Edição especial  
__________________  
A miséria brasileira  
DOI 10.36638/1981-061X.2025.30.1.749  
Uma filosofia para a acumulação: o pensamento  
isebiano na miséria brasileira  
A philosophy for accumulation: the Iseb’s thought in the  
Brazilian poverty  
Leandro Theodoro Guedes*  
Resumo: O presente artigo teve por objetivo  
realizar uma análise sobre a natureza do  
pensamento isebiano, especialmente seu aspecto  
nacional-desenvolvimentista. Tratou-se de um  
pensamento nascido para resolver uma questão  
renitente e irresolvível: a autonomia da burguesia  
nacional. Seus autores sustentaram a missão  
social de se criar uma filosofia para aceleração da  
acumulação capitalista. Conformou-se sob uma  
teoria do conhecimento perspectivista, apoiada  
na fenomenologia e no agnosticismo e defendeu  
da aliança de classes em nome do  
“desenvolvimento nacional”. Tais pontos  
inviabilizaram o vislumbre de novas alternativas,  
resultando nas velhas soluções conciliatórias.  
Examinar esses aspectos torna-se contributivo  
sobretudo com a voltada influência do nacional-  
Abstract: This paper aimed to analyze the nature  
of Iseb's thought, especially its national-  
developmentalist aspect. It was a thought born  
to resolve a stubborn and irresolvable issue: the  
autonomy of the national bourgeoisie. Its  
authors supported the social mission of creating  
a
philosophy  
accumulation. It conformed to a perspectivist  
theory of knowledge, supported by  
to  
accelerate  
capitalist  
phenomenology and agnosticism, and defended  
the alliance of classes in the name of "national  
development". Such points made it impossible  
to glimpse new alternatives, resulting in the old  
conciliatory solutions. Examining these aspects  
becomes useful, especially given the influence  
of national-developmentalism in the current  
public debate.  
desenvolvimentismo  
atualmente.  
no  
debate  
público  
Keywords: Iseb’s thought; theory of knowledge;  
nationalism; developmentalism.  
Palavras-chave: Pensamento isebiano; teoria do  
conhecimento; nacionalismo; desenvolvimen-  
tismo.  
1. Introdução  
O chamado nacional-desenvolvimentismo foi a consolidação de um processo de  
forte expressão intelectual, que conduziu o Brasil na tentativa de aceleração da  
acumulação de capital nos dois primeiros terços do último século. Tratava-se de uma  
preocupação que colocava a questão econômica como central, ainda que cerceada  
pelo politicismo. Atualmente, não tem sido incomum certa retomada desse  
*
Doutor em administração pela Universidade Federal de Viçosa. Professor no curso de tecnologia em  
logística da Faculdade de Educação Tecnológica do Estado do Rio de Janeiro. E-mail:  
ltheodoroguedes@yahoo.com. Orcid: 000-0001-6529-2188.  
Verinotio  
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nova fase  
 
Uma filosofia para a acumulação: o pensamento isebiano na miséria brasileira  
pensamento. Há, por exemplo, o entendimento de que “o Brasil do século XXI teria  
muito a aprender com esse capítulo do seu passado” (FONSECA; SALOMÃO, 2022, p.  
283). Não seria surpreendente que a remodelação de fórmulas antigas reaparecesse  
num país cuja formação híper-tardia do capital e o estágio de subordinação segue  
reiterado.  
Nesse itinerário intelectual, um importante exemplar foi o pensamento isebiano.  
O Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb) se consolidou como uma espécie de  
think tank institucional voltado para uma produção intelectual municiadora de ideias  
capazes de dar continuidade ao processo de desenvolvimento econômico, com a  
consolidação do capitalismo industrial, ancorado por uma aliança classista.  
Trata-se este de um objeto ideológico razoável, pois ele se constrói após um  
certo estágio de consolidação do “estado planejador” varguista, ao mesmo tempo em  
que o capitalismo brasileiro crescia aceleradamente, mesmo que ainda carregando as  
marcas inelimináveis da marcante “incompletude econômica da nossa burguesia”  
(CHASIN, 1982, p. 11). O próprio Chasin notou como mesmo a entrada do Brasil no  
capitalismo industrial em seus momentos mais maduros não foi capaz de superar a  
miséria brasileira, entendida como “conjunção entre o embrião maldito do capital  
incompletável agora já de engorda monopólica e a insubstancialidade teórica e  
prática, até hoje, da esquerda organizada” (CHASIN, 1985, p. xi). Se as expressões  
teóricas dessa miséria se apresentaram mais acabadas no ao longo da metade final do  
século XX, seus precursores podem se encontrar no período pré-64, do qual o  
pensamento isebiano é um dos expoentes.  
Também é importante ressaltar como esse ideário foi uma das últimas tentativas  
de posicionar o problema econômico em primazia, na medida em que, como  
constatado por Chasin (2000), no período ditatorial e na nova república, a  
preocupação da esquerda foi dominada pela questão da organização partidária e da  
institucionalidade, que relegou o econômico ao segundo plano.  
O Iseb já foi tematizado criticamente por variadas pesquisas que apontaram seu  
caráter ideológico, no sentido de promover análises inconsistentes (TOLEDO, 1979).  
Alguns aspectos, como um certo idealismo, ou mesmo um autoritarismo também já  
foram ressaltados (LEBRUN, 1963; IANNI, 2004). Entendemos que há ainda a  
possibilidade de investigá-lo indo além do unilateralismo quanto à sua natureza  
específica. Nesse sentido, o presente artigo tem por objetivo compreender a natureza  
do pensamento isebiano de 1952 a 1958. Este período abrange um intervalo que vai  
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além da instituição da organização, em 1955, justamente porque Hélio Jaguaribe  
(2018), principal autor isebiano, ressaltou que textos publicados nos Cadernos do  
Nosso Tempo entre 1952 e 1956 foram fundamentais para conformar a posição do  
pensamento isebiano. Por outro lado, exclui-se dessa análise textos posteriores por  
conta da mudança de posição e da própria composição, havendo um certo  
distanciamento do nacional-desenvolvimentismo. Para realizar este objetivo,  
empreende-se a determinação social do pensamento, buscando identificar a gênese  
histórica e a missão social, bem como os aspectos caracterizadores desse pensamento  
realizando a análise imanente (LUKÁCS, 2020; CHASIN, 1978; VAISMAN, 2010; PAÇO  
CUNHA, 2023).  
2. As condições objetivas para o surgimento do pensamento isebiano: a  
encruzilhada do capitalismo atrófico  
As consequências do imperialismo no Brasil são certamente um ponto de  
arranque importante para o pensamento isebiano. Uma primeira aproximação do  
problema da influência do imperialismo no Brasil pode ser obtida com a caracterização  
dada por Chasin (1978) à formação do capitalismo nacional. Tendo como parâmetro  
de análise as grandes potências que se transformaram nos grandes impérios  
capitalistas, o autor destacou a via clássica, por meio da qual se entificou o capitalismo  
de países como Inglaterra e França, onde além de um desenvolvimento industrial  
robusto, houve uma revolução política que desencadeou o estabelecimento de uma  
democracia liberal e o rompimento com o passado feudal.  
Por esse ponto de partida, o autor traçou as características de outras formações  
sociais capitalistas. Trata-se, por exemplo, dos casos de Itália, Alemanha e Japão que  
“não são acompanhadas pelo progresso social que marca os casos clássicos, mas que  
atingem o estágio imperialista no alvorecer do século XX ou muito pouco depois”  
(CHASIN, 1978, p. 633). Além de um descompasso com o desenvolvimento das  
formações clássicas, nesses países também se deu uma formação política conturbada,  
marcada pela transição autoritária, que não rompeu definitivamente com o passado.  
Nesse sentido, houve, na formação alemã, a conciliação do velho e do novo por meio  
da autocracia de Bismarck, o que configurou a chamada via prussiana.  
Em comparação com o caso alemão, por exemplo, “no Brasil a industrialização  
principia a se realizar efetivamente muito mais tarde, já num momento avançado da  
época das guerras imperialistas, e sem nunca, com isto, romper sua condição de país  
subordinado aos polos hegemônicos da economia internacional” (CHASIN, 1978, p.  
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628). A inserção do Brasil na divisão internacional do trabalho na entrada do século  
XX, portanto, se deu sem que o país conseguisse desenvolver seu capitalismo  
autonomamente e sequer tivesse formado uma burguesia nacional industrial.  
O fato de ser ainda mais retardatária fez com que a industrialização nacional  
não fosse apenas débil em termos de aceleração e diversificação do crescimento.  
Afinal, ela  
se realiza já no quadro da acumulação monopolista avançada, no  
tempo em que guerras imperialistas já foram travadas, e numa  
configuração mundial em que a perspectiva do trabalho já se  
materializou na ocupação do poder de estado em parcela das  
unidades nacionais que compõem o conjunto internacional. Ainda  
mais, a industrialização tardia, apesar de retardatária é autônoma,  
enquanto a híper-tardia, além de seu atraso no tempo, dando-se em  
países de extração colonial, é realizada sem que estes tenham deixado  
de ser subordinados das economias centrais (CHASIN, 1977, p. 176).  
O estágio imperialista não pode ser deixado de lado para se conhecer os  
caracteres mais determinantes da formação do capitalismo brasileiro. Considerando  
assim a formação da burguesia nacional, disse Chasin (1977, p. 177) que ela “teve  
que se contentar com fatias de reinado no colegiado dos pactos, e acumular sob a  
proteção do estado e o olho guloso do capital estrangeiro”, sendo incapaz de realizar  
“seus precípuos deveres econômicos”. Em suma, a via colonial “engendra uma  
burguesia que não é capaz de perspectivar, efetivamente, sua autonomia econômica,  
ou o faz de um modo demasiado débil, conformando-se, assim, em permanecer nas  
condições de independências neocolonial ou de subordinação estrutural ao  
imperialismo” (CHASIN, 1980, p. 128). Desenhou-se, portanto, de um cenário em que  
se estabeleceu um capitalismo dependente em relação às grandes potências, por isso  
também subordinado, cuja liderança econômica é representada por uma burguesia que  
se associou minoritariamente aos países desenvolvidos.  
