d o s s i ê  
DOI 10.36638/1981-061X.2023.28.2.687  
Estética, violência e solidariedade1  
Juventude faccionada no proibidão  
Aesthetics, violence and solidarity  
Youth factionalized in the “proibidão”  
Luiz Eduardo Lopes da Silva*  
Ronaldo Rosas Reis**  
Resumo: O artigo busca apreender como se deu  
e de certo modo ainda se dá o engajamento  
sociocultural da juventude no universo das  
facções criminosas da periferia da cidade de São  
Luiz, no Estado do Maranhão. Volta-se para a  
compreensão da formação da sensibilidade dos  
jovens imersos no gênero musical do funk  
também conhecido como proibidão, veículo de  
Abstract: The article seeks to understand how  
the sociocultural engagement of youth in the  
universe of criminal factions on the outskirts of  
the city of São Luiz, in State of Maranhão, took  
place and, in a way, still takes place. It focuses  
on understanding the formation of the  
sensitivity of young people immersed in the  
funk musical genre also known as prohibition, a  
vehicle for aesthetic awareness and community  
awareness, as a functional model of education  
of the senses and community awareness.  
sensibilização estética  
e
conscientização  
comunitária, como um modelo funcional de  
educação dos sentidos e conscientização  
comunitária  
Palavras-chave: funk, juventude periférica,  
violência e solidariedade.  
Keywords: funk, suburban youth, violence and  
solidarity.  
A música popular, no Brasil, é uma produção discursiva muito forte e  
presente; talvez a mais forte em um país marcado pelo analfabetismo.  
A música popular aqui assumiu esta função de produzir sentido para  
a vida em sociedade, para as nossas diferenças, para as misérias e  
riquezas humanas desse país (KEHL, 2004, p. 142).  
Contexto  
O estudo que trazemos aqui teve origem numa tese de doutoramento na qual o  
ponto de partida é o exame da expansão nacional das organizações criminosas  
Comando Vermelho (CV/RJ) e Primeiro Comando da Capital (PCC/SP). Nela nos  
detivemos especificamente na gênese das facções criminosas emergentes nos  
1 Artigo baseado na tese de doutoramento Trilha sonora da guerra. Análise das facções maranhenses e  
da formação da sensibilidade da juventude faccionada a partir do proibidão defendida em 2019 no  
PPGE-UFF sob a orientação do Professor Doutor Ronaldo Rosas Reis.  
* Doutor em Educação (UFF). Professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Coordena a Rede  
de Estudos Periféricos (REP) luiz.silva@ufma.br.  
**  
Doutor em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro com Estudos Pós-  
Doutorais em Filosofia pela Universidade de Buenos Aires e em Educação pela Universidade Federal de  
Minas Gerais. Professor Titular aposentado da Universidade Federal Fluminense. Pintor e desenhista –  
Instagram @ronaldorosa63 ronaldorosas.uff@gmail.com.  
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Estética, violência e solidariedade  
presídios maranhenses na primeira década do atual milênio, sendo elas Primeiro  
Comando do Maranhão (PCM), Bonde dos 40 (B40) e Comando Organizado do  
Maranhão (C.O.M). Na tese buscávamos apreender como se deu e de certo modo ainda  
se dá o engajamento sociocultural da juventude pobre da periferia de São Luiz, capital  
do estado do Maranhão, às respectivas facções surgidas nos presídios. No sentido  
dessa busca identificamos no funk, especialmente em sua vertente conhecida como  
proibidão, o principal elo mediador entre os detentos e os jovens da periferia, motivo  
pelo qual um dos pressupostos do presente artigo é de que a música vem sendo  
utilizada processionalmente como veículo de sensibilização estética/conscientização  
comunitária . Isto é, como um modelo funcional de educação dos sentidos (MARX,  
2004) dos jovens faccionados.  
Somado a esse aspecto fenomênico do campo estético, o outro pressuposto  
adotado é o que se revela no campo ético e moral quando a existência opressiva das  
facções maranhenses no cárcere as levou a assumir o duplo papel de, por um lado,  
criar redes de solidariedade e, por outro, de zelar pela regulação dos conflitos internos.  
Para tanto, impondo seus regimes normativos de acordo com valores e regras por elas  
estabelecidas, tomaram para si o monopólio do uso legítimo da força com o bloqueio  
da violência entre os detentos. Alimentados tematicamente pelas letras dos funks, os  
papéis assumidos pelas lideranças e disseminados internamente pelos respectivos  
membros das facções, tal circunstância específica das relações sociais no interior dos  
presídios alcançou as periferias da Grande São Luís, levando a palavra de solidariedade  
e de união como afeto e valor a preencher os roteiros da produção cultural periférica  
onde as pequenas gangues passaram a adotar regras idênticas das facções  
aprisionadas .  
Com a finalidade de auxiliar o leitor a compreender a dimensão estética e  
sociocultural do contexto de violência em que o fenômeno se destacou nacionalmente,  
cabe aqui destacar na forma de parêntese dois aspectos centrais. Primeiramente que  
no proibidão o eu lírico do MC assume o ponto de vista do bandido e toda a sua visão  
2
Na sua origem, o proibidão era simplesmente o então popular gênero musical rap, mais conhecido  
nos bailes das quebradas ou favelas cariocas como funk. Em meados da década de 1990, buscando  
reprimir a violência na cidade, o Estado proibiu a realização das festas, o que evidentemente revoltou  
os frequentadores que resistiram criando os bailes proibidões, encurtando dessa forma o caminho para  
que os DJs adotassem a denominação para o gênero musical.  
3 Cabe ressaltar, no entanto, que por mais amplas que sejam tais regras não contemplam os indivíduos  
socialmente estigmatizados como os estupradores, os delatores, os pedófilos etc.  
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de mundo. A crueza de suas letras pode impressionar os não iniciados. O batidão  
quase sempre acelerado é criativamente mixado com rajadas de fuzis e pistolas. Não  
é rara a presença de trechos de notícias jornalísticas que são colocadas de maneira  
irônica, normalmente no início dos funks, ora para debochar do discurso corporativo  
midiático em torno do mundo do crime, ora para “documentar” feitos dos quais se  
orgulham. Em segundo lugar que não é por outro motivo que sendo os sujeitos que  
compõem a facção apenas uma fração da juventude pobre periférica, que a pacificação  
entre eles significa ao mesmo tempo guerra, não com todos que estão fora das facções,  
mas com todos aqueles que negam ou obstaculizam a consolidação do poder delas.  
Assim, no universo das facções, a paz é construída em uma escala enquanto a guerra  
se recoloca em outra, por isso a guerra se estabelece enquanto fator constitutivo  
permanente dessas organizações, seja a guerra contra tudo o que venha a ser  
apreendido como o Sistema (Estado), seja a guerra contra o Alemão (inimigo de outra  
facção).  
O proibidão, dessa maneira, se constitui como veículo de socialização de  
experiências dessas organizações coletivas, o que no mundo do crime (FELTRAN,  
2008; 2011) representa a encarnação de “tradições, sistemas de valores, ideias e  
formas institucionais” (THOMPSON, 1987, p. 10) dessa fração de classe. Dada essas  
circunstâncias, temos em conta que o proibidão é, conforme dissemos antes, o elo  
mediador de experiências entendida nos termos thompsonianos instrumentalizado por  
uma fração da juventude periférica atingida por políticas estatais de encarceramento e  
extermínio. Tais experiências dessa juventude veiculam nas letras o seu próprio  
cotidiano organizado em torno de uma luta por ascensão social se conectando através  
de processos violentos a mercados ilegais. Nesse sentido, o proibidão captura numa  
forma estética a estrutura de sentimento (WILLIAMS, 1965; 1979; 2013) da luta dessa  
fração de classe internamente (entre as facções) e também contra o Sistema. Esses  
sujeitos se organizam forjando suas próprias formas institucionais de regulação da  
vida social produzindo uma conexão inédita entre a cadeia e a favela.  
