Verinotio NOVA FASE ISSN 1981 - 061X v. 27 n. 2, Lukács: 50 anos depois, ainda - mar. 2022
Lukács-Anders: uma correspondência*
György Lukács & Günther Anders
23 de maio de 1964
Caro Sr. Anders!
Recebi sua publicação
1
com grande alegria. Afinal, é o primeiro sinal de vida seu
desde que me entregou, anos atrás, seu estudo sobre Kafka,
2
em Viena; aliás: não li
nada melhor sobre Kafka desde então. Depois disso, li com grande interesse
Die
Antiquiertheit des Menschen
3
e, especialmente, sua publicação sobre o piloto de
Hiroshima.
4
Agora, pude ler seu novo estudo com grande interesse e muito prazer. Você não
é o único que se preocupa com o estranhamento [
Entfremdung
] contemporâneo e
procura expressar essas preocupações cientificamente. Mas sou muito cético em
relação ao modo como a média da literatura aborda o estranhamento. Predomina nela
uma complacência covarde e falsa. O estranhamento é desmascarado, mas como se
concernisse à
misera plebs
e de modo algum ao autor, o aristocrata intelectual
[
Geistesaristokraten
] não-conformista. Esta é a minha postura, que expressei em outros
contextos no prefácio da
Teoria do romance
, a saber, que tais autores costumam viver
no Grande Hotel Abismo, e ali, à beira do abismo, o abismo como um serviço
particularmente refinado da sociedade contemporânea, desfrutam de consciência
* Traduzido por Murilo Leite e Carolina Peters a partir de Briefwechsel zwischen Günther Anders und
Georg Lukács 1964-1971”, in: BENSELER, Frank; JUNG, Werner (org.).
Lukács 1997 Jahrbuch der
Internationalen Georg-Lukács-Gesellschaft
. Berna: Peter Lang, 1998, pp. 47-72. Revisão técnica de Vitor
Bartoletti Sartori. Quando as obras citadas ao longo da correspondência não possuem edição brasileira,
mantivemos seu título original. Salvo quando especificado como Nota da Tradução [N. T.], as notas são
da edição original.
1
Der sanfte Terror [O terror suave], in:
Merkur
n. 193 e 194, 1964, pp. 209-224; 334-354. Este é
um texto que também foi publicado de forma expandida no segundo volume de
Die Antiquiertheit des
Menschen
, de Anders (Munique, 1980, pp. 131-187).
2
Kafka pro und contra. Die Prozeß-Unterlagen.
Munique, 1951. Ed. brasileira:
Kafka pró e contra: os
autos do processo
. Trad. Modesto Carone. São Paulo: Perspectiva, 1969; Cosac Naify, 2007 [N. T.].
3
Lukács se refere ao primeiro volume da principal obra de Günther Anders,
Die Antiquiertheit des
Menschen
, cuja primeira edição foi publicada em Munique, em 1956.
4
Off limits für das Gewissen. Der Briefwechsel zwischen dem Hiroshima-Piloten Claude Eatherly und
Günther Anders 1959-1961
. Herausgegeben und eingeleitet von Robert Jungk. Reinbek, 1961.
DOI 10.36638/1981-061X.2022.27.2.655
György Lukács & Günther Anders
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tranquila [
guten Gewissens
].
Não é nenhuma surpresa para mim que você não pertença às fileiras desses
críticos culturais. E devo dizer que fiquei especialmente contente em ver como sua
crítica do estranhamento se aproxima da manipulação branda, concepção sobre a
qual escrevi em meu artigo para a
Forvm
.
5
Mas isso exigiria uma conversa. Como o
velho Fontane costumava dizer, este é um campo amplo demais para uma carta.
Com os melhores cumprimentos e obrigado novamente por enviar a publicação,
Seu, Georg Lukács.
4 de junho de 1964
Günther Anders, atualmente na pensão Augustus,
Laigueglia (Savona), Itália
Caro Sr. Lukács,
Não preciso dizer o quanto fiquei satisfeito com suas palavras de concordância.
Sim, claro que o problema da ultrapassagem [
Überwindung
] do estranhamento é
o
problema; mas ainda estou afogado em manuscritos que apresentam a forma do
estranhamento contemporâneo, em suma: no segundo volume da
Antiquiertheit
, que
na verdade deveria ter sido concluído muito tempo, mas está progredindo
lentamente devido à minha atividade o teórica no movimento antinuclear. No
momento, estou totalmente ocupado em repelir um ataque infame contra Claude
Eatherly e, para isso, tenho que escrever um livreto.
Creio que assim que eu tiver quatro ou cinco dias de folga, pergunto a você se
está bem, e depois dirijo até Budapeste a fim de encontrá-lo. Há muito tempo desejo
poder falar longamente com você. Estou animado para que este desejo se torne
realidade num futuro próximo.
Com os mais calorosos agradecimentos e grande respeito,
Seu, Günther Anders.
P.S.: O endereço acima é válido até 1º de julho.
5
Probleme der kulturellen Koexistenz [Problemas da coexistência cultural], in:
Forvm
, v. XV n. 124 e
125, 1964, pp. 181-184; 241-244.
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Budapeste, 12 de junho de 1964
Caro Sr. Anders!
Obrigado pela sua amável carta de 4 de junho. Eu entendo perfeitamente que
você esteja momentaneamente dominado pela crítica negativa do estranhamento. Sua
versatilidade e determinação são muito importantes nesta questão atualmente. Fiquei
particularmente satisfeito por você querer se posicionar no caso do piloto de
Hiroshima. É também um dos sintomas de nosso tempo que tudo, do fascismo ao
consumo ostentatório [
Prestigekonsumption
], seja desculpado e, se alguém age
heroicamente contra o tempo, uma campanha de difamação terá que surgir. Você
conhece o caso Niekisch
6
na Alemanha? Algo semelhante está acontecendo lá.
Estou muito contente com seu plano de vir a Budapeste. A partir de 1º de julho
provavelmente estarei aqui por um período mais longo, mas seria bom se você me
avisasse quando pretende vir em tempo hábil. Você deve ter em conta que uma carta
leva cerca de uma semana para chegar à Áustria e outra semana para retornar da
Áustria. Meus alunos estão tentando publicar seu ensaio em uma revista daqui, em
húngaro. As coisas parecem bem, por enquanto. Se uma decisão positiva for tomada,
você terá um honorário maior para cobrir seus custos aqui.
Com os melhores cumprimentos e na esperança de vê-lo novamente,
Georg Lukács.
21 de junho de 1964
Günther Anders, atualmente na pensão Augustus,
Laigueglia (Savona)
Caro Sr. Lukács,
É uma alegria ouvir que minha análise do conformismo, ou melhor, do
congruísmo
7
agora está sendo lida também por húngaros, e que existe até a
6
Ernst Niekisch (1889-1967); professor de formação, inicialmente membro do Partido Social-Democrata
da Alemanha (SPD), depois ativista no Partido Social-Democrata Independente da Alemanha (USPD),
protagonista do chamado bolchevismo nacional. Após a resistência de 1933, foi condenado à prisão
perpétua em 1939, e desde a libertação viveu em Berlim Ocidental. Entre 1948 e 1954 esteve como
professor titular de Sociologia na Universidade Humboldt, em Berlim Oriental. Seus últimos anos de
vida estão repletos de esforços infrutíferos para ser reconhecido na República Federal como uma vítima
do fascismo (cf. MOHLER, Armin.
