Edição especial  
__________________  
A miséria brasileira  
DOI 10.36638/1981-061X.2025.30.1.751  
A crise que se agrava e a  
miséria brasileira que persiste  
The crisis that worsens and the  
Brazilian poverty that persists  
Thiago Martins Jorge*  
Resumo: Este trabalho parte do ponto de  
chegada do itinerário chasiniano, no que tange à  
investigação das bases materiais da crise do  
capitalismo e da miséria brasileira, e investiga  
seus desdobramentos posteriores. Para isso, o  
artigo analisou o quadro mais geral da economia  
global para, a partir dele, investigar o estágio  
atual da forma como a economia brasileira nele  
se insere. Verificou-se que houve tanto um  
agravamento dos problemas universais quanto  
um esmagamento do campo de possibilidades  
da situação brasileira, em particular.  
Abstract: This work starts from the point of  
arrival of Chasin's itinerary, with regard to the  
investigation of the material bases of the crisis  
of capitalism and "Brazilian poverty", and  
investigates its subsequent developments. To  
this end, the article analyzed the more general  
picture of the global economy in order to  
investigate the current stage of the way the  
Brazilian economy is inserted in it. It was found  
that there was both an aggravation of universal  
problems and a crushing of the field of  
possibilities of the Brazilian situation, in  
particular.  
Palavras-chave: Miséria brasileira; economia  
global; economia brasileira; capital atrófico;  
corrida capitalista.  
Keywords: Brazilian poverty; global economy;  
Brazilian economy; atrophic capital; capitalist  
race.  
Introdução  
No conjunto de textos que formam o compilado de A miséria brasileira,  
encontramos uma das mais ricas análises da formação e dos desdobramentos do  
capitalismo brasileiro. Ao longo de textos escritos nos mais diversos contextos  
políticos e enfrentando um amplo leque de questões, J. Chasin não só captou os  
problemas essenciais na constituição do capital em território brasileiro, mas sugeriu  
linhas de ação e também denunciou vícios na atuação das principais lideranças  
políticas formadas no período.  
Em total coerência com a afiliação teórica do autor, o livro não fica restrito a  
análises políticas divorciadas da dinâmica econômica, do mesmo modo que não deixa  
* Mestre em administração pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). E-mail: thiago.jorge@ufjf.br.  
Orcid: 0000-0002-2798-2433.  
Verinotio  
ISSN 1981 - 061X Edição especial: A miséria brasileira; v. 30, n. 1 jan.-jun., 2025  
nova fase  
 
A crise que se agrava e a miséria brasileira que persiste  
de reconhecer os efeitos das decisões políticas sobre o desenrolar dessa mesma  
dinâmica. Ou seja, sem se deslumbrar com o politicismo em voga, mas também sem  
recair no erro oposto o economicismo , Chasin colocou em primeiro plano as  
questões-chave que explicam a particularidade do capitalismo brasileiro.  
É claro, no entanto, que 30 anos após a publicação do último texto do  
compilado o cenário já não é mais o mesmo. Na medida em que, globalmente, a base  
econômica foi lentamente se deteriorando, o clima de otimismo que contagiava os  
intelectuais mais bem ajustados à ordem capitalista já não mais existe. Nessa linha,  
enquanto a globalização do capital causa preocupação mesmo entre aqueles que,  
outrora, foram os seus maiores impulsionadores, um clima de inimizade toma conta  
das relações internacionais e o perfil médio das lideranças políticas não poderia se  
afastar mais do perfil “sóbrio” das principais lideranças dos anos 1990.  
Esses fatos, contudo, devem ser cuidadosamente analisados como  
desdobramentos históricos daquela estrutura econômico-social identificada por Chasin  
e cujos fundamentos já haviam sido delineados por Marx. Ou seja, há novidades  
importantes, mas, enquanto tais, só podem ser corretamente compreendidas dentro  
do quadro histórico delineado pelo filósofo brasileiro e respeitados os mecanismos de  
funcionamento próprios do modo de produção capitalista.  
Buscaremos, portanto, ao longo deste texto, partindo daquele que foi o ponto  
de chegada de Chasin, encarar seus desdobramentos e jogar luz sobre as bases  
econômicas que sustentam a trama global na terceira década do século XXI, com  
destaque para a particularidade brasileira. Importante salientar, no entanto, que tal  
empreendimento apresenta valor não como uma mera homenagem a J. Chasin (por  
mais que fosse justa). Mas, ao reconhecer o autor como um dos grandes observadores  
da formação do capitalismo brasileiro, podemos partir das bases sólidas por ele  
construídas e, desse modo, ainda que com limitações, investigar o estágio atual da  
inserção brasileira no capitalismo global.  
Para melhor esclarecimento metodológico, porém, é fundamental afastarmos  
qualquer impressão determinística de que a malha societária brasileira seria hoje um  
mero “desdobramento natural” (ou seja, o único desdobramento possível) daquele  
contexto social estudado pelo nosso autor. Tal observação ganha importância por duas  
grandes razões. A primeira delas, como já enfatizamos, é o fato de Chasin, ao captar  
os nós centrais da estrutura societária brasileira, parecer, até certo ponto, antecipar  
coisas que ainda estavam por vir. Apesar de ter muitos méritos por isso, não é  
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incomum que outros analistas recortem esses traços antecipatórios do seu contexto  
analítico e passem a avaliá-los por si sós.  
Apontamos esse fato com o intuito de sinalizar que, neste texto, não  
buscaremos avaliar se eventuais projeções traçadas por Chasin se confirmaram ou não.  
Na contramão disso, a partir do que de fato se realizou, buscaremos investigar as  
pontes existentes entre tais fatos e o quadro delineado pelo filósofo brasileiro.  
Devemos também, ainda enfrentando eventuais impressões determinísticas,  
afastar a ideia de que haveria um “pecado original” na formação do capitalismo  
brasileiro e, em função dele, todo um legado de tragédias e miséria teria sido deixado.  
O autor de A miséria brasileira advertiu, em não raras ocasiões, que, ao longo da  
formação do capitalismo em território brasileiro, a evolução nacional não foi  
acompanhada por progresso social. Essa frase, contudo, não é uma “sentença de  
morte” por si só. O próprio autor sinalizava, por exemplo, que as eleições de 1989  
eram uma grande oportunidade na busca de reversão dessa máxima.  
Na medida em que a evolução nacional seguiu sendo divorciada de progresso  
social graças à ação dos indivíduos, conscientes ou não , entretanto, foram  
minguando as possibilidades de reversão desse quadro e, portanto, cada vez mais a  
sentença parece ter sido esculpida na própria formação do capitalismo brasileiro.  
Quanto às limitações deste texto, é importante advertir que, como o último  
texto chasiniano (O poder do real) é muito mais sintético, se comparado ao texto  
anterior, de 1989, é impossível investigar a fundo algumas de suas indicações  
derradeiras. Desse modo, a articulação entre esses dois momentos não pode ser  
concluída de forma imanente e, consequentemente, alguns dos delineamentos deste  
texto ficam sujeitos à nossa interpretação mas, para isso, buscamos também outras  
indicações em Poder e miséria do homem contemporâneo (CHASIN, 1997).  
Buscaremos, contudo, na medida do possível, sinalizar sempre que novas ligações  
sejam esboçadas.  
Tal elemento, todavia, não prejudica o objetivo central deste texto, que é: a  
partir dos elementos colocados em primeiro plano por Chasin, jogar luz sobre a  
posição brasileira na corrida capitalista global na terceira década do século XXI. Para  
isso, dividiremos a análise em dois momentos principais: no primeiro, buscaremos  
reconstituir a forma como Chasin entendia a trama econômica do final do século XX e  
investigar, a partir de dados concretos, como se estrutura atualmente a malha  
econômica global. No segundo, organizado de forma bastante parecida, iniciaremos  
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indicando alguns pontos basilares da argumentação de Chasin sobre a particularidade  
brasileira para, na sequência, novamente apoiando-nos em dados concretos, avaliar as  
atuais bases econômicas e o campo de possibilidades que delas derivam. Reservamos  
para as Considerações finais algumas indicações um pouco mais especulativas quanto  
a traços preocupantes que se insinuam no horizonte. Tais construções, no entanto,  
partirão do que foi estruturado ao longo das seções anteriores.  
