“O senhor é um persa?”: 50 anos sem G. Lukács
Verinotio
NOVA FASE
ISSN 1981 - 061X v. 27 n. 1, p. 394-400 - jan./jun. 2021 | 399
mostra que ela contém questões seminais, que ultrapassam o autor para nos atingir
nos dias de hoje.
Por fim, um breve registro acerca da relação que Lukács postula entre uma
ontologia e o agir humano. Na história do pensamento, existiram aqueles que
afirmaram que uma perspectiva ontológica finda por anular o papel da ação subjetiva:
tudo se passaria como se a ação humana fosse tragada pela “imersão enlouquecedora
e despersonalizante no Ser” (LOPARIC, 1990, p. 213). Diferentemente desta postura,
Lukács afirma que sustentar o primado do ser social – daquele conjunto de condições
já formadas, que de fato precedem nossa entrada no convívio mundano –, em nada se
relaciona com um esvaziamento da ativa presença humana. Para quem se indaga se a
ontologia lukácsiana é uma espécie de objetivismo filosófico, a resposta é um enfático
não. Isso fica claro em seu comentário acerca da impossibilidade do desenvolvimento
econômico produzir por si só uma emancipação humana. Além de tal desenvolvimento,
há que “mobilizar a atividade social também de outras maneiras”. Logo a seguir,
Lukács cita
A miséria da filosofia
de Marx: “Mas a luta de classe contra classe constitui
uma luta política” (LUKÁCS, 2013, p. 757).
A ação política ocupa, pois, um lugar preciso na ontologia lukácsiana: não se
trata nem de um voluntarismo que a elege como panaceia universal (tendência
encontrável em setores da esquerda), nem tampouco de uma crença ingênua numa
emancipação pela via do desenvolvimento econômico puro e simples. Neste ponto, há
um enlace não corriqueiro entre política e ética. Pois um dos momentos mais relevantes
do
Pensamento vivido
ocorre quando István Eörsi apresenta a seguinte afirmação a
Lukács: “Sua atividade teórica começou com a estética. Depois veio o interesse pela
ética e, em seguida, pela política. A partir de 1919, domina o interesse político.” Em
sua resposta, Lukács recusa a tácita disjuntiva entre política e ética presente em Eörsi
e afirma: “Em minha opinião, não se pode esquecer que esse interesse político era, ao
mesmo tempo, ético. ‘O que fazer?’, este sempre foi o principal problema para mim e
esta pergunta uniu a problemática ética à política” (LUKÁCS, 2017, p. 74). Lembremos
que a
Ontologia
foi pensada como introdução a um livro sobre
Ética
, nunca concluído,
e do qual só nos restaram fichas de trabalho bastante fragmentárias.
A articulação entre ética e política demanda que se afirme a importância de
uma perspectiva (
Perspektive
), que busque as possibilidades de
transformação existentes mesmo no interior da brutal alienação capitalista.
Engajado com a causa do socialismo, Lukács distingue a utopia – construção
abstrata, projetada idealisticamente sobre uma dada realidade – da
perspectiva que discerne tendências reais existentes: “unicamente tal