Edição especial  
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ENTREVISTA  
DOI 10.36638/1981-061X.2025.30.1.761  
ENTREVISTA1  
J. Chasin:  
A produção teórica do marxismo no Brasil  
é decepcionante  
J. Chasin, 50 anos, professor de filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais e  
vice-coordenador do curso de mestrado desta mesma entidade, faz e vive de filosofia. Mistura  
a docência com a pesquisa, mas nem em um plano nem em outro, nada se coloca como  
inocência. Existe sempre um propósito de caráter social: os temas são selecionados de acordo  
com sua urgência social, combinada a uma tentativa de efetuar sua tematização, no plano  
teórico, no âmbito mais apropriado possível.  
Editor da revista Ensaio, possui trabalhos nela publicados e, também, em outras  
revistas: principalmente, as Brasiliense e Temas, isto no passado. Autor de livros como O  
integralismo de Plínio Salgado (que permitiu a visualização de uma nova concepção teórica  
para estudar o caso brasileiro), é organizador da coletânea Marx, hoje. No prelo, tem dois  
livros: Contra corrente (ensaios teóricos) e A miséria brasileira (estudos sobre a nossa  
realidade), a serem publicados pela Editora Ensaio.  
Em Fortaleza, participou da banca examinadora de um concurso para docente da  
Universidade Federal do Ceará, ministrou dois seminários, ocasião em que falou ao DN Cultura.  
Diário do Nordeste (DN): Como está a produção teórica do marxismo no Brasil?  
J. Chasin (JC): Por minha predileção, gostaria que fosse mais intensa e de melhor  
qualidade. Para alguém que está, firmemente, convencido de que o pensar e o fazer  
de nossos tempos necessitam, fortemente, de um vínculo com o pensamento de Marx,  
o quadro brasileiro é decepcionante, altamente decepcionante. Exceção a poucos  
autores. Mas não vou decliná-los para não estabelecer uma polêmica, não desejada  
em termos pessoais. Faço uma consideração mais sintética, mais sumária, mais no nível  
de uma generalidade, de uma impessoalidade. Não é de se estranhar, mas é sempre  
lamentável constatar que a produção teórica do marxismo, em termos de Brasil, tem  
1
Entrevista de J. Chasin a Carlos Viana, editor da seção DN Cultura. Fortaleza, Diário do Nordeste,  
domingo, 7 jun. 1987. A entrevista foi ilustrada com uma foto de Chasin feita por Severino Silva.  
Verinotio  
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Entrevista com J. Chasin  
duas características básicas: raro é o trabalho que não mencionará Marx e que não se  
dirá de algum modo tributário de Marx; outra característica é que este apoio em Marx  
será diluído, distorcido e, de fato, profundamente contrário, quando não oposto ao  
pensamento real do mestre alemão.  
DN: E na história brasileira, quais os nomes diretamente vinculados ao marxismo?  
JC: Muito poucos nomes. Seja por um vínculo de uma vida inteira, seja por vínculos  
mais restritos e delimitados. Citaria dois nomes, apenas: Caio Prado Jr., que continua  
sendo, no Brasil independentemente de falhas e defeitos que, naturalmente, existem  
, o autor brasileiro de obra mais extensa; também o nome de Florestan Fernandes,  
que sempre em suas obras teve relações com Marx e que, a partir de um certo  
momento de sua vida, tem em Marx e em Lênin um pensamento fortemente marcado  
por esta diretriz.  
DN: Não há outros nomes?  
JC: Qualquer menção a outros nomes subentenderia fazer, simultaneamente, ou  
reparos ou manifestar discordâncias que seriam extremamente complexos, o que,  
agora, não nos valeria a pena.  
DN: Mas o que teria provocado estas distorções sofridas pela teoria marxista?  
JC: No caso brasileiro e o mesmo ocorre no quadro internacional , é sabido que a  
figura de Marx, o nome de Marx, as teorias por ele produzidas foram sendo,  
progressivamente, contestadas de uma maneira tal que, hoje, o luxo não é falar de  
Marx, mas contra Marx.  
DN: Que motivos, de ordem geral, no plano internacional, condicionam este  
comportamento?  