Die Konservative Revolution in Deutschland 1918-1932
. Dritte, um
einen Ergänzungsband erweiterte Auflage. Dannstadt, 1989, p. 465).
7
Nas palavras de Anders: “[...] o conformista ótimo não é apenas conformista, mas congruísta. E isso
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possibilidade de publicar o texto em húngaro. Muito obrigado por ajudar nisso. Claro,
este artigo é apenas um P.S., ele foi criado como um posfácio para entradas do diário
filosófico sobre os cosmonautas, das quais apenas uma parte foi publicada até agora.
(Também na
Merkur
).
8
Alguns dias atrás, você deve ter recebido uma cópia curta de uma carta minha.
que presumo que você recebe a
Forvm
regularmente, você terá entendido ao que a
carta se referia: fui chamado pelo editor-chefe desta revista, um escritor
megalomaníaco e politicamente perigoso chamado Torberg, com os insultos mais
rudes e incompetentes minha carta foi a reação a isso. Por vinte anos, Torberg se
limitou a importunar Thomas Mann e Brecht; agora, tendo visto a futilidade de seus
insultos em relação a esses dois grandes homens, ele mudou de alvo e agora me honra
com seu ódio.
Sim, eu conheço um pouco o caso Niekisch, Drexel
9
me enviou seu livro sobre o
assunto. Mas, no momento, estou tão ocupado defendendo Eatherly de acusações
caluniosas que não posso lidar com mais nada. Visto que como indivíduos nunca
vivemos à altura da infâmia que nos cerca, escolhas precisam ser feitas.
Claro, se eu vir a possibilidade de uma viagem a Budapeste, eu o informarei o
mais rápido possível. Porque uma viagem para Budapeste que não fosse também uma
viagem para Lukács não seria uma viagem a Budapeste para mim.
Com os melhores cumprimentos e meus melhores votos,
Seu, Günther Anders.
significa que ele não apenas se conforma com o conteúdo a ele destinado e entregue, mas que, em
última análise, o conteúdo de sua vida anímica coincide com esse conteúdo (cf. ANDERS, Günther.
Die
Antiquiertheit des Menschen
. Bd. II. Munique: Beck, 1992, p. 149, tradução nossa) [N. T.].
8
“‘Helden und Ignoranten. Tagebuchblätter während des sowjetischen Weltraumfluges [Heróis e
ignorantes: páginas de diário durante o voo espacial soviético], in:
Merkur
, n. 181, 1963, pp. 223-
238; também publicado em
Der Blick vom Mond. Reflexionen über Weltraumflüge
. Munique, 1970.
9
Joseph Drexel (1896[-1976]) esteve em contato com Ernst Niekisch desde 1925, trabalhou para sua
revista
Widerstand
, publicou um serviço de informação ilegal e, em 1939, foi condenado a quatro anos
de prisão. Após a guerra, foi coeditor do
Nürnberger Nachrichten
(a partir de 1948). Lukács refere-se
ao livro
Der Fall Niekisch. Eine Dokumentation
. Stuttgart; Colônia, 1964. (Cf. KOSCH, Wilhelm.
Biographisches Staats-Handbuch. Lexikon der Politik, Presse und Publizistik
. Bd. 1. Berna; Munique,
1963, p. 258).
Lukács-Anders: uma correspondência
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Carta de Günther Anders a Hans Deutsch,
10
18 de junho de 64
Günther Anders, atualmente na pensão Augustus,
Laigueglia (Savona)
Caro Sr. Professor Deutsch,
Você provavelmente admitirá que o que aconteceu na
Forvm
não é apenas um
lapso, mas um escândalo. Tenho o seguinte a dizer sobre as seis páginas
11
do Sr.
Professor Torberg:
Torberg publicou um texto meu sem pedir autorização a mim, o autor. Como você
sabe, eu nunca a teria dado a ele.
Ele o publicou de forma degradante, ou seja, feito em pedaços.
E isso, embora eu tenha, em consideração a você, recusado sua oferta generosa
de publicar meu artigo, apesar das repetidas solicitações. Na presença de sua família,
expliquei-lhe: “Obviamente, não esqueça as dificuldades que isso lhe causaria”.
E isso, embora você tivesse me garantido à época que alertaria o Sr. Professor
Torberg e que poderia atestar que depois de sua conversa com ele algo como o
primeiro ataque a mim não voltaria a ocorrer na
Forvm
. Para minha grande tristeza,
não posso mais acreditar em suas garantias.
Não quero ir além das imprecisões factuais [
sachlichen
] que abundam do texto
do Sr. Professor Torberg; ou do fato de que ele está jubiloso porque Eatherly não
jogou a bomba (o que nem Eatherly nem eu alegamos, pelo contrário: em sua
correspondência comigo ele enfatiza expressamente que não). Mas quando alguém se
atreve a argumentar que em minha correspondência com Eatherly, que hoje é
considerada um testemunho de nosso período histórico, não algo que “cheira
mal”, mas que esse cheiro “cai do céu”; ou quando alguém fala sobre borrar as calças
em relação a mim; ou quando alguém se refere a mim, um filósofo com mais de
sessenta anos não completamente desconhecido, como um moleque, então não
posso deixar tudo isso passar despercebido e sou forçado a partir para o contra-
10
Dr. Hans Deutsch (nascido em 1906), jurista e editor austríaco, emigrou em 1938 para Tel Aviv.
Tornou-se posteriormente proprietário da
Forvm
.
11
No número 124, de abril de 1964, da
Forvm
, em que Torberg escreve sobre duas peças de teatro,
ele novamente ataca Anders. No final do artigo com o significativo tulo Das Unbehagen in der
Gesinnung [O desconforto na disposição], a fim de se mostrar um defensor da política externa
americana, considera a bomba atômica o único dissuasor adequado contra os esforços expansionistas
ideológico-imperialistas de uma ditadura totalitária (cf. p. 212).
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ataque. Qualquer pessoa respeitosa entenderia isso. Então você também entende.
Da mesma forma, você compreenderá que provavelmente terei de remeter esse
assunto ao meu advogado. Este passo pode ser evitado por meio de sua
intervenção pessoal. Apenas fazendo uma declaração detalhada e inequívoca na
Forvm
; uma explicação que deveria realmente aparecer como um grande artigo
dedicado apenas a este tópico na próxima edição da
Forvm
; uma declaração na qual
você inequivocamente descreve o relato do Sr. Professor Torberg (de que você
“gostaria de se livrar” de mim) acerca do seu relacionamento comigo pelo que ele é; e
na qual você confirma que, ao contrário, decepcionado com o filme de Leiser,
12
você
repetidamente me incitou a fazer um filme melhor com o material. Que você me pediu
para fazer isso na presença do meu advogado na época, o professor Peter, e que
existem memorandos a respeito; que você ficava me pedindo, inclusive em nosso
último encontro em maio (quando lhe entreguei o roteiro do Janouch), para poder
realocar minha produção; e que sempre tive que recusar essa oferta, que estou
contratualmente obrigado a duas outras editoras.