Se numa primeira leitura, o proibidão aparece imediatamente apenas como uma  
representação apologética da violência, o exame aprofundado de mais de mil e  
quinhentos proibidões produzidos em todas as regiões do país ao longo dos quatro  
anos da pesquisa, levou-nos a perceber a riqueza de um universo no qual a violência  
que aparece na superfície dissimula uma teia complexa de afetos e relações que ficam  
submersos e que se articulam entre si contraditoriamente. O proibidão ao passo que  
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sintetiza símbolos de identidades coletivas, representando relações e papéis sociais  
no mundo do crime, também engendra novas relações sociais, ajudando a transformar  
aquele universo. Afinal,  
O funk pode ser compreendido como um meio de comunicação  
popular com grande influência sobre a juventude pobre. Expressando  
realidades múltiplas, servindo como diversão, transmitindo  
mensagens e, sobretudo, transformando em registro artístico a  
linguagem da favela, cheia de gírias e sentidos diversos da língua culta  
[...] Num contexto no qual cada vez mais as favelas são guetificadas  
por uma política de (in)segurança pública que é marcada pela  
criminalização da pobreza, o funk ganha uma importância  
comunicacional ainda maior, espécie de “jornal popular”, no dizer de  
MC. Catra (FACINA; LOPES, 2012, p. 197).  
Com efeito, para além do ódio e da violência presente na guerra de facções rivais  
representadas nas letras, também estão presentes no proibidão uma série de outras  
temáticas: solidariedade, sensualidade, amor, amizade, luto, crítica social e outros  
tantos temas, como não poderia ser diferente, já que todos são sentimentos universais  
da vida humana. Da mesma forma como está presente o sexismo, a homofobia, o  
bairrismo e o consumismo desenfreado e outras tantas mazelas que assolam nossa  
época e que também são facilmente encontradas nas suas letras. Assim, quando se  
toma um objeto complexo como o funk proibidão para análise, é preciso tomá-lo em  
sua totalidade contraditória, sem pesar a mão para este ou aquele aspecto, e sem  
escorregar nas armadilhas da aparência. Desta forma, ao examinar o funk proibidão,  
mesmo quando tomamos a ótica da guerra de facções, tomamos essa violência  
representada não como faceta única desse complexo fenômeno, mas como locomotiva  
de uma narrativa daquela cuja sobrevivência é uma luta diária de vida e de morte. Esse  
modo de vida (WILLIAMS, 2013), ou modo de luta (THOMPSON, 1987) pela  
sobrevivência (seja no cárcere, na favela ou na vida como um todo), parece ter na  
violência sua centralidade, entretanto, essa luta violenta só ganha sentido à medida  
que se articula com inúmeros outros sentimentos e aspirações. Não sendo a simples  
manifestação de uma irracionalidade bestial, como às vezes se supõe, essa violência,  
resultante de relações sociais marcadas pela desigualdade, é significada e  
ressignificada de diversas maneiras pelos próprios atores sociais desse universo e o  
funk proibidão parece ser o veículo primordial de tal representação para estes setores,  
configurando-se assim como uma fonte privilegiada de análise, afinal a música popular  
pode ser tomada exemplarmente “como sintoma da eficácia de certas formas sociais  
gerais de auto representação” (SOUZA, 2004, p. 41).  
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Antes de concluirmos essa introdução contextualizadora, é importante mencionar  
que a pesquisa que realizamos ao longo de quatro anos levantou e catalogou 120  
títulos musicais que tematizam as facções criminosas e a vida do crime, sendo a maior  
parte deles produzidos no Maranhão (incluindo aqueles feitos no interior dos presídios  
maranhenses), e em segundo lugar os originados nas favelas do Rio de Janeiro4, os  
demais espalhados em outros 12 estados contemplando as 5 regiões do país. Some-  
se a esse trabalho a leitura crítica de uma vasta literatura de textos das ciências sociais  
cujo grau da dificuldade encontrada se deveu basicamente ao esforço de conciliar os  
métodos de abordagem, especialmente da área de antropologia, cujos referenciais  
epistemológicos se chocam frontalmente com os referenciais dominantes em Karl Marx,  
Raymond Willians, Lukács e Edward Thompson. Ainda assim, esses textos continham  
contribuições relevantes para dar conta da complexidade daquilo que chamamos de  
dialética cadeia-favela, que tomou forma no Brasil nos últimos anos com a política  
vigente de encarceramento em massa. Por fim uma breve palavra sobre a organização  
do texto. Com a finalidade de darmos conta das dimensões estética da violência e da  
rede de solidariedade, o artigo está desenvolvido em duas seções temáticas, sendo a  
primeira uma abordagem crítica dos temas musicais mais recorrentes nos proibidões  
e a segunda seção uma exposição igualmente crítica das relações sentimentais neles  
presentes.  
Temas musicais  
A solidariedade interna ao mundo do crime conecta rua e cadeia e, portanto, se  
coloca como um afeto central no âmbito faccional, sem perder de vista a mobilização  
constante para a guerra, que parece ser um sentimento igualmente importante, pois  
como é possível ouvir e sentir nos proibidões, o choque entre inimigos parece ser algo  
permanentemente iminente. Por isso, há no universo do proibidão uma tendência à  
representação da “paz perpétua como uma guerra perpétua”, sentimento da juventude  
faccionada perfeitamente alinhado com as tendências geopolíticas da guerra do nosso  
tempo, nos termos delineados por Paulo Arantes (2007). O desejo da paz alcançada  
mediante a guerra está imiscuído de uma série de outras afetações típicas da  
sociabilidade da juventude faccionada e compõem aquilo que chamamos de estrutura  
4
Todos os funks aqui citados estão disponíveis nos anexos da tese de doutorado depositados no  
repositório  
institucional  
da  
Universidade  
Federal  
Fluminense  
em  
/riuff/handle/1/16215.  
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de sentimento, nos termos categoriais estabelecidos por Raymond Willians (2013). Em  
termos sensíveis, esse estado de guerra permanente se traduz em ódio permanente  
aos inimigos, especialmente aos integrantes de facções rivais e à parte mais visível do  
Sistema: a polícia. De fato, a polícia é tematizada em 29 proibidões dos 120 por nós  
catalogados, representando 24% do total. Em todos estes proibidões a juventude  
faccionada retrata apenas uma relação alternativa à guerra permanente com a polícia:  
a mediação monetária na forma do que eles chamam de arrego. Nos proibidões,  
somente o dinheiro é capaz de frear a violência entre polícia e bandidos, nada mais  
parece capaz de parar esse enfrentamento, nem mesmo a fé cristã. Se o ódio está  
presente quando se trata dos inimigos, quando se trata dos aliados, outros  
sentimentos tomam conta da situação: união, solidariedade, amizade, respeito, entre  
outros. Raramente o amor é citado em relação aos aliados, a única exceção é para os  
amigos que morreram, nem mesmo com as parceiras sexuais, esposas ou namoradas  
o amor costuma ser tematizado. “Amor só de mãe”, esse é um dos ditados mais  
comuns e populares da vida do crime. As mães ocupam um lugar de destaque na  
sociabilidade e nos afetos da juventude faccionada e está presente em 10 proibidões  
catalogados.  
Destacou-se também o lugar que a morte ocupa nessa teia de afetos na estrutura  
de sentimento. A morte, personagem constante nas narrativas dos enfrentamentos  
faccionais, está presente em 39 proibidões, e é significada de diversas maneiras. Para  
as facções a forma de vencer a morte, assombro sempre iminente, reside na garantia  
assegurada reciprocamente entre os companheiros que, caso venham a ser  
assassinados, os irmãos sobreviventes guardam a obrigação de que a morte será  
vingada, ou, como dizem no jargão do crime, a morte será cobrada. A lógica da  
cobrança, que alimenta os ciclos de vingança e contribui para estender ainda mais o  
conflito de facções, aparece como um paliativo para o medo da morte que se faz  
onipresente no mundo do crime, quando cada irmão faccionado passa a ter certeza  
que seu sangue não será derramado em vão, pois seus companheiros irão vingá-lo se  
necessário. A concepção de Deus e da fé cristã está presente em 33 proibidões  
catalogados e normalmente aparece correlata a essa concepção de morte, ela também  
aparece articulada à ética e ao proceder do crime (tema abordado em 44 proibidões),  
que demarca esse nova postura ético-política no mundo do crime representada pelas  
facções.  
