István Mészáros & Giorgio Riolo
434 | Verinotio NOVA FASE ISSN 1981 - 061X v. 27 n. 2, pp. 431-453 - mar. 2022
impediu a sua realização. Estou convencido, porém, de que, mesmo que vivesse até os
150 anos, não teria conseguido escrevê-la como pretendia. A ontologia, efetivamente,
que deveria ser apenas uma introdução à ética, foi na realidade uma premissa
realmente longa, com cerca de 3.000 páginas. Os escritos de ética que nos chegaram,
como notas e apontamentos são, entretanto, de fato, de escassa substantividade.
Ele conseguiu fazer apenas extratos de obras referentes à ética, de Aristóteles a
Agostinho, a Pascal, a Montaigne etc.
Mészáros: Certamente Lukács conhecia a literatura filosófica sobre ética, mas isso
não era suficiente para compor a sua obra, a
Ética
, como deveria ter sido. Era
impossível escrever, de qualquer forma, nas circunstâncias de então, um tratado de
ética, como escreveu no ensaio
O filósofo do tertium datur
, logo após ter deixado a
Hungria em 1957, pois, para poder enfrentar os problemas mais abstratos da ética,
seria necessário antes se empenhar em uma análise sistemática dos problemas da
política. Você pode imaginar se isso era possível de ser feito na Hungria naquele
período. Isso era impensável não apenas pelas evidentes circunstâncias externas, mas
inclusive por questões “internas”, isto é, pela interiorização, por parte de Lukács, do
tipo de desenvolvimento soviético. Essas foram as duas questões que obstaculizaram
a realização de seu grande projeto.
Ele começou a trabalhar em um esboço de ética já nos tempos de Heidelberg,
quando estava em relação com Max Weber, mas mesmo então acabou escrevendo um
ensaio sobre estética, dado que sobre o tema tinha já muito trabalho preparatório.
No primeiro decênio do século, Lukács já havia produzido muitos trabalhos
literários, tendo lido muitíssimo e adquirido um conhecimento enciclopédico da
literatura, seja húngara, seja mundial. Ainda no período de juventude, escreveu,
inclusive, diversos volumes de ensaios e uma importante história do drama moderno,
que foi publicada em 1910, muito antes de
A
teoria do romance
.
Lukács, entretanto, considerava esses trabalhos de menor importância, apenas
como um passo na direção da síntese ética. Ele continuava a se ocupar dos problemas
de ética de várias maneiras. A um certo ponto, todavia, também Max Weber o
aconselhou a se dedicar a outra coisa, dado que não conseguia levar adiante aquele