Peço-lhe que seja claro ao descrever sua posição, Sr. Deutsch. Você permitiu que
um autor, cuja contribuição você aceitou de bom grado, fosse insultado em sua revista
da maneira mais ignóbil e insípida. Se eu pudesse ter previsto essa possibilidade
isso, porém, teria sido ultrajante para você eu teria rompido todas as relações com
você e teria entregado o manuscrito de Janouch a outro editor.
Posso imaginar que você está terrivelmente envergonhado diante de mim e eu
não queria estar na sua pele. Eu sinto muito, mas o Sr. Professor Torberg é o único
culpado por isso. O único consolo é que, afinal, sua intervenção pode resolver a
situação embaraçosa. E eu recomendo que você faça isso.
Com os melhores cumprimentos,
Seu, Günther Anders.
12
Trata-se do documentário
Wähle das Leben
[Decisão da vida] (1963), dirigido por Erwin Leiser, que
aborda o bombardeio de Hiroshima [N. T.].
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Budapeste, 5 de julho de 1964
Caro Sr. Anders!
Obrigado por suas cartas de 18 e 21 de junho. Obviamente, faremos o possível
para publicar seu ensaio em húngaro. Claro, não posso prometer sucesso incondicional
porque nossa situação aqui ainda é bastante precária. Minha aluna, Sra. Agnes Heller,
que vem tratando desse assunto, também luta pessoalmente pela honra do piloto de
Hiroshima. Ela escreveu um artigo sobre ele que, por enquanto, está vagando de
revista em revista.
Quanto à
Forvm
, só recebo os números em que aparecem artigos meus. Mas sua
resposta é totalmente suficiente para me esclarecer sobre o assunto. A causa em si
possui um caráter de princípio. Os conformistas não-conformistas odeiam
instintivamente todas as pessoas que não fraseologicamente [
phrasenhaft
], mas
realmente se rebelam contra o estranhamento e a manipulação. É por isso que o caso
do piloto é uma questão tão importante para a moralidade [
Moralität
] em nossos dias
e estou muito feliz que você esteja travando essa batalha incansável.
Compreendo muito bem que, nessas circunstâncias, você não tem tempo a perder
no caso Niekisch. É uma pena, porém, que você não tenha pelo menos um pequeno
artigo de jornal a respeito, porque esse caso não é menos característico de nosso
tempo que o do piloto.
Espero que possamos nos encontrar em um futuro próximo.
Com os melhores cumprimentos,
Seu, Georg Lukács.
13 de julho de 1964
Günther Anders, Viena / Mauer, Dreiständeg. 40
Caro Sr. Lukács,
Muito obrigado por sua carta de 5 de julho. Eu estava certo de que você recebia
os números da
Forvm
regularmente. Visto que não é esse o caso, estou lhe enviando
uma cópia do artigo miserável de Torberg. Eu gostaria de dizer que nunca ofereci meu
artigo contra Torberg para a
Forvm
, portanto, o escândalo começou antes da
impressão do meu texto. Em certo sentido, é claro que é uma honra ser atacado por
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Torberg dessa forma, porque a cada década ele tem um inimigo especial que para ele
se torna uma
idée fixe
negativa: na última cada foi Brecht, na penúltima Thomas
Mann.
Faça o favor de comunicar meus calorosos agradecimentos à Sra. Heller por
trabalhar no caso Eatherly como minha aliada. Em breve poderei enviar a ela uma cópia
do meu artigo contra Huie, Die Entlarvung des Entlarvers,
13
ou seria ainda melhor se
eu pudesse ir logo a Budapeste e levar a cópia diretamente para ela.
Eu ainda tenho que terminar este script. Em seguida, notifico você para saber se
é possível visitá-lo. Já estou ansioso por esta viagem para vê-lo.
Com os melhores cumprimentos,
Seu, Günther Anders.
Budapeste, 8 de agosto de 1964
Caro Sr. Anders!
Obrigado pela carta de 13 de julho e por me enviar o material. O artigo de
Torberg é realmente um escândalo literário e sua indignação a respeito é perfeitamente
justificada. Eu só conhecia sua oposição a Brecht, já sua oposição a Thomas Mann me
era desconhecida.
A Sra. Heller ficou contente com sua carta, ainda mais com a perspectiva de
conhecê-lo pessoalmente em Budapeste. Também estou contente pela perspectiva de
um novo encontro, bem como por sua polêmica a respeito do piloto de Hiroshima.
Espero que você possa lidar com isso em breve.
Você leu o romance
A grande viagem
, do escritor espanhol Semprun, que
escreve em francês? Acho que é uma das novas publicações mais importantes.
Com os melhores cumprimentos,
Seu, Georg Lukács.
13
Entlarvung des Entlarvens[O desmascaramento do desmascarador], in:
Die Zeit
, 28 de agosto de
1964. Este ensaio é uma réplica ao livro de William Bradford Huie,
The Hiroshima Pilot
, no qual o piloto
do bombardeio, Eatherly, é retratado como um fanfarrão frustrado.
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17 de agosto de 1964
Günther Anders, Viena / Mauer, Dreiständeg. 40
Caro Sr. Lukács,
Você não tem ideia do grande prazer que me deu com suas últimas linhas. A
posição de poder de Torberg aqui é tão grande que, com raras exceções, nenhum dos
meus colegas realmente teve a coragem de expressar sua indignação pelo escandaloso
ataque a mim a propósito, Torberg atacou Thomas Mann por muito mais tempo e
com muito mais ódio do que fez com Brecht; e Mann me disse, quando esteve em
Viena pela última vez, que ele evitaria passar por aqui se fosse exposto à infâmia de
Torberg novamente em conferências de imprensa.
Infelizmente, minha luta por Eatherly me força a mil atividades nada filosóficas
de detetive; tenho muitas dúvidas se algum dia chegarei à conclusão do segundo
volume de minha
Antiquiertheit
.
Sim, claro que meu plano de o visitar o mais rápido possível ainda está de pé; e
ficarei feliz em conhecer a Sra. Heller.
Não conheço o livro de Semprun ainda. Foi publicado em alemão, francês ou
inglês?
Obrigado mais uma vez pela sua indignação solidária,
Seu, Günther Anders.
22 de agosto de 1964
Caro Sr. Anders!
Obrigado por sua carta de 17 de agosto. Eu o pude evitas ler suas observações
sobre os temores em relação ao Sr. Torberg com um sorriso no rosto. Nos anos 1930,
eu não tinha medo de atacar Fadeiev ou Yermilov, assim como nos anos 1940 e 1950
não tinha medo de Rákosi ou Révai. O que tenho a temer do Sr. Torberg?
Espero que em breve você termine sua defesa do piloto e volte ao trabalho
teórico. O livro de Semprun foi publicado em alemão em edição da Rowohlt.
Espero vê-lo em Budapeste em um futuro não muito distante. Enviarei seus
cumprimentos à Sra. Heller.