Ao vivenciar situações de opressão extrema nas cadeias, essa juventude  
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periférica impulsionada pelo encarceramento massivo presente desde o início dos anos  
1990, pôde “perceber a si mesma enquanto classe” (THOMPSON, 2001) e, desde  
então, passou a se objetivar sob a forma organizativa daquilo que ficou popularmente  
conhecido como facção. Essa instituição forjada em anos de massacres carcerários  
toma para si a ascensão social pelas armas, parte indispensável de seu programa  
político, estando presente em 90 proibidões dentre os 120 catalogados. Quando  
observamos a teia de alianças que o PCC e o CV formaram por todo o país, percebemos  
que a instituição facção hoje é uma realidade nacional, deste modo, argumentamos  
que existem aspectos sensíveis correlatos a ela segundo a mesma abrangência  
nacional, que parece alcançar os rincões periféricos mais longevos onde há a presença  
da juventude faccionada. É perceptível ao analisar essas manifestações estéticas, que  
o proibidão deu “forma semântica” à experiência vivida nesse decurso, isto é, conferiu  
a esta experiência um sentido coletivo mediante uma forma de expressão e  
comunicação amplamente compartilhada, afinal a “emergência de uma nova estrutura  
de sentimento pode ser mais bem relacionada ao surgimento de uma classe”  
(WILLIAMS, 2013, p. 155). O proibidão, dessa maneira, se constitui como veículo de  
socialização de experiências dessas organizações coletivas, que no mundo do crime  
(FELTRAN, 2008; 2011) representam a encarnação de “tradições, sistemas de valores,  
ideias e formas institucionais” (THOMPSON, 1987, p. 10) dessa fração de classe.  
Todos os aspectos compõem facetas da estrutura de sentimento: “é tão firme e  
definido como sugere a 'estrutura', mas opera nas partes mais delicadas e menos  
tangíveis de nossa atividade” (WILLIAMS, 1965, p. 64) . Esta estrutura de sentimento  
foi plasmada no proibidão e expressa a sensibilidade da juventude organizada em  
facções. O conceito de Williams (1965; 1979; 2013) é lido sob a luz da descoberta  
marxiana que compreende a natureza histórico-social dos sentidos humanos (MARX,  
2003). Partindo desse quadro de referências teóricas da estética marxista,  
investigaremos como se articulam os sentimentos mobilizados por essa juventude que  
habita as periferias e os presídios e que encontra no proibidão “sua forma semântica  
compartilhada” (WILLIAMS, 2013, p. 64).  
5 Levamos em conta a assertiva de Thompson, que o papel do historiador ao investigar a luta de classes,  
é desvendar os mecanismos desta luta tal qual ela aconteceu, e não “em uma forma comum, geralmente  
leninista”, que tende a analisar a luta de classes “não nos termos que se deu [...] mas nos termos daquilo  
que deveria ter sido” (THOMPSON, 2001, p. 279).  
6 No original: “is structure of feelings: it is as firm and definite as 'structure' suggests, yet it operates in  
the most delicate and least tangible parts of our activity” (WILLIAMS, 1965, p. 64).  
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Sabemos que a expansão do encarceramento em massa e dos mercados ilegais  
conformou os pilares fundamentais dessas instituições. As transformações estruturais,  
políticas e econômicas ocorridas a partir da década de 1990 (ANTUNES, 2006),  
trouxeram consigo uma série de convulsões sociais, amplamente registradas na  
produção cultural periférica. Tais mazelas sociais que se evidenciaram a partir dessa  
época, são, a rigor, imanentes à ordem capitalista, mas sua radicalização contribui para  
aumentar ainda mais suas consequências sociais nefastas. A contenção e  
criminalização dessa enorme massa de trabalhadores pobres excedentes, gerada pelas  
“deslocalizações selvagens” e pela “fragmentação planetária das cadeias produtivas”  
(ARANTES, 2008, p. 8), se espraiou junto às expressões culturais da juventude  
periféricas, que passam a ser criminalizadas, como é o caso do funk:  
A perseguição aos ritmos negros não é uma novidade histórica entre  
nós. Mesmo o samba, hoje largamente aceito e incorporado à cultura  
oficial, foi acusado de incivilizado e ameaçador, sofrendo perseguições  
policiais, preocupando os defensores da ordem pública. No entanto,  
o samba integrou-se a chamada cultura brasileira num momento em  
que as elites nacionais ainda tinham projeto de nação, impossível de  
se concretizar sem se levar em conta, ainda que de forma  
subalternizada e domesticada, o povo e as suas manifestações negras.  
Como uma forma de incluir hierarquizando, cria-se o mito da  
democracia racial. O funk surge como expressão cultural popular em  
outro momento histórico, o da devastação neoliberal, no qual a  
incorporação da classe trabalhadora ao mercado via emprego e as  
ilusões da democracia racial são jogadas água abaixo. Sem nada a  
oferecer como miragem aos subalternizados, a sociedade de mercado  
transforma a maioria da humanidade em potenciais inimigos, em seres  
humanos supérfluos que nem mesmo como exército de reserva de  
mão de obra servem para ela. Nesse contexto, ainda mais numa  
sociedade profundamente desigual como a nossa, conter as classes  
subalternizadas se torna agenda prioritária dos governos, seja por  
intermédio da institucionalização do extermínio, seja por meio da  
criminalização cotidiana dos pobres e suas expressões culturais  
(FACINA; LOPES; 2012, p. 195-196, grifo nosso).  
As transformações estruturais que marcaram a história do país a partir dos anos  
1990 proporcionaram um contexto onde, por um lado, na perspectiva das classes  
dominantes “a incorporação da classe trabalhadora ao mercado via emprego e as  
ilusões da democracia racial são jogadas água abaixo”, restando-lhes promover o  
encarceramento e o extermínio a nível de política pública estatal, por outro lado, no  
seio de parte da juventude periférica, cresce um sentimento correspondente que  
entende que somente por meios violentos e se conectando a mercados ilegais será  
possível romper com a situação de miséria e invisibilidade social a qual foram  
submetidos: “Enquanto o cifrão falar mais alto e fizer parte da autoestima, vai ter uma  
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Faixa de Gaza sempre em uma nova esquina” (MC Orelha, Faixa de Gaza 2). Esse  
choque entre uma classe dominante que promove uma devastação em tempos  
neoliberais e a juventude empobrecida que daí decorre, conforma uma oposição  
centrada no ódio e no apagamento do outro, no qual o único vínculo social entre as  
classes se resume à violência e ao dinheiro, como é a relação entre polícia e mundo  
do crime. O choque dessas posições socialmente opostas, um Estado assassino e  
punitivista contra uma juventude armada e com perspectiva de ascensão social pelo  
crime dividida em rivalidades internas, fabrica a sensibilidade da guerra faccional  
vigente, que o proibidão, por sua vez, captura em suas crônicas de guerra.  
Esta estrutura de sentimento plasmada nos proibidões e que alcança hoje todo  
o território nacional, atravessa as distintas siglas e organizações, mesmo que algumas  
delas se coloquem como rivais. Os proibidões maranhenses, assim como as facções,  
trazem consigo profundas marcas das influências importadas de Rio de Janeiro e de  
São Paulo . Aqui tratamos de aspectos que julgamos chave desse fenômeno e que  
resulta de uma articulação de afetos e relações que se dão cada vez mais a nível  
nacional. Como a guerra plasmada nas letras dos proibidões é modeladora de  
sentimentos e sociabilidades? Como ela mobiliza e remodela afetos e relações? Quais  
elementos estéticos, presentes nos proibidões, são acionados para expressar o  
universo das facções?  
Neste ponto consideramos fundamental a assertiva de Lukács sobre a  
especificidade do reflexo estético da realidade, em sua distinção da ciência. Segundo  
ele, ambos se colocam como reprodução da mesma realidade objetiva, porém a ciência  
é tanto mais elevada e universal quanto mais for fiel à realidade objetiva, à sua lógica  
interna para além de sua aparência fenomênica, isto é, segue no sentido da  
desantropomorfização. A arte, pelo contrário, é tanto mais genuína quanto mais revelar  
em um determinado conteúdo o aspecto humano, o gênero humano, como raiz de sua  
forma, isto é, vai no sentido da antropomorfização, diferentemente da forma científica,  
“a obra de arte, é ao contrário, em primeiro lugar, algo criado pelo homem, que jamais  
pretende ser uma realidade do mesmo modo que é real a realidade objetiva” (LUKÁCS,  
1978, p. 176-177). Recorremos também aos pressupostos de Candido (2000) ao  
analisar a relação da obra de arte e o meio social, articulando apropriadamente os dois  
7 Ver nota 4.  
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momentos da pesquisa, um que visa desvendar o meio social onde as facções  
emergem; e outro que toma o proibidão como expressão sensível desse universo, sem,  
no entanto, encará-los como momentos separados e estanques.  
