Embora se possa, assim, considerar o criticismo kantiano como uma
espécie de divisor de águas, não se deve obliterar o fato de que com a
metafísica clássica, ou qualquer uma de suas variantes antecedentes ou
subseqüentes, "sob o pretexto de alcançar a priori a certeza cognitiva, gera-se
uma grave distorção no plano teórico pela qual o ente é perdido para sempre".
Para evitar tal descaminho, Chasin propõe o designativo posição ontológica,
pois com ela "pretende também, pelo menos, precaver contra a unilateralidade
decorrente da postura gnoseológica (sempre uma forma meramente
especulativa a respeito da morfologia do funcionamento, ou seja, da
organização e atividade da subjetividade), instigando e, se rigorosamente
praticada, orientando com rigor a pensar as coisas em seus próprios nexos, em
direção a uma totalidade mais plena de determinações. A expressão pretende,
pois, sinalizar e induzir à prática intelectual de caráter ontológico, concebida em
sua forma mais consistente e conseqüente."
Chasin, pois, pretendeu recuperar o sentido de "ontologia enquanto
consideração daquilo que é em sua efetividade. Não alguma distorção ou
dissolução do ente enquanto ente, seja sob sua forma do 'sentido do ente', do
'ser da aparição', ou qualquer outra variável do tipo, que, embora, possam incluir
dimensões do sensível, sempre compreendem, implicam ou têm por condição de
possibilidade um sujeito, mesmo que este seja o obervador da produção de
representações de caráter racional. Estudo, pois, das coisas em sua
independência, em sua 'exterioridade' em face de possíveis relações práticas e
teóricas em que estão ou possam vir a estar presentes, inclusive aquelas pelas
quais, em gênero superior de entificação, as coisas são postas ou engendradas.
De tal sorte que, ainda e mesmo que todo o plano cognitivo possa ou
tenha de ser impugnado, que toda ciência possa ou tenha que ser posta em
dúvida e considerada simples ilusão ou equívoco, ou ter seu âmbito reduzido à
pura convenção, resta o fundamental, o universo da prática ou da vida vivida em
sua qualidade de confirmação da dupla certeza da existência do mundo e dos
homens, e enquanto tal tem de ser reconhecido como ponto de partida da
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