. A investigação romântica deste
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intelectual nas Ilhas Trobriand arquipélago próximo da costa oriental da
Nova Guiné não é a primeira etnografia sob a órbita do conhecimento
antropológico, mas não dúvidas de que foi consagrada como a mais
influente para as linhagens teóricas que a sucederam.
Quando algum interesse em conhecer o modo de investigação dos
trabalhos clássicos, a “Introdução desta obra de Malinowski é um texto
incontornável. Argonautas foi publicado no ano de 1921, época em que a
antropologia se definia por investigar “sociedades tribais”, “sociedades
primitivas”, “sociedades indígenas” e “sociedades selvagens” termos que
carregavam certa valoração acerca das caracterizações dessas formas sociais.
Na famosa Introdução, onde Malinowski inaugura uma espécie de “padrão
expositivo” das grandes monografias antropológicas, reservando um lugar
reflexivo às experiências metodológicas do antropólogo frente a sua
experiência em campo, este investigador indica que os objetivos da pesquisa
etnográfica podem ser alcançados através de três caminhos:
1. A organização da tribo e a anatomia de sua cultura devem
ser delineadas de modo claro e preciso. O método de
documentação concreta e estatística fornece os meios com
que podemos obtê-la.
2. Este quadro precisa ser completado pelos fatos
imponderáveis da vida real, bem como pelos tipos de
comportamento, coletados através de observações
detalhadas e minuciosas que são possíveis através do
contato íntimo com a vida nativa e que devem ser
registradas nalgum tipo de diário etnográfico.
3. O corpus inscriptionum uma coleção de asserções,
narrativas típicas, palavras características, elementos
folclóricos e fórmulas mágicas deve ser apresentado
como documento da mentalidade nativa. (MALINOWSKI,
1978, p. 33)
Trazendo seus princípios metodológicos a um grau maior de abstração,
Malinowski resume os três diferentes caminhos que se utilizou para a
investigação dos trobriandeses ao afirmar que, “em breves palavras, o objetivo
[da pesquisa etnográfica] é o de apresentar o ponto de vista dos nativos, seu
relacionamento com a vida, sua visão de seu mundo” (MALINOWSKI, 1978,
pp. 33-4). Tal enunciação pode sugerir uma falibilidade da teoria frente ao
trabalho etnográfico de campo, mas Malinowski (1978, p. 23) assegura que
não, pois “o pesquisador de campo depende inteiramente da inspiração que lhe
oferecem os estudos teóricos”.
É claro que quando pensamos no contexto dos trobriandeses do
princípio do século XX, as categorias utilizadas por Malinowski sob influência
de seu trabalho de campo não correspondem aos dilemas do capitalismo inglês
investigado por Engels. Malinowski trabalhou com uma forma social cujo
“tempo de trabalho socialmente necessário” não atingia um terço das fábricas
inglesas; uma sociedade onde não podia existir movimento operário porque
sequer existia operariado; em que a produção social dos meios de vida era
coletiva e em escala infinitamente menor que aquela desempenhada na grande
indústria da Inglaterra. Em suma, Malinowski investigou a organização social
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dos trobriandeses, e com isso, os elementos que saltaram aos olhos do
antropólogo inglês foram distintos daqueles empreendidos por Engels na
primeira metade do século XIX em uma fábrica inglesa. O etnógrafo se
interessou pela dinâmica do kula, um sistema de troca intertribal característico
de povos do leste da Nova Guiné; pelo processo técnico de confecção de uma
canoa pelos trobriandeses; pelas expressões mitológicas e cerimoniais daquele
povo; e por outras determinações características e específicas dos nativos das
Ilhas Trombriand.
Os interesses da investigação de Engels eram absolutamente distintos:
ele identificou as condições precárias do proletariado; as dinâmicas
migratórias provocadas pelo trabalho; a relação entre a extração de matéria-
prima, a agricultura e a produção fabril; além, é claro, dos processos de
organização de classe por parte dos movimentos operários frente à sua sujeição
imposta pela burguesia. O objetivo aqui não passa por uma valoração de um
trabalho sobre o outro. Na verdade, queremos enfatizar que, estabelecendo as
devidas mediações, pode parecer que a investigação de Engels “cumpre”, a seu
modo, as diretrizes enunciadas por Malinowski em sua fatídica “Introdução”.