Por essa razão que os temas aqui selecionados estão presentes na realidade e  
na obra de arte, não os tomando como idênticos, mas compreendendo sua natureza  
articulada. Assim, o papel que a cadeia passava a exercer na realidade nacional a partir  
dos anos 1990 e como suas transformações foram capturadas pela produção cultural  
periférica, desde a desunião à solidariedade nascente, da qual o próprio proibidão  
também contribui para consolidá-la de maneira ativa. Presumimos, portanto, que a  
estrutura de sentimento que aqui abordamos está presente tanto na realidade quanto  
nos proibidões. O proibidão tanto reflete esses aspectos do real, como ele mesmo é  
também produtor dessa estrutura de sentimento ao dar a ela a “forma semântica”, isto  
é, sentido coletivo, nos termos descritos por Williams (1965; 1979; 2013). Desde o  
batidão frenético que dá vazão à enxurrada de emoções que permeiam a vida loka, em  
ritmo acelerado, marcando os passos de uma vida marcada pela velocidade de  
acontecimentos e reviravoltas, à pulsão frenética inerente às atividades criminosas  
típicas desse universo, como assaltos ou troca de tiros com inimigos e com a polícia.  
A adrenalina é sem dúvida uma face marcante da vida do crime.  
Nós é cria da favela  
Estilo neuroticão  
Por isso nosso som é sempre pesadão  
E sempre na atividade até na hora do lazer  
Porque na favela a bala não tem hora pra comer  
(MC Sadrak, 2017)  
No mundo do crime a atmosfera de permanente desconfiança e a constante  
vigilância para não ser surpreendido pelos inimigos produzem o que eles chamam de  
neurose: um comportamento desconfiado e sempre atento a detalhes. Sadrak diz em  
sua letra acima que esse estilo neuroticão das crias da favela explica o som pesadão  
dos proibidões. A música acelerada e agitada reflete uma vida conturbada e permeada  
de conflitos, onde o inimigo está sempre à espreita e contra o qual expressa-se o ódio  
sempre que possível, porém revela ao mesmo tempo, contraditoriamente, uma posição  
convicta de suas escolhas e muitas vezes bem-humorada, que transparece uma postura  
ativa perante a vida. Se seguirmos esta linha de interpretação do estilo neuroticão  
lançada por Sadrak, isto é, que o som pesadão reflete um estado permanente de  
neurose, podemos conjecturar que a superação do funk de 130 batidas por minuto  
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(130 BPM) pelo funk de 150 batidas por minuto (150 BPM) pode significar a  
aceleração, ainda maior, dos embates inerentes a vida do crime na atualidade, podendo  
possivelmente ser uma reverberação estética do recrudescimento do conflito social  
neste âmbito. O funk de 150 BPM surgido recentemente, já se tornou hegemônico no  
proibidão carioca e ainda divide espaço com o funk de 130 BPM no proibidão  
maranhense. O batidão pulsante também estimula à dança e ao uso sensual do corpo,  
dando vazão à pulsão sexual sempre presente no mundo do crime e nas letras dos  
proibidões. No mundo do crime a exaltação ao prazer em forma geral e com mais  
ênfase ao prazer sexual, traduz angústias de uma vida de incertezas, onde os  
indivíduos se veem impelidos a aproveitarem o máximo possível de determinados  
prazeres efêmeros, pois eles podem se tornar impossíveis de maneira abrupta, seja  
pelo encarceramento ou pela morte, ambos sempre iminentes.  
O proibidão mesmo estando presente em todas as regiões do país, absorve  
características próprias em cada região. Se observarmos os proibidões do Bonde do  
Maluco da Bahia, perceberemos claramente a influência de ritmos da música baiana  
neles. No Rio de Janeiro, o estado onde localizamos a maior quantidade de produção  
de proibidões, com dezenas de canais ativos postando funks novos quase diariamente  
com vasta diversidade. A mudança de frequência acima indicada é exemplo notório do  
papel da cidade carioca nesta fecundidade produtiva, pois a predominância atual do  
funk de 150 BPM lá, só começou a ter alguma penetração na produção maranhense a  
partir de 2018. Além disso, funks do Rio de Janeiro como os de MC FL que tematizam  
a facção Terceiro Comando Puro: “Tropa do Raro” e “Medley para o Morro do Macaco”,  
dentre outros, transparecem no seu ritmo uma clara inspiração do samba tipicamente  
carioca. Em São Luís os MCs mais antigos como Sadrak, carregam consigo a influência  
do ritmo Miami Bass, que foi uma verdadeira febre em São Luís, nos 1990 e início dos  
anos 2000. Assim como em proibidões como os de MC BL é possível perceber  
influências do reggae, muito difundido na periferia da Ilha. Os proibidões da Paraíba  
(MC Maguinho, Okaida e MC Descubra, PCC), e do Acre (Bonde dos 13), todos  
catalogados, estão muito mais próximos do rap que do funk.  
Assim vemos que o universo do proibidão é heterogêneo e que mesmo sendo  
considerando uma vertente do funk, ele muitas vezes adentra por outros ritmos e  
outras formas de experimentações da linguagem. Uma das manifestações mais  
interessantes dessa experimentação é a forma improvisada presente em diversos  
proibidões. A oralidade e o improviso são características marcantes da musicalidade  
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periférica ligada à diáspora negra, como o rap, o funk, o samba e até mesmo o reggae  
nos seus primórdios. Presenciamos esta forma criativa de experimentação da  
linguagem em inúmeras ocasiões de batalhas de MCs em São Luís nos últimos anos,  
realizadas, quase sempre no centro da cidade, mas também em diversas periferias da  
Grande São Luís como Maiobão, Cooperativa Habitacional dos Trabalhadores do  
Comércio (Cohatrac), Bairro de Fátima, dentre outras. Tanto o proibidão, como o rap  
especialmente, são ritmos presentes nestas batalhas. Elas se realizam com dois MCs  
rimando de maneira improvisada no meio de uma roda, acompanhado de um bit (uma  
sequência de batida eletrônica) que o acompanha numa caixa de som ao fundo, os MC  
se alternam em forma de duelos, que podem versar sobre temas sorteados na hora,  
como foi o caso de uma batalha que observada em um desses bairros onde foram  
sorteados temas como: corrupção, machismo, cadeia, violência policial, dentre outros.  
Os MCs rimavam sobre estes temas de maneira improvisada, elaborando os versos na  
hora. Ao final de cada batalha o MC mais aplaudido pela plateia classificava para a  
próxima fase até que no fim da noite se coroou um campeão. Nas batalhas de São  
Luís, entretanto, os mais comuns são aqueles que deixam as temáticas para livre  
escolha do MC. Contudo, independente se se trata de batalhas com temáticas livre ou  
com temas sorteados, sempre que os MCs faziam uma rima criativa sobre o proceder  
do mundo do crime eram aplaudidos com bastante ênfase pela plateia, em todas as  
inúmeras ocasiões que tive a oportunidade de presenciar. Numa noite de batalhas  
observadas no Cohatrac, o vencedor foi um MC que não escondia nas suas rimas sua  
vinculação simbólica à sigla B40. Numa batalha decisiva, que lhe credenciou ao título  
de campeão, este MC mandou uma rima advertindo que “se roubar na quebrada vai  
levar tiro na perna” e foi aplaudido por uma plateia em êxtase formada quase na sua  
totalidade por uma juventude periférica que absorve e legitima uma parte significativa  
do “regime normativo” das facções e também se apropria do seu repertório simbólico.  
Ao final de cada batalha o DJ que organizava os duelos conferia os votos da plateia e  
decretava o vencedor, sempre afirmando: “aqui é o certo pelo certo” ou “o certo  
prevalece” e outras expressões típicas da ética e do proceder do mundo do crime.  
A improvisação também é amplamente presente, principalmente, nos proibidões  
da cadeia. Num espaço onde tudo é improvisado, reaproveitado e ressignificado não  
8 Sobretudo no modo como diferentes objetos são improvisados e reaproveitados. Um pedaço de metal  
aquecido por um fio elétrico ligado na tomada pode virar um fogão, uma escova de dente pode virar  
uma faca, um garfo transformado em uma espécie de soco inglês, dentre outas inúmeras possibilidades.  
