J. Chasin e a crítica do “tríplice amálgama”
Assim, antes de entrar propriamente na “Gênese e crítica ontológica” (CHASIN,
2009, p. 39 ss), o marxista brasileiro apresenta, de certo modo, justificativas ou as
razões para a retomada de Marx por Marx. E é nesse prólogo que Chasin, bem ao seu
inconfundível estilo, dá boas-vindas ao leitor com uma constelação de polêmicas, que
se multiplicam ao longo do livro.
2- A crítica do “amálgama originário”.
O coração da originalidade de EORM não está explícito no capítulo inicial; ele
só será encontrado à abertura do terceiro. Todavia, é ele quem orienta a crítica do
“tríplice amálgama”. Por essa razão, não haverá qualquer precipitação em evidenciá-lo
logo de saída, seguindo as trilhas do próprio texto de “Apresentação” (VAISMAN;
ALVES, 2009):
Se por método se entende uma arrumação operativa, a priori, da
subjetividade, consubstanciada por um conjunto normativo de
procedimentos, ditos científicos, com os quais o investigador deve levar a
cabo seu trabalho, então, não há método em Marx. Em adjacência, se todo
método pressupõe um fundamento gnosiológico, ou seja, uma teoria
autônoma das faculdades humanas cognitivas, preliminarmente estabelecida,
que sustente ao menos parcialmente a possibilidade do conhecimento, ou,
então, se envolve e tem por compreendido um modus operandi universal da
racionalidade, não há, igualmente, um problema do conhecimento na reflexão
marxiana. E essa inexistência de método e gnosiologia não representa uma
lacuna (...). Isso equivale a admitir que a suposta falta seja antes uma
afirmação teórico-estrutural, do que uma debilidade por origem histórica
insuficientemente digerida. (CHASIN, 2009, pp. 89-90)
Na citação, o problema central está posto por Chasin sem maiores rodeios:
qualquer empreitada que busque apreender epistemologicamente a contribuição de
Marx deixará de reconhecer justamente aquilo que ela tem de fundamental: uma
posição ontológica3. A questão, para Chasin, é que a admissão desta última, em sua
profundidade e extensão (em sua radicalidade), termina por obliterar a primeira. Em
poucas palavras, a inexistência de um tratado sobre o “método”, em Marx, não significa
3 M. Duayer, cujas posições, neste âmbito, apresentam algum grau de diferença em relação as de Chasin,
considerou noutro lugar: “a crítica ontológica (...) visa a refutar os pressupostos estruturais da tradição
criticada. Em consequência, tem de ser crítica que refigura o mundo, que põe e pressupõe outra
ontologia. É justamente nesse sentido que a crítica de Marx é crítica ontológica – no caso, crítica da
sociedade capitalista, da formação socioeconômica posta pelo capital. Figura o mundo social de maneira
radicalmente distinta não só das formas de consciência do cotidiano dessa sociedade, mas também de
suas formas de consciência científicas. Tanto umas quanto outras são empiricamente plausíveis, uma
vez que têm circulação social, interpretam o mundo para os sujeitos e, nessa medida, orientam suas
práticas. Razão pela qual sempre se trata de reconhecer a realidade ou objetividade social das ideias
criticadas. Como circulam socialmente, são ideias razoáveis e, por isso, o exame crítico não pode se
circunscrever a sua estrutura lógica: deve explicar como e por que ideias insubsistentes orientam a
prática dos sujeitos” (DUAYER, 2016, p. 35).
Verinotio
ISSN 1981- 061X v. 28, n. 1, pp. 147-182 - 2º. sem. 2022/1º. sem. 2023| 151
nova fase