Verinotio
NOVA FASE
ISSN 1981 - 061X v. 27 n. 1, Lukács: 50 anos depois - jan./jun. 2021
“O senhor é um persa?”
50 anos sem G. Lukács
*
Maurício Vieira Martins
**
Resumo: O objetivo deste breve artigo de
divulgação do pensamento de G. Lukács é
apontar para algumas das modificações trazidas
pelo autor no que diz respeito ao que seja uma
ontologia, categoria que possui uma longa
história filosófica. Do ponto de vista de Lukács,
não se trata mais de procurar as invariantes de
um processo histórico (como buscava uma certa
tradição filosófica), mas sim de mostrar como,
mediante a atividade humana, mesmo
configurões dotadas de relativa estabilidade se
transformam ao longo do tempo.
Palavras-chave: Lukács; ontologia; atividade;
historicidade do ser.
Abstract: This brief article on Lukács' thought
seeks to clarify some of the changes made by
the author when discussing ontology, a
category that has a long philosophical history.
From Lukács's point of view, it is no longer a
question of looking for the invariants of a
historical process (as a certain philosophical
tradition sought), but rather of showing how
even configurations endowed with relative
stability are transformed over time, through
human activity.
Keywords: Lukács; ontology; activity; historicity
of being.
Numa entrevista concedida a István Eörsi em 1971, o filósofo húngaro György
Lukács rememorou como foi sua recepção durante um Congresso de Filosofia, em
Genebra, após a segunda Guerra: “fui acolhido um pouco à maneira... talvez o senhor
se lembre de Montesquieu, das
Cartas Persas
: ‘Monsieur est Persan? Comment peut-
on être Persan?’, isto é, como é que pode ser marxista alguém que fala vários idiomas,
é instruído e culto?” (LUKÁCS, 2017, p. 164).
O relato de Lukács põe em evidência a singularidade de sua posição no campo
intelectual: visto com reservas pela intelectualidade ocidental, com sua tradicional
hostilidade ao marxismo, mas, por outro lado, tampouco benquisto entre os dirigentes
do chamado socialismo real. É o que nos esclarece a mesma entrevista, quando Lukács
afirma sem maiores rodeios que “tudo o que a história oficial do partido [Partido
Comunista húngaro] escreve sobre mim é, para dizer pouco, extremamente
problemático quanto à verdade” (LUKÁCS, 2017, p. 147). Frente a dois conjuntos de
interlocutores muito heterogêneos, o fato é que as tomadas de posição de Lukács lhe
*
Versão ligeiramente modificada de um artigo publicado no site
A terra é redonda
, em 07/03/2021.
**
Professor do ICHF-UFF. Doutorou-se em Filosofia com a tese
Por uma ontologia imanente: a
contribuição de G. Lukács
.
DOI 10.36638/1981-061X.2021.v27.612
O senhor é um persa?”: 50 anos sem G. Lukács
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traziam recorrentes atritos.
Neste ano de 2021, quando se completam 50 anos de seu falecimento, o
momento é oportuno para revisitar este autor cuja longa biografia se confunde com a
história muito conturbada do marxismo, em boa parte do século XX. Mas o intento
aqui não é apresentar as características deste extenso trajeto. Nosso objetivo é bem
mais delimitado: apontar para algumas das peculiaridades da grande
Ontologia
, escrita
por Lukács ao final de sua vida. O projeto desta obra começou nos anos 60, mas sua
última versão foi concluída apenas em 1970 quando Lukács já contava com mais de
80 anos , sendo publicada com o título
Para uma ontologia do ser social
.
Pode causar surpresa o fato de que só num momento tão avançado de sua vida
o filósofo tenha tomado como objeto de investigação uma ontologia, teoria do ser.
Segundo o depoimento de Nicolas Tertulian, que conheceu pessoalmente o autor,
Lukács dizia que alguns poucos gênios da filosofia tinham o privilégio de esclarecer
em sua juventude o essencial de seu pensamento. Para o comum dos mortais, como
era o seu caso, podia acontecer que apenas aos 80 anos conseguissem clarear o
núcleo de sua filosofia” (TERTULIAN, 1986, p. 52).
Para além da autoironia de Lukács em relação ao seu encontro tardio com a
ontologia como campo do saber, convém acrescentar que ele imprimiu significativas
modificações sobre seu tema. Modificações que sem dúvida devem ser enfatizadas:
não se trata de uma
restitutio ad integrum
da velha ontologia, mas antes da elaboração
de um projeto singular, com uma forte marca autoral.