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poderia deixar de apresentar essa característica em uma de suas principais expressões  
estéticas. Por isso em proibidões do sistema pro mundão, isto é, aqueles gravados nas  
cadeias maranhenses e lançados na internet, como o de MC Bolado, a ausência de um  
bit eletrônico não inviabiliza a produção musical, baldes viram tambores e atabaques  
de onde se retira um som grave, objetos de metal são utilizados para se alcançar o  
som agudo, e o próprio corpo: mãos, peito e boca viram instrumentos que  
complementam a batida. Se o proibidão para os seus críticos se trata de um ritmo  
pobre, pela sua estrutura aparentemente simples de uma rima acompanhada de uma  
batida repetitiva, por esses mesmos motivos, ele se torna um veículo acessível, posto  
que sua aparente simplicidade é o que convida qualquer amante do ritmo a improvisar  
uma rima e uma batida de maneira experimental, seja para descontrair os tediosos  
dias na tranca, como faz MC Bolado e seus companheiros de cela no vídeo supracitado,  
seja para reforçar a união interna do coletivo fazendo ameaça para os inimigos, como  
os proibidões do C.O.M gravados na antiga CDP, ou mesmo para vociferar contra o  
governo e a imprensa, como faz Sadrak. Os motivos que levam alguns a rejeitar o  
proibidão são muitas vezes os mesmos que o fazem ter uma penetração e hegemonia  
em lugares que outros ritmos musicais jamais tiveram. O que para uns é falta ou  
defeito, para outros é potência. Os proibidões das cadeias maranhenses são forjados  
artesanalmente como são os chuços, estoques e facas, como tais, o proibidão se  
mostra igualmente um instrumento de sobrevivência num ambiente adverso, e também  
uma arma de guerra contra os inimigos.  
Se os proibidões da cadeia têm como elemento predominante o improviso e a  
sua fabricação artesanal, nem sempre podemos dizer o mesmo dos proibidões do  
mundão. Os proibidões gravados fora do ambiente precário das celas possuem muito  
mais recursos disponíveis e os DJs se utilizam deles de uma maneira cada vez mais  
criativa. Os primeiros proibidões maranhenses (2013-2015), mesmo aqueles feitos  
fora do mundo prisional apresentavam as mesmas características dos proibidões  
improvisados das prisões. Entretanto, a facção Bonde dos 40 que é a organização  
amplamente hegemônica no proibidão maranhense, uma nova geração de DJs que  
surgiu principalmente a partir de fins de 2017: DJ Diego, DJ Alma, DJ Phelipe Sousa,  
DJ Arley, dentre outros, significou um salto qualitativo na produção dos proibidões da  
Grande São Luís.  
Essa geração de DJs ludovicenses, a exemplo do que ocorre em outros estados  
como o Rio de Janeiro, são responsáveis pela mixagem das músicas e também muitas  
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vezes pelos clipes que as acompanham. Ao contrário dos primeiros proibidões  
maranhenses, que eram feitos com bits improvisados ou mesmo cantados a palo seco,  
e lançados de maneira crua na internet. Atualmente, nos proibidões produzidos por  
essa nova geração de DJs estão presentes mixagens engenhosas onde mesclam-se  
batidas de funk com notícias jornalísticas, rajadas de fuzis e pistolas, trechos de outros  
funks ou trechos de vídeos (ou apenas dos áudios) de invasões a territórios inimigos,  
filmados pelas próprias facções que depois passam a compor os proibidões (ou os  
seus clipes) lançados na internet. Também são utilizados trechos de filmes, como Tropa  
de Elite, Cidade de Deus, entre outros , que são recortados, editados e utilizados nos  
clipes, ou mesmo nas músicas. A técnica de produção desses DJs claramente segue a  
linha daquilo que artistas e revolucionários de uma vanguarda radical francesa,  
organizada na Internacional Situacionista nos anos 1950 e 1960, caracterizou como  
detournement: o uso desviado de determinados elementos artísticos, que são  
instrumentalizados à revelia da sua origem e que passam a ser utilizados para novos  
fins. A técnica do uso desviado é regra no mundo dos proibidões e de maneira geral,  
está bastante presente na linguagem atual dominante na internet. Os MCs e DJs se  
apropriam de imagens, trechos de música, filmes e notícias e dão a elas novo  
significado. Assim no universo do proibidão uma foto do jogador Neymar fazendo um  
4 e um 0 com as mãos para uma foto, provavelmente em referência a uma vitória em  
uma partida de futebol, é recortada por esses DJs e passa a compor um clipe do Bonde  
dos 40. Uma notícia jornalística que fala de um atentado a uma delegacia, feita com o  
intuito de denunciar uma facção, pode ser recortada e colocada para abrir um  
proibidão, sendo celebrada como motivo de orgulho - como acontece no funk de MC  
Rusk. No funk de MC Neurótico, produzido por essa nova geração do proibidão  
maranhense, há um longo trecho que abre o funk com notícias sobre as situações das  
cadeias no Maranhão, em seguida, para contrastar, o DJ emenda com notícias de  
denúncias sobre as regalias concedidas a empresários e políticos presos na chamada  
“Operação Lava a Jato”, alcançando um efeito crítico engenhoso:  
O desvio, ou seja, a reutilização em uma nova unidade de elementos  
artísticos pré-existentes, é uma tendência permanente da vanguarda  
atual, antes e depois da constituição da I.S. As duas leis fundamentais  
do desvio são a perda de importância - atingindo a perda de seu  
significado original - de cada elemento autônomo desviado e a  
organização ao mesmo tempo de outro conjunto significativo que dá  
9 No funk “Partido” do PCC está presente trechos do filme Salve Geral.  
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a cada elemento seu novo significado (Internationnale Situacioniste,  
1959, p. 10, tradução dos autores).  
O uso desviado é de tal maneira difundido no universo dos proibidões que nem  
os funks das facções inimigas escapam. Quando há um funk que alcança grande  
sucesso (como Faixa de Gaza de MC Orelha), ele tende a ser amplamente  
instrumentalizado até mesmo por facções inimigas. Seu ritmo é “roubado” e uma nova  
letra é colocada em cima. Assim, funks famosos como “Todas as quebradas” de MC  
Daleste que tematiza periferias paulistas e apresenta uma vinculação simbólica com o  
PCC, é parodiado por um funk da facção Sindicato do Crime do Rio Grande do Norte,  
organização inimiga do PCC, substituindo os nomes das quebradas paulistas pelos  
nomes das quebradas potiguares dominadas pelo Sindicato. Não existe propriedade  
privada no proibidão que não seja violada. Os MCs se apropriam de versos um dos  
outros e até mesmo de clipes. Nada disso (até onde pude perceber) costuma ser visto  
negativamente nesse universo, que parece ter claro que essas apropriações criativas  
compõem a sua essência.  
A importância da oralidade no funk, apontada como “jornal das favelas” (FACINA;  
LOPES, 2012), se radicaliza ainda mais nestes proibidões aqui analisados, onde a  
música é repetidamente reivindicada como instrumento de expressão dessa fração de  
classe. Todos estes aspectos que descrevemos atravessam todas as organizações aqui  
analisadas, independentes se rivais ou aliadas. Neste passo, percebo nesta estrutura  
de sentimento a face sensível do fenômeno político que tratamos ao longo deste  
trabalho: a institucionalização do mundo do crime a nível nacional. Volto a afirmar que  
discorrer sobre a abrangência nacional desse fenômeno não é negar os contornos  
singulares que ele ganha em cada região, estado, cidade ou quebrada. Apenas  
salientamos os aspectos sensíveis que são comuns e estão presentes nos proibidões  
das distintas regiões, refletindo a existência de uma fração de classe que está ligada  
por laços organizativos, ideológicos, sensíveis e indentitários, que interage e consolida  
sua coesão cada vez mais a nível nacional, apesar das dissidências internas.  
Outra referência recorrente nos proibidões é a busca pela prosperidade que  
organiza e condiciona afetos, simbolizada pelas roupas de marcas e cordões de ouro,  
carros de luxo , etc. Essa temática que no funk se convencionou chamar de  
10 “Tamo banhado de ouro com várias roupas de marca/ Reserva e Armani, Tommy, essa que é a parada”  
(MC Segal, Bonde dos 40).  
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“ostentação”, está presente em 26 proibidões do nosso levantamento e formata uma  
representação que atrai a juventude periférica. No entanto essa vida de ostentação em  
geral não se confirma na prática: basta assistir aos vídeos que são expostos na internet  
por alguns MCs do Maranhão que são diretamente envolvidos com as facções, os locais  
onde os MCs aparecem cantando seus funks são feitos com paredes sem rebocos, as  
roupas são comuns, não aparecem os carros de luxo e os “quilos de ouro”. O que deixa  
claro que a maioria dos jovens que se engaja prematuramente nas facções no sonho  
de ascensão pelo crime, acaba por servir apenas de mão de obra barata e descartável,  
dado que a maior parte do capital que circula nos mercados ilegais, muito rentáveis  
sem dúvida, não se encerra nas comunidades onde são recrutados os operadores de  
base do varejo do tráfico.  