JC: O primeiro deles é a sobrevivência da utilidade histórica do capital; isto é, contra  
as expectativas do começo deste século, o capital acabou por se configurar com uma  
durabilidade maior do que a suposta e com uma capacidade de reciclagem e de  
intensificação do seu vigor, enquanto propulsão do desenvolvimento das forças  
produtivas, que levaram a repor o que foi uma discussão do começo do século –  
uma espécie de eternização do capital, que ele, como naquela época se coloca, tinha  
encontrado uma forma de se racionalizar, de passar a se comportar como uma energia  
social capaz de ser domada em sua negatividade e propiciar uma configuração onde  
as suas essências fossem preservadas, e os seus defeitos, substituídos por maneiras  
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A produção teórica do marxismo no Brasil é decepcionante  
civilizadas de atuação. De maneira que as injustiças sociais, as aberrações de suas  
formas de exploração não viessem à tona com as formas gritantes de seus primeiros  
tempos.  
DN: E de que decorre essa durabilidade estendida do capital?  
JC: Decorre, a meu ver, não apenas de suas virtudes intrínsecas, mas de um fenômeno  
muito grave, que se dá ao nível daquilo que pretendeu ser uma ruptura com o capital  
em nível internacional. Refiro-me, naturalmente, à configuração contemporânea do  
mundo pós-capitalismo, para dizer Leste europeu e países da mesma ordem, que  
acreditaram, no começo do século e no desdobramento de décadas posteriores, que  
estavam rompendo com o capital, transitando para o socialismo. Dadas as  
características históricas em que este processo se verificou, ocorreu, no entanto, que  
o rompimento com o capital de fato não se deu; houve um rompimento com o  
capitalismo, mas não com o capital. Em poucas palavras, isso ocorreu porque para  
tomar o exemplo maior, que é o da Revolução Russa o nível econômico, social e  
cultural de onde partiu esta Revolução era de tal ordem miserável que o processo se  
viu encarregado de construir, isto sim, o capital industrial e acabou por se verificar que  
a construção do capital industrial se deu; porém, a superação do capital, ele próprio,  
não se realizou. De tal maneira que surgiu uma nova forma de capital, que hoje faz o  
desafio teórico e político dos nossos tempos. Junto ao drama de, necessariamente,  
reconhecer que a experiência da Revolução Russa, tão extraordinária, tão motivadora  
de esperanças, quando da sua efetuação, acabou por se configurar numa melancólica  
falência, contra a qual não cabe nem adianta deblaterar, mas que é preciso entender  
na sua realidade para que o processo de tentativa de superação do capital,  
efetivamente, possa ser visualizado e tentado. Ou seja, em lugar de termos hoje, no  
mundo, um sistema do capital e um sistema socialista, nós temos dois subsistemas do  
capital, diversos entre si, mas confluentes no sentido de universalidade do capital. Não  
há capital privado no panorama do Leste europeu, mas há o capital vinculado a uma  
figura que denomino por falta de melhor nome de capital coletivo/não-social; isto  
é, o capital não é dominado e dirigido por todos, quando, então, ele desaparec[er]ia,  
mas ele é controlado por um segmento da sociedade, à revelia do conjunto da  
sociedade. Vale dizer, não se configurou no Leste europeu aquela colocação de Marx  
que é a dissolução, em última instância, ou a apropriação coletiva dessa energia social  
que é o capital e que é a matriz lógica das formações sociais. Tanto drama angustiante,  
e este fim de século tem neste ponto o grande desafio.  
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Entrevista com J. Chasin  
“Retidos pela incapacidade teórica, desmoralizados pela perda de perspectiva  
ideológica, e inertes devido a sua fragilidade numérica e organizativa, o PCB e o PC  
do B são figuras inofensivas no quadro brasileiro, servindo como instrumentos de  
catalisação em direção exatamente oposta àquela que eles julgam configurar.”  
DN: Por quê?  
JC: Porque é óbvio que não há mais ilusões em relação ao capitalismo; também se  
perdeu o entusiasmo e a perspectiva em relação ao socialismo, na medida em que ele  
passou a ser identificado com o esquema dramático da sociedade do Leste europeu,  
que desestimula os processos revolucionários.  