György Lukács & Günther Anders
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Com os melhores cumprimentos,
Seu, Georg Lukács.
1º de outubro de 1964
Günther Anders, Viena / Mauer, Dreiständeg. 40
Caro Sr. Lukács,
Eu tenho que me desculpar com você, porque eu não escrevo há muito tempo; e
ainda não consegui iniciar a viagem a Budapeste, esperada meses. Sou
simplesmente um prisioneiro do caso Eatherly-Huie, meu trabalho consiste apenas em
uma atividade de defesa o que é tanto mais urgente e difícil na medida em que Huie
está na Europa no momento e, aparentemente com bastante fascinação, encoraja
jornalistas de segunda classe a entrevistá-lo, escrever artigos sobre ele etc. Receio que
poderei retomar meus planos novamente quando essa onda de tumulto tiver
diminuído; e espero sinceramente que isso aconteça em breve e que não tenha de
suspender por muito tempo minha expectativa de uma conversa com você.
Acabei de ler em um jornal que Kindermann
14
falou sobre você na Akademie.
15
Estou muito surpreso, porque K. foi um dos piores nazistas e até aqui se tenta, às
vezes com sucesso o que é uma grande conquista para Viena afastá-lo de certas
iniciativas culturais.
Com os melhores votos,
Seu, Günther Anders.
5 de outubro de 1964
Caro Sr. Anders!
Muito obrigado pela sua amável carta de de outubro. Lamento muito que
14
Heinz Kindermann (1894-1985), germanista e estudioso do teatro, nomeado em 1936 para a
Universidade de Münster, e em 1943 para a recém-fundada cadeira de estudos teatrais em Viena,
demitido depois de 1945 e reintegrado ao seu cargo em 1954. A partir de 1933, Kindermann foi um
dos protagonistas de um estudo literário popular, cujas categorias foram derivadas de ideias da
comunidade nacional e tipologias raciais, sua obra é a mais extensa entre todos os germanistas do
Terceiro Reich (cf. KILLY, Walther (org.).
Literaturlexikon. Autoren und Werke deutscher Sprache
. Bd. 6.
Munique, 1990, p. 323ss.).
15
Trata-se da Akademie der bildenden Künste, de Viena [N. T.].
Lukács-Anders: uma correspondência
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esteja tão envolvido com o caso do piloto. Infelizmente, isso é inevitável quando se é,
como você, uma das poucas pessoas que hoje luta por uma boa causa.
Esperançosamente, você encerrará a campanha em breve.
Eu ficaria feliz com isso, porque então poderíamos ter discussões reais. Devo
dizer-lhe, nas poucas palavras que uma carta prescreve, que discordo de algumas de
suas brochuras sobre Eichmann.
16
É correto entender a manipulabilidade
[
Manipuliertheit
] como um recurso econômico fundamental de nossa época, mas o
regime de Hitler era algo muito especial dentro desta unidade, e esse aspecto especial
não aparece com precisão suficiente em suas polêmicas. Mas temos que discutir isso
verbalmente.
Fiquei sabendo da visita de Kindermann pela sua carta, acompanho muito pouco
os acontecimentos. É uma contradição estranha no que se chama agora de
liberalização. Estou muito familiarizado com o papel de Kindermann durante a era
Hitler. Mas eu sei que muitas vezes é mais fácil perdoar do que aderir consistentemente
aos princípios do marxismo. Esta é, de fato, uma contradição mais mica, mas mais
real.
Com os melhores cumprimentos,
Seu, Georg Lukács.
10 de outubro de 1964
Günther Anders, Viena / Mauer, Dreiständeg. 40
Caro Sr. Lukács,
Muito obrigado por suas linhas gentis. Você está absolutamente certo, não
formulei as especificidades do nacional-socialismo neste texto. Na verdade, eu queria
destacar a repetibilidade do que aconteceu. E martelar esse pensamento na geração
mais jovem porque a carta não é endereçada a uma única pessoa, mas a uma geração.
Você usa a palavra cômico para caracterizar o caso Kindermann. Francamente,
dificilmente me sinto capaz de apenas ver o cômico da questão. Acho simplesmente
insuportável que este homem seja agora homenageado em Viena por ocasião do seu
16
Wir Eichmannsöhne. Offener Brief an Klaus Eichmann
. Munique,1964.
György Lukács & Günther Anders
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70º aniversário em uma festa oficial da universidade no final, eu até vejo isso como
uma desonra , porque a celebração mostra quão pouco a sério se leva os textos
nazistas que K. produziu quando foi oportuno.
O caso Eatherly-Huie continua a crescer, os jornais competem para publicar
excrementos de rumores completamente sem sentido enquanto ao fundo permanece
a nuvem de cogumelo de Hiroshima, que parece não ter chegado à consciência de
nenhum desses escribas.
Com os melhores cumprimentos,
Seu, Günther Anders.
Budapeste, 31 de outubro de 1964
Caro Sr. Anders!
Agradeço de coração a carta de 10 de outubro. Estou contente por estarmos
unidos na questão fundamental do problema específico do fascismo. Trazer tudo de
volta à moderna técnica manipuladora e fazer uma conclusão geral unitária disso é tão
sedutor quanto perigoso. Isso levaria ao fatalismo. E você realmente não quer parecer
fatalista.
um mal-entendido no caso Kindermann. Achei que tivesse acontecido aqui
sem que eu percebesse. É por isso que achei o assunto no contexto doméstico tão
cômico. Se a cena for Viena, então sua indignação é inteiramente justificada.
Com os melhores cumprimentos,
Seu, Georg Lukács.
22 de novembro de 1967
Caro Sr. Anders!
Obrigado por gentilmente me enviar seu livro,
Die Schrift an der Wand
.
17
Como estou muito ocupado completando minha
Ontologia do ser social
, não
consegui terminar de -lo. Mas gostei extraordinariamente do que pude apreender
17
Die Schrift an der Wand. Tagebücher 1941 bis 1966
. Munique,1967.
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dessas páginas até agora, sobretudo a análise da existência [
Existenz
] na emigração e
no repatriamento subsequente. Em geral, sou da opinião de que o abordado
pertence às questões mais importantes do conhecimento da realidade social: a saber,
a investigação exata do que eu chamaria de ontologia da vida cotidiana. Esse é um
complexo de questões que a filosofia, a sociologia etc. parecem ignorar em nossos
dias, e a maior parte da literatura contemporânea está tão presa a um naturalismo
artístico que não se pode aprender quase nada sobre essa questão. Aqui, o contraste
com a velha grande literatura (pense em Balzac ou Stendhal, Tolstói ou Tchekhov) é
talvez mais notável. E eu acredito que você nunca será capaz de entender os
pensamentos e sentimentos das pessoas em seu nível mais alto, ou seja, na melhor
poesia e literatura e claro também na filosofia, se você não compreender e analisar a
ontologia da vida cotidiana, que é diferente em cada período. Essas tendências
estavam presentes em seus escritos anteriores; os novos momentos que mencionei em
seu livro apenas fortaleceram minha aprovação de tais tendências de apresentação
[
Darstellungtendenzen
].
