J. Chasin
222 | Verinotio
NOVA FASE
ISSN 1981 - 061X v. 27 n. 1, p. 157-239 - jan./jun. 2021
pensamento marxiano. Apesar de não refletirem, nem de longe, o
todo
do pensamento
lukácsiano no vasto período indicado, não são, de outra parte, reles momentos
infelizes ou equívocos fortuitos de uma grande jornada intelectual. Tomadas aqui
enquanto evidências da enorme dificuldade com que Lukács transitou para a ontologia
marxiana, não constituem ocorrências dispersas, isoladas uma da outra, como se
fossem tropeços ocasionais em caminhadas independentes. Ao contrário, combinam
muito bem, conceitualmente, e por sua articulação podem ser vistas como o eixo em
torno do qual girou boa parte da imagem lukácsiana da obra de Marx. Sob tal alinhavo,
a dialética entre as categorias de universalidade, particularidade e singularidade, pela
letra e pelo espírito de seu próprio enunciado, é a encarnação do
vínculo lógico
com
Hegel, bem como, por conseguinte, do
método científico
, enquanto o
em-si
gnosiológico
é o artefato fundante da cientificidade da doutrina.
Que essas fórmulas estejam em franca dissonância e até em contradição, sob
distintas maneiras, com o que há de mais substancial na obra lukácsiana não é apenas
um fato importante, que exija pura e tecnicamente um grifo forte, mas ocorrência tão
decisiva que, em verdade, deve ser mesmo
celebrada
, pois a grandeza do pensamento
marxista de Lukács se manifesta, precisamente, na enorme esfera reflexiva que
desenvolveu para além e de costas para o complexo da
exterioridade
, ao qual, no
entanto, estava subordinado. Que essa debilidade prejudicou seu pensamento é
também um fato palpável, que sua imagem global do pensamento marxiano foi por
isso mesmo significativamente afetada em pontos de extrema relevância, não resta
dúvida, mas este foi o seu caminho, assim é que transitou, por fim, ao ambiente da
ontologia marxiana, antes e mais apropriadamente do que ninguém. E aqui é disto que
se trata, precisamente dessa jornada, em especial de formulações errôneas das quais,
à época, Lukács não se deu conta; de problemas cujo enfrentamento e retificação
parciais só vieram a ocorrer na empreitada pela
Ontologia
, que, apesar de inconclusa,
não apenas na forma, mas nas próprias concepções, renovou a perspectivação de
conjunto, a qual, embora não tenha dirimido por completo as obliquidades e
irresoluções de seu próprio trabalho, proporciona finca-pés e o direcionamento geral
para uma nova abordagem crítica, aqui desenvolvida em torno de aspectos de sua
própria obra. Sob esse prisma, trata-se, então, de uma crítica a Lukács a partir de Marx,
gerada pela inspiração ou a própria mediação do último Lukács.
Vistas à luz dessa contraditoriedade englobante, talvez cause mais espécie ou
aversão, como grave impropriedade, a formulação lukácsiana do em-si do que o