DN: Como analisa a retomada das relações Brasil e Cuba?  
JC: [D]a aproximação entre os dois países, em primeiro lugar, seria o caso de acentuar  
a positividade em termos de que é sem nexo, no mundo contemporâneo, simplesmente  
não se ter relações com este ou com aquele país. Vejo pura e simplesmente neste  
nível, nesta plataforma. Não vejo com isso nenhum avanço político, nenhuma esperança  
que se coloca por contágios. Corresponde à necessidade de conveniência  
internacional, a certos interesses de ordem comercial mais ou menos expressivos. É  
preciso ter relações com todo mundo para poder comerciar com todo mundo. Neste  
sentido, este reatamento é, sobretudo, pragmático. Mas é também pragmático no  
campo político, porque configura com isto uma certa liberalidade, que o Brasil não  
conheceu ao longo de 20 anos de ditadura militar. Não atribuo a este caso nada além  
disto.  
DN: Como vê o papel da esquerda tradicional, no Brasil, depois da sua legalização?  
JC: A esquerda no Brasil e aqui, no caso, eu denomino o PCB e o PC do B como a  
esquerda tradicional , a debilidade teórica, ideológica e prática destes organismos  
me parece hoje inteiramente configurada. São organismos políticos falidos. A sua  
capacidade se esgota em ser caudatários de proposituras de natureza liberal, o que é  
ainda mais extravagante num país que não tem liberalismo. São organismos que não  
contribuem do ponto de vista teórico, e isto é grave, quando se trata de marxismo.  
Não contribuem enquanto propositura ideológica, vale dizer, como uma configuração  
de itinerário que é proposto às massas, de modo que elas poss[a]m, pela via da  
organização e pela via da conscientização, atingir um ponto de mobilização real e  
eficiente no processo político. Do ponto de vista da expressão numérica de  
contingentes que mobilizam, esses organismos e dos contingentes eleitorais que  
conseguem agregar em determinadas circunstâncias também são, em termos do  
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plano político, absolutamente inexpressivos. Retidos pela incapacidade teórica,  
desmobilizados pela perda de perspectiva ideológica, inertes devido à sua fragilidade  
numérica e organizativa, o PCB e o PC do B são figuras inofensivas no quadro  
brasileiro, servindo de fato como instrumentos de catalisação em direção exatamente  
oposta àquel[a] que eles julgam configurar. Eles servem muito mais à desmobilização,  
servem muito mais a desarmar a consciência e atividade das massas populares do que  
àquilo que entendem ser realmente o seu propósito: a armação de uma consciência  
política, a sensibilização de ordem organizativa, que o conjunto pudesse tornar um  
instrumento eficiente.  
“Não há mais ilusões em relação ao capitalismo; também se perdeu o entusiasmo  
e a perspectiva em relação ao socialismo, na medida em que ele passou a ser  
identificado com o esquema dramático do Leste europeu, que desestimula os  
processos revolucionários.”  
DN: E quanto à esquerda não marxista, por exemplo, o PT?  
JC: Eu não vejo, também, com nenhum otimismo especial. Por vias diversas, por  
intenções muito distintas, por certas práticas, inclusive bem diferenciadas, no entanto,  
o que nós temos, acima de tudo, a meu ver, é a convergência da esquerda tradicional  
e da nova esquerda como caudatárias, de linhas e comportamento meramente liberal,  
que não induzem a nenhuma reativação do movimento popular, e não equacionam  
aquilo que seria decisivo no quadro brasileiro: a adequada articulação entre a ação  
parlamentar e a ação extraparlamentar. Entendendo que, no caso brasileiro, não há  
como pensar que a ação exclusivamente parlamentar possa conduzir a qualquer  
solução de natureza estrutural, por menor e mais insignificante que ela seja. Nosso  
esquema parlamentar, nosso sistema de poder são uma tênue equação de  
modernização, uma careação de estruturas velhas, desfavoráveis às grandes maiorias.  