Peço desculpas pela unilateralidade dessas observações, mas foi exatamente
esse problema que particularmente me deteve ao ler seu livro.
Com os melhores cumprimentos,
Seu, Georg Lukács.
5 de dezembro de 1967
Günther Anders, 1090 Viena, Lackiererg. 1/5
Caro Sr. Lukács,
Acabo de voltar de Copenhague, onde nós, os juízes do Tribunal Internacional
de Crimes de Guerra,
18
acusamos os Estados Unidos de genocídio por causa das
operações de extermínio no Vietnã do Sul e do Norte. Sua carta estava no topo da
montanha de cartas que me recebeu quando cheguei em casa. Foi um bom retorno à
18
Anders participou do Tribunal Internacional de Crimes de Guerra, convocado para investigar a guerra
travada pelos Estados Unidos no Vietnã e determinar a natureza da guerra (RUSSELL, Bertrand.
“Ansprache anläßlich des ersten Tribunals der Mitglieder des Vietnam-Tribunals, 13. November 1966”,
citado a partir de: RUSSELL, Bertrand.
Autobiographie. 1944-1967
. Frankfurt, 1971, p. 333). A
participação de Anders no tribunal está documentada no escrito: Nürnberg und Vietnam. Synoptisches
Mosaik. Voltaire Flugschrift 6. Bernward Vesper (org.). Berlim, 1967.
György Lukács & Günther Anders
330 | Verinotio NOVA FASE ISSN 1981 - 061X v. 27 n. 2, p. 317-342 - jan./jun. 2021
casa ser recebido com tais palavras de consentimento.
Você está absolutamente certo: o que você chama de “ontologia da vida
cotidiana” é uma das tarefas mais importantes para mim. O fato de você enfatizar este
lado do meu trabalho não se deve apenas ao fato de ter lido minhas anotações no
diário sob a perspectiva de sua
Ontologia do ser social
, mas também porque este
tópico está em primeiro plano para mim.
Suas linhas me deixaram ainda mais satisfeito, pois subsequentemente tive a
sensação de que minha análise de Döblin
19
poderia ter ido contra a corrente. Mas por
isso escolhi este ensaio, porque me pareceu estar intimamente relacionado com o
problema do realismo, que é tão importante para você; ainda que os artefatos
examinados por mim fossem de natureza quase surrealista.
Espero muito poder enviar a você um livreto sobre o Vietnã
20
em breve. O título
é:
Visit beautiful Vietnam
um título que tirei diretamente de um folheto publicitário
no Vietnã do Sul. Será tão desagradável de ler quanto qualquer um dos meus escritos
mas provavelmente não é minha culpa.
Mais uma vez, muito obrigado e desejo-lhe boa saúde e muita energia para o
seu trabalho!
Seu, Günther Anders.
Budapeste, 21 de dezembro de 1967
Caro Sr. Anders!
Obrigado por sua carta de 5 de dezembro. Estou muito satisfeito por termos a
mesma opinião sobre a questão do significado da ontologia da vida cotidiana. É por
isso que suas preocupações acerca de seu ensaio sobre Döblin não são mais válidas.
Considero o estudo da ontologia da vida cotidiana muito importante também para os
problemas estéticos. E é justamente sob esse aspecto que seu ensaio mostra os
problemas do realismo estético em Döblin.
19
“‘Der verwüstete Mensch’. Über Welt- und Sprachlosigkeit in Döblins
Berlin Alexanderplatz
(1931)”
[O homem devastado: sobre a ausência de mundo e de palavras em
Berlin Alexanderplatz
, de Döblin
(1931)], in: BENSELER, Frank (org.).
Festschrift zum 80. Geburtstag von Georg Lukács
. Neuwied; Berlim,
1965, pp. 420-442.
20
“Visit beautiful Vietnam”. ABC der Aggressionen heute.
Colônia, 1968.
Lukács-Anders: uma correspondência
Verinotio NOVA FASE ISSN 1981 - 061X v. 27 n. 2, pp. 317-342 - mar. 2022 | 331
Estou aguardando seu livro sobre o Vietnã com grande interesse. Acho que a
única diferença entre nossos pontos de vista é que você é muito mais cético e
pessimista do que eu. Portanto, para mim é sempre um prazer constatar que seu
ceticismo nunca o impede de tomar uma posição enérgica e prática em prol de uma
boa causa.
Com os melhores cumprimentos,
Seu, Georg Lukács.
29 de dezembro de 1967
Günther Anders, 1090 Viena, Lackiererg. 1/5
Caro Sr. Lukács,
As suas últimas linhas deixaram-me extremamente feliz, fiquei especialmente feliz
com a sua última frase, na qual diz que o meu ceticismo não me impede de defender
uma boa causa. Na verdade, essa sua frase é quase idêntica àquela que ditei, anos
atrás, para os alunos o-conformistas da assim chamada Universidade Livre de Berlim,
e que dizia: “Se eu estou desesperado, o que posso fazer?”
Em alguns dias, uma primeira impressão parcial
21
de meu livro sobre o Vietnã
aparecerá em uma revista alemã. Eu tomarei a liberdade de lhe enviar uma cópia.
Talvez o livro também pudesse ser publicado na Hungria. (?)
Durante anos, pretendi ir a Budapeste de carro, a fim de conferir uma realidade
[
Wirklichkeit
] mais densa ao nosso contato, até então unicamente escrito. Se isso não
aconteceu até hoje é simplesmente porque as exigências práticas e políticas me
mantêm tão requisitado que tive de adiar os planos privados. Mas eu realmente espero
que o projeto possa finalmente ser realizado em 68.
Desejo-lhe saúde e força de trabalho para este ano novo.
Com os melhores cumprimentos,
Seu, Günther Anders.
21
“Vietnam und kein Ende” [Vietnã e sem fim], in:
Das Argument
, n. 42, 1967, pp. 1-21; “Der
amerikanische Krieg in Vietnam oder Philosophisches Wörterbuch Heute I” [A guerra americana no
Vietnã ou Dicionário filosófico contemporâneo I], in:
Das Argument
, n. 45, 1967, pp. 349-397.
György Lukács & Günther Anders
332 | Verinotio NOVA FASE ISSN 1981 - 061X v. 27 n. 2, p. 317-342 - jan./jun. 2021
6 de janeiro de 1968
Caro Sr. Anders!
Obrigado pela sua carta de 29 de dezembro. No nível humano, gostei muito da
sua atitude interior em relação ao desespero. Mas acredito que é preciso pensar além
dos afetos como esperança ou desespero. (O fato de ele não fazer isso e querer
transformar um afeto em um princípio objetivo é um dos limites intelectuais de Ernst
Bloch.) Acredito que objetivamente se trata do problema da perspectiva próxima e
distante. Pode-se muito bem ser muito pessimista sobre o presente e o futuro imediato
sem perder o horizonte mais amplo da perspectiva final. Você não precisa
necessariamente ser um marxista para fazer isso. Lembre-se de que Stendhal tinha
uma posição muito semelhante sobre o presente e o futuro.