A propósito de alguns elementos históricos, pode-se dizer que na formação  
dessa classe dominante, em setores nos quais houve alguma autonomização de uma  
burguesia local, como nos de bens de consumo mais básicos a exemplo do têxtil, e da  
produção de calçados ou de alimentos (especialmente carnes e cereais), sempre houve  
a dependência externa para a importação de maquinaria e de matérias-primas que  
canalizava o mais-valor extraído para os países imperialistas. E mesmo com incentivos  
governamentais, eventos como as guerras mundiais e as grandes crises econômicas  
do fim do século XIX e de 1929 bloqueavam o acesso a esses insumos, obstruindo o  
avanço da acumulação nessas indústrias (SUZIGAN, 1986).  
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Em outros setores, como na indústria de base, a exemplo da siderurgia, a  
indústria química, a indústria de cimento e outras mais, a dependência se dava pelo  
fato de terem sido iniciativas do próprio capital estrangeiro no Brasil. O país, por meio  
do estado, garantia, através de políticas como isenções tarifárias e a exploração por  
monopólio, as condições de estabelecimento dessas empresas. Tratou-se de uma  
tentativa da troca da dependência da importação geral desses bens pela dependência  
da produção estrangeira no Brasil (SUZIGAN, 1986). Essas medidas, contudo, eram  
sopesadas pela baixa demanda da produção desses materiais. Pelo menos até a  
década de 1930, as tentativas de estabelecimento de indústria de cimento no Brasil  
foram bastante errantes e não antes da década de 1940 o mesmo problema ocorria  
com a siderurgia.  
Em outros casos ainda mais acentuados, como o de transportes e fornecimento  
de energia elétrica, o estabelecimento do capital estrangeiro se deu mesmo em meio  
a debates com as resistências nacionalistas, exatamente porque não havia no Brasil  
qualquer possibilidade técnica de fornecimento desses serviços no início do século XX,  
sendo concedidas licenças a empresas estrangeiras. No caso dos transportes, houve  
algum desenvolvimento mais rápido por conta das necessidades da burguesia  
agroexportadora e do aporte de capital inglês na construção de ferrovias, operação  
das linhas e também na operação de navegação marítima. No caso da energia elétrica,  
foi necessária a entrada de uma empresa canadense para provimento de redes de  
transmissão nas grandes cidades (CASTRO, 1976). Esses setores eram também  
fundamentais para dinamizar a economia nacional, seja para escoar mercadorias, ou  
melhorar as condições energéticas para produção industrial. Esse setor de serviços  
básicos, que agregava transportes, fornecimento de gás, iluminação, entre outros,  
representou cerca de 62% de todo investimento estrangeiro direto no Brasil entre  
1903 e 1913 (CASTRO, 1976). Nas décadas finais do século XIX, de afluxo se  
direcionou para o setor de infraestrutura brasileiro, especialmente a produção e  
operação de ferrovias (CASTRO, 1976). Esse afluxo se intensificou com a crise mundial  
de 1875, que afetou especialmente a Inglaterra. Como os capitais estrangeiros  
destinados ao Brasil vinham do país britânico, a crise foi uma oportunidade para a  
burguesia inglesa recuperar-se com a captura de lucros no Brasil. O investimento em  
atividades logísticas de apoio à exportação de matérias-primas, como o café, fazia com  
que esses capitais britânicos se apropriassem de parte do mais-valor produzido pela  
atividade agroexportadora. Além de se dedicarem à operação das ferrovias, os capitais  
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estrangeiros também se ocupavam das atividades de navegação.  
As rendas obtidas com a exportação do café no início do século XX foram  
essenciais para impulsionar algumas iniciativas industrializantes, como os  
empreendimentos industriais no interior do país (STEIN, 1980; SUZIGAN, 1986), mas  
eram igualmente um entrave, na medida em que o direcionamento da política  
econômica visava atender aos interesses dos produtores de café e retardavam a  
autonomia industrial. Além disso, o próprio processo de endividamento externo, usado  
para subsidiar a produção cafeeira, fazia com que as rendas obtidas  
internacionalmente sequer retornassem satisfatoriamente para o Brasil, uma vez serem  
elas menores que os juros a serem pagos a serviço da dívida. Segundo Oliveira (1977,  
p. 33) era “uma forma de produção de valor que se autoconsumia no seu  
financiamento”.  
A dependência do setor agroexportador mantinha inviabilizada a transição para  
o capitalismo industrial e acentuava a subordinação ao capital financeiro estrangeiro,  
ao mesmo tempo em que mantinha o país concentrado em um setor que não se  
sustentava. Em outras palavras, “a intermediação comercial e financeira externa própria  
da economia agroexportadora representou uma restrição ao avanço da divisão social  
do trabalho interno ao próprio tempo em que se negava” (OLIVEIRA, 1977, p. 33).  
Essa contradição foi um entrave para o avanço do capitalismo nacional.  
A consolidação da independência política de países como o Brasil ao longo do  
século XIX interrompeu esse fluxo ininterrupto de exportação direta de lucros. Com a  
formação de uma burguesia agroexportadora e comercial, ainda que incipiente, o mais-  
valor extraído não era mais exportado totalmente. Ademais, o estado nacional se  
colocava como um agente importante, atraindo financiamento estrangeiro para obras  
de infraestrutura, manipulando a política fiscal e cambial em favor dessa burguesia  
comercial e agrária nascente, mantendo a massa salarial rebaixada. Esses processos  
modificaram, não somente o Brasil, mas os mecanismos de atuação internacional do  
imperialismo. Com a independência de novos países, “A troca desigual é agora uma  
das principais formas de exploração colonial; a produção direta de superlucros nas  
colônias tem papel secundário” (MANDEL, 1982, p. 245).  
Os movimentos que buscavam conter a influência imperialista na economia  
nacional puderam a ser vistos mais fortemente ao longo das primeiras décadas do  
século XX, ainda que de forma embrionária, pois nesse período não havia políticas  
econômicas sistemáticas para além do controle cambial e fiscal. Exemplo de política  
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fiscal se verificou com as indústrias têxteis sendo favorecidas com impostos sobre os  
bens de consumo importados ao longo da década de 1910 (LUZ, 1978). De acordo  
com Carone (1978), com o câmbio desvalorizado, havia o favorecimento da  
agroexportação, o que fortalecia a relação de trocas desiguais, contudo, isso era  
positivo para a indústria nacional porque dificultava a entrada de produtos importados;  
com o câmbio valorizado, as empresas estrangeiras se beneficiaram porque enviavam  
mais ouro com menos quantidade de dinheiro nacional auferido nos lucros dessas  
empresas.  
Capital agrário e industrial também tinham discordâncias claras, sobretudo  
quanto à imposição de taxas sobre a importação e ao controle inflacionário.  
Ocasionalmente, o estado também se opunha aos interesses industriais, pois as tarifas  
alfandegárias eram sua principal fonte de receita, chegando a 67% em 1898, por  
exemplo. Para conter os danos, o estado atuava na cessão de empréstimos para as  
indústrias (LUZ, 1978). Ainda assim, eram comuns as queixas de que as ações  
protecionistas executadas pelo estado não tinham o efeito esperado, seja pela sua  
estreiteza de alcance, seja pela posição do Brasil na divisão internacional do trabalho.  
Nos anos 1920, mesmo conseguindo a redução de tarifas aduaneiras para a  
importação de máquinas, os industriais têxteis reclamavam da facilidade de entrada  
dos produtos têxteis estrangeiros, superiores em qualidade, dificultavam a inserção  
dos produtos nacionais no próprio mercado interno (SUZIGAN, 1986). Essas disputas,  
contudo, se estendiam sem rupturas, uma vez que a estrutura econômica nacional  
acomodava tanto essas frações da burguesia nacional quanto a burguesia imperialista.  
O ano de 1930 é um marco na condução da economia nacional porque o estado  
passa a “proteger ou estimular os setores econômicos já instalados na economia  
nacional; formalizar o mercado de fatores de produção; e, também, controlar as  
relações sociais de produção” (IANNI, 1971, p. 7). Os primeiros anos do governo  
varguista viram a formulação de determinados órgãos, como a criação da Secretaria  
de Comércio Exterior. Através dela, passou-se a dar maior atenção para a necessidade  
de nacionalização da produção de bens de capital ligados à indústria de base, diante  
do diagnóstico de que não era vantajoso para o Brasil exportar minério de ferro e  
importar trilhos ferroviários. Nas palavras de Oliveira, nesse período,  
assiste-se à emergência e à ampliação das funções do estado, num  
período que perdura até os anos Kubitschek. Regulando o preço do  
trabalho, já discutido anteriormente, investindo em infraestrutura,  
impondo o confisco cambial ao café para redistribuir os ganhos entre  
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grupos das classes capitalistas, rebaixando o custo de capital na forma  
do subsidio cambial para as importações de equipamentos para as  
empresas industriais e na forma da expansão do crédito a taxas de  
juros negativas reais, investindo na produção (Volta Redonda e  
Petrobras, para exemplificar), o estado opera continuamente  
transferindo recursos e ganhos para a empresa industrial, fazendo  
dela o centro do sistema (OLIVEIRA, 2003, pp. 40-1).  