Esclarecemos ainda que, para a reconstrução da argumentação chasiniana,  
debruçamo-nos principalmente sobre A sucessão na crise e a crise na esquerda: texto  
de maior fôlego, em que o autor buscou reconstruir a trama entre a economia global,  
o cenário latino-americano, o cenário brasileiro e, a partir disso, o que restava como  
possibilidade para a intervenção politicamente consciente. Não poderíamos,  
entretanto, abster-nos de investigar os delineamentos traçados mais brevemente em  
O poder do reale os seus fundamentos, em A via colonial de entificação do  
capitalismo.  
Quanto aos dados apresentados por meio de gráficos ao longo do texto, os  
bancos de dados utilizados foram os do World Bank e do Fundo Monetário  
Internacional (IMF, sigla em inglês).  
Como, porém, no tratamento desses dados faremos inferências a partir do  
Produto Interno Bruto (PIB) de diferentes países, alguns esclarecimentos de ordem  
metodológica também são importantes. O primeiro deles é o reconhecimento de que  
o PIB, da forma como é usualmente mensurado, não é uma representação precisa da  
massa de mais-valor que foi gerada por determinada economia. Inclusive, se o objetivo  
aqui perseguido fosse utilizar esses dados a fim de inferir a massa de mais-valor, uma  
série de procedimentos e esclarecimentos metodológicos adicionais seria necessária.  
Ao longo deste texto, no entanto, utilizaremos os dados do PIB como um meio  
para comparar a evolução de uma mesma economia em diferentes momentos ou para  
comparar diretamente a evolução de diferentes países. Desse modo, o que nos  
interessa são os valores em termos relativos e não de forma absoluta. Portanto,  
matematicamente, os ajustes que seriam necessários acabam se anulando e, assim,  
podemos empregar os dados sem nos preocuparmos com tais ajustes1.  
Um segundo esclarecimento é importante devido a certa aversão nutrida em  
relação à utilização do PIB para medir sucesso ou fracasso de determinadas economias.  
1 Caso, no entanto, o leitor tenha interesse em se aprofundar nestas questões, recomendamos algumas  
das apresentações que o professor Tomas Rotta publicou em seu canal no Youtube, que leva seu nome.  
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Quanto a esse ponto, poderíamos inclusive nos aprofundar no estabelecimento de  
pontes entre o teor dessa crítica e o paradigma politicista que marca nossos tempos,  
que tende a subestimar questões ligadas à geração da riqueza e superestimar a  
atuação política na esfera da distribuição.  
Para os fins aqui almejados, contudo, é importante indicar somente que  
utilizamos o PIB como um dado aproximativo para medir os resultados de  
determinados sistemas produtivos, ou seja, estamos nos debruçando sobre a esfera  
da produção e a massa de riqueza gerada. Obviamente, caso a finalidade proposta  
fosse avaliar como acontece a distribuição dessa riqueza, outros dados seriam mais  
adequados. Podemos, contudo, ao menos indicar que, ainda que a questão  
distributivista estivesse em primeiro plano, a geração da riqueza seguiria tendo grande  
importância; afinal de contas, para que algo seja distribuído, primeiramente, este algo  
deve ter sido gerado. Desse modo, em oposição às análises politicistas, teremos que  
necessariamente enfrentar as questões produtivas, mesmo quando encaramos  
questões ligadas à esfera da distribuição ou à própria atuação dos gestores políticos  
do capital.  
Em suma, guiados pela assertiva chasiniana, de que o “politicismo é um  
fenômeno simétrico ao economicismo” (2000, p. 123), devemos reconhecer também  
que: a atuação política deve constantemente buscar influenciar a dinâmica econômica  
no sentido da acumulação capitalista, do mesmo modo que a dinâmica econômica  
influencia o perfil das lideranças políticas e delimita o leque de ações desejáveis. Os  
gestores políticos devem constantemente avaliar potenciais impactos sociais, ainda  
que tal avaliação ocorra como uma defesa da própria acumulação de capital. Tal  
cuidado, no entanto, constantemente os coloca em oposição a determinados grupos  
econômicos (que analisam quase que exclusivamente os seus interesses diretos).  
Nessa linha, como veremos ao longo das próximas páginas, uma das grandes  
questões que têm se colocado tanto na prática quanto no reconhecimento teórico –  
envolve como os gestores políticos do capital poderiam momentaneamente escapar à  
pressão direta dos detentores de capital e ativar mecanismos econômicos numa  
direção que busque impulsionar a acumulação como um todo (ainda que, para isso,  
tenham que prejudicar grupos econômicos já consolidados). Tal questionamento tem  
sido colocado tanto internacionalmente como na particularidade brasileira, na medida  
em que a crise capitalista se agrava.  
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1. A corrida capitalista 30 anos depois  
Antes de demarcarmos aquele que foi o ponto de chegada do itinerário de J.  
Chasin, quando se trata do reconhecimento dos imbróglios do capital em termos  
globais, vale a pena sinalizar a importância de reconhecer essa trama antes de  
investigarmos as particularidades do capital em território brasileiro.  
A delimitação do quadro de possibilidades dentro da malha global é elemento  
condicionante para analisar o campo do possível e do impossível, quando centramos  
nossos esforços sobre o Brasil. Sem ela, poderíamos facilmente superestimar o efeito  
esperado de certas ações e, assim, cairmos nas tentações voluntaristas ressuscitando,  
por exemplo, o que Chasin (2000b, p. 177) indicava como as “ilusões do capitalismo  
autônomo”.  
Nessa linha, não se trata de um mero capricho o esforço chasiniano para  
distinguir a forma de inserção das nações de capitalismo tardio e as nações de  
capitalismo hipertardio. Essa forma de inserção condicionou e ainda vem  
condicionando o campo de possibilidades. Do mesmo modo que o uso de “capital  
atrófico” – outro termo caro a Chasin também sinalizava uma redução no campo de  
possibilidades, quando comparado com o capital em sua plenitude.  
Paralelamente, o autor também colocava com muita clareza a ideia de que os  
conflitos que movimentam o sistema capitalista não podem ser simplesmente divididos  
em duas frações. Obviamente, os embates entre capital e classe trabalhadora, mesmo  
quando adormecida, é condicionante central (sem a qual não estaríamos diante do  
modo de produção capitalista); porém, sem o reconhecimento do caráter  
inerentemente competitivo deste modo de produção o quadro ficaria incompleto e  
incompreensível.  
A própria forma como Chasin encarava a inserção de novas nações na corrida  
capitalista (países de formação de capitalismo tardia e híper-tardia) já colocava em  
primeiro plano esse caráter competitivo e sua urgência temporal. Esse ponto é  
fundamental, pois, pautado nele, o autor pôde analisar o campo de possibilidades sem  
incorrer em tentações voluntaristas.  
Devemos, por outro lado, salientar que, dentro desses embates competitivos  
entre diferentes frações do capital, a classe trabalhadora é usualmente utilizada como  
meio de promover o sucesso de uma fração em detrimento de outra.  
Pautados nisso, podemos, portanto, investigar aqueles que foram os pontos de  
chegada do itinerário chasiniano e o novo itinerário que se iniciou após a conclusão  
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do primeiro. Considerando, contudo, a grande importância dessas questões  
competitivas, que condicionam a inserção das diferentes nações na corrida capitalista,  
devemos iniciar o percurso partindo do que poderíamos chamar de “regras da corrida”.  
Nessa direção, já no final dos anos 1980, Chasin reconhecia que o resultado  
dos seguidos ciclos de acumulação de capital não era a eliminação do caráter  
competitivo da ordem capitalista, mas sim uma alteração na sua dinâmica.  
