Verinotio - Revista on-line de Filosofia e Ciências Humanas. ISSN 1981-061X. ano XV. jan./jun. 2020. v. 26. n. 1
György Lukács
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incapaz de combinar seus esclarecimentos históricos espontâneos-
materialistas com a concepção materialista de arte. Na época do Iluminismo,
a questão da relação entre história e teoria apenas levava à colocação de
questões significativas, mas não à solução metodológico-filosófica.
Isso só ocorreu na filosofia alemã clássica. Em suas Teses ad Feuerbach,
Marx descreve exatamente o momento metodológico a partir do qual essa
inflexão ocorreu. Ele enfatiza que todas as antigas filosofias materialistas têm
a deficiência de apenas considerar o mundo por meio do aspecto
contemplativo, e não por seu lado prático, ou seja, elas negligenciam o lado
subjetivo da atividade humana: "daí o lado ativo, em oposição ao materialismo,
[ter sido] abstratamente desenvolvido pelo idealismo – que, naturalmente, não
conhece a atividade sensível, real, como tal" (MARX, 2007, p. 533).
A elaboração filosófica desse "lado ativo", também no campo da estética,
constitui uma das conquistas mais importantes da filosofia alemã clássica. O
principal trabalho estético de Kant (Crítica do juízo) representa, portanto, uma
inflexão na história da estética. A análise filosófica da atividade do sujeito
estético é colocada no centro do método e do sistema, tanto no comportamento
estético produtivo quanto no receptivo. No entanto, Kant é apenas o iniciador
desse desenvolvimento e não seu realizador, como afirmam os historiadores
burgueses da estética. Sobretudo porque ele é um idealista subjetivo, sua nova
problemática se refere apenas ao indivíduo isolado, produtor ou receptivo e,
desse modo, o papel histórico e social da arte desaparece quase completamente
em sua estética. Nesse sentido, a estética de Kant é um passo atrás em relação
à de Herder, uma vez que o momento do progresso se relaciona puramente a
questões metodológicas abstratas. (Somente a apreensão dessa situação torna
compreensível o contraste entre Kant e Herder, aspecto que a história
burguesa da estética nunca pode entender.)
Mesmo dentro desses limites, contudo, a estética de Kant contém
apenas os primeiros indícios do novo método. Kant, o idealista subjetivo,
interpreta o princípio da atividade de tal maneira que nega a teoria estética do
reflexo. Segue-se, por um lado, que ele só pode determinar o objeto estético de
maneira puramente formalista, o que significa que, de acordo com sua teoria,
as questões de conteúdo estão fora do campo da estética real. Por outro lado,
como Kant é um pensador sério e, como Lênin apontou, oscila entre
materialismo e idealismo, os problemas estéticos de conteúdo também surgem
necessariamente, mas ele é incapaz de resolvê-los usando os conceitos básicos
de seu sistema e, portanto, muitas vezes só pode incorporá-los ao seu sistema
estético com a ajuda de procedimentos sofísticos.
Apesar de todas essas contradições, o impacto do novo método que Kant
usou em sua estética foi extraordinariamente grande. Seu primeiro grande
seguidor, Schiller, tentou reconciliar o elemento de conteúdo, a determinação
filosófica concreta do objeto estético, com a filosofia idealista, dando um passo