É do drama e da miséria brasileira esta convergência de nova e velha esquerda. A  
razão disto é um desconhecimento teórico brutal que acaba em produzir uma farta e  
imensa ignorância da realidade do próprio país e, consequentemente, não permite uma  
equação programática que possa de fato vir a construir um itinerário efetuador que  
vise a construir uma democracia no Brasil. As vias atuais de ação política só permitem  
a efetivação do que chamo democracia de proprietários. E o segredo dessa democracia  
de proprietários está desvendado: o perfil do governo Sarney, governo de transição,  
é essa democracia, nada além disso.  
DN: E qual a importância da atuação desses partidos de esquerda na Constituinte?  
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JC: Nenhuma. Já está demonstrado.  
DN: Gostaria de que fizesse uma análise do nascimento, vida e morte do Plano  
Cruzado…  
JC: A sucessão Figueiredo-Sarney não está caracterizada apenas porque Tancredo  
morreu. Essa transição, transada pelo alto, tinha como compromisso básico: a  
conservação de uma política econômica que aí está. Por mais que se tente ser  
benevolente com os dois últimos anos, mesmo numa análise elementar, ter-se-á a  
certeza de que nada foi mexido no plano estrutural. O plano estrutural é uma espécie  
de cadáver de chumbo onde a oposição, a antiga oposição e a atual situação, enterrou  
seus pés, e de onde não os arranca. O Plano Cruzado foi uma tentativa para poder  
enfrentar dois problemas graves: o país se deparava em uma dupla necessidade,  
retomar o processo de acumulação, que já nos tempos de Figueiredo estava  
plenamente recessivo, e enfrentar a pressão social, decorrente do baixíssimo nível de  
vida da esmagadora maioria da população. A ideia era retomar o crescimento e  
enfrentar os baixos padrões de vida da imensa população brasileira. Já por aí, nota-se  
que a proposta não era uma proposta de enfrentamento radical da questão. Do ponto  
de vista do capital, trataram simplesmente de retomar o crescimento, no sentido de  
permitir um giro um tanto restrito para reequilibrar a situação julgada, pelo próprio  
empresariado, deficiente, quanto ao momento recessivo que tinham vivido. Do ponto  
de vista da população, tratava-se, simplesmente, de suavizar este elemento grave de  
redução do padrão de vida, mas também de reconhecer que a existência brasileira  
combina a modernização econômica com o pa[up]erismo estrutural. 70% da população  
vivem entre a pobreza e a miséria absoluta. Isto não é casual, é decorrente da forma  
de ser do capitalismo no Brasil. Um governo que vem na sucessão de 20 anos de  
ditadura, se tivesse, realmente, força e disposição para enfrentar de modo real estas  
duas questões, teria que fazer remanejamentos fundamentais na estrutura. Isto é  
característico do capitalismo no Brasil: um capital pobre, atrófico, subordinado a um  
esquema internacional, subordinado internamente a formas que eu chamo de  
subcapitalismo. De modo que ele chega dentro de uma situação de impossibilidade  
de se firmar, enquanto capital, e reordenar o conjunto social. É, nesse sentido, uma  
compressa de água morna cujo objetivo pretendia ser: autorizar, permitir uma rodada  
de faturamento ao empresariado, que estava pressionado por um esquema recessivo,  
e tentar, ao mesmo tempo, gerar um quadro onde os assalariados, principalmente os  
de baixa renda, tivessem a sensação de uma nova fase, onde o seu poder de compra  
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A produção teórica do marxismo no Brasil é decepcionante  
estivesse garantido. Em segundo lugar, não há notícia em lugar nenhum de que  
congelamento de preços pudesse subsistir sob regime capitalista. Em pouco tempo, o  
capital encontra formas de constituir ágios, de fazer as chamadas maquiagens de  
produtos, ou, então, partir direto para o desabastecimento. Aí, vimos o conjunto  
produtivo brasileiro ser, em menos de 60 dias, exposto a um quadro dessa ordem. Em  
sua essência, o Plano Cruzado era um plano político, não pretendia mexer em nada de  
ordem estrutural, de sorte que a sua situação final era facilmente prevista desde o seu  
primeiro dia.  
Como citar:  
CHASIN, J. Entrevista: A produção teórica do marxismo no Brasil é decepcionante  
Verinotio, Rio das Ostras, v. 30, n. 1, pp. 385-391, Edição Especial: A miséria  
brasileira, 2025.  
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