Em verdade, trata-se de um panorama que, mais uma vez, põe em  
evidência que o desaparecimento do típico mercado concorrencial,  
marca do século passado, não é algo idêntico à extinção do caráter  
competitivo do capital. Ao contrário, a superação do mercado livre se  
transforma num combate de colossos, progressivamente travado com  
armas colossais, para os quais a praça de guerra é o próprio conjunto  
do planeta, mesmo quando, por cumplicidade, especialmente em  
certas épocas de “estabilidade”, se trata de uma guerra velada,  
“graças à conspiração do silêncio das partes interessadas”. (CHASIN,  
2000b, p. 184)  
Algumas páginas antes, o autor indicava, nessa mesma linha:  
Neste ponto, em suma, o que se está ressaltando, a partir desse  
complexo real de múltiplas contraditoriedades, é a contradição do  
capital avançado consigo mesmo. Ou seja, a cerimônia fúnebre de seu  
círculo vicioso de expansão, onde determinados passos vitais de  
monopólios ou oligopólios, econômica e extraeconomicamente  
privilegiados, por fusão, absorção ou aniquilamento de unidades  
produtivas “menores”, passos alavancados por um dado padrão de  
capacitação técnica, redundam logo adiante em novo “desequilíbrio”  
entre a renovada produtividade operante e a potencialidade de uma  
nova “racionalização” tecnológica, que reabre o processo da  
deglutição progressiva de aparatos produtivos, reduzidos à condição  
de excedente obsoleto e rebeldes à “verdadeira racionalidade” da  
produção de mercadorias. (CHASIN, 2000b, p. 181)  
Chasin ressaltava, portanto, que, com o desenrolar dos ciclos de acumulação  
de capital, a competição entre capitais ganhava contornos mais destrutivos e de maior  
acirramento. Consequentemente, os capitais que se formavam no interior de nações  
com menor acúmulo de capital tendiam a ficar para trás ou, alternativamente,  
especializar-se em atividades menos atrativas em termos de lucratividade, é claro. É  
assim que, resignadamente, surgiu a questão da “vocação brasileira” para atividades  
extrativistas.  
Antes de avançarmos, entretanto, cabe analisar a manutenção (ou não) dessa  
dinâmica 30 anos mais tarde. Para isso, devemos considerar o fato de que,  
paralelamente ao afunilamento de tal dinâmica, o desenvolvimento tecnológico sobre  
atividades administrativas, bem como a expansão de novas manobras financeiras,  
possibilitara uma aparente mudança na paisagem dos negócios. Muitos autores (cf.  
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LAMOREAUX; RAFF; TEMIN 2003; LANGLOIS, 2004), inclusive, passaram a argumentar  
que estaríamos testemunhando um retorno à configuração competitiva que teria  
estruturado o capitalismo do século XIX. Ou seja, se estivessem certos, estaríamos  
entrando num contexto competitivo em que a arena global estaria sendo invadida por  
pequenas empresas (start-ups) altamente inovadoras. Seria, nesses termos, uma  
oportunidade única para que as nações de capitalismo híper-tardio pudessem  
transformar aquele que já parecia um destino imutável.  
Chama a atenção, entretanto, como ideólogos empresariais passam a equiparar  
empreendimentos de diversas configurações e que exigem volumes de capital  
completamente distintos. A discussão tem inclusive assumido contornos quase morais,  
ao indicar que não se pode fazer distinção entre uma grande empresa de aviação e  
um pequeno produtor de cerveja artesanal, ao mesmo tempo em que se constrói a  
figura heroica do empreendedor.  
O mito fundador das empresas de tecnologia do Vale do Silício é possivelmente  
a pedra angular desse ideário. No entanto, ele possui quase infinitas variações. No  
Brasil, recentemente, ele foi adaptado por Pablo Marçal e a sua defesa da  
“prosperidade”. Nessa linha particular, concebe-se inclusive que uma nação próspera  
é uma nação composta por uma infinidade de pequenos empreendedores, e não uma  
nação com grande acúmulo de capital.  
A questão central, todavia, nunca foi essa. Mantido o devido distanciamento,  
não é difícil reconhecer que a dinâmica identificada por Chasin é ainda a prevalecente  
(e nem poderia ser diferente dentro da ordem capitalista). Poderíamos, por exemplo,  
indicar que no setor de tecnologia cinco grandes empresas acumulam quantias  
proibitivas de capital e alimentam preocupações quanto ao seu poder de mobilização  
sobre diferentes esferas da economia.  
Não há, portanto, atalho na corrida capitalista, como a literatura acadêmica  
ou política que embala essa narrativa faz crer. A novidade está unicamente no circuito  
de investimentos para atividades inovadoras ou de risco. Na linha de Santos (2021),  
podemos sustentar que essas novas formas empresariais derivam de mudanças na  
dinâmica de investimentos em pesquisa e desenvolvimento (num contexto de menor  
lucratividade) e não num revolucionamento das bases da competição capitalista.  
Na prática, na medida em que o estado perde protagonismo, as típicas start-  
ups surgem como pequenos empreendimentos de risco que, caso bem-sucedidos,  
seriam integrados ao grande capital. Trata-se, portanto, de um meio encontrado pelo  
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capital para mitigar riscos e perdas, uma vez que as possibilidades de se obter retorno  
elevados são menores. Os casos Youtube e Twitter exemplificam bem essa dinâmica,  
quando bem-sucedida. Ainda tendo como referência estes dois casos, apesar de tais  
negócios não demandarem, diretamente, um largo emprego de força de trabalho, o  
volume de capital necessário para a sua operacionalização em larga escala assume  
cifras completamente inalcançáveis para o pequeno capital de fato (cf. SCHAAKE,  
2024). Poderíamos, inclusive, indicar que o baixo emprego de força de trabalho só é  
possível por conta dos investimentos maciços em estrutura, que automatizam o  
tratamento dos dados, bem como em função de brechas legais que não culpabilizam  
essas empresas por conteúdos indevidos que são publicados em suas plataformas  
diariamente.  
Desse modo, tais negócios só puderam se manter relativamente pequenos (em  
termos de volume de capital) na sua fase experimental. O crescimento estrondoso, que  
ocorreu anos mais tarde, não foi fruto de uma dinâmica virtuosa calcada em eficiência  
operacional e administrativa e altos lucros, mas sim de sua completa integração ao  
circuito do grande capital (GUEDES, 2024). Fato análogo ao que estamos  
testemunhando, neste momento, com a Open AI.  
Uma vez que a dinâmica capitalista segue a mesma lógica, ou seja, o pequeno  
capital segue sendo menos lucrativo que o grande capital (e, portanto, o capital  
atrófico segue emboscado pelo capital em sua completude), podemos analisar, agora,  
aquelas que Chasin indicava como as determinantes centrais que colocam o capital em  
crise.  
A primeira indicação que merece destaque é “em primeiro lugar” a de que “a  
crise, na abissalidade do concreto, nunca foi antes tão visceral quanto abrangente,  
pois é gerada não apenas pelos traços mais débeis e problemáticos do capital mas,  
ao contrário, pelas suas qualidades mais positivas” (CHASIN, 2000b, p. 179).  
Ainda que posta em termos simples, a assertividade de tal afirmação e a  
validade dela nos anos que se seguiram é facilmente constatável. Para isso, basta  
indicarmos que, nos últimos 30 anos, a crise mais destrutiva teve origem no polo  
vitorioso do quadro global, a crise estadunidense de 2008. E, desde então, a economia  
mundial jamais passou por um ciclo prolongado de crescimento.  
Antes, no entanto, de avançarmos sobre essa dinâmica, vale a pena trazer  
algumas passagens mais longas em que o autor de A miséria brasileira detalhava o  
seu diagnóstico quanto às crises do capital.  
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Numa palavra, o discurso apologético do capital torna intercambiáveis  
determinações completamente diversas: a indicação abstrata e  
verdadeira de que as crises, em geral, são fontes virtuais do novo –  
e a situação, completamente diversa em gênero, número e grau de  
crise estrutural do capital que hoje perfaz a globalidade da  
existência deste e de sua forma de sociabilidade.  