Ainda assim, a atuação mais destacada do estado nesse momento foi a  
execução da política trabalhista, que arrefeceu as mobilizações dos trabalhadores e  
controlou politicamente os sindicatos e o aumento salarial1 (VIANNA, 1978). Além  
desse movimento necessário, havia o recurso ao comércio exterior, no qual o Brasil  
exportava gêneros primários e importava bens manufaturados de consumo e de capital  
para dar marcha ao processo industrializante. Em 1933, a balança comercial brasileira  
apontava para a seguinte categorização:  
Tabela: 1 Principais classes de produtos no comércio exterior brasileiro em 1933  
Produtos exportados  
Vegetais e seus produtos  
Animais e seus produtos  
Minerais e seus produtos  
Valor (em libras)  
32, 5 milhões  
2,8 milhões  
500 mil  
Produtos importados  
Artigos manufaturados  
Matérias-primas  
Valor (em libras)  
15,3 milhões  
7 milhões  
Produtos alimentícios  
5,8 milhões  
Fonte: Brasil (1935)  
Na medida em que a atuação predatória do imperialismo estava clara desde os  
anos iniciais do século XX e que os efeitos dessa atuação eram inescapáveis no período  
em que o Brasil se consolidou como nação capitalista, as vias de desenvolvimento  
possíveis do capitalismo subordinado também estavam dadas no interior do  
imperialismo e isso também restringia o efeito das medidas nacionalizadoras, tais  
como  
As leis e os organismos criados para a energia elétrica, ferro, bancos  
de deposito, carvão etc., ou o decreto de 1933 que acaba com a  
cláusula permitindo que as companhias estrangeiras cobrem parte das  
tarifas elétricas em ouro, são sintomas dessa tendência  
nacionalizadora. (CARONE, 1978, p. 90)  
Nessa direção, com a Constituição de 1937 houve o estabelecimento do Código  
das Águas que buscava “nacionalizar” a indústria de energia elétrica, o que significava  
1
Segundo Ianni (1979), entre 1914 e 1952 o índice de salário real foi rebaixado, para o operário  
comum, de 100 para 84, mas essa redução foi vista para diversas categorias. Segundo Oliveira, a  
“regulamentação das leis do trabalho operou a reconversão a um denominador comum de todas as  
categorias, com o que, antes de prejudicar a acumulação, beneficiou-a [...] não era necessário que  
houvesse rebaixamento de salários anteriormente pagos, mas apenas equalização dos salários dos  
contingentes obreiros incrementais, isto é, da média dos salários” (OLIVEIRA, 2003, p. 39).  
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a necessidade de acionistas brasileiros para as empresas operarem no Brasil (IANNI,  
1971). Embora fosse uma tentativa de favorecer o capital nacional, não se tratou de  
uma lei tão efetiva, porquanto ela não provocou a retirada das empresas estrangeiras  
do setor: “para obedecer a lei, as companhias estrangeiras põem um brasileiro como  
diretor, simples testa de ferro e com funções honoríficas: é o caso da Light, com o  
engenheiro Edgard de Souza, ou de Mario Gama, a frente de 16 ramificações das  
Empresas Elétricas Brasileiras” (CARONE, 1978, p. 90). Quer dizer, entre a elaboração  
das leis e sua implementação, havia um certo hiato entre o objetivo pretendido e os  
resultados.  
Por outro lado, mesmo quando a dinâmica econômica internacional favorecia o  
Brasil, as consequências eram negativas. No período da II Guerra, o Brasil teve  
resultados positivos na balança comercial: aproveitou-se do aumento da demanda de  
gêneros primários e houve a impossibilidade de manter o nível quantitativo das  
importações. O país adquiriu créditos internacionais em moeda estrangeira, mas  
quando os dólares entraram no Brasil, desencadeou-se um processo inflacionário e o  
aumento súbito das taxas de lucros, respondidos com um decreto, aprovado pelas  
representações da burguesia, que instituiu um imposto sobre esses lucros, com a  
promessa de que ele seria restituído ao final da guerra. Ao mesmo tempo, o  
endividamento público passou por sucessivas renegociações que aumentaram os juros  
devidos (CARONE, 1976). Ou seja, o intervencionismo estatal através do planejamento  
foi executado, mas as condições impostas a uma economia internacionalmente  
subordinada insistiam em conduzir a resultados indesejados.  
Com a crise inflacionária da II Guerra, o governo varguista também lançou mão  
da “Lei sobre atos contrários à ordem moral e econômica”2 em 1945. Esta lei tentava  
controlar a formação de carteis e monopólios, vistos como irradiadores do processo  
inflacionário, por controlarem mercados inteiros. Na prática, o decreto atacava mais  
fortemente o capital estrangeiro instalado no Brasil, cujas empresas dominavam mais  
amplamente alguns setores (CARONE, 1976). A burguesia nacional então manifestou-  
se contrariamente à norma. Em uma manifestação enviada diretamente à presidência,  
as “classes produtoras” reclamavam que “em um país cujo progresso está na estreita  
dependência de formação de capital, a discriminação contra o capital estrangeiro, cujas  
empresas passaram a ser logo passíveis de desapropriação sem a justa indenização  
2
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pelo simples ato de uma comissão administrativa” (O ESTADO DE S. PAULO, 1945, p.  
8). A burguesia nacional não hesitava inclusive em conclamar sua sintonia orgânica  
com o capital estrangeiro questionando a intervenção demasiada do estado na  
economia.  
Outro aspecto limitador dessa tentativa de frear o capital imperialista estava no  
próprio estado brasileiro que realizava alianças com o capital imperialista para reunir  
as condições de estruturação das capacidades e realizar as decisões políticas. De tal  
maneira que “o projeto de capitalismo nacional não só foi pouco elaborado  
politicamente, mas já surgiu num contexto histórico dominado pela redefinição da  
hegemonia econômica, política, militar e cultural dos Estados Unidos” (IANNI, 1979, p.  
71).  
Essa influência direta dos Estados Unidos marcou o direcionamento para o  
liberalismo do governo Dutra. Com ele, o aparelhamento do estado orientado para a  
planificação e o direcionamento da economia se desfaz. A principal medida econômica  
foi a liberalização do câmbio que tinha como objetivo a atração de investimento  
estrangeiro para o Brasil e o aumento da capacidade de importação para a indústria  
nacional. A aposta na atração de investimentos estrangeiros já havia sido frustrada  
desde o fim da II Guerra com o Plano Marshall, que direcionou o capital estadunidense  
para a Europa. Inicialmente, essa política de Eugenio Gudin não trouxe os resultados  
esperados e inclusive resultou em déficits na balança comercial brasileira, além de não  
evitar a fuga de capitais internacionais (SKIDMORE, 1983). Somente em 1948 houve  
um direcionamento para controlar o câmbio e reter alguns recursos internacionais, de  
modo a reequilibrar a balança comercial e garantir a capacidade de importação de  
maquinaria pela burguesia industrial. Embora a política tenha sido entendida como  
equivocada, os ganhos da burguesia foram garantidos com a repressão salarial (IANNI,  
1979).  
Durante o segundo governo varguista, retomou-se as estratégias ainda mais  
próximas do que poderia ser entendido como planificação econômica: além da reunião  
das capacidades estatais para o desenvolvimento (com órgãos técnicos, empresas  
estatais e bancos públicos), houve a formação de planos econômicos.  
Os últimos tinham a execução travada por conta da dependência e dificuldade  
de obtenção do financiamento estrangeiro (CARONE, 1978; IANNI, 1979). Foi o  
exemplo dos projetos elaborados pela Comissão Mista Brasil Estados Unidos (CMBEU).  
Segundo Gomes (2022, p. 4) “Os custos estimados de todos os projetos eram de US$  
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387,4 milhões e aproximadamente Cr$ 14 bilhões em despesas locais. No entanto, o  
total de financiamentos recebidos foi de US$ 181, 9 milhões”. A criação da Petrobrás  
fora importante, mas não nacionalizou definitivamente aquele mercado: “derivados  
continuaram a ser comercializados pelas empresas estrangeiras e suas subsidiárias no  
Brasil” (IANNI, 1979, p. 127).  
O governo Kubitschek partiu de um diagnóstico, feito tanto pela CMBEU quanto  
pelo BNDE-Cepal, de que a associação com o capital estrangeiro era incontornável  
para o salto necessário da economia brasileira. Esses dois estudos viam isso de  
maneira diferente quanto às medidas a serem empregadas e à qualidade dessa  
participação, mas concordavam quanto à associação necessária para que a economia  
brasileira se apropriasse dos elementos técnicos necessários para dar as condições do  
salto industrial (IANNI, 1979). O que se conhece como substituição de importações,  
capacidade de produção de bens manufaturados para o mercado interno, dependia de  
uma diversificação da produção nacional acessível pelas associações com o capital  
estrangeiro, especialmente com a entrada de filiais de multinacionais para a produção  
de bens de consumo no Brasil.  
De modo que a tônica do governo Kubitscheck em relação ao capital  
estrangeiro sempre foi a de uma relação de aproximação. Com a Instrução 113 da  
Superintendência da Moeda e do Crédito (Sumoc) foi incentivada a entrada de capital  
estrangeiro por meio de bens de capital, sendo essas importações compensadas com  
participações acionárias em empresas brasileiras. Com a Instrução, “o capital  
internacional internalizava máquinas e equipamentos que já eram obsoletos em seus  
países de origem, superfaturando valores de importação e amortizando os custos fixos  
de seus bens de capital, ou mesmo ganhando desconto no imposto de renda”  
(CAMPOS, 2017, p. 119). Ao mesmo, tempo não havia tanta reação do capital nacional  
a esse movimento,  
graças ao ide, o capital privado nacional seria atendido pela ampliação  
do parque industrial, no qual as possibilidades de crescer sob o efeito  
dinâmico que o oligopólio externo criaria eram imprescindíveis para  
sua existência. Essa associação subordinada e ao mesmo tempo  
“virtuosa” – do capital nacional com a empresa estrangeira  
possibilitou, em companhia de certas frações de classe, setores  
estatais e do exército, a constituição de uma espécie de “complexo  
multinacional” (CAMPOS, 2017, p. 119).  
De forma geral, foi relevante a magnitude dessa medida pois “mais de 50% do  
total de investimento externo direto que ingressou no Brasil entre 1955 e 1960, ou  
US$ 401 milhões, o fizeram sob a égide daquela Instrução” (GIAMBIAGI, 2011, p. 32).  