Esse sonho de ascensão a qualquer custo tem a ver com o lugar que o dinheiro  
passou a ocupar na nossa sociabilidade. Sabemos que o dinheiro é uma invenção  
humana com uma longa trajetória histórica. Acompanhando os florescimentos  
comerciais das grandes cidades, ganhou penetração e importância social em distintos  
modos de produção pré-capitalistas, mas nunca ao ponto de se generalizar como  
representante universal da riqueza, como aconteceria modernamente. Vale lembrar,  
que outrora, naqueles modos de produção, o dinheiro era rejeitado como fator de  
sociabilidade, na medida em que era visto como fonte de corrupção econômica e  
degeneração moral11. Embora presente desde há muito nas relações sociais, o  
desvendamento de sua natureza só se tornou possível com o amadurecimento de um  
tipo específico de relação social de produção, aquela “em que a forma mercadoria é a  
forma geral do produto do trabalho, e, em consequência, a relação dos homens entre  
si como possuidores de mercadorias é a relação social dominante” (MARX, 1989, p.  
68). Na estrutura de sentimento das facções, o poder do dinheiro e das armas se  
entrelaçam e se personificam em poucas figuras de destaques, que por sua história de  
“sucesso”, exercem papel de liderança nesse universo e se tornam quase lendários,  
mesmo que, em regra, suas vidas tenham fins prematuros e violentos. As referências  
a esses personagens marcantes são inúmeras, e sempre se exalta a imagem de uma  
liderança que impõe terror aos inimigos, que tem o respeito das quebradas e que  
protege os moradores, num contexto onde a vida do crime aparece como uma  
11  
“A sociedade antiga denuncia o dinheiro como elemento corrosivo da ordem econômica e moral”  
(MARX, 1989, p. 147).  
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alternativa para a juventude empobrecida, atraída pela promessa de prosperidade e  
de ascensão social pelas armas, que deseja alcançar uma vida de ostentação e riqueza  
que muitas vezes não se confirma, mas que é almejada a qualquer custo. O funk  
proibidão nos revela a estrutura de sentimento dessa juventude, que submetida a uma  
brutal condição de pauperização e segregação social e racial da era neoliberal,  
apresenta nas letras dos proibidões a consciência de que qualquer outra via de  
ascensão econômica para eles está bloqueada ou (no mínimo) extremamente  
dificultada.  
Para Marx, o modo de produção capitalista e suas relações de produção e  
circulação eleva um elemento específico a ser o núcleo e fio condutor na costura do  
tecido social capitalista, este elemento é o dinheiro, ou, dito de maneira mais rigorosa,  
a forma do valor: “entendo por valor o nexo social dominante em uma sociedade  
produtora de mercadorias” (ARANTES, 2007, p. 95) . Muito embora o dinheiro não  
seja uma invenção produzida pelo capitalismo, possuindo uma origem muito anterior,  
apenas sob o modo de produção capitalista ele foi alçado à condição de centro da  
vida social, à condição de objetivo primeiro e último da reprodução social, à qualidade  
de fim em si mesmo, num processo social que abrange os indivíduos das diversas  
classes.  
O modo de vida capitalista na busca pelo dinheiro como fim em si mesmo, e  
neste ponto, a fração da juventude engajada no crime não se difere em nada dos  
valores dominantes. Entretanto, a particularidade (relativa) de sua empreitada -  
amplamente questionada na sociedade - residiria na via das armas e na via do  
extermínio dos inimigos: práticas eleitas como maneiras de alcançar um padrão de vida  
confortável, cuja representação nas letras se dá pelo acesso a roupas de marca, carros  
de luxo, cordões de ouro, armas automáticas e de grosso calibre, etc. Quando o  
dinheiro assume o papel de mercadoria especial que monopoliza a função de medida  
dos valores, das coisas ou dos homens, reduzindo tudo ao “laço do frio interesse”, às  
“duras exigências do ‘pagamento à vista’”, ele absorve a sociabilidade “nas águas  
geladas do cálculo egoísta”, reduzindo tudo a meras relações monetárias, mediante a  
proclamação de “uma única liberdade sem escrúpulos: a do comércio” e ao fazer “da  
12  
Para Marx, no capitalismo o valor apresenta três formas de manifestação: a forma dinheiro, a forma  
capital e a forma mercadoria. No presente artigo nos ocupamos da forma dinheiro por ser ela a mais  
evidente no contexto imediato do presente estudo.  
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dignidade pessoal um simples valor de troca” (MARX; ENGELS, 2005, p. 42). Já  
ressaltamos que para estes jovens, esses bens não são simples itens de consumo, são  
signos que lhes conferem esta “dignidade” enquanto seres humanos. A imagem do  
despossuído, do zé ninguém, do derrotado, é o pesadelo que todos desejam escapar.  
Mais do que ânsia consumista, a posse desses signos, e, portanto, a posse do dinheiro,  
tem a ver com respeito e autoestima, com aceitação pelos seus e com a conquista das  
mulheres. Em suma, para eles significa escapar da invisibilidade social, que a condição  
de jovens pobres e favelados lhes confere. “Enquanto o cifrão falar mais alto e fizer  
parte da autoestima/ vai ter uma faixa de gaza sempre em uma nova esquina” (MC  
Orelha, Faixa de gaza 2).  
Relações sentimentais  
Mãe, perdoa esse filho seu  
Peço perdão por tudo que aconteceu  
Também chorei na despedida  
Não te escutei entrei pra vida bandida  
Ô mãe!  
Desculpe se eu te fiz chorar  
Homem não chora  
Não deu pra aguentar  
E no massacre do cotidiano  
Eu tô numa cela eu e 90 mano  
Avisa pra rapaziada que um dia eu volto  
Nos campos de terra eu boto a pipa no alto  
Eu e a rapaziada tipo: força irmão  
27 de setembro São Cosme e Damião  
Ô mãe!  
Avisa o pai que eu tô bem  
Dá um abraço na minha irmã também  
Avisa lá  
Que eu tô na luta  
Breve, breve eu tô com o meus amigo todo na rua  
Eu olho pro horizonte e só vejo muralha  
É triste de refletir vivendo na carceragem  
Eu tô pedindo perdão para a sociedade  
Mas breve, breve eu tô de volta com a minha liberdade.  
Divulga DJ! Liberdade pro Samuca, faz o “L” geral.  
(MC Menor B, Desculpa mãe)  
Todo o aspecto da banalização da violência presente na sociedade em geral e na  
guerra faccional, representada nas letras analisadas até aqui não impossibilita que  
esteja presente no proibidão uma série de outros afetos que também compõem a  
estrutura de sentimento do mundo do crime. Mostramos a solidariedade e a união  
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circunscrita ao mundo do crime. Anteriormente também abordamos a sensualidade,  
amizade, e a rejeição a uma realidade social deteriorada, a morte abordaremos o luto,  
a memória e a saudade dos entes queridos que tombam na guerra. Estes e outros  
tantos aspectos dessa sensibilidade estão presentes no proibidão e no mundo do  
crime, ainda que, contraditoriamente, conforme temos argumentado, estejam  
presentes também a violência, a indiferença, e o apagamento do outro a que alcança  
a brutalidade da negação aos ritos fúnebres dos inimigos, como veremos a seguir.  
Esse emaranhado de sentimentos contraditórios revela a complexidade de uma  
comunidade humana, como não poderia ser diferente. A caricatura de seres inumanos,  
maníacos sanguinários que não possuem nenhum sentimento a não ser a vontade de  
matar, seria uma abordagem fácil em relação ao mundo do crime e que provavelmente  
encontraria bastante audiência, porém a realidade contraditória das relações humanas  
está longe de ser esgotada por estes esquemas simplistas. Nessa abordagem  
metodológica tomamos um objeto complexo como o funk proibidão para análise, é  
preciso enxergá-lo em sua totalidade contraditória, sem pesar na análise sobre este  
ou aquele aspecto, e sem escorregar nas armadilhas da aparência. Assim, abordaremos  
o amor presente no mundo crime de acordo como ele aparece nos proibidões: na  
forma do amor recíproco entre mãe e filho.  