Crise estrutural, isto é, orgânica e permanente, para a qual não há  
possibilidade de superação no interior da lógica do capital, de modo  
que ambas, crise e sistema, estão fundidas de modo definitivo,  
condenando a sobrevivência do capital ao metabolismo crítico que na  
atualidade o caracteriza. Assim, viver e sobreviver para o capital  
tornou-se existir na e através da crise. De cada crise do capital não  
tem brotado o novo, mas a reiteração de si próprio em figura  
agigantada, de igual ou maior problematicidade. Em palavras diversas:  
a reprodução ampliada do capital, contemporaneamente, reproduz a  
si mesmo em proporções inauditas, ao mesmo tempo em que  
reproduz em tamanho correlato sua crise constitutiva. Trata-se da  
reconversão administrada da crise em meio de existência. É do que  
consiste, em verdade, sua mágica: a faculdade adquirida de sustar,  
através de meios econômicos e extraeconômicos (atividade estatal  
incidente no cerne dinâmico da sociedade civil), a virtualidade  
explosiva da crise. [...] Para efeito prospectivo, nem uma coisa nem  
outra autoriza suposições precipitadas: nem que, na curva da próxima  
esquina, o capital exibirá as próprias vísceras, sob o impacto de um  
encontrão do seu ventre de chumbo consigo mesmo; nem, muito  
menos, que com mais algum tempo, com o tempo que fosse  
necessário, elaborando ainda mais seus procedimentos econômicos e  
tornando mais fina e eficiente a intervenção estatal, na esfera da  
produção e reprodução material do mundo, o capital, por fim,  
depurado de suas contradições, alcançaria a perfectibilidade, quando  
então, redimido de seu próprio mau caráter, proporcionaria a si e  
democraticamente a todos a participação no mercado nirvana, enfim,  
conquistado para todo o sempre. (CHASIN, 2000b, pp. 181-2)  
Chasin, portanto, advogava que a crise era resultado da própria dinâmica  
“virtuosa” do capital e não de vícios que poderiam ser perfectibilizados. Esse  
apontamento é fundamental pois, veremos adiante, os esforços lançados na tentativa  
de reversão do quadro de estagnação não geraram quaisquer efeitos dignos de nota,  
a não ser individualmente e em detrimento de outras economias.  
Para precisarmos como o problema vem se agravando desde a publicação dos  
últimos textos do nosso autor, podemos indicar, entre outros fatores: (I) a queda geral  
do ritmo de crescimento da economia capitalista em termos globais (Gráfico 1); (II) a  
queda do ritmo de recuperação pós-crise (Gráfico 1); e (III) a intensificação dos esforços  
governamentais para a reversão dessa queda (Gráfico 2). Ou seja, fica claro que  
independentemente do título (“crise estrutural”, “longa depressão”, “grande recessão”,  
etc.), “viver e sobreviver para o capital tornou-se existir na e através da crise”.  
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Gráfico 1: Evolução anual do PIB global  
Fonte: tradineconomics.com  
Gráfico 2: Evolução do endividamento governamental do G7 (em % do  
PIB), 1978-2023  
Fonte: IMF - Global Debt Database (Dec 2024).  
A economia capitalista, diante da impossibilidade de manter o ritmo de  
crescimento do início da segunda metade do século XX, parece ter entrado,  
momentaneamente, numa dinâmica de hibernação. Nela, ao mesmo tempo em que não  
testemunhamos crescimentos sustentados, as depressões também ocorrem em ritmo  
menor do que o esperado. Ou seja, ao evitar as derrotas acachapantes, o capital  
conquistou, na melhor das hipóteses, vitórias burocráticas.  
Nessa direção, é interessante notar a feliz imagem cunhada por Brenner (2006),  
que sinaliza que a economia global entrou numa dinâmica de jogo de soma zero. Com  
essa imagem, ele sugere que, com taxas tão baixas de crescimento, para uma nação  
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prosperar, outra deve necessariamente declinar. Tal dinâmica é resultado inevitável da  
própria lógica do modo de produção capitalista, pois, na medida em que a competição  
entre diferentes frações do capital pressiona pela busca constante do aumento da  
produtividade (o que, em outras palavras, significa a redução da necessidade de  
trabalho vivo), esmaga-se o potencial de geração de mais-valor (cf. MARX, 2017).  
Na prática, isso significa que o impressionante crescimento da economia  
chinesa, que ocorreu nas últimas décadas, aconteceu em detrimento do crescimento  
de outras economias. O Gráfico 3, inclusive, apresenta esse fenômeno de forma  
bastante clara. Nele, podemos perceber que o crescimento da economia chinesa  
acontece em detrimento do crescimento da economia japonesa (uma vez que a linha  
que sinaliza o crescimento da economia global fica entre ambas).  
É fundamental reconhecer também que o atual crescimento da economia  
chinesa, na medida em que contribui para o aumento da produtividade, pressiona  
negativamente o potencial de crescimento global nos próximos anos. Ou seja, torna-  
se cada vez mais improvável que outras nações consigam reproduzir o sucesso recente  
da economia chinesa, ainda que sigam a mesma cartilha. O que nada mais é do que a  
evidenciação da relação já identificada por Marx (2017) conhecida como a Lei da  
Queda Tendencial da Taxa de Lucro2.  
Gráfico 3: Comparação PIB chinês (CN) x PIB japonês (JP) x PIB global (WL)  
Fonte: tradineconomics.com  
2
Em termos pedagógicos, podemos indicar que a massa de lucro a ser distribuída pelas diversas  
formações capitalistas equivale à massa de mais-valor que foi gerada. Na medida em que, com o  
aumento da produtividade, diminui o emprego de força de trabalho, reduz-se a geração de mais-valor  
e, desse modo, reduz-se a massa de lucro a ser distribuída pelos diversos grupos econômicos.  
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nova fase  
 
Thiago Martins Jorge  
Ainda nesse quadro, a economia japonesa, como sugere o Gráfico 3, é também  
um bom exemplo do deterioramento das bases que sustentam a malha econômica  
global. O impressionante salto de produtividade gerado pelas empresas japonesas nos  
anos 1960 e 1970, ao invés de expandir horizontes, reduziu o seu potencial de  
crescimento nas décadas seguintes. Chama a atenção inclusive o fracasso do grande  
esforço realizado pelos gestores políticos japoneses, mediante ampliação de gastos  
governamentais, na tentativa de voltar a impulsionar a acumulação capitalista no Japão  
(Gráfico 2).  
O clima de animosidade que tem tomado conta das relações internacionais é  
reflexo desse quadro de crise do capital, disfarçado de longa estagnação. Na  
impossibilidade de um crescimento global e sustentado, diferentes frações do capital  
pressionam gestores políticos para que criem as condições internas mais favoráveis  
para sua acumulação (ROBINSON, 2025). Em muitos casos, como atualmente nos  
Estados Unidos, o que temos visto é, na realidade, frações do capital se apoderando  
diretamente do estado, visando a instrumentalizá-lo principalmente no enfrentamento  
do capital radicado na China (PAÇO CUNHA, 2025a).  
O cenário atual é, contudo, de tamanha aridez que tal dinâmica inclusive ameaça  
outras frações do capital, também radicadas nos Estados Unidos, mas que ficaram de  
fora da “coligação vencedora”. É importante, portanto, frisar que o nacionalismo do  
capital é somente para consigo mesmo.  
Finalmente, norteados por tais determinações, podemos nos debruçar sobre a  
trajetória brasileira desde a conclusão do itinerário chasiniano e, a partir disso, jogar  
luz sobre o atual campo de possibilidades.  
2. A posição brasileira  
Nos termos de Marx (2013; 2017), podemos indicar que o modo de produção  
capitalista é composto por uma interminável sucessão de ciclos de acumulação de  
capital, sendo que o novo ciclo tem início a partir do ponto de chegada do ciclo  
anterior. Ou seja, se o ciclo anterior foi positivo em termos de acumulação, o novo  
ciclo conta com maior aporte de capital para iniciar suas atividades e, portanto, se  
tudo ocorrer dentro da normalidade, ao seu final, terá realizado quantias ainda  
maiores.  
Como as economias capitalistas são, porém, constantemente atormentadas pela  
ameaça de eclosão de crises econômicas, imensos esforços são realizados para  
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A crise que se agrava e a miséria brasileira que persiste  
assegurar o sucesso dos ciclos de acumulação. Toda a experiência colonial pode ser,  
esquematicamente, inserida nos esforços de nações europeias para garantir o sucesso  
da acumulação de capitais individuais que nelas surgiam. Ou seja, enquanto até  
meados do século XIX os capitais inglês, francês e estadunidense assumiam a liderança  
da corrida capitalista, a economia brasileira, na prática, ficava restrita à condição de  
um mero meio de impulsionar a acumulação estrangeira. A situação, no entanto, se  
agravou à medida que Alemanha e Itália iniciaram um processo acelerado de  
industrialização, enquanto a economia brasileira, apesar de mudanças na configuração  
política, seguiu em condições similares.  