Talvez seja precisamente o desconhecimento desta singularidade o que leva
vários setores do campo marxista contemporâneo, no Brasil e fora dele, a terem uma
atitude no mínimo reticente para com uma perspectiva ontológica. Em fóruns de
debate onde se discute o tema, surge com frequência a avaliação de que o mundo
contemporâneo, com a sua velocidade, com a volatilidade das relações sociais (já
prenunciada no dito marxiano tudo o que é sólido se desmancha no ar”), com o
avanço da informática dissolvendo mesmo alguns parâmetros que pareciam mais
recorrentes, tudo isso teria tornado uma abordagem ontológica irremediavelmente
obsoleta. Ademais, costuma ser lembrado também que, na formulação clássica de
Parmênides, o ser era definido por sua imobilidade, como aquilo que permanece, em
meio às transformações, tidas como aparentes.
Mas a ontologia defendida por Lukács é qualitativamente distinta destas antigas
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concepções, que sustentavam a estabilidade de uma certa configuração como requisito
para seu conhecimento. Na verdade, o foi Lukács o primeiro a questionar de modo
radical a estaticidade da velha substância (categoria ontológica central, reconstruída
na grande
Ontologia
). Em suas próprias palavras: “Hegel é, depois de Heráclito, o
primeiro grande pensador no qual o devir ganha uma preponderância ontológica
objetiva sobre o ser” (LUKÁCS, 2012, p. 235). Contra a fixidez da antiga tradição
metafísica, a análise hegeliana das determinações de reflexão, por exemplo, mostra-
nos que “essência, fenômeno e aparência convertem-se ininterruptamente um no
outro” (LUKÁCS, 2012, p. 253).
Se em Hegel leitor de Heráclito há uma clara afirmação da transitoriedade
mesmo daquelas configurações que parecem mais estáveis, coube a Marx colocar em
evidência a formação de um novo tipo de ser que, surgindo a partir da natureza, dela
progressivamente se diferencia, adquirindo uma lógica peculiar. Examinando textos
marxianos clássicos, Lukács ressalta aquelas passagens que nos mostram que, no
âmbito do ser social, formam-se relações e momentos categoriais novos, que não
podem mais ser derivados diretamente da natureza.
1
Citando Marx, ele nos recorda
que “Fome é fome, mas a fome que se sacia com carne cozida, comida com faca e
garfo, é uma fome diversa da que devora carne crua com mão, unha e dentes” (LUKÁCS,
2012, p. 332).
Em sua gênese, tais modificações do ser social relacionam-se ao desenvolvimento
do trabalho e da linguagem, mas elas atingem seu grau mais extremado numa
economia capitalista. Quando o tempo de trabalho socialmente necessário para a
produção de uma mercadoria torna-se a medida que estabelece equivalências entre os
diferentes trabalhos concretos, opera-se uma abstração social de suas diferenças.
Ficam dadas as condições para a subordinação da atividade humana a um padrão
coercitivo:
No século XIX, milhões de artesãos autônomos experimentaram os efeitos
dessa abstração do trabalho socialmente necessário como sua própria ruína,
isto é, quando experimentaram na prática as suas consequências concretas
[...]. Essa abstração tem a mesma dureza ontológica da faticidade, digamos,
de um automóvel que atropela uma pessoa (LUKÁCS, 2012, p. 315).
Estamos aqui diante do estranhamento, conceito fundamental da ontologia
1
Desenvolvi com mais vagar este tema, no âmbito de uma interlocução com Espinosa, em meu livro
Marx, Espinosa e Darwin: pensadores da imanência
(2017, pp. 65-86).
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lukácsiana, e que pode ser atestado hoje também pelos inúmeros
gadgets
, dispositivos
como celulares, computadores, em sua utilização que apaga as marcas de sua origem
no trabalho alienado e explorado. Tais sumárias referências à ontologia afirmada por
Lukács mostram que ela em nada se assemelha a uma busca por invariantes a-
históricas. Seu intento é surpreender, em meio à velocidade vertiginosa do mundo
contemporâneo, aquelas tendências de fundo responsáveis pela vida tal qual ela
transcorre em nosso cotidiano. Sem esta visada ontológica, permanecemos presos a
uma imagem do mundo como um caos aleatório, como uma mera coleção descontínua
de eventos que sequer apresentam uma articulação interna.