Estou muito contente em poder conhecer seu livro sobre o Vietnã. E mais ainda
por você ter a intenção de vir a Budapeste mais cedo ou mais tarde. Seria muito bom,
e você poderia conhecer aqui alguns jovens que, com seus discursos, reforçassem seu
otimismo latente.
Com os melhores cumprimentos,
Seu, Georg Lukács.
Budapeste, 30 de novembro de 1970
Caro Anders!
A esta carta, anexo o texto do chamado
22
que eu, em defesa de Angela Davis,
ameaçada de morte, enviei a numerosos intelectuais. Acho supérfluo enfatizar o que
significam, para uma pessoa de esquerda, o processo preparatório e o previsível
julgamento caso o protesto não force a demagogia reacionária a recuar. Peço-lhe que
se junte à campanha com seu nome e reputação, e também convide intelectuais
respeitados que você conhece em seu país a aderir. Escrevi o texto de uma forma tão
22
Já prestes a morrer, Lukács decidiu iniciar uma campanha internacional em defesa da professora de
filosofia negra e comunista, Angela Davis, que havia sido demitida da Universidade da Califórnia e
figurava na lista dos dez mais procurados pelo FBI, acusada de assassinato e sequestro. Após sua
prisão, comitês pela libertação de Angela Davis se formaram do dia para a noite. Lukács comparou o
caso Davis aos casos Dreyfus e Sacco e Vanzetti; ele enviou cartas a numerosos intelectuais na França,
Alemanha, Itália e Inglaterra solicitando apoio, encontrando, no entanto, apoio limitado (cf., para uma
visão geral, KADARKAY, Arpad.
Georg Lukács. Life, Thought, And Politics
. Cambridge, 1991, pp. 467ss.).
Lukács-Anders: uma correspondência
Verinotio NOVA FASE ISSN 1981 - 061X v. 27 n. 2, pp. 317-342 - mar. 2022 | 333
geral que assiná-lo não significa que você está aderindo a um determinado programa
político. Penso que é natural, no entanto, que cada um possa apresentar a sua própria
proposta de alteração e também que cada um tenha o direito de protestar
individualmente, embora gostaria de salientar que a apresentação em conjunto tem
um maior efeito. Por favor, envie-me um telegrama se quiser participar da campanha,
informando os nomes das pessoas que o comunicaram sobre sua decisão de participar.
Peço também que persuada a imprensa de seu país, se possível, a publicar o panfleto
de protesto. Em seguida, enviarei os nomes de todos aqueles que aderiram à
campanha aos referidos órgãos de imprensa.
Com os melhores cumprimentos,
Seu, Georg Lukács.
P.S.: Você poderia me ajudar passando o endereço de Havemann, caso o
conheça?
9 de dezembro de 1970
Günther Anders, 1090 Viena, Lackiererg. 1/5
Caro Georg Lukács,
Obrigado pelo pedido. lhe disse por telegrama que pode ter o meu nome à
sua disposição. Imediatamente tentei entrar em contato com várias personalidades,
mas até agora consegui encontrar uma: o Prof. Friedrich Heer, do Burgtheater de
Viena, que imediatamente disponibilizou seu nome. Com algumas personalidades,
tenho dúvidas se devo perguntar a elas, pois certas coisas no cenário político mudaram
aqui. Chamei imediatamente a
Forvm
, não só para ganhar Nenning como signatário,
mas também sua revista, para fins de publicação do texto. Ainda não consegui falar
com Nenning pessoalmente, mas espero um telefonema dele hoje ou amanhã. Em todo
caso, seria bom ter uma lista dos que assinaram, porque em ocasiões semelhantes
a experiência é que, como reação inicial, normalmente digam: “Quem já assinou?”.
Você me informa que ainda podem ser sugeridas pequenas mudanças no texto.
Tenho uma sugestão a fazer. Parece-me que a palavra medo, que aparece na
terceira linha, tem um tom psicológico um tanto privado; eu falaria de profunda
preocupação” em vez de “medo”. Mas esta proposta não é imperiosa.
Para voltar a um dos pontos mencionados acima: me parece que o texto
György Lukács & Günther Anders
334 | Verinotio NOVA FASE ISSN 1981 - 061X v. 27 n. 2, p. 317-342 - jan./jun. 2021
poderá ser publicado quando estiver finalizado talvez haja sugestões de outras
fontes e quando um número mínimo de assinaturas for atingido.
Claro, fico pensando a quem devo perguntar aqui em Viena, não sou austríaco
nativo nem “adquirido”, então tenho que mobilizar a ajuda de amigos para isso. Quase
não homens internacionalmente famosos aqui, como critério para a seleção usarei
o fato de que as pessoas a serem consultadas também têm um nome fora das fronteiras
de nosso pequeno país.
Obrigado por tomar a iniciativa dessa campanha, com os melhores votos e
cumprimentos,
Seu, Günther Anders.
P.S.: Acabei de telefonar para Nenning, da
Forvm
. Ele também disponibiliza seu
nome. Ele também concordou em publicar seu texto, evidentemente seu argumento
foi o mesmo que o meu somente após receber uma lista de nomes e assinaturas.
Além disso, ele, que tem muito mais contatos pessoais do que eu, organizará outros
nomes de signatários.
29 de dezembro de 1970
Caro amigo Anders!
No final desta semana, através da mediação dos representantes locais dos
principais jornais mundiais, espero poder enviar ao exterior a carta de protesto em
relação à questão de Angela Davis. No entanto, se quisermos continuar a campanha,
a partir de Budapest só podemos fazê-lo de uma maneira complicada; desde um país
ocidental, isso poderia ser feito muito mais rapidamente. Enviarei mais tarde, portanto,
todo o material, com o pedido de que seja divulgado no Ocidente, tenho a convicção
de que, no interesse da causa, você assumirá esse encargo. Vou encaminhar todo
material que vier a mim para você.
Agradeço antecipadamente,
com saudações cordiais,
Seu, Georg Lukács.
Lukács-Anders: uma correspondência
Verinotio NOVA FASE ISSN 1981 - 061X v. 27 n. 2, pp. 317-342 - mar. 2022 | 335
2 de janeiro de 1971
Günther Anders, 1090 Viena, Lackiererg, 1/5
Caro amigo Lukács,
Em primeiro lugar, meus melhores votos de Ano Novo!
Suas linhas gentis e a lista de nomes acabam de chegar com as primeiras
correspondências do ano novo. Muito obrigado. Claro, vejo com horror que por engano
meu nome não aparece na lista. Eu me sinto um pouco desconfortável. Acrescentarei
meu nome nas cópias que enviarei para a publicação. É claro que, para realmente dar
andamento ao assunto, preciso de algumas cópias da declaração, cuja redação
suponho ser diferente do original, porque acho que minha proposta de alteração, que
você aceitou, não foi a única.
Aliás, na lista o que me deixa um pouco preocupado está o nome de uma
pessoa que nunca foi perguntada e que felizmente agora como acabei de descobrir
por telefone consentiu retrospectivamente com o uso de seu nome.
Em minha última mensagem expressa para você, eu o havia dado o endereço que
você pediu na DDR; mas o nome não aparece na lista.