Para devidamente avaliar a estreiteza e desfavorabilidade das  
condições sob as quais principia a emergir o “capitalismo verdadeiro”  
no Brasil, basta considerar, o que é essencial, que “concretamente as  
condições [...] levam à reiteração da chamada ‘vocação agrícola’ do  
país, especializando-o ainda mais na produção de mercadorias de  
realização externa. O aprofundamento dessa especialização fez com  
que o financiamento da realização do valor da economia agroex-  
portadora fosse, também, e não por acaso, externo. Este ponto,  
fundamental para a compreensão do processo, forma uma espécie de  
círculo vicioso: a realização do valor da economia agroexportadora  
sustentava-se no financiamento externo e este, por sua vez, exigia a  
reiteração da forma de produção do valor da economia agroexpor-  
tadora. Simultaneamente, o mecanismo de financiamento externo  
bloqueava a produção do valor de mercadorias de realização interna.  
Na exacerbação desse processo, os requerimentos do financiamento  
externo acabavam por consumir todo o valor da economia  
agroexportadora, com o que negavam a própria forma de produção;  
em última análise, o valor gerado pela economia agroexportadora  
acabou por destinar-se substancialmente a pagar os custos da  
intermediação comercial e financeira externa, operando-se uma  
redistribuição da mais-valia entre lucros internos e lucros e juros  
externos completamente desfavorável aos primeiros; em outros  
termos, uma parcela substancial do produto não podia ser reposta  
senão através dos mesmos mecanismos de financiamento externo”.  
Consequentemente, “enquanto se inviabilizava em si mesma, a  
economia agroexportadora bloqueava o avanço da divisão social do  
trabalho no rumo do capitalismo industrial, na medida em que  
reiterava os mecanismos da intermediação comercial e financeira  
externa, que nada tinham que ver com a realização interna do valor  
da produção de mercadorias dos setores não-exportadores. O  
financiamento da acumulação de capital nos setores não-exportadores  
não passava pela intermediação comercial e financeira externa típica  
da economia agroexportadora, que consumia a maior parte do  
excedente social produzido não apenas pelas atividades de  
exportação, mas pela totalidade do sistema econômico”. (CHASIN,  
2000a, pp. 56-7)  
É fundamental reter, portanto, que mesmo quando foi dada a largada para que,  
a economia brasileira pudesse iniciar o seu processo de industrialização, tal processo  
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não só se iniciou de forma extremamente tímida, mas também acontecia de maneira  
que seguia impulsionando, em maior medida, a acumulação estrangeira. Nessa direção,  
aqueles que detinham o capital no país também não nutriam a ambição de ingressar  
na corrida capitalista e, portanto, pouco fizeram no sentido de gerar um processo de  
industrialização brasileiro. Considerando os horizontes restritos desses indivíduos, o  
modelo agroexportador atendia a suas ambições apequenadas, mas impedia qualquer  
esforço de gerar um processo de desenvolvimento social independentemente de  
qualquer configuração distributivista.  
Desse modo, como já destacado pelo nosso autor, o sistema produtivo  
brasileiro não foi estruturado de maneira que possibilitasse qualquer projeto mais  
ambicioso do que o funcionamento do já existente sistema agroexportador. E é  
fundamental reter que, dentro desse sistema, a massa de riqueza gerada era tão  
limitada que a fortuna dos grandes proprietários rurais dependia necessariamente da  
máxima miséria dos demais setores da sociedade (inclusive, qualquer protótipo de  
capital industrial).  
Voltamos a enfatizar, nessa direção, que a distância já imposta pelos líderes da  
corrida capitalista seguia num processo de alargamento e, assim, Chasin, valendo-se  
da ironia engelsiana, acrescentava que:  
Tal a disparidade do estágio de desenvolvimento do capitalismo  
brasileiro, em face daqueles países, que quaisquer igualizações ou  
identificações, além de impossíveis, são verdadeiramente uma  
brutalidade teórica. Tamanhas as diferenças de grau e de forma de  
objetivação do capitalismo que, parodiando Engels quando compara  
a Alemanha à França, em plena vigência da via prussiana, diríamos  
que, mesmo se tudo corresse bem para o Brasil, e a estabilidade  
dominasse o panorama universal, ainda assim, quando todos já  
estivéssemos bem velhos, lá por volta do ano 2000, o Brasil ainda  
não teria atingido o estágio da Alemanha em 1913, na qualidade  
desta de emergente elo débil da cadeia imperialista. (CHASIN, 2000a,  
p. 57)  
Nosso autor denominou o capital que se formou em território brasileiro capital  
atrófico, dada não apenas a sua baixa estatura, mas também o fato de ficar confinado  
a atividades derivadas do sistema agroexportador. E essa é uma diferença que não  
pode ser menosprezada entre a “via colonial” e a “via prussiana”. Apesar do ingresso  
tardio na corrida capitalista, uma vez que Itália e Alemanha iniciaram o seu processo  
de industrialização, o capital que lá atuava estruturou-se rapidamente e se colocou em  
condições de perseguir o capital industrial radicado na Inglaterra e na França. Já como  
um produto da via colonial, o capital brasileiro jamais ambicionou transcender os seus  
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limites iniciais, e, desse modo, o máximo que alcançou foi se associar, de forma  
subordinada, aos primeiros.  
Assim, à medida que os constrangimentos particulares do capital atuante no  
Brasil cruzaram com os constrangimentos, cada vez maiores, gerados pela evolução  
universal da economia capitalista, o capital atrófico teve de aceitar a sua incompletude  
congênita.  
Traços que, reduzidos ao essencial, conferiam ao país o semblante de  
uma entificação nacional que pelejava para completar sua formação  
capitalista, mas que reproduzia sempre, apesar da multiplicação das  
formas de crescimento e diversificação econômicas, a incompletude  
de seu capital e, por consequência, suas peculiares mazelas sociais e  
políticas. (CHASIN, 2000c, p. 303)  
Nesse quadro, Chasin destacava ainda a “instrumentalização estrutural do  
poder político pelo capital atrófico em seu benefício exclusivo” (2000b, p. 213), o que  
determinou que, ao longo de todo o século XX, os esforços políticos não se dessem  
pela reversão do atraso. Na direção contrária, o poder político se colocou como um  
muro, ao mesmo tempo protetor e confinador, do capital atrófico. Em outras palavras,  
na medida em que o frágil sistema agroexportador contou seguidamente com o  
socorro estatal, jamais se viu obrigado a perseguir outras alternativas (entre elas,  
ingressar na corrida industrial).  
Expressando tal problemática, o autor se valeu reiteradamente da ideia de que  
a evolução nacional não fora acompanhada por uma onda de progresso social, mesmo  
nos parcos momentos em que a economia brasileira pôde avançar competitivamente  
na malha global. Nesses momentos, o mercado interno pouco pôde se expandir, uma  
vez que a plataforma de crescimento seguia calcada no máximo arrocho salarial e na  
associação subordinada ao capital industrial externo. O mercado consumidor brasileiro  
sempre ficou, portanto, aquém até mesmo de suas necessidades mais elementares, ao  
mesmo tempo em que o capital industrial, que veio a atuar em território brasileiro,  
jamais pressionou para cima a massa salarial. Na realidade, na contramão disso, o que  
de fato atraiu este mesmo capital foi justamente a possibilidade de pagar salários  
inferiores ao de seus países de origem. Ainda assim, essa plataforma de crescimento -  
calcada no arrocho salarial e na atração de capital externo tornou-se o único projeto  
a contar com o engajamento síncrono dos principais grupos econômicos e lideranças  
políticas no país. Enquanto o projeto oposicionista – “de esquerda” – não ousava tocar  
nessas bases, pretendendo resolver o problema por meio da construção de uma  
estrutura distributivista sempre muito mais idealizada do que racionalizada a partir  
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de bases concretas.  