Em A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, Engels: 1)
delineou de modo claro e preciso, com documentação concreta e estatística, a
organização dos operários fabris, seja no contexto de suas dinâmicas de
trabalho ou mesmo nas atividades de organização de classe; 2) não há dúvidas
de que Engels completa o quadro de fontes estatísticas oficiais com os “fatos
imponderáveis da vida real”, que a presença de Engels no cotidiano dos
trabalhadores o possibilitou, levando às últimas consequências seus apetites
sensíveis, um conhecimento aprofundado das condições de vida e de existência
desses operários; 3) e por mais que a terceira diretriz de Malinowski pareça
distante da realidade fabril da Inglaterra do século XIX, podemos notar que a
religiosidade, as crendices e outras expressões subjetivas foram importantes a
Engels, porém, com a razão inversa: Engels percebeu que “o Deus deste mundo
é o dinheiro” (ENGELS, 2010, p. 154) e que na medida em que se acentua a
pobreza dos operários, cresce o desprezo por soluções e respostas místicas.
Até certo ponto, a ilação segundo a qual a pesquisa de Engels cumpre os
requisitos de Malinowski o parece nenhum exagero. Uma investigação
etnográfica no contexto urbano da Inglaterra oitocentista altera o escopo da
“Introdução de Argonautas, mas ainda assim, a condição de Engels frente
àquela “comunidade” de trabalhadores da fábrica Ermen & Engels o propiciou
uma interação sensível a partir da experiência imediata que lhe foi conferida.
Além disso, Engels não reduziu sua investigação à dimensão descritiva:
produziu e coletou dados; acessou documentos; e não fez tábula-rasa do
conhecimento previamente existente, mencionando trabalhos anteriores que
foram caros à sua investigação. O acesso de Engels a espacialidades destinadas
a trabalhadores seja na fábrica ou em ambientes externos, como bares,
moradias e festas o alçou ao chão dos dramas pessoais, das reivindicações,
dos dilemas, e das demais intempéries que orbitavam o cotidiano dos operários
ingleses do século XIX.
No entanto, será que tal aproximação pode significar, por sua vez, que
Engels produziu uma pesquisa etnográfica”? Quais as implicações desse
enquadramento e por que tal associação provoca certo incômodo?
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Por fim, o destino final de nosso breve itinerário será composto por
alguns apontamentos sobre as consequências de enquadramento etnográfico
da obra A situação da classe trabalhadora na Inglaterra, de Friedrich Engels.
Vimos anteriormente que a obra de Engels em questão é distinta frente
às investigações precedentes e documentos oficiais que dispuseram, cada qual
a seu modo, compreender especificidades das dinâmicas capitalistas no
alvorecer da grande indústria. Isso, pois Engels qualificou sua pesquisa não só
com uma admirável e diversa fonte de materiais quantitativos, cartográficos,
oficiais; ele também usufruiu da aptidão sensível da observação e relação junto
a seus interlocutores, o que o propiciou experimentar as sensações e as
dinâmicas que envolviam o operariado fabril naquele contexto. Certas
semelhanças entre a pesquisa de campo realizada por Engels e as
especificidades da etnografia tornaram-se um convite para que alguns
intérpretes advogassem em defesa da posição de que a obra A situação da
classe trabalhadora na Inglaterra pode ser considerada uma pesquisa
etnográfica (cf. PATTERSON, 2014; MAGUBANI, 1985; KATZNELSON,
1992).
Houve uma “inflexão epistemológica”
2
na Antropologia durante as
décadas de 60 e 70 do século XX na qual o “o que pesquisar” cedeu lugar ao
“como pesquisar”. Esta sequer é uma posição oriunda de pensadores marxistas
na Antropologia, mas sim, de um dos mais importantes nomes da antropologia
hegemônica: Clifford Geertz (cf. 2001), responsável por propor uma
“antropologia interpretativa/hermenêutica”, que por sua vez inspirou
diretamente as tradições s-modernas neste campo de conhecimento.
Marcada por investigações sobre formas sociais “primitivas” adjetivo que
corretamente foi extirpado de seu glossário a antropologia passou a se
constituir como uma disciplina cuja razão de ser encontra lugar no seu modo
de investigação: a etnografia e sua indissolúvel “observação participante”.
Essa inflexão epistemológica da antropologia se expressa no fato de que
um campo de saber que tinha sua especificidade assegurada a partir do âmbito
e dos caminhos a serem investigados, passou a guiar-se predominantemente
por um elemento constitutivo do modo pelo qual a pesquisa deve ser realizada.
Essa mudança abriu o leque antropológico sobretudo no tocante às
possibilidades de investigação de nossa própria sociabilidade ocidental e
passou a se distinguir de outros campos das ciências humanas e sociais não
pelo objeto desse campo de conhecimento, mas sim pela suposta especificidade
do trabalho desempenhado pelo antropólogo.