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nova fase  
Uma filosofia para a acumulação: o pensamento isebiano na miséria brasileira  
Destacando-se os setores de veículos, mecânica e elétrica e química e farmacêutica  
quase 75% do montante investido (CAMPOS, 2017). A respeito dessa entrada  
massiva, houve apenas uma reação de representantes do capital nacional, por meio da  
Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). O projeto proposto pela  
Fiesp se apoiava “no capital nacional e estrangeiro, não se tratando, portanto, de um  
projeto para o capital nacional, mas de um projeto onde o capital nacional determine  
as condições de participação do capital estrangeiro” (TREVISAN, 1986). Contudo,  
apesar de algumas concessões em relação a mudanças na instrução, a comissão de  
empresários nacionais pleiteada para a escolha dos projetos não foi formada.  
A despeito do caráter passivo da burguesia nacional e da dependência estatal,  
a via de associação com o capital estrangeiro era elementar, e cada vez mais simbiótica.  
Por essa razão, afirma Ianni (1979, p. 168) “ao mesmo tempo em que se promovia  
(de modo deliberado ou não) a substituição de importações, criavam-se novas  
exigências de importação de máquinas implementos acessórios, know-how e matérias  
primas para instalar os novos empreendimentos ou para dar continuidade ao seu  
funcionamento”.  
Para resumir as consequências do processo que se iniciou em 1930, é possível  
acompanhar o quadro de transferências internacionais do Brasil na Tabela 2:  
Tabela 2: Transferências internacionais do Brasil com o exterior (1930-1958)  
Rendas de capitais  
Transações correntes  
Capitais  
Superavit (+) ou deficit (-)  
1930  
1931  
1932  
1933  
1934  
1935  
1936  
1937  
1938  
1939  
1940  
1941  
1942  
1943  
1944  
1945  
1946  
-123,4  
-98,9  
-45,5  
-28,3  
-45,9  
-67,6  
-76,5  
-81,5  
0
-79  
4,1  
54,4  
-9,5  
-25,9  
-20,9  
-12,6  
0,5  
-116,1  
15,8  
35,7  
-11,5  
-12  
23,9  
14  
30,3  
-32,8  
10  
22,9  
-51,2  
0
0,5  
-63,3  
4,4  
0
0
75,1  
-0,8  
-11,7  
-26,8  
-34,4  
-40,8  
-53,7  
-68,5  
-62,5  
-65  
28,4  
-12,3  
91,7  
201,3  
198,5  
185,8  
248,2  
188  
-0,3  
-23,5  
-35,9  
-29,1  
45,6  
-20,5  
-32,6  
-3  
4,4  
60,3  
149,6  
252,8  
157,4  
61,7  
96  
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1951  
1952  
1953  
1954  
1955  
1956  
1957  
1958  
-36  
-63  
-151  
-2  
12  
-51  
-74  
-65  
-11  
35  
-182  
-24  
-62  
-82  
140  
-403  
-624  
55  
-74  
-74  
52  
-90  
-291  
-615  
16  
-36  
-127  
-97  
59  
-195  
2
-18  
3
-203  
17  
-78  
-127  
-122  
-108  
57  
151  
255  
184  
-14  
-264  
-248  
-171  
-189  
Fonte: Brasil (1990). Nota: Rendas de capitais se refere a lucros, dividendos e juros auferidos por capital  
estrangeiro no Brasil; Transações correntes são o saldo total de entradas e saídas de recursos e capitais  
são o saldo de entradas e saídas em transações financeiras  
Até o período do início da II Guerra houve o predomínio de resultados negativos  
na Balança de pagamentos que são explicados pelos recursos usados para amortização  
da dívida externa (na coluna capitais) que superam o saldo positivo de exportações  
sobre as importações. Em todos os anos, o saldo negativo de rendas de capitais é  
superior ao resultado total de superávit ou déficit e também supera a entrada de  
capitais estrangeiros no país.  
Posteriormente, houve a melhora da balança comercial com o aumento das  
exportações que superaram a fuga de capitais privados e a amortização da dívida  
pública, mas conviveram com o fluxo de saída de renda de capitais. Tais processos  
resultaram na tentativa fracassada do governo varguista de controlar os lucros e os  
movimentos da burguesia. No período posterior a 1945, as amortizações da dívida  
pública superaram a entrada de capitais estrangeiros e, mesmo com resultados  
amplamente positivos na balança comercial, a saída de renda de capitais deteriorou o  
resultado total, efeito das políticas liberalizantes do governo Dutra. Durante a década  
de 1950, a fuga de rendas de capitais reduziu os resultados positivos da balança  
comercial que se mantiveram negativos mesmo após a entrada de maiores  
investimentos diretos (coluna Capitais), após a Instrução 113 da Sumoc.  
Retomando as considerações de Mandel acerca das trocas desiguais, esses  
resultados mostram como o Brasil se mantinha dependente das nações imperialistas  
mesmo com a utilização de estratégias variadas e distintas lideradas pelo estado que  
foram desde a planificação e protecionismo até a liberalização, passando pela  
combinação entre essas orientações. Mesmo quando havia a entrada massiva de  
investimento estrangeiro ou saldo positivo na balança comercial, as contas eram  
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Uma filosofia para a acumulação: o pensamento isebiano na miséria brasileira  
sopesadas pela saída de rendas de capital (que incluía remessas de lucros) ou pela  
amortização da dívida pública, o que no geral significava a transmissão do mais-valor  
extraído nacionalmente para os países dominantes. Esses diferentes movimentos  
mostram como esse mecanismo das trocas desiguais era potente.  
De uma maneira geral, pode-se ver que a burguesia dependente que se formou  
com a via colonial foi incapaz de completar a autonomização do capitalismo não  
somente por suas incapacidades, mas pela própria dinâmica internacional que pariu  
uma classe dominante acuada na disputa internacional e obrigada a atuar  
subordinadamente, auxiliada por estado igualmente débil e limitado quanto à  
efetividade das ferramentas de gestão utilizadas. São essas as condições objetivas que  
fazem surgir o pensamento isebiano. Se o capitalismo industrial se desenvolve no  
Brasil, isso se dá em condições precárias. Portanto, um pensamento que buscava a  
autonomização da burguesia nacional num contexto de relativa consolidação do  
capitalismo, seria mais uma resposta ao persistente problema do capital atrófico.  
3. Breve introdução ao pensamento isebiano e seus antecedentes  
Todo esse processo de disputas no interior do estado na tentativa de obtenção  
de políticas econômicas favoráveis a diferentes setores da burguesia, e a disputa  
destes setores contra o capital estrangeiro produziu formações ideais que ganharam  
força nas décadas seguintes à República Velha, mas já estavam em gestação.  
Pelo lado agroexportador, os defensores mais moderados da agricultura, como  
Américo Werneck, construíram a argumentação de que o país deveria permitir somente  
o desenvolvimento da chamada “indústria natural”, a indústria que se utilizasse de  
insumos produzidos no território nacional; mas havia também o pensamento ruralista,  
defensor da agropecuária, que repelia a modernização industrial urbana, erguendo-se  
como uma reação a entrada do capital estrangeiro que financiou essa indústria. Um  
importante representante dessa corrente foi Alberto Torres. Chasin (1978) observou a  
formação de um caldo cultural ruralista que vinha desde os defensores do modelo  
agroexportador, como o moderado Werneck, passando por suas expressões mais  
reacionárias no plano social, como a hostilidade ao estrangeiro de Alberto Torres, para  
quem os imigrados, “impedindo a formação das instituições e dos costumes de  
conservação e de aperfeiçoamento, ainda mais nos desviaram do curso normal da  
formação progressiva de todas as nacionalidades” (TORRES, 1938, pp. 44-5).  
Chegando ao ponto mais alto da regressividade com o integralismo de Plínio Salgado.  
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Leandro Theodoro Guedes  
Por outro lado, o pensamento que tinha a indústria em primazia se ancorou  
muito no protecionismo e na defesa da formulação de políticas capazes de fomentar  
o desenvolvimento autônomo da indústria nacional (LUZ, 1978). Figuras como  
Serzedelo Corrêa ficaram conhecidas como os primeiros a produzir um pensamento  
protecionista da economia. Além de crítico do laissez-faire dizia que o protecionismo  
“pode fazer com que dado paiz [sic] adquira esta ou aquela manufatura, que não  
poderia possuir sem esse amparo, de modo que depois de certo tempo os seus  
produtos se vendam a preço menor que o seu similar estrangeiro” (CARONE, 1977, p.  
45).  
O nacionalismo de cunho mais industrializante aparece com mais força a partir  
de 1930, a despeito de ter ganho alguma forma nas décadas anteriores. Importantes  
nomes, como o acima citado Serzedelo Corrêa e Amaro Cavalcanti, participavam das  
lutas da burguesia no parlamento brasileiro e estavam muito alinhados com os  
interesses práticos da burguesia industrial. Por isso, o conteúdo dos seus trabalhos  
era claramente dirigido a linhas de ação (LUZ, 1978). O problema do estabelecimento  
da indústria nacional frente à agricultura, do comércio importador e da própria  
indústria imperialista, permaneceu nas décadas seguintes provocando as reflexões de  
autores como Calógeras, Simonsen e Gudin, caminhando para uma esfera mais ampla  
numa tentativa de equacionar a resolução das questões sociais e da acumulação de  
capital por meio da direção da administração política do país (planejada ou  
liberalizante).  
As respostas dadas por esses autores variaram, sempre orbitando na defesa de  
um setor da burguesia nacional, ainda que tenha desaparecido a hostilidade mais  
declarada contra o capital estrangeiro. Exatamente porque a história do  
desenvolvimento capitalista brasileiro até os anos 1950 circulou nos mesmos entraves  
diante da tarefa de destravar o processo de acumulação. A preocupação econômica  
inclusive se manifestou em formas de pensamento que não se ligavam diretamente à  
economia. Ideólogos do Estado Novo, como Azevedo Amaral e Francisco Campos, no  
plano político, defendiam um autoritarismo como alternativa para esse processo de  
evolução do capitalismo nacional (IANNI, 2004).  