Levando em conta que uma categoria se define também através das demarcações
com outras que lhe são correlatas, Lukács enfatiza a diferença entre sua ontologia e
as diferentes gnosiologias, ou teorias do conhecimento. É próprio destas últimas
investigarem a presença do sujeito do conhecimento na constituição da ciência e da
filosofia. Não resta dúvida que tal investigação é um antídoto indispensável contra a
crença ingênua de que o conhecimento fornece uma mimese fotográfica do real,
postura que marca ainda hoje as aproximações empiristas da realidade. Ocorre que,
ao longo dos séculos XX e XXI, amplos setores intelectuais procederam a um inchaço
de tal ordem da subjetividade que findaram por afirmar que nenhum conhecimento
objetivo é possível: teríamos apenas uma pluralidade de perspectivas particulares,
refratárias a qualquer critério de verdade (critério nomeado não só como ultrapassado
como também “autoritário”).
Em contrapartida, a abordagem ontológica se põe deliberadamente como tarefa
alcançar a melhor visada possível do objeto, da efetividade histórica conflitual. É claro
que esta efetividade atravessa os diferentes sujeitos, gerando uma complexa dialética
entre categorias objetivas e subjetivas que é particularmente relevante para uma
ontologia social. Aliás, uma das maiores especificidades desta última é que
precisamente o seu objeto vem a ser uma configuração histórica formada por sujeitos
humanos capazes de realizar posições que modificam a eles mesmos e ao seu meio.
Assim, enquanto a abordagem gnosiológica promove como que uma torção da
consciência sobre si mesma, a ontologia busca, ao contrário, endereçar-se ao ser
social, para apreendê-lo em suas marcas distintivas. Na límpida formulação de N.
Hartmann (autor com quem Lukács estabelece uma interlocução), é característica da
perspectiva ontológica o estar direcionado para aquilo que vem ao encontro do
sujeito, para aquilo que ocorre, que se oferece, em suma, o estar voltado para
o mundo
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em que o sujeito vive e do qual é parte”.
2
Se voltarmos nossa atenção para o mundo contemporâneo, um exemplo
eloquente da produtividade das teses lukácsianas é a própria pandemia do coronavírus
em que estamos mergulhados. Com efeito, para o leitor de sua obra da maturidade,
a
crise sanitária atual evoca as referências ao fato de que uma ontologia do ser social
“só pode ser edificada sobre o fundamento de uma ontologia da natureza”, sua base
insuprimível, ainda que permanentemente modificada (LUKÁCS, 2012, p. 186). Ou
seja, por maiores que sejam as mediações criadas pelo trabalho, pela linguagem, pela
modificação gigantesca da natureza originária, prosseguimos em intercâmbio orgânico
com o mundo natural. No caso em tela, vários cientistas vieram a público alertar
para o fato de que a provável causa da emergência do novo coronavírus foi o enlace
entre a expansão da agroindústria predatória e o surgimento de novas endemias
(propiciando o
spillover
, transbordamento do vírus de uma espécie para outra).
Registrada a fecundidade da proposta de Lukács, diríamos que não é preciso
concordar com todos os seus enunciados estejam eles na grande
Ontologia
, ou em
outros escritos de sua extensa obra para reconhecer o valor de sua contribuição.
Certa vez, ao trabalhar com estudantes um texto do autor, ao final da aula uma aluna
talentosa procurou-me, dizendo com a franqueza característica da juventude: “puxa,
professor, mas o Lukács pega muito pesado’ com os autores!”. Fui obrigado a
reconhecer que vários juízos do filósofo demasiadamente duros, principalmente
com aqueles que não partilhavam de suas convicções. Pensemos, por exemplo, nas
avaliações negativas sobre Kafka, ou no aspecto por vezes reativo diante de
manifestações estéticas da vanguarda. Nos textos produzidos ao longo da Guerra Fria
como em
A destruição da razão
esta tendência também é visível: vários intelectuais
ocidentais, em sua complacência frente à dominação capitalista, provocaram a ira de
Lukács, que não raro respondeu-os de forma unilateral. É verdade que ao final de sua
vida, Lukács retificou algumas de suas críticas a Kafka e a outros literatos. Ainda assim,
no que diz respeito aos seus juízos estéticos, José Paulo Netto, um dos maiores
pesquisadores do filósofo em nosso país, escreveu com sobriedade que o
“conservadorismo estético de Lukács foi potenciado pela sombria atmosfera cultural
da autocracia stalinista” (NETTO, 1983, p. 62). Dito isso, o exame da obra lukácsiana
2
Apud Lukács, 2012, p. 134, grifo adicionado.
O senhor é um persa?”: 50 anos sem G. Lukács
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mostra que ela contém questões seminais, que ultrapassam o autor para nos atingir
nos dias de hoje.