É verdade que não é unânime a posição segundo a qual a antropologia
se reduz à etnografia
3
, mas também é notório como as novas possibilidades
2
Não intentamos, neste artigo, defender ou criticar esse desvio significativo no escopo da
antropologia. Para uma exposição mais atenta sobre o que aqui é chamado de “Inflexão
Epistemológica”, conferir Álvares (2018).
3
Tim Ingold sugere que o objetivo da etnografia é “descrever as vidas de outras pessoas para
além de nós mesmos, com uma precisão e sensibilidade afiada por uma observação detalhada
e por uma prolongada experiência em primeira o”. Delimitando sua posição, Ingold
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etnográficas encontraram respaldo nos caminhos trilhados pela história do
pensamento antropológico nas últimas décadas. Mauro W. B. Almeida (2003,
p. 9) tem razão quando diz que “a antropologia está em baixa, mas a etnografia
está em alta”; que antropologia da pobreza” soa pretensioso e démodé, mas
que etnografia da pobreza” parece soar bem aos ouvidos. Este antropólogo
nota com precisão que a disciplina antropológica abdicou da ambição teórica
tão cara entre seus fundadores modernos em favor da ideia de fazer
descrições sem teoria. Essa face etnográfica se assemelha à comparação feita
por Marisa Peirano (2014, p. 383) ao sugerir que a etnografia desvinculada da
ambição teórica se assemelha a “uma descrição jornalística, ou a uma
curiosidade a mais no mundo de hoje”, o que parece pouco frente a uma
pretensão que almeja refinamento teórico.
Os dados da Antropologia derivam, em última instância, da observação
daquilo que é investigado. O ato de observar e descrever as características
presentes em determinada sociedade tribal, por exemplo, é o tipo de trabalho
que metamorfoseia o pesquisador em etnógrafo (ÁLVARES, 2019, p. 94). No
entanto, a tarefa de observar, descrever e interpretar não é fruto do surgimento
da antropologia enquanto campo de conhecimento autônomo. É possível
observar, desde a história antiga, a descrição feita por determinado povo
acerca de outras culturas. Se fosse esse o critério, os escritos de Heródoto a
respeito dos persas poderiam ser caracterizados como escritos “etnográficos”
embora tal ilação adquira contornos visivelmente irrazoáveis.
Somente no entardecer do século XV uma tentativa de sistematização
do modo de compreender outros povos e expressões culturais. No entanto, essa
prática ainda era desempenhada por exploradores, aventureiros e
missionários, e essa forma de trabalho ainda não exprimia a profundidade e
complexidade das etnografias contemporâneas (CONKLIN, 1988, p. 154)
Tampouco era utilizado esse termo para se referir a esse tipo de investigação:
a origem do termo “etnografia”, do ponto de vista das ciências humanas e
sociais, se origina no ano de 1826 através do geógrafo italiano Adriano Balbi
por meio de seu Atlas etnográfico global. Todavia o termo “etnografia” ainda
não tinha nenhum vínculo com o modo pelo qual tal prática foi absorvida pelo
conhecimento antropológico: a utilização feita por Balbi se referia à
classificação de grupos humanos através de suas características linguísticas.
Como vimos, foi a clássica monografia Argonautas do Pacífico
Ocidental que propiciou a Malinowski o reconhecimento, pela literatura
antropológica, como o autor responsável por refinar a chamada “pesquisa
etnográfica” nos moldes como tal empreendimento é atualmente reconhecido
por este campo de saber. No entanto, Malinowski reconhecia as limitações
impostas a esse tipo de estudo: “na etnografia, o autor é, ao mesmo tempo, o
seu próprio cronista e historiador; suas fontes de informação são,
argumenta que “aquilo contra o que eu me oponho não é à etnografia enquanto tal, mas ao seu
retrato como fim último da antropologia. Creio que a antropologia, ao sucumbir à etnografia,
desviou-se do seu propósito apropriado”, o que “impediu os esforços antropológicos de
contribuir para o debate de grandes questões de nosso tempo e comprometeu o papel da
academia”. Em função disso, Ingold constata que a etnografia não é um método”, o que não
inviabiliza o fato de que ela possui seus próprios métodos, seus procedimentos e seus modos
de trabalhar (INGOLD, 2017, pp. 224-5).