O pensamento isebiano nasce também voltado para a construção, no plano das  
ciências humanas, da necessidade de instrumentos teóricos para o desenvolvimento  
nacional. Resultante da reiteração da miséria brasileira, como continuador dessas  
linhas industrializantes, procurou construir um ideário que pudesse unir vários  
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Uma filosofia para a acumulação: o pensamento isebiano na miséria brasileira  
elementos teóricos para detectar as origens da crise brasileira e assim produzir as  
soluções adequadas, inclusive no plano da cientificidade. Em uma das primeiras  
produções do Instituto era claro o entendimento de que o país vivia uma crise  
econômica. A interpretação a este respeito era de que a indústria nacional tinha  
atingido, na década de 1950, a hegemonia interna na burguesia, mas ainda não era  
capaz de dominar a produção de bens de consumo; no plano social e cultural essa  
burguesia, dotada das melhores capacidades intelectuais, falhava ao produzir as  
soluções para as questões nacionais; e no plano político, a crise produzida pela queda  
do Estado Novo exigia uma solução que fugisse ao binômio socialismo e liberalismo  
(IBESP, 1952).  
O aspecto mais distintivo do pensamento isebiano foi uma preocupação maior  
com os aspectos “culturais”, entendidos também como fonte da crise. Segundo  
Jaguaribe, eram as seguintes linhas principais que guiavam o pensamento isebiano  
Posição  
epistemológica  
caracterizada  
por  
um  
realismo  
perspectivístico e crítico; (2) Posição histórico-sociológica orientada  
por uma tentativa de superação das limitações do positivismo  
(coisificação do evento social) e do marxismo (materialismo histórico  
e teoria do valor-trabalho) e encaminhada para um culturalismo  
intercondicionado pelos fatores reais da existência; (3) Teoria  
relativista das ideologias, considerando-as em função das condições  
estruturais e históricas de cada sociedade”. (JAGUARIBE, 2018, p.  
241)  
As preocupações com as questões políticas e econômicas deixam o indicativo  
muito claro de que se tratava de um lócus de discussão voltado para a autonomia da  
burguesia nacional, ainda que seja evidente o acento sobre as preocupações de ordem  
filosófica para a sustentação das reflexões políticas e econômicas.  
O pensamento isebiano nasce um pouco antes do próprio Instituto ser fundado.  
No início dos anos 1950 passa a se articular o Instituto Brasileiro de Sociologia,  
Economia e Política (Ibesp), que publicava os Cadernos do Nosso Tempo. Autores como  
Jaguaribe e Guerreiro Ramos publicaram importantes textos neste periódico.  
O programa econômico falava em reduzir os custos da indústria nacional,  
considerando a necessidade de soluções para os suprimentos (matérias-primas),  
energia (que à época envolvia a questão do petróleo) e a infraestrutura de transportes.  
Retomava-se assim a fórmula planificadora, sendo que a “solução mais eficaz e rápida  
desses problemas exige um planejamento geral da economia e a rigorosa execução  
dos planos” (JAGUARIBE, 1953, p. 138). Sublinhou-se a tentativa de criar uma solução  
que se distanciasse do liberalismo clássico e do socialismo. Como causas da crise  
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Leandro Theodoro Guedes  
estavam a ausência de uma circulação de elites e a “rebelião das massas, atualmente  
se manifestando, sobretudo, em forma de um oportunismo demagógico” (JAGUARIBE,  
1953, p. 139), o que ensaiava a construção de uma teoria de aliança de classes que  
garantia a subordinação do trabalho ao capital. Também se identificava o problema de  
eficiência do chamado “estado cartorial”, que não cumpria suas funções devidamente.  
4. A concepção faseológica na apologia direta da sociologia para a acumulação  
Um importante elemento do ideário isebiano era o chamado método  
faseológico, concepção etapista que enxergava a necessidade de transição de um  
semicolonialismo subdesenvolvido para o desenvolvimento, tal qual as grandes  
potências alcançaram. Mas no caso do pensamento isebiano o problema da fase tinha  
também repercussões no plano filosófico. A ideia de fase é compreendida como “uma  
etapa do processo histórico-social de uma comunidade. A época é uma etapa do  
processo histórico-social de uma cultura ou civilização” (IBESP, 1956, p. 55). Guerreiro  
Ramos também foi o principal expoente a tratar desse aspecto. Esse inclusive é um  
ponto de contato importante entre o ideário isebiano e a filosofia irracionalista, pois  
essa ideia de época está intrinsecamente ligada com o agnosticismo, seguindo o  
entendimento de que determinados conceitos são circunscritos a uma determinada  
época e, por isso, “cada época tem sua verdade absoluta e não há como conceber, de  
maneira iluminista, uma soma permanente de verdades relativas, um aproximar  
crescente da verdade absoluta, entendida como termo culminante de um processo  
contínuo de esclarecimento” (RAMOS, 1955, p. 1). Em outro lugar, foi possível mostrar  
como esse agnosticismo adquiriu maturidade no pensamento de Ramos a partir de  
sua crítica ao materialismo (GUEDES; PAÇO CUNHA; SILVA, 2023). Mas mais do que  
isso, esse agnosticismo ganha tração na tentativa do sociólogo de construir a  
sociologia para a acumulação. Deixando claros os seus objetivos na redação d’A  
redução sociológica, a construção nacional levava o sociólogo nacional  
por um lado, integrar a disciplina sociológica nas correntes mais  
representativas do pensamento universal contemporâneo. Por outro,  
pretende formular um conjunto de regras metódicas que estimulem a  
realização de um trabalho sociológico dotado de valor pragmático,  
quanto ao papel que possa exercer no processo de desenvolvimento  
nacional (RAMOS, 1958/1996, p. 41, grifos nossos).  
O papel da sociologia é, portanto, pragmático, apoiando o desenvolvimento do  
capitalismo nacional. Tratava-se de uma posição que se alinhava com os alegados  
objetivos da burguesia industrial brasileira ainda que como se viu, a própria  
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nova fase  
Uma filosofia para a acumulação: o pensamento isebiano na miséria brasileira  
burguesia nacional não compartilhava desse objetivo. Ramos deixou ainda mais claro  
esse compromisso em termos indubitáveis, ao dizer que o “trabalho sociológico em  
país periférico, muito menos do que qualquer outro, não pode permanecer  
descomprometido do processo de acumulação de capital” (RAMOS, 1957/1995, p.  
36). Considerando assim, a época como essa redoma instransponível na qual  
determinados conceitos surgem e estão aprisionados, aparece a fase como sua  
análoga no plano econômico. A fase que aspira ao desenvolvimento, portanto, poderia  
tão somente corresponder a uma sociologia a serviço da acumulação.  
O método faseológico obteve repercussão no ideário isebiano. Embora o  
conceito já tenha aparecido em obras de autores do instituto (CORBISIER, 1958;  
JAGUARIBE, 1958), foi sistematizado no documento “Para uma Política Nacional de  
Desenvolvimento” publicado nos Cadernos do Nosso Tempo em 1956. Neste texto,  
um dos fundamentos é exatamente a concepção faseológica, segundo o qual “as  
comunidades pertencentes a um mesmo processo histórico global tendem a percorrer  
as fases determinadas pelo curso desse processo” (IBESP, 1956, p. 54).  
Exemplificando com o argumento de que “a fase em que se encontra o Brasil, por  
exemplo, corresponde àquela em que se encontravam os Estados Unidos nos fins do  
século XIX, não obstante o fato de o Brasil estar vivendo, como os Estados Unidos, na  
mesma época do imperialismo mundial” (IBESP, 1956, p. 55). Sendo assim, essa  
concepção de fases fundamenta o entendimento de que era necessário promover o  
desenvolvimento do capitalismo nacional para alcançar as fases mais avançadas, ou a  
tarefa de conclusão da fase de autonomia econômico-social do país.  
Guerreiro Ramos entendeu que a industrialização era um processo necessário,  
caso os países subdesenvolvidos quisessem avançar a fase. Segundo ele,  
“considerando progresso técnico e o aumento da produtividade, seja pela utilização  
da energia mecânica, pode-se dizer que é esse progresso que promove a melhoria do  
nível de vida das populações, isto é, o seu bem-estar social” (RAMOS, 1958/1996, p.  
141).  
O autor investiu numa associação direta entre a melhora dos níveis de vida e o  
processo de acumulação. Essa é uma correlação que certamente poderia ser  
identificada nos países desenvolvidos, sendo uma posição progressista, mas acrítica,  
de modo que não apenas deixa de lado as contradições fundamentais inerentes a esse  
processo. Também deixa de lado o tensionamento provocado pelas lutas sociais nas  
conquistas de direitos sociais. Nos próprios países desenvolvidos esse é um aspecto  
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nova fase  
Leandro Theodoro Guedes  
histórico muito claro, haja vista os violentos processos que levaram à acumulação  
primitiva e as várias lutas sociais que se deram ao longo do século XIX até a garantia  
dos direitos sociais (MARX, 2013). Essas lutas também foram uma exemplaridade  
histórica no Brasil, haja vista todo o processo que levou à Consolidação das Leis  
Trabalhistas (FAUSTO, 1977; PINHEIRO; HALL, 1981). O processo de transformação  
tecnológica e de industrialização inclusive foi possibilitado por um processo acentuado  
de exploração do trabalho, levando a uma série de mobilizações e greves. Mas  
processos semelhantes ocorreram em todos os países em que se desenvolveu o  
capitalismo, não havendo essa relação automática defendida pelo sociólogo brasileiro.  
Ainda assim, sendo as lutas de classes um fato concreto muito evidente, o autor  
não podia deixar de se dirigir à classe trabalhadora e fazia isso mostrando-se contrário  
às suas aspirações, na medida em que elas obstavam o processo de acumulação de  
capital. Em seus termos:  
O conhecimento dos padrões de vida dos povos desenvolvidos leva todas as  
classes sociais nos países subdesenvolvidos a pretenderem consumos  
relativamente altos, que dificultam a acumulação de capital. Nos países  
periféricos, a propensão a consumir, na escala e modalidade equivalentes as  
dos países industrializados, dificulta o seu desenvolvimento, pois desestimula  
a poupança, assumindo caráter predatório (RAMOS, 1958/1958/1996, p.  