Para que tudo dê certo, entrego imediatamente a lista completa dos signatários
para Nenning, que possui uma cópia do texto original. Mas eu gostaria de avançar
mais apenas quando tiver recebido a lista final e as palavras finais de você. Por favor,
envie-me essas peças o mais rápido possível.
Com saudações cordiais,
Seu, Günther Anders.
2 de janeiro de 1971
Günther Anders 1090 Viena, Lackiererg 1/5
Neues Forvm
Aos cuidados do Sr. Dr. Günther Nenning
Caro Günther Nenning,
Desejo-lhe um bom 1971!
Acabo de receber de Lukács a lista daqueles que assinaram seu chamado. Como
György Lukács & Günther Anders
336 | Verinotio NOVA FASE ISSN 1981 - 061X v. 27 n. 2, p. 317-342 - jan./jun. 2021
você deve se lembrar, enviei a você o texto do chamado anteriormente. Agora você
pode publicar o texto com os nomes dos signatários na próxima edição.
Lukács me pediu para divulgar o texto o mais amplamente possível na Europa.
Você poderia fazer a gentileza de citar alguns órgãos que você acha que publicariam
a declaração?
Com os melhores cumprimentos,
Seu, Günther Anders.
06 de janeiro de 1971
Caro amigo Günther Anders!
Sua carta me deixou um tanto perplexo. O fato de seu nome não constar nas
listas é um escandaloso acidente. Por favor, esqueça esse descuido o mais rápido
possível. Ao mesmo tempo, enviaremos a você a lista de assinaturas, desta vez sem
erros. Ainda não é a lista completa, esperamos acréscimos, principalmente da Itália. A
propósito: Não consegui descobrir de quem você recebeu a confirmação por telefone.
Tanto quanto me lembro, não incluímos um nome que não tenha sido confirmado
pessoalmente (por carta ou telégrafo).
Obrigado novamente pela ajuda eficaz e urgente. Desejo-lhe um feliz ano novo!
Seu, Georg Lukács.
P.S.: Não recebi uma resposta de Havemann até agora, então o nome o aparece
na lista.
8 de janeiro de 1971
Caro amigo Günther Anders!
Agora estou enviando as novas adesões à lista. Os nomes são os seguintes:
Ayer, Alfred
23
(Inglaterra), Fischer, Annie (Hungria), Hegedüs, Andras (Hungria),
Kovács, András (Hungria), Risi, Nelo (Itália). enviei a lista mais completa para o
23
No texto datilografado ainda constava o nome de Alfred Ayer, que posteriormente foi riscado a mão.
Lukács-Anders: uma correspondência
Verinotio NOVA FASE ISSN 1981 - 061X v. 27 n. 2, pp. 317-342 - mar. 2022 | 337
representante da imprensa local.
Com os melhores cumprimentos,
Seu, Georg Lukács.
9 de janeiro de 1971
Günther Anders, 1090 Viena, Lackiererg. 1/5
Caro amigo Georg Lukács,
Muito obrigado pela sua carta e pela lista acrescida.
Eu imediatamente remeti uma cópia dessa lista para a
Forvm
; e, à
Forvm
, que
por sua vez (sem minha iniciativa) recolheu nomes, pedi que me enviasse seus novos
nomes para que eu possa encaminhá-los a você.
Foi apenas por meio de suas amáveis palavras de desculpas que me lembrei que,
por acidente, meu nome estava faltando em sua lista anterior, o que tinha esquecido,
é claro. Mas, como eu disse, deslembrei novamente. Por outro lado, gostaria de
chamar a atenção para dois erros na nova lista; 1. Elisabeth Freundlich não mora na
República Federal da Alemanha, mas aqui em Viena e 2. a pessoa que segue este
nome deve ser Gollwitzer e não Gollowitzer.
Eu vou manter você informado. Por favor, me mantenha atualizado também. Em
primeiro lugar, gostaria de saber por que é que não há um único francês ou britânico
na lista.
Com os melhores cumprimentos,
Seu, Günther Anders.
Budapeste, 22 de janeiro de 1971
Caro amigo Günther Anders!
Agora estou enviando a você a lista de nomes acrescida e, espero, sem falhas.
Essa lista também não está completa: espero mais nomes dos italianos. Mas o que é
muito importante, recebi um sim incondicional por telégrafo de Havemann.
Quanto à sua pergunta: dos intelectuais de esquerda franceses, enviei cartas e
telegramas a Sartre, Semprun, Lefebvre, Aragon, aos editores das
Lettres Françaises
e
György Lukács & Günther Anders
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a Duclos. Não obtive resposta de parte alguma. Peço que tente novamente, você pode
obter respostas positivas. Até agora, o chamado com os nomes dos signatários
apareceu no
Le Monde
.
Na Inglaterra, eu só tinha uma pista: Alfred Ayer, que se recusou a entrar. Então,
escrevi uma carta para meu ex-aluno, István száros, que agora leciona na
Universidade de Brighton, mas até hoje não recebi uma resposta dele. Eu peço que
você faça mais tentativas aí também.
Obrigado novamente por sua ajuda até agora. Esperançosamente, nossos
esforços não serão malsucedidos.
Com os melhores cumprimentos,
Seu, Georg Lukács.
P.S.: Anexo uma cópia que recebi de Berlinguer, através do movimento italiano,
sobre o assunto.
28 de janeiro de 1971
Günther Anders, 1090 Viena, Lackiererg. 1/5
Caro amigo Georg Lukács,
Muito obrigado por me enviar a nova lista. Na primeira inspeção, percebi que o
Hochhuth havia sido atribuído a um domicílio errado. Hochhuth mora na Basiléia,
embora seja cidadão da República Federal. Estou melhorando essas pequenezas na
lista que vou enviar, fico feliz que a coisa com Havemann deu certo.
Ficaria muito grato se pudesse considerar esta lista como a definitiva. Porque eu
deixaria a redação nervosa se continuasse enviando novas listas.
No que diz respeito à França, estou muito certo de que há uma campanha sendo
feita nesse país. Eu poderia escrever para Sartre, mas mais correspondência atrasaria
muito a publicação da lista novamente.
Estou convencido de que você encontrará a revista
Blätter für deutsche und
internationale Politik
em uma sala de revistas da universidade. O 171 contém de
longe a cobertura mais competente do caso Angela Davis feita por meu amigo, Martin
Hall, cujo relatório sobre a América você, sim, conhecerá.
Lukács-Anders: uma correspondência
Verinotio NOVA FASE ISSN 1981 - 061X v. 27 n. 2, pp. 317-342 - mar. 2022 | 339
Obrigado pela cópia da carta de Berlinguer.
Com os melhores cumprimentos,
Seu, Günther Anders.
1º de fevereiro de 1971
Caro amigo Günther Anders!
Em minha última carta, escrevi que espero mais nomes da Itália. Nesse ínterim
fiquei sabendo que a carta sobre os movimentos italianos com a lista de participantes
estava mal endereçada, mas não consigo mais entrar em contato com seu remetente,
Nelo Risi, porque ele estava indo para a Etiópia. Peço-lhe então que se dirija a Elsa
Morante a esse respeito (Via dell’oca 27, Roma), ela pode certamente nos ajudar.