O próprio Chasin destacava que, para além das querelas eleitorais e excetuadas  
raríssimos casos, o projeto oposicionista jamais transcendeu as ilusões distributivistas.  
O que, inclusive, pudemos constatar de forma até mais bem exemplificada nos anos  
que se seguiram ao encerramento do itinerário chasiniano, durante as gestões petistas.  
Podemos até, calcados na crítica chasiniana ao politicismo, sugerir que a plataforma  
distributivista foi a realização econômica miserável do ideário politicista. Sem encarar  
as bases atróficas do capitalismo brasileiro, as gestões petistas pretenderam resolver  
o problema por meio de uma atuação política calcada exclusivamente na criação de  
programas de distribuição de renda. Dentre eles, tivemos programas que destinavam  
recursos às camadas mais empobrecidas da sociedade brasileira (como o Bolsa  
Família), mas também programas que canalizavam recursos diretamente para o bolso  
dos detentores de capital (via desoneração tributária).  
Podemos considerar, distanciados do discurso espetaculoso que cercou  
principalmente a criação dos programas sociais, que tal solução política foi, na melhor  
das hipóteses, a transferência do problema para a própria sociedade civil. De um lado,  
o governo torcia para que os empresários empregassem as sobras geradas pela  
desoneração tributária em novas atividades produtivas; do outro, contava que os  
programas sociais criariam uma massa de novos consumidores. Na prática, no entanto,  
as bases da acumulação capitalista em território brasileiro seguiram constituídas pela  
plataforma agroexportadora e a associação subordinada com o capital externo. Como  
veremos em mais detalhes na sequência, parte importante dos recursos distribuídos  
pelo governo federal acabaram, na prática, impulsionando a acumulação do capital  
industrial chinês.  
Por outro lado, Chasin advertiu também, em O poder do real, que mesmo as  
poucas figuras que, historicamente, transcenderam essa plataforma miserável como  
Brizola aos poucos foram ficando aquém do tamanho da tarefa. Nesse mesmo texto,  
Chasin indicava que:  
O sistema produtivo nacional, desde sempre, encarnou seus perfis e  
o teor de suas modernizações subordinado aos empuxos dos polos  
hegemônicos mundiais. Não é diverso o que se passa agora, diante  
da mais radical das revoluções tecnológicas, combinada ao quadro da  
globalização econômica. Todavia, dada a qualidade e a envergadura  
destas e o próprio grau de desenvolvimento material alcançado no  
país, as margens de manobra nos ajustes e seus efeitos possíveis  
também se diferenciaram, ao mudarem de natureza. Para o bem e para  
o mal, aqui se fecha e fica para trás um longo ciclo, cujas carac-  
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terísticas dominaram a maior parte do cenário brasileiro neste século.  
Traços que, reduzidos ao essencial, conferiam ao país o semblante de  
uma entificação nacional que pelejava para completar sua formação  
capitalista, mas que reproduzia sempre, apesar da multiplicação das  
formas de crescimento e diversificação econômicas, a incompletude  
de seu capital e, por consequência, suas peculiares mazelas sociais e  
políticas. Toda essa problemática perdeu suas âncoras e se  
transfigurou, no bojo dos novos parâmetros internacionais do sistema  
de produção e circulação de mercadorias. (CHASIN, 2000c, p. 303)  
Dado o caráter mais sintético deste texto, em relação ao de 1989, não podemos  
avançar de forma mais fundamentada sobre o conteúdo desta última crítica chasiniana.  
Podemos, no entanto, partindo de seus trabalhos anteriores em especial o de 1989  
, e de olho nos dados contemporâneos, acrescentar outras indicações. Para isso,  
devemos ainda mencionar aquilo que Chasin colocava como a necessidade de se  
desenvolver um projeto alternativo, o que explicitou mais longamente em A sucessão  
na crise e a crise na esquerda, destacando, principalmente, aquilo que denominou de  
“a primeira transição”.  
Ao contrário das propostas que visam econômica e/ou politicamente  
a completar o capital incompletável, a primeira transição parte dessa  
incompletude como face irremovível, diante da qual a perspectiva do  
trabalho desencadeia sua lógica, nos contornos de sua afirmação  
defensiva [...]. A mudança do sistema de produção, na impossibilidade  
da superação do modo de produção, é o aspecto central do momento  
transitório primário, constitui propriamente seu objeto concentrado,  
uma vez que é o meio e a forma de combater e eliminar a exclusão  
social pela sua raiz a superexploração do trabalho. Subentende um  
programa econômico de recomposição da malha dos setores  
produtivos, do redirecionamento de prioridades e da alocação de  
recursos (privados e públicos), de maneira que o aparato de produção  
e reprodução material da vida seja posto a serviço da sociedade  
global, deixando assim de funcionar exclusivamente em benefício da  
acumulação do capital atrófico e metropolitano. Não se trata de optar  
acanhadamente entre uma economia exportadora e uma economia de  
mercado interno, mas da estruturação de um conjunto que não seja  
exportador à custa da força de trabalho (pela exploração da perver-  
samente chamada mão de obra barata), nem concentrado sobre o  
mercado interno através do amesquinhamento das necessidades e da  
forma de satisfazê-las. (CHASIN, 2000b, p. 179)  
Analisando o leque de opções, mais de 35 anos após a propositura de tais  
lineamentos, os meios empregados certamente já não seriam os mesmos o que  
inclusive justifica a crítica a Brizola , mas, também não restam dúvidas de que o fim  
almejado permanece. Parece claro que o autor defendia a criação de um sistema  
produtivo de maior envergadura e capaz de gerar maior progresso social, ainda que  
confinado aos limites do modo de produção capitalista. Tal sistema deveria  
necessariamente integrar atividades produtivas mais complexas, capazes de gerar  
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produtos de maior valor monetário e, ao mesmo tempo, remodelar o padrão de  
qualificação e remuneração da força de trabalho atuando em território brasileiro.  
Tratava-se, portanto, de abandonar, de um lado, a plataforma agroexportadora e, de  
outro, uma política industrial que, na realidade, limitava-se à atuação estatal em setores  
estruturais e à criação de meros incentivos para atrair o capital industrial externo.  
Lembrando, é claro, que o incentivo principal era a promessa de uma força de trabalho  
barata e disciplinada, o que reduzia drasticamente qualquer “efeito multiplicador”.  
Como salientamos na seção anterior, entretanto, numa economia global  
encurralada na dinâmica de um jogo de soma zero, para que o sistema produtivo  
brasileiro possa se complexificar, ele precisa superar competidores estrangeiros mais  
bem posicionados na corrida capitalista. Isto é, ele deve necessariamente superar  
competidores que, entre outros fatores, contam com (I) uma cadeia de abastecimento  
(fornecedores) e uma cadeia de distribuição (consumidores) já bem estruturada; (II) a  
capacidade de produzir em larga escala com custos mitigados; (III) pesquisa de base  
que possibilita incorporar inovações aos produtos ou aos métodos de produção; e (IV)  
capacidade de ingressar em novos setores que surgem a partir de desdobramentos  
tecnológicos.  
Nessa perspectiva, uma vez mais devemos salientar que, enquanto a plataforma  
politicista abstrai as bases concretas do problema, a plataforma brizolista parecia  
encarar o problema somente de forma parcial. Em suma, ainda que em níveis distintos,  
ambas ficavam e ainda ficam aquém do tamanho da tarefa.  
O filósofo brasileiro, em O poder do real, acrescentava que “crescer passou a  
supor a capacidade de ocupar nichos na infinitude da malha de produção atualizada,  
universo no qual os mercados interno e externo não mais se distinguem” (CHASIN,  
2000c, p. 304), e sugere:  
O Brasil, no futuro imediato e palpável, é do grupo restrito de  
nacionalidades periféricas que maior proveito pode tirar da nova  
forma de acumulação ampliada do capital. Em verdade, não tem  
alternativa: ou participa dessa civilização ou envereda pela estagnação  
degenerativa. Pelo seu porte econômico, cultura e modernização  
tecnológica e a recém-adquirida estabilidade política, tem inserção  
produtiva assegurada nos planos regionais e internacionais, inclusive  
pela experiência acumulada no comércio exterior. (CHASIN, 2000c, p.  