116).  
Aos dominados, caberia sacrificar o nível de consumo de modo a favorecer o  
processo de desenvolvimento. Esse sacrifício deve ser realizado por todas as classes,  
mas caberia questionar o autor se os ganhos seriam repartidos igualmente. Defendia  
assim a conjugação de esforços em torno do processo de desenvolvimento. A busca  
por uma conciliação classista, como veremos, se consolida com a ideia de nação.  
5. Fundamentação gnosiológica no perspectivismo: a ciência a serviço da  
acumulação de capital  
É justamente uma teoria sustentadora da aliança de classes, por meio do  
nacionalismo, o que mais mobilizou o pensamento isebiano do ponto de vista  
filosófico. Por isso, é um ponto central o vínculo com o perspectivismo no plano da  
teoria do conhecimento, aspecto mais desenvolvido nos estudos de Guerreiro Ramos.  
Esse vínculo sustentava o procedimento fundamental de submeter a ciência ao  
processo de acumulação de capital. A ideia era realizar no plano teórico, o que  
acontecia na economia. Nisso cabia a possibilidade das chamadas “transplantações  
acelerativas”, assimilações estrangeiras como “máquinas, os processos fabris de alto  
rendimento, certas formas especializadas de instrução e educação” (RAMOS,  
1957/1995, p. 117). De modo que essa relação com os produtos estrangeiros não se  
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Uma filosofia para a acumulação: o pensamento isebiano na miséria brasileira  
resumia à tecnologia:  
Nos países periféricos, é a adoção sistemática de um ponto de vista  
universal orientado para o futuro que possibilita a redução  
sociológica. É o imperativo de acelerar, de modo historicamente  
positivo, a transformação de contextos subdesenvolvidos que impõe  
ao cientista de países periféricos a exigência de assimilar não  
mecanicamente o patrimônio científico estrangeiro. (RAMOS,  
1958/1996, p. 110, itálico do autor)  
Existia, no autor, essa relação que confunde a produção científica da sociologia  
com a sua aplicação na necessidade de promoção do desenvolvimento nacional. Em  
outras palavras, a necessidade de se produzir uma sociologia para a aceleração da  
acumulação. Portanto, se por um lado há a valorização das transplantações  
acelerativas, por outro, há analogamente a assimilação do patrimônio científico não  
para contribuir com o reto esclarecimento da particularidade brasileira, mas para  
transformar o subdesenvolvimento na perspectiva da burguesia nacional.  
O perspectivismo opera na exata medida em que, ambos, objeto e consciência  
estavam interpenetrados, como se não pudessem existir de forma independente –  
embora saibamos que é possível existir o ser sem o pensar, mas não o contrário. Há  
uma interpenetração sem que haja fator determinante,  
na verdade, no domínio da realidade histórico-social, o sujeito  
pensante e o objeto se compenetram ou são faces de um mesmo  
fenômeno. Isto não quer dizer que a objetividade seja impossível  
naquele domínio. Quer dizer que ela se define em termos de  
perspectiva e que, portanto, dadas várias explicações de um mesmo  
fato, a mais objetiva é a que alcança maior número de aspectos, e  
aquela em função da qual se torna perceptível a infraestrutura e o  
caráter residual, tributário ou ideológico das outras; e aquela que  
traduz a vetorialidade ou direção tônica, ou dominante, dos  
acontecimentos (RAMOS, 1957/1995, p. 36).  
Quando o problema é colocado como se houvesse uma correlação entre a  
existência e a consciência, como coisas equivalentes, procede-se de modo a de  
“expulsar o idealismo pela porta, para fazê-lo voltar pela janela porque admitindo-se  
que a existência não pode existir sem a consciência, abandona-se o materialismo,  
segundo o qual a existência é independente da consciência” (LUKÁCS, 1979, p. 68).  
As deferências de Ramos a Mannheim em sua extensa obra não são ocasionais.  
Segundo o sociólogo magiar, o “objeto tem um significado mais ou menos diferente  
para cada um dos participantes porque se desenvolve a partir de seus respectivos  
quadros de referência” (MANNHEIM, 1986, p. 302).  
Como consequência, entendia Ramos que “a perspectiva em que estão os  
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objetos em parte os constitui. Portanto, se transferidos para outra perspectiva, deixam  
de ser exatamente o que eram. Não há possibilidade de repetições na realidade social”  
(RAMOS, 1958/1996, p. 72). Cabe notar que à diferença de autores como Mannheim,  
Ramos transpunha para o plano nacional o problema da perspectiva. Uma diferença  
que não modifica a essência da argumentação. Ramos não admitia a independência  
entre sujeito e objeto e dava à perspectiva um papel ativo. Essa renovação do  
idealismo, bem como o apelo pragmático eram essenciais para construir a sociologia  
para a acumulação.  
Aquele movimento que se formava na direção da negação da objetividade e do  
papel ativo da perspectiva é ressaltado com a fenomenologia, para a qual a  
circunstância do pesquisador também constitui o objeto. Desse modo, Ramos  
entendeu a “redução como atitude parentética, isto é, como adestramento cultural do  
indivíduo, que o habilita a transcender, no limite do possível, os condicionamentos  
circunstanciais que conspiram contra a sua expressão livre e autônoma” (RAMOS,  
1958/1996, p. 11). Em outras palavras:  
Desde que, porém, se forma, no espaço que deixa de ser colonial, a  
consciência crítica, pelo imperativo da realização de um projeto  
comunitário, de uma tarefa substitutiva no âmbito da cultura - já não  
mais se trata de importar os objetos culturais acabados, e consumi-  
los tais quais, mas, é preciso agora, pela compreensão e pelo domínio  
do processo de que resultaram, produzir outros objetos nas formas e  
com as funções adequadas às novas exigências históricas. Por isso a  
redução sociológica só ocorre e se faz necessária nos países que estão  
empenhados numa tarefa substitutiva, de que é mero detalhe a  
substituição de importações a que se referem os economistas. Neste  
estádio, é necessário produzir, de acordo com as imposições do meio,  
o que antes se importava, tanto as ideias quanto as coisas. (RAMOS,  
1958/1996, p. 88)  
É evidente que uma sociologia nacional deve se debruçar sobre as conexões  
estabelecidas na própria realidade brasileira. Contudo, a redução sociológica inverte  
esse processo e coloca a consciência, habilitadora da transcendência, como  
moderadora da realidade. Dito de outra maneira, Ramos não estava engajado na  
produção de teorias que explicassem ou refletissem o estágio de desenvolvimento do  
capitalismo brasileiro. A construção teórica da redução sociológica se deu por ser  
necessária num país que passava pelo estágio de desenvolvimento como o Brasil, no  
entendimento do autor, suspendendo as notas adjetivas, auxiliando a finalidade  
pragmática de substituição das importações no plano cultural.  
Na operação da fenomenologia, numa análise comparativa “formas de  
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pensamento, tão radicalmente distintas em sua relação com a realidade, ficam  
reduzidas, na investigação fenomenológica, a um mesmo denominador comum, o que  
significa dizer que são consideradas pela investigação como tendo caráter igual”  
(LUKÁCS, 2020, p. 421). Isso leva a problemas como a “questão de se o objeto, após  
a dissolução dos parênteses, é um simples construto da consciência ou imagem de um  
ente independente da consciência” (LUKÁCS, 2020, p. 421). Os objetos não são  
referidos aos seus nexos reais e são analisados a partir de uma caracterização alheia  
à qual possuem realmente. Desse modo, ao invés de “apelar ininterruptamente” à  
realidade,  
o “pôr-entre-parênteses” como método específico da fenomenologia  
significa, desde o começo, uma arbitrariedade irracionalista, idealista-  
subjetiva, um codinome que falseia a objetividade: não apenas  
gnosiologicamente, mas também do ponto de vista do conteúdo e  
concretamente, rompe-se a relação das representações com a  
realidade objetiva, criando-se um “método” que confunde e até nega  
a diferença entre o verdadeiro e o falso, o necessário e o arbitrário, o  
real e o meramente pensado (LUKÁCS, 2020, p. 422).  
A fenomenologia, nesses termos, se aproxima do que se considera o terceiro  
caminho na teoria do conhecimento que reconhece uma existência independente da  
consciência, mas persiste em seguir o antigo método idealista quanto a definição, o  
conhecimento e a interpretação dessa existência. O “terceiro caminho”, “quer manter  
intactos todos os princípios da teoria do conhecimento do idealismo subjetivo,  
escamoteia seus limites, apresentando a questão de uma maneira a parecer admitir  
implicitamente que as ideias e as noções que existem apenas na consciência são elas  
mesmas realidades objetivas” (LUKÁCS, 1979, p. 47).  
A fenomenologia e o perspectivismo foram, portanto, menos uma forma de  
analisar a realidade nacional e se convertiam numa maneira de justificar a posição da  
perspectiva do Brasil e de conclamar a intelligentsia para produzir soluções para o  
desenvolvimento do capitalismo no Brasil. Esse perspectivismo que tem a missão social  
de submeter a investigação científica ao processo de acumulação de capital é uma  
importante sustentação do ideário isebiano, como poderá ser visto na sequência.  
6. A construção do nacionalismo e a aliança de classes  
Uma marca importante do pensamento isebiano foi o vínculo com a filosofia  
existencialista. Isso se dava porque alguns de seus representantes eram parte  
importante do Instituto Brasileiro de Filosofia (IBF), importante ressonante dessa  
filosofia, que inclusive contava com egressos do integralismo. Um elemento notado  
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por Paiva (1979) era o fato de esses autores alçarem os conceitos existencialistas do  
plano do indivíduo para o plano da particularidade nacional, o que inclusive acontece  
também com o perspectivismo.  