Por fim, um breve registro acerca da relação que Lukács postula entre uma
ontologia e o agir humano. Na história do pensamento, existiram aqueles que
afirmaram que uma perspectiva ontológica finda por anular o papel da ação subjetiva:
tudo se passaria como se a ação humana fosse tragada pela imersão enlouquecedora
e despersonalizante no Ser” (LOPARIC, 1990, p. 213). Diferentemente desta postura,
Lukács afirma que sustentar o primado do ser social daquele conjunto de condições
formadas, que de fato precedem nossa entrada no convívio mundano , em nada se
relaciona com um esvaziamento da ativa presença humana. Para quem se indaga se a
ontologia lukácsiana é uma espécie de objetivismo filosófico, a resposta é um enfático
não. Isso fica claro em seu comentário acerca da impossibilidade do desenvolvimento
econômico produzir por si uma emancipação humana. Além de tal desenvolvimento,
que “mobilizar a atividade social também de outras maneiras”. Logo a seguir,
Lukács cita
A miséria da filosofia
de Marx: “Mas a luta de classe contra classe constitui
uma luta política” (LUKÁCS, 2013, p. 757).
A ação política ocupa, pois, um lugar preciso na ontologia lukácsiana: não se
trata nem de um voluntarismo que a elege como panaceia universal (tendência
encontrável em setores da esquerda), nem tampouco de uma crença ingênua numa
emancipação pela via do desenvolvimento econômico puro e simples. Neste ponto, há
um enlace não corriqueiro entre política e ética. Pois um dos momentos mais relevantes
do
Pensamento vivido
ocorre quando István Eörsi apresenta a seguinte afirmação a
Lukács: “Sua atividade teórica começou com a estética. Depois veio o interesse pela
ética e, em seguida, pela política. A partir de 1919, domina o interesse político.” Em
sua resposta, Lukács recusa a tácita disjuntiva entre política e ética presente em Eörsi
e afirma: “Em minha opinião, não se pode esquecer que esse interesse político era, ao
mesmo tempo, ético. ‘O que fazer?’, este sempre foi o principal problema para mim e
esta pergunta uniu a problemática ética à política(LUKÁCS, 2017, p. 74). Lembremos
que a
Ontologia
foi pensada como introdução a um livro sobre
Ética
, nunca concluído,
e do qual só nos restaram fichas de trabalho bastante fragmentárias.
A articulação entre ética e política demanda que se afirme a importância de
uma perspectiva (
Perspektive
), que busque as possibilidades de
transformação existentes mesmo no interior da brutal alienação capitalista.
Engajado com a causa do socialismo, Lukács distingue a utopia construção
abstrata, projetada idealisticamente sobre uma dada realidade da
perspectiva que discerne tendências reais existentes: unicamente tal
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perspectiva lhe permitirá alçar-se interiormente de modo efetivo acima da
sua própria particularidade impregnada de estranhamentos, enredada em
estranhamentos” (LUKÁCS, 2013, p. 767).
Longevo persa, Lukács faleceu em 1971, aos 86 anos. Ele próprio era muito
cônscio da necessidade de uma parte do ser vir a perecer, seja metafórica ou
concretamente, para que uma nova tendência consiga surgir e se manifestar. Talvez
por isso gostasse de citar o poema
Selige Senhsucht
, este prodígio de síntese de
Goethe, onde podemos ler: “
Und solang du das nicht hast,/ Dieses: Stirb und werde!
”.
“E enquanto tu não o tens,/ Isso: morre e devém!”
Referências bibliográficas
LOPARIC, Zeljko.
Heidegger réu Um ensaio sobre a periculosidade da filosofia
.
Campinas: Papirus, 1990.
LUKÁCS, György.
Para uma ontologia do ser social
, vol. I. São Paulo: Boitempo, 2012
LUKÁCS, György.
Para uma ontologia do ser social
, vol. II. São Paulo: Boitempo, 2013.
LUKÁCS, György.
Pensamento vivido
:
autobiografia em diálogo
. São Paulo: Instituto
Lukács, 2017.
MARTINS, Maurício Vieira.
Marx, Espinosa e Darwin: pensadores da imanência
. Rio de
Janeiro: Consequência, 2017.
NETTO, José Paulo.
Lukács: o guerreiro sem repouso
. São Paulo: Brasiliense, 1983.
TERTULIAN, Nicolas.
Lukács: la rinascita dell’ontologia
. Roma: Riuniti, 1986.
Como citar:
MARTINS, Maurício Vieira. “O senhor é um persa?”: 50 anos sem G. Lukács.
Verinotio
,
Rio das Ostras, v. 27, n. 1, pp. 394-400, jan./jun 2021.