Ainda estou esperando uma carta da Inglaterra: meu ex-aluno, István száros,
me disse que estava tentando iniciar uma campanha entre os intelectuais ingleses.
Isso, creio eu, encerrará a primeira fase da nossa campanha, os próximos passos
dependerão do andamento do processo. Por favor, mantenha-me atualizado, eu
também irei mantê-lo informado sobre todos os desenvolvimentos.
Com os melhores votos,
Seu, Georg Lukács.
7 de fevereiro de 1971
Günther Anders, 1090 Viena, Lackiererg. 1/5
Caro amigo Georg Lukács,
Muito obrigado por sua carta. Por enquanto, enviei a lista à
Forvm
, ao
Stimme
der Gemeinde
e ao
Blättern für deutsche und internationale Politik
. Fiquei sabendo
que as duas primeiras revistas vão publicar o chamado na próxima edição, no que diz
respeito à terceira revista, acho que a publicação pode ser dada como certa. As
publicações futuras podem certamente conter outros signatários.
Não entendi bem por que eu escreveria para Elsa Morante, que não conheço e
que não me conhece não seria mais promissor se você mesmo fizesse isso. Mas se
você acha que é mais prático que eu faça isso, eu o farei.
György Lukács & Günther Anders
340 | Verinotio NOVA FASE ISSN 1981 - 061X v. 27 n. 2, p. 317-342 - jan./jun. 2021
Na minha opinião, novas etapas ainda o devem ser preparadas, pois
dependerão do julgamento contra Angela Davis, e esse julgamento ainda não
começou. Receio que se interviermos muito cedo, quando nada é previsível nem é
necessário pedir algo específico, nossa pólvora se esgotará. Então, primeiro eu faria
uma pausa.
Claro, vou mantê-lo atualizado e ficarei ao seu lado caso algo aconteça em breve,
com meus melhores cumprimentos,
Seu, Günther Anders.
Budapeste, 23 de fevereiro 1971
Caro amigo Günther Anders!
Perdoe-me por o escrever tanto tempo, mas estava esperando para falar
sobre os últimos desenvolvimentos do caso Davis. O camarada Aptheker me informou
que o custo do processo ainda pode ultrapassar US$ 100.000 é por isso que sugeri
esta nova campanha.
Estou encaminhando agora o texto do próximo chamado à imprensa mundial.
Como você pode entrar em contato com Nenning indiretamente, gostaria de pedir-lhe
que forneça o texto do chamado para as colunas da
Neues Forvm
.
Aliás, você ouviu alguma novidade de Morante sobre os movimentos italianos?
Agradeço antecipadamente por seus esforços. Com os melhores cumprimentos,
Seu, Georg Lukács.
P.S.: Infelizmente não consigo encontrar a revista mencionada aqui. Peço-lhe, se
não for difícil, que me envie uma cópia.
27 de fevereiro de 1971
Günther Anders, 1090 Viena, Lackiererg. 1/5
Caro amigo,
Muito obrigado por sua carta e pelo depósito: o segundo chamado relacionado
Angela Davis. Em anexo envio-lhe o artigo que mencionei na minha última carta
extraído da revista de esquerda
Blätter für deutsche und internationale Politik
ficaria
Lukács-Anders: uma correspondência
Verinotio NOVA FASE ISSN 1981 - 061X v. 27 n. 2, pp. 317-342 - mar. 2022 | 341
muito grato por comentários ocasionais.
Estou um tanto hesitante quanto à sua nova campanha. Angela Davis tem cinco
dos melhores advogados da América, e o financiamento da defesa e os custos legais
são amplamente aceitos e assegurados pelo povo americano. Temo que a mulher
possa ser prejudicada se um financiamento estrangeiro for acrescido. É por isso que
estou relutante em recorrer à
Neues Forvm
para a publicação do chamado. Por favor,
não entenda mal a minha recusa. Não nos diferenciamos no objetivo, mas sim na tática
para atingir o objetivo. Se meu argumento não soar convincente para você, é claro que
você ainda tem a opção de enviar pessoalmente seu texto para Günther Nenning (a
propósito, espero que seu primeiro chamado e os nomes dos signatários sejam
publicados na próxima edição da
Neues Forvm
).
Eu ficaria muito triste se essa diferença de tica fosse prejudicial para o nosso
relacionamento. Mas eu realmente não consigo imaginar isso.
Com os mais calorosos cumprimentos,
como sempre, seu, Günther Anders.
Budapeste, 17 de março de 1971
Caro amigo Günther Anders!
Muito obrigado pela sua carta e pelo artigo (já o envio de volta em anexo).
Compreendo perfeitamente suas preocupações a respeito da minha nova
campanha. Concordo plenamente com você que não diferimos quanto ao objetivo, mas
apenas quanto à tica usada para atingir o objetivo. Se me dirigir pessoalmente a
Günther Nenning, significa que as consultas indiretas sobre este assunto com o
camarada Aptheker e com os advogados de Davis me convenceram de que esta nova
campanha é essencial para atingir nosso objetivo. Aliás, na minha [opinião], tais
diferenças táticas são inerentes ao movimento político.
Obrigado novamente pelo artigo.
Com os melhores cumprimentos,
Seu, Georg Lukács.
György Lukács & Günther Anders
342 | Verinotio NOVA FASE ISSN 1981 - 061X v. 27 n. 2, p. 317-342 - jan./jun. 2021
31 de março de 1971
Günther Anders, 1090 Viena, Lackiererg. 1/5
Caro amigo Georg Lukács,
Muito obrigado por sua carta e por devolver o artigo sobre Angela. Fico muito
feliz que você demonstre tanta compreensão pela minha concepção, diferente da sua,
acerca da técnica da campanha a favor de Angela.
Acabei de receber uma carta da filha de Aptheker pedindo-me para ajudar a
financiar a publicação de seu chamado no
New York Times
. Eu a encaminhei a Günther
Nenning: ela deveria pedir a ele que publicasse em sua revista um chamado para a
arrecadação do dinheiro.
Com os melhores cumprimentos,
Seu, Günther Anders.
27 de abril de 1971
Caro amigo Günther Anders!
Muito obrigado pelas informações sobre a correspondência com a filha de
Aptheker. A propósito, gostaria de informar que está em andamento a publicação
do meu segundo chamado na
Neues Forvm
;
24
ele aparecerá na próxima edição.
Muito obrigado por sua amável ajuda.
Com os melhores cumprimentos,
Georg Lukács.
Como citar:
LUKÁCS, György; ANDERS, Günther. Lukács-Anders: uma correspondência. Trad.
Carolina Peters e Murilo Leite.
Verinotio
, Rio das Ostras, v. 27, n. 2, pp. 317-342, mar.
2022.
24
Os chamados redigidos por Lukács foram publicados em:
Forvm
v. XVIII, n. 207, 208,1971 e
Forvm
v. XVIII, n. 210/I/II, 1971, p. 22. Cf. DAVIS, Angela. Kapitel X. In:
Freiheit - Für Wen? Ghetto, Gericht,
Gefängnis, Tod. Stimmen des Widerstands
. Neuwied; Darmstadt: Sammlung Luchterhand, 1972.