As marcas do existencialismo são tão fortes que, em que pese a escolha pela  
alternativa aceleracionista, havia, por exemplo, marcas do pessimismo em relação à  
superação da crise “Todos os tempos são críticos porque são tempos do homem, cuja  
condição no mundo é essencialmente crítica, no sentido mesmo da etimologia do  
tErmo, que significa separação, abismo” (IBESP, 1954, p. 4). Contudo, não se tratava  
de uma situação irremediável, de modo que pode se ler com Ramos que “eis porque  
a emergência da autoconsciência coletiva numa comunidade tem sido denominada  
‘elevação’, tem sido interpretada como um desprender-se ativo das coisas, como a  
aquisição da liberdade em face delas” (RAMOS, 1957/1995, p. 46). A autoconsciência  
nacional manifestava a “vontade da emancipação”, a conjunção de esforços em direção  
ao processo de acumulação do capitalismo brasileiro.  
A tarefa colocada era assim condicionada: “sociologia, no Brasil, será autêntica  
na medida que colaborar para a autoconsciência nacional, na funcionalidade,  
intencionalidade e, consequentemente [sic], em organicidade” (RAMOS, 1957/1995,  
p. 45). Essa tarefa se colocava à luz do dia porque “o espaço brasileiro se tornou  
teatro de um empreendimento coletivo, mediante o qual uma comunidade humana  
projeta a conquista de um modo significativo de existência na história” (RAMOS,  
1958/1996, p. 67).  
Esse procedimento não era exclusivo de Ramos. Outros autores isebianos  
também faziam essa transposição de uma discussão filosófica voltada para o indivíduo  
para a particularidade nacional. Corbisier (1958, p. 87), por sua vez, dizia que na  
superação do colonialismo “à medida que toma consciência dele e o converte em  
objeto, uma filosofia brasileira nos trará a revelação de nossa própria entidade. de  
nosso ser como destino”. Na sequência, acompanhando o mesmo autor, pode-se ler  
que  
A colônia, portanto, está para a metrópole como o instrumento para  
o sujeito que dele se utiliza. Como o escravo para o senhor. A sua  
essência é a alienação. Ora. em um contexto social globalmente  
alienado, a cultura está inevitavelmente condenada à inautenticidade.  
Se uma cultura autêntica é a que se elabora a partir e em função da  
realidade própria do ser do país que. como vimos. consiste no projeto  
ou no destino que procura realizar. a colónia não pode produzir uma  
cultura autêntica por isso mesmo que não tem "ser" ou destino  
próprio. (CORBISIER, 1958, p. 78)  
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Essa busca por uma autenticidade do ser transposta para a particularidade  
nacional, Corbisier evidencia com bastante ênfase o intuito, mais abertamente  
declarado por Ramos, de construir um edifício teórico voltado para a aceleração do  
processo de acumulação, mas totalmente alheio às questões objetivas. Essa utilização  
dos conceitos existencialistas desprende ainda mais os autores dos problemas reais  
ao mesmo tempo em que os submete à tarefa de encontro da nação com sua  
autenticidade.  
Certamente esse procedimento não é casual, pois ele, articulado com os já  
mencionados perspectivismo e agnosticismo, fundamenta uma ideia de nação, uma vez  
que a liberdade do ser, a autenticidade, estariam para ser alcançadas pelo Brasil. Nesse  
sentido, havia o movimento de conclamar todas as classes, ainda que antagônicas,  
para o mesmo objetivo:  
os antagonismos essenciais da sociedade brasileira são atualmente os  
que se exprimem na polaridade, “estagnação” e “desenvolvimento”,  
representados por classes sociais de interesses conflitantes, e ainda  
“nação” e “antinação”, isto é, um processo coletivo de personalização  
histórica contra um processo de alienação. Outras contradições que  
não se enquadram nestes termos são, no momento, secundarias  
(RAMOS, 1958/1996, p. 79).  
Nessa passagem é possível ver como o autor relacionava o problema real dos  
antagonismos sociais com posições a favor ou contra a “nação”. Na direção da  
construção do mito nacional, como já notado (DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, 1983),  
o sociólogo enxergou as categorias ligadas ao indivíduo singular como possíveis para  
explicar a particularidade nacional, que poderia chegar a uma “personalização  
histórica”3. Se havia a operação da fenomenologia, ela contribuía com a formação de  
um ideário que colocava em primeiro plano as necessidades práticas para a  
consolidação do seu objetivo fundamental do avanço industrial e da conciliação de  
classes por meio de uma “nação” que adquire personalização.  
3 Este assunto era um dos que levantou um debate entre Ramos e Vieira Pinto, outro representante do  
nacionalismo isebiano. Inclusive Ramos acusou Vieira Pinto de plagiar suas ideias. Sem querer entrar  
nesse problema, é interessante identificar que já foi observado que “essa semelhança se dá exatamente  
num plano em que eles procuram realizar algo de que a "redução" seria a expressão teórica: uma espécie  
de tentativa de "reduzir" o existencialismo do plano do indivíduo para o plano da nação” (DE  
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, 1983, p. 83). E uma amostra dessa semelhança se dá com esse argumento  
acerca das contradições fundamentais, que também pode ser encontrado em Vieira Pinto: “o país  
subdesenvolvido apresenta-se como uma unidade, como termo unificado, sem embargo de muitas  
outras contradições reais que lhe são interiores, mas não alcançam a mesma importância da polaridade  
internacional, sendo por isso provisoriamente desprezíveis” (VIEIRA PINTO, 1960, p. 35). Ou seja, a  
tentativa de conciliação de classes e de dirigir-se à classe trabalhadora de modo que ela assimilasse os  
objetivos da burguesia nacional era um elemento central no pensamento nacionalista.  
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A respeito do nacionalismo, dizia Jaguaribe tratar-se de  
um movimento provocado pelo desenvolvimento do país e que tem  
por fim acelerá-lo e racionalizá-lo. Esse fim não decorre de um  
propósito gratuito de pessoas ou grupos, mas é inerente ao processo.  
Apesar disso, pode ser assumido, consciente e deliberadamente, por  
todos os que aspirem à promoção do nosso desenvolvimento. E, como  
este corresponde aos interesses situacionais de todas as classes  
sociais com exceção, em cada uma delas, dos setores vinculados às  
nossas estruturas semicoloniais , a promoção do desenvolvimento se  
constitui no objetivo ideológico mais representativo de todas as  
classes brasileiras (JAGUARIBE, 2013, p. 68).  
A força motriz do nacionalismo era a defesa pela união de classes em torno do  
interesse “nacional”. Havia no seu discurso um aspecto conciliador, sem dar ênfase  
para as lutas de classes. Ao mesmo tempo em que defendeu a acumulação, disse,  
Guerreiro Ramos, numa resposta à crítica de Jacob Gorender a sua A redução  
sociológica, que “O ponto de vista proletário é a referência básica de nosso  
pensamento sociológico” (RAMOS, 1958/1996, p. 36). O ponto de vista proletário,  
que defendeu acriticamente o processo de acumulação de capital, somente poderia  
estar engajado numa associação entre classes. Segundo ele, de maneira muito direta:  
a luta principal não é entre capitalistas e proletários. É entre o  
capitalismo genuinamente nacional e o imperialismo. A classe dos  
empresários capitalistas tem ainda um grande papel e neste momento  
existem causas nacionais que são comuns a todas as classes.  
Naturalmente os trabalhadores devem ajustar suas reivindicações aos  
imperativos da emancipação nacional [...] A diretriz dos trabalhadores  
se define por uma mistura de união e luta. União em torno da  
emancipação, luta contínua por seus interesses (RAMOS, 1959b, p. 6).  
É importante notar como ainda que o aspecto conciliatório prevaleça, não há  
hesitação em dizer que os interesses dos trabalhadores devem ser curvados à  
liderança de uma burguesia progressista. Nesse sentido, no sentido da aquisição da  
autoconsciência nacional,  
essa fórmula só pode ser posta em prática na base de uma frente  
comum de que participem a burguesia industrial, a classe média e o  
proletariado [...] O de que se trata, agora, é de consolidar e  
desenvolver as forças produtivas do país; de completar a formação da  
nacionalidade, mediante a incorporação das massas, que permanecem  
cultural, econômica e politicamente marginais, elevando-se suas  
condições materiais e espirituais de vida e assegurando-se-lhes a  
participação na autodeterminação da comunidade; de reorganizar o  
mecanismo do estado, que permanece em estágio cartorial, ligado às  
suas origens latifundiárias, submetendo-se-o ao regime do  
planejamento científico, da execução eficiente e do controle honesto  
dos resultados. E para isto é necessário, internamente, um movimento  
de união nacional das forças de vanguarda (IBESP, 1954, p. 15).  
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Nessa solução politicista, tratava-se, portanto, de consolidar um projeto de  
aliança de classes voltado para o planejamento econômico modernizante. Os autores  
pensamento isebiano não negavam as contradições de classe, inclusive reconheciam  
os conflitos, na medida em que nutriam uma posição de discordância com a burguesia  
tributária do colonialismo, mas submetiam o conflito ao processo de acumulação,  
considerando este o problema central do país.  
Em outras palavras,  
os conflitos sociais existentes em nosso país, na fase em que se  
encontra, exprimem, na sua essência, menos irredutíveis lutas de  
classe do que conflitos que se travam, no âmbito de cada classe, entre  
seus setores dinâmicos e estáticos, entre as forças produtivas e as  
parasitárias. Não são, por isso, lutas de classe, mas de estruturas  
faseológicas (JAGUARIBE, 2013, p. 67).  