Utilizamos as palavras: Mãe/família, para catalogarmos quando os proibidões  
fazem referência à família que normalmente aparece sob a imagem quase exclusiva da  
mãe. As mães dos indivíduos que estão no mundo do crime são temas recorrentes nos  
proibidões. As mães, em regra, são retratadas como personagens que despertam  
respeito e admiração, como portadoras de um sofrimento legítimo de ter um filho  
preso ou assassinado: “Mas coração de mãe é difícil de entender/ E esquecer da morte  
de um filho”. No mundo do crime sempre são as mães que choram e velam pelos  
mortos na guerra: “mais uma mãe que tá chorando, comove até a Deus” (MC DD),  
assim como são elas, na maioria dos casos, quem visitam seus filhos no cárcere,  
situação que quando abordada, sempre é carregada de uma atmosfera de tristeza e  
arrependimento. As mães ou a família de maneira geral estão presentes em 10 funks,  
isso representa 8,3% dos proibidões catalogados.  
O funk acima de MC Menor B retrata um diálogo de um filho encarcerado com  
sua mãe. Esse diálogo é marcado por sentimentos como saudade, amor, tristeza,  
esperança, arrependimento (perdão). O forte tom de melancolia do funk, mesclado com  
essa gama de sentimentos citados anteriormente, transmite bem a angústia e o  
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sofrimento de viver no cárcere: “Eu tô numa cela eu e 90 mano”. Estes sentimentos  
descritos nessa relação entre mãe e filho no mundo do crime, especialmente se se  
tratando de uma mãe que tem seu filho encarcerado. O funk de MC Sadrak descrito  
abaixo em homenagem à sua mãe também traz elementos muito parecidos com o funk  
carioca de MC Menor B.  
Essa música aqui eu fiz pra mulher que eu mais amo no mundo, Mas  
eu tenho certeza que todo mundo que é vida loka vai se identificar  
com esse som aqui ó! É mais ou menos assim:  
Pra mim é mais que tudo (2x)  
É a mulher que eu mais amo nesse mundo  
Divulga direito DJ Latró!  
Com todo amor essa é pra você mamãe  
Tem meu amor dito em forma de canção  
Me perdoa tudo que eu te fiz sofrer  
Vou falar pra você  
Sou vida loca mas amo a senhora  
E de saudade meu coração chora  
Você é o que de bom existe em mim  
O sofrimento um dia vai ter fim  
Pra mim é mais que tudo  
É a mulher que eu mais amo nesse mundo  
Chora seu pobre coração  
O filho que mais ama hoje tá na prisão  
Graças a Deus cuida de ti os meus irmãos  
E o meu Pai que te ama de coração  
Mamãe não tem culpa pelo que hoje me tornei  
E aonde for sempre te levarei  
Nunca se esqueça que eu sempre te amarei (2x)  
Pra mim é mais que tudo (3x)  
É a mulher que eu mais amo nesse mundo  
Tento, tento viver  
A solidão no peito me fez entender  
Dô glória à Deus porque sempre foi comigo  
Graças a Deus hoje eu tenho o meu filho  
Ó mãe! Eu deixo um cheiro no teu coração  
Infelizmente hoje eu tô na prisão  
Mas aqui é passageiro  
Pra mim, pra mim cê vale ouro  
Pra mim cê vale ouro  
Pra mim cê vale ouro  
A joia rara de todo o meu tesouro (2x)  
Queria aproveitar e homenagear hoje a cada mãe que tem no seu  
coração a tristeza de ter um filho Encarcerado no regime de opressão.  
Queria homenagear hoje, dona Joana Rainha, Dona Índia, Dona  
Lourdes, Dona Lindalva, Dona Catarina que Deus a tenha no céu bem  
guardadinha no seu Coração. E agradecer a todo mundo que curte o  
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som de Sadrak MC, porque só fortalece moleque. Pode divulgar!  
(MC Sadrak. 2017)  
O funk de Sadrak tem o objetivo de homenagear não apenas a sua própria mãe,  
mas “cada mãe que tem no seu coração a tristeza de ter um filho encarcerado no  
regime de opressão”. Esse elemento merece destaque pois expressa a percepção por  
parte do MC de que o funk é um instrumento capaz de expressar sentimentos que  
ultrapassam a esfera individual e são comuns a pessoas em condições de vida  
semelhante, de acordo com o que temos argumentado até aqui. Este proibidão revela  
que os sentimentos acionados na relação com sua mãe estão presentes na experiência  
de outras famílias que tem um ente querido encarcerado. Desta forma, apesar de  
compor o funk para sua mãe, Sadrak sentencia: “Essa música aqui eu fiz pra mulher  
que eu mais amo no mundo, mas eu tenho certeza que todo mundo que é vida loka  
vai se identificar com esse som aqui ó!”. Cabe destacar que na imagem do vídeo está  
a frase “Chega de opressão”, escrita no chão de uma cela com trapos do uniforme  
laranja usado pelos presos em Pedrinhas. Esta imagem, juntamente com a data da  
postagem (outubro de 2016) parecem fazer menção à rebelião unificada de todas as  
facções ocorrida em finais do mês de setembro do mesmo ano, contra a opressão em  
Pedrinhas.  
Percebemos tanto no funk de MC Menor B do Rio de Janeiro, como no funk  
de MC Sadrak vários elementos em comum, dentre ele, o pedido de perdão para suas  
mães por terem entrado na vida do crime. Isso em geral é um momento raro nos  
proibidões. Geralmente nos proibidões os envolvidos no mundo do crime fazem  
questão de transparecer convicção sobre sua escolha e para sustentar tal postura,  
costumam se orgulhar da sua longeva caminhada no crime, alguns se empenham em  
demonstrar uma propensão à vida loka desde menor, como veremos adiante.  
Entretanto, quando essa escolha gera sofrimento à pessoa que eles mais amam, isto  
é, seus familiares e principalmente sua mãe, essa convicção se desvanece e até mesmo  
a masculinidade, organizada pela virilidade anteriormente descrita, cede espaço para  
um comportamento emotivo.  
Mãe, perdoa esse filho seu  
Peço perdão por tudo que aconteceu  
Também chorei na despedida  
Não te escutei entrei pra vida bandida  
Ô mãe!  
Desculpe se eu te fiz chorar  
Homem não chora  
Verinotio  
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Não deu pra aguentar  
[...]  
Diferente da mãe muitas vezes a figura do pai é retratada como violenta:  
Desde pequeno eu via meu pai  
Sem dinheiro chegando em casa  
Nem podia nem chorar  
Senão eu apanhava  
Desde criança aprendi uma lei  
A nunca falar demais  
Vi que a paz é contra lei  
E a lei é contra a paz  
Na realidade da vida  
Fui crescendo a cada momento  
Hoje no Maranhão  
Sou patrão do movimento  
(MC Copinho)  
No funk de MC Copinho a imagem do pai é construída de maneira diferente  
daquela ligada a mãe que mostramos até aqui. Se por um lado a mãe oferece amor e  
carinho, o tratamento conferido pelo pai, acima retratado como violento “não podia  
nem chorar/ senão eu apanhava”, fornece à dureza necessária a vida do crime, que,  
conforme dito anteriormente, muitas vezes no proibidão aparece como propensão  
desde muito cedo: “Desde criança aprendi uma lei/ A nunca falar demais/ Vi que a paz  
é contra lei/ E a lei é contra a paz”. Em seguida, como resultado desse duro  
aprendizado e do engajamento da vida do crime, MC Copinho celebra o que seria o  
objetivo da empreitada criminosa: a prosperidade e ascensão social: “Na realidade da  
vida/ Fui crescendo a cada momento/ Hoje no Maranhão/Sou patrão do movimento”.  
Como vemos, a imagem do MENOR é recorrente quando investigamos o universo das  
facções a partir da produção de seus funks. O termo menor é utilizado para crianças e  
jovens que se engajam no mundo do crime, diz respeito na maioria dos casos à sua  
condição de inimputabilidade penal, garantida pelo Estatuto da Criança e do  
Adolescente (ECA), que busca garantir em teoria tratamento diferenciado para pessoas  
menores de 18 anos que cometem atos previstos no código penal brasileiro. Por isso,  
escolhemos esta palavra para catalogar os proibidões que abordam os adolescentes  
no universo das facções, aspecto presente em 19 funks, que representa 15,8% do  
total de funks catalogados. O termo menor na maioria das vezes é utilizado por MCs  
para se referirem a crianças e adolescentes que se engajam no mundo do crime, apesar  
que, em relação aos proibidões cariocas, este termo pode ter uma conotação ambígua,  
pois não raramente é um termo utilizado para se referir a qualquer pessoa, por isso  
cabe sempre examinar o contexto.  