304)  
Parece-nos, portanto, que, mesmo reconhecendo algum poderio do capital  
industrial brasileiro o qual inclusive se apequenou desde então , Chasin indicava a  
impossibilidade de o sistema produtivo brasileiro vir a se colocar em condições de  
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A crise que se agrava e a miséria brasileira que persiste  
enfrentar, em várias frentes, os competidores externos.  
Três décadas depois, devemos reconhecer se não lamentar que, mesmo na  
análise de Chasin, parece que o pessimismo foi demasiadamente moderado. No  
momento em que nosso autor escrevia, o mainstream econômico vivia uma onda de  
grande euforia e, nessa linha, elegia um grupo de nações com imenso potencial de  
crescimento: os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). O que obviamente  
ficava de fora da euforia econômica mas não escapava a Chasin era o fato de que  
não haveria espaço para que todas essas nações se desenvolvessem igualmente. Na  
realidade, na contramão disso, o crescimento de algumas dependeria da estagnação  
de outras. O autor de A miséria brasileira, até certo ponto, colocou bem essa questão  
quando indicou que “crescer passou a supor a capacidade de ocupar nichos”. O que  
não foi antecipado e nem poderia ser é que esses nichos seriam ocupados pelo  
capital chinês.  
Nessa linha, o Gráfico 4 de fato justifica a grande expectativa criada sobre as  
“economias emergentes” naquele momento. Desde 1995, constantemente, esses  
países, se analisados conjuntamente, impuseram-se sobre as economias centrais, o  
que inclusive reforça o ponto que já havíamos destacado por meio do Gráfico 3  
(comparando a evolução do PIB chinês à do PIB japonês).  
Gráfico 4: Comparação PIB: economias emergentes x economias avançadas x  
economia global  
Fonte: IMF - GDP Growth (Annual percent change) (Dec 2024)  
Por outro lado, devemos reconhecer que tal dinâmica não indica uma ruptura  
em relação à subordinação dessas economias ao capital acumulado nos países centrais  
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e muito menos reforça a tese que mencionamos na seção anterior (de que estamos  
retornando à configuração competitiva do século XIX). Quando, por exemplo,  
companhias estadunidenses se deslocam para o território chinês, o seu sucesso  
impulsiona os dados de crescimento chinês, ainda que, no final das contas, o controle  
sobre a maior parte da riqueza gerada permaneça em mãos norte-americanas.  
A grande novidade é que o governo chinês foi capaz de criar uma estrutura de  
disciplinamento do capital externo impondo regramentos e exigindo contrapartidas  
que, aos poucos, foi impulsionando uma dinâmica de crescimento menos  
dependente. Ou seja, a China foi capaz de atrair capital externo, incorporar sua  
tecnologia e processos de trabalho e, a partir disso, criar uma estrutura própria. Desse  
modo, o sistema produtivo chinês foi ganhando posições na corrida capitalista, na  
medida em que ingressava em setores produtivos tecnologicamente cada vez mais  
complexos. Esse mesmo sistema produtivo vem subordinando outros sistemas a ele  
(entre eles, o brasileiro).  
Analisando, mais particularmente, a relação China/Brasil, podemos perceber, de  
um lado, como a balança de pagamentos3 brasileira seguiu praticamente inalterada  
durante todo o período, enquanto a chinesa se tornou extremamente superavitária  
(Gráfico 5). O que indica que o sistema produtivo chinês se tornou um dos mais  
poderosos no comércio mundial. Paralelamente a isso, podemos perceber também  
que, na comparação China x Brasil, em termos de PIB, o crescimento daquela também  
se deu em detrimento deste.  
Gráfico 5: Comparação da Balança de Pagamentos: China x Brasil  
Fonte: IMF - Current account balance U.S dollars (Dec 2024)  
3 Balanço de pagamento registra o saldo das transações entre um país e o resto do mundo. Uma balança  
superavitária sugere, portanto, que o valor das exportações supera o valor das importações.  
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A crise que se agrava e a miséria brasileira que persiste  
Gráfico 6: Comparação PIB: China x Brasil  
Fonte: IMF - GDP Growth (Annual percent change) (Dec 2024)  
Esses dados, portanto, evidenciam que a janela de oportunidade identificada  
por Chasin, de fato, existia; porém, não foi devidamente aproveitada pelo capital  
atuante no Brasil. A grande questão agora é se ainda haveria espaço para,  
revolucionando o sistema produtivo, seguir o caminho traçado pela China, ou se,  
dentro dos limites do modo de produção capitalista, o que resta é unicamente lamentar  
as oportunidades desperdiçadas.  
É claro que a resposta para esse tipo de questionamento somente pode ser  
dada a posteriori. Ao mesmo tempo, é certo que, se mantida a trajetória atual, o  
sistema produtivo brasileiro seguirá a sua trajetória declinante, comprometendo, com  
isso, as possibilidades mínimas de progresso social no país. Ou seja, abdicar de tentar  
mudar os rumos da história não é uma opção razoável. A isso podemos adicionar ainda  
que considerando, de um lado, a crise ambiental e, de outro, a esperança de transição  
para além do capital o desenvolvimento do sistema produtivo brasileiro, atendendo  
às exigências adaptativas, é uma necessidade irrevogável.  
Na prática, portanto, esses pontos indicam que o caminho proposto por Chasin  
segue sendo o único passível de ser traçado. Os questionamentos que devem ser feitos  
se dão quanto ao que podemos esperar dentro dos limites da ordem capitalista e,  
principalmente, quanto aos meios que devem ser empregados para buscar as  
transformações.  
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Quanto aos últimos, a questão decisiva segue sendo o enfrentamento da linha  
de defesa montada em torno do sistema produtivo existente. Como já indicamos, com  
alguma exaustão, o atual sistema atende às baixas pretensões dos detentores de  
capital atuantes no Brasil. Nessa linha, qualquer aventura política que busque reverter  
o quadro, mas se abstenha de enfrentar decisivamente essa questão, não contará com  
os recursos financeiros mínimos para que possa ter algum sucesso.  
Podemos, a título de exemplo, rememorar a estratégia empregada ao longo do  
governo Dilma II que, diante da crise econômica instalada em 2014, optou por criar  
grandes pacotes de desoneração tributária, pretendendo, com isso, contar com uma  
onda de investimentos do capital privado. Na prática, como a própria Dilma admitiu  
anos mais tarde: “Eu acreditava que, se diminuísse impostos, teria um aumento de  
investimentos. Fiz uma grande desoneração, brutalmente reduzimos os impostos. Ali  
fiz um grande erro.” (ROUSSEFF apud GOULARTI, 2017)  
Uma década depois, qualquer observador minimamente isento deve reconhecer  
que, no quadro atual, qualquer projeto de mudança que conte com a boa vontade do  
capital atuante no Brasil não passa de uma peça de ficção. Devemos, contudo e uma  
vez mais, afastar questões éticas e nos atermos às questões objetivas, pois, se algo  
pode ser enfrentado, claramente não serão as primeiras.  
A continuação do processo que impõe uma pressão negativa sobre a taxa de  
lucro o motor da acumulação capitalista de fato gera incentivos para que o capital  
ocioso cada vez maior flua para os cassinos do mercado financeiro. E este não é  
um problema exclusivo da economia brasileira. Na realidade, até certo ponto, tal  
fenômeno está aproximando os problemas brasileiros aos de seus competidores mais  
avançados. Ainda que a economia brasileira venha de uma longa estagnação, os seus  
competidores também pouco avançaram. A única exceção é a China, onde as atividades  
especulativas são freadas por restrições impostas pelo estado chinês. Porém, mesmo  
lá, o problema segue existindo: poderíamos, por exemplo, rememorar o caso  
Evergrande.  