De modo que “a convivência pacífica de todas as classes” teria “o sentido de  
uma revolução pacífica e é a única forma de superarmos a crise social do nosso país e  
de assegurarmos o seu progresso” (IBESP, 1956, p. 126). Com efeito, não havia  
qualquer disfarce a respeito da hierarquia contida nessa aliança, não havendo dúvidas  
em mostrar a quem caberia a condução do processo “o setor industrial de nossa  
burguesia tem de assumir mais. decididamente, inclusive para fins político-sociais, a  
liderança econômica que já exerce” (IBESP, 1956, p. 151). Agora, ainda mais  
importante é o fato de que não se tratava, para aqueles autores, a liderança da  
burguesia na condução de um processo revolucionário que finalmente superasse as  
velhas oligarquias. Atinente a esse aspecto, é a ideia de que, ainda que pensasse o  
problema da autonomia do capitalismo nacional, o pensamento isebiano era incapaz  
de pensar o rompimento com o passado colonial  
Acrescente-se. por outro lado, que a convivência cooperativa das  
classes, além de implicar o comum e equitativo esforço de  
desenvolvimento, importa na necessidade do justo enquadramento de  
todas as classes dentro dessa organização para o desenvolvimento.  
Quer isto dizer, diversamente do que se verifica nos processos  
revolucionários de transformação social, realizados em termos de  
liquidação das antigas classes dirigentes, que, na superação da crise  
social pela convivência cooperativa, a passagem da antiga para a nova  
ordem social se verifica pela incorporação das forças representativas  
da velha sociedade à organização da nova mediante o reajustamento  
de tais forças às novas condições econômico-sociais (IBESP, 1956, p.  
125).  
Quer dizer, ao cabo, tratava-se de manter a estrutura social tal qual ela já estava  
estabelecida. Não se pensava, contudo, que este objetivo estava em plena contradição  
com a ambição da autonomia burguesa, ou do Brasil rumo à autoconsciência, pois essa  
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mesma estrutura condenava o país à atrofia da subordinação. Chasin mostrou que  
dentre as várias debilidades legadas pela via colonial, a associação da insurgente  
burguesia com as velhas oligarquias era um desses aspectos que atravancava o  
desenvolvimento do capitalismo. Havia no pensamento isebiano um intuito  
transformador, mas calcado numa autonomização toda burguesia tão impossível no  
plano das possibilidades objetivas, que quando suas análises desciam para o terreno  
econômico, tal transformação era ignorada em nome de meros acertos entre as frações  
de classe dominantes. O pensamento isebiano, que declaradamente levava adiante a  
busca pela autonomia da burguesia nacional, tinha como orientação exatamente a  
continuidade das velhas alianças. Não era nada mais do que a reiteração do que havia  
de mais velho.  
Não é obra do acaso a inspiração de Jaguaribe na Alemanha de Bismarck:  
“Situadas ante o desafio de uma dominação externa, a elite prussiana, com Bismarck,  
e a japonesa, com a restauração Meiji, responderam pondo em prática, com êxito, o  
que poderíamos denominar de um projeto nacional-desenvolvimentista” (JAGUARIBE,  
2013, p. 256). Ou seja, tratava-se o nacional-desenvolvimentismo isebiano uma  
espécie de busca pelas condições institucionais que puderam contribuir para países  
atrasados posteriormente lograrem a mesma configuração que, “objetivações  
capitalistas tardias – e que não são acompanhadas pelo progresso social” (CHASIN,  
1979). Em que pese a incompatibilidade da história brasileira e alemã, é interessante  
notar que a inspiração máxima que se colocava no horizonte era justamente de casos  
de desenvolvimento capitalista limitado. Diante da incapacidade de se oferecer uma  
crítica real ao processo histórico do capitalismo brasileiro e de apresentar fórmulas já  
esgotadas, essa apologia do capital atrófico, disfarçada de progressista, nada mais faz  
do que reiterar as condições que mantiveram o Brasil na periferia do capitalismo.  
É importante ressaltar que a base filosófica que costurou o perspectivismo e o  
agnosticismo em função do nacionalismo, e do processo de acumulação, acabou por  
se colocar também como obstáculo para a articulação de alternativas concretas para  
esse processo, restando o mero mimetismo de soluções já vencidas.  
Considerações finais  
O pensamento isebiano, do ponto de vista programático, pode ser considerado  
como uma reiteração de elementos que vinham fazendo parte do debate público  
nacional voltado para a autonomização da burguesia há ao menos meio século. O  
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problema da planificação, do favorecimento para a importação de bens de capital e a  
própria aliança de classes foram tematizadas de forma mais ou menos sistemática por  
linhas de pensamento predecessoras e foram também executadas no plano da  
administração pública. Ainda que houvesse a mobilização da questão econômica, o  
horizonte era limitado pelo tributo pago ao passado. Com ele, não se buscava a  
superação da via colonial, mas uma restauração da via prussiana no solo híper-tardio.  
Num contexto de desenvolvimento do capital ainda preso à atrofia, que não mais via  
saída real para algum desenvolvimento autônomo, o pensamento isebiano coloca para  
si uma missão social utópica, a fundamentação intelectual de uma burguesia  
emancipada.  
Era inclusive notória a pretensão de se concretizar como ideologia,  
influenciando o conflito classista. Seria uma possibilidade de investigação futura o  
sucesso ou fracasso dessa pretensão. Contudo, é importante ressaltar como o  
pensamento isebiano exerceu influência em questões objetivas importantes. O  
Programa de Metas de 1958 de Juscelino Kubitschek, por exemplo, tinha como alguns  
dos eixos principais a energia, os transportes e a indústria de base (CARONE, 1980).  
Os mesmos eixos estão na Política Nacional de Desenvolvimento publicada pelo Ibesp  
em 1956. A identificação de vínculos mais robustos e outros efeitos no plano da luta  
de classes, exigência de uma análise de função, não puderam ser desenvolvidos aqui,  
mas há indicações dessa conformação da ideologia como veículo prático.  
Com efeito, talvez o caráter mais distintivo desse pensamento seja sua imersão  
na filosofia. A transposição das categorias existencialistas para o plano da nação, o  
perspectivismo e o agnosticismo na teoria do conhecimento são alguns desses  
elementos que moldam a missão social de submeter a ciência ao processo de  
acumulação de capital. Não causa surpresa, portanto, o fato de ser essa filosofia a  
sustentação de um pensamento que flerta com o reacionarismo.  
Certamente o pensamento isebiano se acomodou nos marcos do politicismo,  
uma vez que as soluções planificadoras do Iseb nada mais eram do que concepções  
que viam o “processo econômico meramente paralelo ou derivado do andamento  
político, sem nunca considerá-los em seus contínuos e indissolúveis entrelaçamentos  
reais, e jamais admitindo o caráter ontologicamente fundante e matrizador do  
econômico em relação ao político” (CHASIN, 1982, p. 7).  
É ainda mais notório como o pensamento isebiano é produto direto da miséria  
brasileira, de um período que já sinalizava o esgarçamento da planificação, mas que  
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ainda impunha tarefas essenciais para o capitalismo nacional. Além de ser um  
prolongamento teórico dessa tentativa de autonomização do capitalismo no plano da  
filosofia, o pensamento isebiano também antecipou determinadas tendências que se  
ergueriam no futuro. Analisando as teorias influenciadoras da esquerda na Nova  
República, Chasin (1989) apontou para o quadrilátero teórico formado pela teoria da  
dependência, autoritarismo, populismo e marginalidade. Não seria de se surpreender  
que a fórmula do nacional-desenvolvimentismo ressoasse na teoria da dependência já  
no período pós-64, a qual segundo Chasin, era “solidária com a fantasia do capitalismo  
nacional autônomo” e também “retorna a velha quimera do superimperialismo com  
suas expectativas de felicidade planetária, através da civilização racional do capital em  
dueto com a perfectibilização dos processos representativos e operacionais do estado”  
(CHASIN, 1989, p. 75). Isso indica como o pensamento isebiano compõe uma espécie  
de prelúdio para aquelas teorias do quadrilátero. Não somente a persistência das  
mazelas da via colonial, mas a falta de sua reta apreensão mantiveram a redundância  
das soluções propostas.  
Chasin (2000), nos anos 1990, apontava para a razão manipuladora e o  
irracionalismo como aspectos do prolongamento do capital. Esses elementos eram  
mais evidentes nas faces mais cristalinas do politicismo que se desdobraram nas  
últimas décadas do século XX. Todavia, não seria exagero dizer que essas mesmas  
tendências já estavam presentes e maduras no período histórico em que o debate  
público nacional ainda tinha na economia um de seus pilares centrais.  
Uma última consideração cabe para um certo revigoramento do nacionalismo  
no que ganha presentemente novas feições à esquerda e à direita no Brasil e no  
mundo. Busca-se a retomada de medidas protecionistas, volta-se a exaltar o mito  
nacional e a hostilidade a imigrantes. Exorta-se para a nacionalidade que une todos.  
Ao mesmo tempo, tem ganhado audiência no debate acadêmico proposituras teóricas  
que defendem um certo nacionalismo epistemológico, submetendo o rigor científico à  
nacionalidade dos sujeitos. Não é preciso muito esforço para identificar as semelhanças  
como a epistemologia aristocrática do irracionalismo alemão.  
É sempre importante ressaltar como o nacionalismo instrumentalizou a recusa  
da luta de classes na tentativa de apagar as contradições e as raízes do antagonismo  
classista, sendo uma força ideológica inegável durante os séculos XIX e XX. Não se  
pode negar que as lutas nacionalistas tiveram um importante papel social para a  
libertação do colonialismo, por exemplo. Tampouco se pode negar seu papel na sanha  
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que contribuiu para a eclosão de guerras mundiais e civis por todo o globo. É  
fundamental, portanto, que se admita a questão nacional no seu devido papel, mas ao  
mesmo tempo não se ceda, por um lado, ao assédio politicista que reduz a questão  
ao mero arranjo organizativo e conciliatório e, por outro, ao assédio irracionalista que  
nubla o entendimento correto dos problemas concretos em nome de mitos,  
espiritualismos a reducionismos arbitrários.  
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Como citar:  
GUEDES, Leandro Theodoro. Uma filosofia para a acumulação: o pensamento isebiano  
na miséria brasileira. Verinotio, Rio das Ostras, v. 30, n. 1, pp. 184-215, Edição  
Especial: A miséria brasileira, 2025.  
Verinotio  
ISSN 1981 - 061X, v. 30, n. 1, pp. 184-215 jan.-jun., 2025 | 215  
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