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indubitavelmente, bastante acessíveis, mas também extremamente enganosas
e complexas” (1978, pp. 18-9). Além disso, também nota que uma
propensão de que as impressões digitais do etnógrafo marquem sua pesquisa,
pois é “frequentemente imensa a distância entre a apresentação final dos
resultados da pesquisa e o material bruto das informações coletadas pelo
pesquisador através de suas próprias observações, das asserções dos nativos,
do caleidoscópio da vida tribal” (1978, p. 19).
Convém ressaltar que a aproximação da pesquisa etnográfica com o
conhecimento antropológico teve motivações adversas às quais ela
normalmente é empreendida nas Universidades e empresas contemporâneas.
uma motivação colonial impregnada na origem da produção etnográfica
sob os matizes do conhecimento antropológico. “A colonização não é um
fenômeno do século XIX. Entretanto, essa foi a primeira vez em que se teve a
oportunidade de estudar sistematicamente os povos que foram colonizados
(ÁLVARES, 2018, p. 109). A investigação de Malinowski moldou, por algum
tempo, as formas de fazer pesquisa etnográfica. No entanto, as origens inglesa
e francesa da etnografia estiveram assumidamente vinculadas às intenções
coloniais. Os primeiros etnógrafos, desvencilhados do conhecimento
geográfico e sob a forma como hoje os conhecemos, eram também funcionários
a serviço do poder colonial (cf. LECLERC, 1973). Nas palavras de Hunter (apud
LECLERC, 1973, p. 32), um desses representantes, “estudamos as populações
das terras baixas como jamais algum conquistador estudou ou entendeu uma
raça conquistada”; “conhecemos a sua história, os seus hábitos, as
necessidades, fraquezas até mesmo os seus preconceitos” e, assim, “este
conhecimento último fornece-nos a base dessas indicações políticas que, sob a
designação de previdência administrativa, de reforma em tempo útil, dão
satisfação à opinião pública”.
O conhecimento antropológico e o marxismo são filhos de um mesmo
tempo histórico, contudo, nascem por interesses divergentes:
a Antropologia surge como uma necessidade da ordem burguesa colonial; já o
marxismo, como reação a essa ordem (ÁLVARES, 2019, p. 218). Sopesar essa
relação é um exercício importante se quisermos pensar as implicações que a
investigação de Engels sobre a Situação da classe trabalhadora na Inglaterra
pode suscitar aliada aos marcos desta ciência parcelar, cuja fragmentação e
especialização foi também uma exigência dos desejos da expansão do
capitalismo. Também as motivações que constituíram as ciências parcelares
foram confrontadas pelo próprio Engels que, décadas após a publicação de sua
obra em questão, afirmou que “desde o momento em que cada ciência tem que
prestar contas da posição que ocupa no quadro universal das coisas e do
conhecimento dessas coisas, já não margem para uma ciência
especialmente consagrada ao estudo das concatenações universais” (ENGELS,
2011, p. 24).
É possível extrair do texto de Engels alguns elementos condizentes com
o modo pelo qual entendemos as adjetivações da chamada “etnografia”. No
entanto, podemos ser impelidos a cair nas armadilhas do capitalismo. Nesse
sentido, e para concluir, vale elencar alguns motivos demonstrativos de que as
implicações de tal posição sobressaem a eventuais vantagens: 1) as intenções
originárias da etnografia moderna são antagônicas às pretensões de Engels. Ao
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passo que a etnografia se origina como um utensílio frente ao domínio
capitalista sobre outros povos, a obra A situação da classe trabalhadora na
Inglaterra representa um grito do operariado em sua luta contra a burguesia;
2) o advento da etnografia sob a órbita do conhecimento antropológico é
também uma reprodução, no interior das ciências, dos desejos e anseios da
ordem capitalista; ao passo que tal fragmentação de conhecimento foi também
denunciada e confrontada por Engels; 3) as investigações da tradição marxista
devem prezar pela apreensão da totalidade dos fenômenos sociais, ao passo
que o movimento que a etnografia tem percorrido, desde suas origens, tem sido
pelo vetor oposto. Reduzir a complexa e importante obra de Engels nos marcos
de um subcampo de conhecimento é, antes de qualquer outra coisa, uma
traição a seus próprios anseios.
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Como citar:
ÁLVARES, Lucas Parreira. Engels, etnógrafo do capitalismo? Verinotio
Revista on-line de Filosofia e Ciências Humanas, Rio das Ostras, v. 26, n. 2,
pp. 194-206, jul./dez. 2020.
Data do envio: 31 ago. 2020
Data do aceite: 20 out. 2020