Esse caso, inclusive, escancara como, no quadro econômico atual, mesmo no  
contexto mais favorável para acumulação, ainda assim, as atividades especulativas  
oferecem retornos mais promissores. Ou seja, aquilo que era uma exceção no passado,  
sendo criticada pela própria intelectualidade burguesa, tornou-se a regra no  
prolongamento histórico do capital. Para essa mesma intelectualidade, a crítica moral  
é a linha de defesa que varre para baixo do tapete a necessidade de enfrentar as  
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questões objetivas fundamentais. Ela permite, ao mesmo tempo, criticar tanto os  
agentes especuladores quanto a forma como o estado chinês vem enfrentando os  
problemas. Contudo, enquanto isso, o problema em si segue intocado.  
Esse ponto volta a ser sensível quando encaramos as possibilidades de ação  
dentro do capitalismo brasileiro. Com um agravante: aqui a figura do especulador é  
uma constante em telejornais e em programas de análise econômica. Ou seja, aqui os  
próprios especuladores influenciam decisivamente a opinião pública, transformando,  
por exemplo, os movimentos da bolsa de valores que, na realidade, impactam a vida  
de uma ínfima parcela da população num indicador econômico da mais alta  
relevância. Do mesmo modo que os discursos vazios dos operadores do Banco Central  
ecoam por escritórios de todo o país (PAÇO CUNHA, 2025b). Na prática, portanto, os  
detentores de capital que atuam em território brasileiro mantêm-se indiferentes a  
qualquer transformação significativa no sistema produtivo. A novidade é unicamente a  
formação de um circuito financeiro (REZENDE, 2024) que acompanha a plataforma  
agroexportadora, delimitando, em grande maneira, a paisagem da economia brasileira.  
Nessa linha, se dos detentores do capital não se pode esperar um mínimo  
esforço para a transformação do sistema produtivo brasileiro, a esperança recai  
exclusivamente sobre os ombros da classe trabalhadora. Esta, no entanto, parece  
oscilar exclusivamente entre o ideário politicista (amalgamado no Partido dos  
Trabalhadores) e a plataforma vazia da prosperidade ou do combate à corrupção.  
Considerações finais  
Buscamos indicar, ao longo destas páginas, que os últimos 30 anos foram  
marcados pelo agravamento do quadro que já havia sido delineado por Chasin entre  
as décadas de 1980 e 1990. Uma expressão que era muito cara ao autor, a do  
“prolongamento da utilidade histórica do capital”, inclusive nunca foi tão pertinente.  
Apesar de cambaleante, o modo de produção capitalista se manteve inabalável ao  
longo de todos esses anos e, mesmo num momento em que o quadro se agrava,  
parece mais imaginável que o capital arraste a humanidade para o túmulo do que o  
inverso; percepção que inclusive é endossada pelos principais gestores econômicos  
do capital da atualidade (PAÇO CUNHA, 2025a).  
Em termos menos cinematográficos, o que vimos foi a continuação ainda que  
cambaleante da acumulação capitalista e, contraditoriamente, como efeito necessário  
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dela, o agravamento do quadro geral dessa mesma acumulação.  
Ao longo dos últimos 30 anos, pelo menos, tornou-se quase impossível separar  
os elementos virtuosos e os viciosos dos processos capitalistas. Mesmo os avanços  
tecnológicos mais fenomenais, que em outros momentos ainda que de forma limitada  
acarretavam algum tipo de progresso social (CHASIN, 1997), no quadro  
contemporâneo desencadearam as maiores ondas especulativas da história do modo  
de produção capitalista e, cedo ou tarde, desaguaram em graves crises sociais.  
Refletindo e agravando esse quadro, globalmente, o apoio popular a formas  
políticas bonapartistas cresce, na medida em que a blindagem politicista da autocracia  
burguesa começa a apresentar fissuras.  
Econômica e socialmente, a situação brasileira tem refletido perfeitamente esse  
quadro lamentável. O país arrancou, já no século XXI, por meio de aventuras  
distributivistas muito mais planejadas do que de fato executadas e que, portanto,  
geraram efeitos de curtíssimo fôlego –, passou pela fase dos “campeões nacionais” –  
uma tentativa quase quixotesca de fortalecer o capital brasileiro e adentrou numa  
terrível crise, da qual jamais saiu de fato. Com a crise, os fantasmas do passado se  
levantaram para ameaçar um futuro que já não era muito promissor.  
Essa sintonia entre o particular e o universal só ressalta que soluções  
verdadeiras e duradouras somente são possíveis se forem de fato universalizantes.  
Apesar disso, no momento, as coisas não poderiam estar caminhando numa direção  
mais oposta.  
Da impossibilidade da ocorrência de ciclos universalizantes de acumulação de  
capital, caminhamos para o acirramento das disputas nacionais. Já é certo que uma  
guerra, pelo menos tarifária, cortará todo o globo. Nessa linha, é importante frisar que  
tal guerra já se anunciava mesmo antes da segunda vitória eleitoral de Donald Trump.  
Poderíamos inclusive sugerir que o cenário já estava montado para que uma  
personalidade como Trump entrasse em cena (MILANOVIC, 2025).  
Devemos também lamentavelmente reconhecer que, diante desse quadro  
beligerante, fingir que nada está acontecendo gerará efeitos muito mais danosos do  
que o oposto. Indicamos, anteriormente, que a situação brasileira só não se agravou  
ainda mais, ao longo dos últimos anos, porque, do mesmo modo que aqui, os  
competidores externos se dedicaram mais às aventuras especulativas do que ao  
avanço de seus sistemas produtivos.  
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A tendência, todavia, é de que, diante deste quadro beligerante, dedicar-se mais  
detidamente às questões produtivas possa se tornar uma necessidade inegociável.  
Num contexto em que o custo de insumos e o custo de comercialização podem oscilar  
bruscamente, a eficiência operacional, logística e comercial torna-se gradativamente  
mais importante do que ganhos especulativos de curto prazo.  
Desse modo, se soluções universalizantes estão, pelo menos  
momentaneamente, descartadas, consequentemente a tão discutida necessidade de  
transformação do sistema produtivo brasileiro torna-se ainda mais urgente ainda  
que, neste contexto, tenha como único efeito possível amortecer os impactos  
econômicos e políticos externos. Pelo menos até agora, contudo, tal necessidade não  
gerou um movimento político condizente com ela. Enquanto a gestão atual, ainda  
mergulhada no politicismo, adota uma postura extremamente errática, mesmo diante  
de uma parcela do problema que pode ser mais facilmente solucionada (PAÇO CUNHA,  
2025b); do outro lado, toda a movimentação de extrema-direita que se intensificou na  
última década também não toca na questão.  
Quanto a essa última, devemos inclusive traçar uma importante distinção entre  
ela e a coalizão trumpista. Ainda que de uma forma extremamente preocupante, Trump  
pretende dar respostas ao problema. A adoção de medidas protecionistas e os ataques  
mais diretos à classe trabalhadora são claramente uma tentativa de impulsionar a  
economia doméstica e prejudicar competidores externos (ROBINSON, 2025). Enquanto  
isso, a movimentação direitista, no Brasil e sua expressão política mais bem  
consolidada parecem só incorporar a parte discursiva e espalhafatosa da plataforma  
trumpista. Na prática, portanto, se de volta ao poder, esta pode perfeitamente se tornar  
uma mera ferramenta de Trump e, assim, contribuir para o sucesso do segundo (e,  
consequentemente, com o agravamento do quadro brasileiro).  
Do outro lado, a oposição à esquerda, ainda que denuncie tal movimentação  
com alguma assertividade, na prática, nada tem feito além de denunciar. Quanto a ela,  
a crítica chasiniana à sua posição politicista parece não ter envelhecido um só dia.  
Desse modo, de uma forma ou de outra, o cenário que se insinua no horizonte  
é universalmente preocupante e particularmente desolador. Se o movimento belicista  
escalar e a humanidade rumar para o abismo, a tendência atual é que o Brasil faça tal  
percurso no banco do carona, sem esboçar qualquer reação.  
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Como citar:  
JORGE, Thiago Martins. A crise que se agrava e a miséria brasileira que persiste.  
Verinotio, Rio das Ostras, v. 30, n. 1, pp. 290-317, Edição Especial: A miséria  
brasileira, 2025.  
Verinotio  
ISSN 1981 - 061X, v. 30, n. 1, pp. 290-317 jan.-jun., 2025 | 317  
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