O espírito europeu (1946)
Verinotio
NOVA FASE
ISSN 1981 - 061X v. 27 n. 1, p. 9-39 - jan./jun. 2021 | 21
outro lado, essa concepção adquire uma base totalmente rígida e totalmente arbitrária.
O racismo radical desenvolveu-se por muito tempo dentro de pequenas seitas; no
entanto, uma vez que essas seitas viviam em um ambiente por si só aristocrático, onde
a noção de elite repousava, sobretudo, em concepções moral-sociais, psíquicas ou
espirituais, mas sempre se resumia em última instância a um mito racista (Nietzsche e
Spengler), sua influência se expandiu cada vez mais. Claro, foram as condições sociais
do período preparatório para a Segunda Guerra Mundial que levaram à vitória do
movimento fascista entre as massas.
É necessário destacar, aqui, uma convergência entre a noção de democracia ou
a concepção antidemocrática, de um lado, e o que se convencionou chamar de
“posições extremas” em matéria filosófica, de outro, convergência que de nenhuma
maneira é uma construção abstrata pura, uma “tipologia” – sempre mais ou menos
arbitrária –, tal como a encontramos nas ciências do espírito. Trata-se, antes, de
mostrar como se comportam os pensadores diante de certas tendências concretas de
seu meio social, como interpretam essas tendências, que posição – positiva ou negativa
– eles assumem em relação a elas, se as negam ou se as reconhecem etc. O vínculo
entre, por um lado, progresso e democracia e, por outro, negação do progresso e uma
concepção aristocrática é, portanto, um fato da vida concreta.
Não é de modo algum por acaso que o conceito de pessimismo surge aqui. Aqui,
novamente, pode-se destacar uma conexão importante – fundamentada no
desenvolvimento social concreto. Não é de modo algum por acaso que o progresso, o
otimismo e a democracia, por um lado, a oposição ao progresso, o pessimismo e o
ponto de vista aristocrático, por outro, caminham juntos. Pois, embora os fatos naturais
pareçam desempenhar um grande papel na controvérsia entre o otimismo e o
pessimismo, ainda assim é o ponto de vista social que tem a última palavra, e os fatos
naturais apenas lhes fornecem justificativas. O fato de que todo o planeta e, com ele,
toda a cultura humana um dia desaparecerão não pode perturbar um democrata
otimista e, por outro lado, Chamberlain e Nietzsche mostraram como é possível usar
o darwinismo para fins de uma filosofia antievolucionista.
O crescente poder do pessimismo dos nossos dias evidencia particularmente
bem as raízes sociais dessa concepção, embora se apresente essencialmente como
pessimismo cultural, como uma negação do progresso no que diz respeito aos
problemas humanos fundamentais. A situação da elite intelectual de nosso tempo, do