Thiago Dutra Hollanda de Rezende
objetivo de amenizar a crise econômica e fortalecer a legitimidade do governo. Em um
contexto de severa escassez de recursos, tais iniciativas buscavam não apenas aliviar
o peso tributário sobre a população e os comerciantes, mas também conferir maior
racionalidade à administração pública.
D. Pedro aplicou dispositivos do Alvará de 25 de abril de 18181, que previam
a redução das tarifas sobre mercadorias portuguesas e a isenção de impostos para
produtos que, já despachados em uma alfândega, fossem novamente apresentados em
outra, evitando, assim, a bitributação. Em nome da economia de recursos, o governo
também suspendeu comissões militares anteriormente criadas, limitando gastos com
estruturas administrativas desnecessárias.
Essas medidas evidenciam uma tentativa de modernização do estado e de
aproximação entre o poder central e os interesses das classes dominantes locais, numa
fase em que o país ainda buscava definir seu caminho político e institucional. Ao adotar
princípios de racionalidade econômica, D. Pedro procurava sustentar sua autoridade e
preparar o terreno para transformações mais profundas, que culminariam na
independência.
O Decreto de 30 de dezembro de 1822 marcou uma inflexão importante na
política econômica do recém-independente Império do Brasil. Com a ruptura dos laços
políticos e comerciais com Portugal, o decreto revogou os privilégios aduaneiros que
beneficiavam os produtos portugueses, igualando-os aos das demais nações e
impondo uma tarifa de 24% sobre gêneros de indústria, manufatura, pesca e produção
portuguesa. Além disso, o texto autorizou a importação do rapé estrangeiro,
estabelecendo taxas diferenciadas conforme a origem, e fixou valores específicos para
a entrada de produtos líquidos como vinhos, aguardentes, licores, azeites e vinagres,
encerrando de vez a lógica fechada da era colonial. A medida teve forte simbolismo
político, pois consolidava a autonomia econômica do Brasil e sua desvinculação da
antiga metrópole, além de representar uma adesão inicial aos princípios do liberalismo
comercial. Produtos ingleses, como o rapé, continuavam a usufruir de condições mais
vantajosas, com imposto de apenas 15%, conforme estabelecido no tratado de 1810.
1 O Alvará de 25 de abril de 1818, expedido por D. João VI, teve como objetivo principal aumentar as
receitas do estado e financiar a reconstrução do Reino após a guerra, estabelecendo a obrigatoriedade
do pagamento de direitos alfandegários sobre todos os produtos que entrassem ou saíssem dos portos
do Reino Unido, inclusive os destinados à Casa Real, com poucas exceções. Determinou tarifas mais
elevadas para vinhos e aguardentes estrangeiros no Brasil, favorecendo os vinhos portugueses, e
instituiu uma nova taxa sobre a entrada de escravos, com parte da arrecadação voltada para a
manutenção da ordem e incentivo à colonização de brancos.
Verinotio
110 |
ISSN 1981 - 061X, v. 30, n. 1, pp. 101-129 – jan.-jun., 2025
nova fase