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Os funks abordam a vida desses jovens adolescentes que se engajam em regra  
no varejo do tráfico por não encontrar em outras atividades econômicas formas de se  
reproduzir socialmente. O engajamento dessa juventude é vital para a perpetuação  
dessa atividade visto a alta rotatividade de mão de obra devido aos altos índices de  
homicídios e encarceramento. Entretanto, as relações entre bandidos mais velhos mais  
jovens nem sempre são pacíficas. Esta relação foi descrita de maneira esclarecedora  
no romance Cidade de Deus, onde verifica-se que a consolidação do poder armado de  
um grupo criminal em determinado território, passa também pela imposição do poder  
dos bandidos mais velhos mediante a instrumentalização e disciplinamento dos  
bandidos mais jovens Esse conflito é representado na obra pelo embate entre a  
quadrilha do Zé Pequeno e a Caixa Baixa - um pequeno grupo de crianças e  
adolescentes que praticavam crimes dentro e fora da Cidade de Deus. Esse conflito  
que resulta na vitória dos mais velhos, que vencem devido ao seu poder bélico,  
financeiro e organizacional. A partir daí estabelecem seus interesses ao conseguir  
engajar de maneira subordinada uma parte dessa juventude e fazê-la obedecer normas  
como as que proibiam roubos na favela, pois atrapalhavam o andamento do tráfico.  
Nesta mesma trama, Zé Pequeno quando criança, junto com seu parceiro Biné, teve  
relações conflituosas com os bandidos mais velhos da Cidade de Deus, aos quais se  
associou de maneira subordinada para ter acesso a armas e conhecimento da atividade  
criminosa. Porém, depois que as obteve os suplantou com violência alimentando o  
ciclo de superação contínuo de relações entre bandidos mais jovens que se associam  
subordinadamente aos mais velhos para depois substituir aqueles que acabam mortos  
ou presos. Essa ascensão obviamente acontece para aqueles adolescentes que  
conseguem sobreviver por muito tempo nesse meio altamente hostil. Esse ciclo de  
substituição/superação conflituosa de gerações engajadas em atividades criminosas,  
pode ser observado na história de lideranças importantes das facções brasileiras, como  
a do traficante Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê. Jovem e ambicioso, Uê se associa com  
Orlando Jogador e depois assassina-o numa emboscada para tomar ele mesmo o  
controle do tráfico naquela região.  
Dessa maneira podemos dizer, grosso modo, que as facções ao se imporem como  
instituições de autorregulação e autodeterminação do mundo do crime, passam  
também a ter que mediar conflitos entre gerações distintas de indivíduos engajados  
em atividades criminosas em seus territórios. Esta dinâmica parece indicar que as  
facções acabam por consolidar que os mais novos sejam subordinados pelos mais  
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velhos, como acontece em Cidade de Deus, pois os bandidos mais velhos possuem  
dinheiro, armas, conhecimento e organização que os mais jovens não possuem. Os  
mais jovens, no entanto, se engajam nas facções através de um consenso ativo (ainda  
que subordinado) em vista de um retorno financeiro imediato ainda que pequeno  
(porém satisfatório visto o horizonte de expectativa). Além disso, possuem viva a  
esperança da ascese, mediante a substituição das lideranças mais velhas, caso  
consigam sobreviver à brutal violência da guerra perpétua do mundo faccional. Por  
esse motivo à figura do menor nos funks de facção sempre é associada aqueles que  
estão na linha de frente dos conflitos. Eles compõem o grosso da infantaria das  
facções, normalmente ocupados em funções na chamada contenção, cotidianamente  
preparados para “largar o aço” em polícia ou Alemão. Como em qualquer guerra no  
mundo, os mais jovens sempre estão nas trincheiras fazendo o serviço mais perigoso  
e pesado enquanto os mais velhos estão na retaguarda ocupando seus postos de  
comando, fazendo serviços de cunho mais administrativo e intelectual, ainda que  
também não escapem da violência da guerra de facções. MC Orelha, em diversos dos  
seus funks, aborda essa temática do menor como poucos no universo do proibidão:  
Desde menor aprendi, aprendi fechar com o certo  
E nunca falar demais e só mandar o papo reto  
Desde menor aprendi a conquistar minha liberdade  
E que a essência da vida sempre foi a humildade  
Comando por ideal, vermelho de natureza  
Eu represento Niterói, eu sou MC Orelha  
Tô fechado com Coqueiro, Nova Brasília, Fazendinha, Grota  
Esse é o Bonde dos 50, quer rajada no Gol Bola  
Pesadão na moral, você sabe como tá  
É o Complexo, oi bonde fiel de fechar  
Mas se correr o bonde derruba, se ficar o bonde picota  
É o Coqueiro, Nova Brasília, Fazendinha e o Bonde da Grota (2x)  
Na frequência do walk-talk, os menor tão na atividade  
Fazendo a contenção, pulando de laje em laje  
O bonde atravessa a pista com as mochila cheio de bomba  
Morador já tá ciente, é os cria fazendo a ronda  
O Complexo é CV e a bala come de repente  
Arrego é o caralho, o bonde descarrega o pente  
Em cada beco e viela, tu vai encontrar um Falcão  
Torrando um baseado, de fuzil G3 na mão  
E aqui só menor revoltado, tudo boladão com a vida  
Vacilão bate de frente, quando vê o bonde trepida  
Não adianta caguetar pensando em passar batido  
Vacilou aqui na Grota, neguinho fica fodido  
(MC Orelha, Desde Menor Aprendi, 2011)  
É mister apontar, face ao exposto acima acerca do processo de assimilação  
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subordinada no tempo dessa faixa geracional e social, os aspectos que lhe conformam  
no momento presente e como são enunciados e posicionados na estrutura de  
sentimento do proibidão. Neste mundo, espera-se do menor, sentimentos como  
“humildade”, no sentido de internalização da subordinação no interior da hierarquia  
faccional ou da empresa do tráfico (no caso maranhense parece não haver uma  
identidade entre elas), sem deixar, no entanto, de dar expectativas para um possível  
evolucionar no interior desta mesma cadeia hierárquica, sob o signo esperançoso da  
ascese social, em especial para os que urgem superar a gigantesca margem contrária  
de pauperização e condições desumanas de vida. Assim, nesse ideário, espera-se do  
menor envolvido no crime uma dedicação para a aprendizagem dos saberes  
necessários: “Todo gerente um dia já foi vapor/E o menor fechou com o certo e olha  
onde ele chegou”, cantam os versos de “Esse menor sou eu”, outro funk também de  
MC Orelha, icônico por trazer a primeiro plano a promessa de ascensão social a  
qualquer custo, mediante o poder das armas e do dinheiro alcançado pelo  
engajamento no crime.  
Concluindo  
Na contrafação da promessa da ascese, está o penoso e escarpado caminho para  
que ela se realize, visto que, também tidos como valores intimamente relacionados, o  
perene risco de morte ou encarceramento fazem parte da compreensão desta  
sensibilidade do mundo do crime. O realismo estatístico evidencia que a morte  
prematura ou encarceramento massivo dessa juventude são a tônica. Entretanto,  
apesar de precária a promessa, sua sustentação deriva, do ponto de vista imediato, de  
uma efetiva melhora econômica no rebaixado padrão de vida imposto a essa fração de  
classe, algo que se reconhece nas letras de funk – como a celebrada tríade: “mulher,  
ouro e poder” em sua síntese da defesa da “ostentação” – nos termos descritos  
anteriormente. Não é demais frisar que somente sob condições crescentes de  
pauperização se produz uma massa social que informa, com a peculiaridade própria  
de sua atual manifestação, que somente jovens em condições precárias de vida  
encontram num fuzil, o respeito e a dignidade por eles almejada. Neste sentido, a  
crítica e análise estéticas deste vasto material cultural produzido por essa juventude,  
do qual o funk parece ser um veículo privilegiado, passa pelo lugar da morte, sempre  
presente nesta realidade e tema recorrente nos proibidões.  
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Como citar:  
SILVA, Luiz Eduardo Lopes da REIS, Ronaldo Rosas. Estética, violência e solidariedade:  
juventude faccionada no proibidão. Verinotio, Rio das Ostras, v. 28, n. 2, pp. 44-70;  
jul-dez, 2023.  
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