Leandro Theodoro Guedes, Elcemir Paço Cunha, Wescley Silva Xavier
Seguindo Gurvitch, Ramos argumentou que o marxismo seria uma boa
“propedêutica ao conhecimento científico do real” (RAMOS, 1955b, p. 2). Essa corrente
admitiria “como processo fundamental (e talvez exclusivo) de análise da realidade – o
das contradições” (RAMOS, 1955c, p. 1) que, por isso, desembocaria num
desconhecimento da “pluralidade de processos operatórios de dialetização” (RAMOS,
1955c, p. 1). Desse modo, escreveu o autor, “o marxismo tem sido até agora um
monismo determinista que considera a antinomia como causação geral, ou seja, que
tenta explicar o movimento e o desenvolvimento de qualquer fenômeno como
resultado do conflito de contradições” (RAMOS, 1955c, p. 1). É uma avaliação muito
visitada no século XX por uma miríade de intelectuais. Para nosso autor, essa postura
do marxismo é negada pelo processo real, na medida em que a “contradição não é o
único processo operatório de dialetização nem tampouco é invariavelmente o
principal” (RAMOS, 1955c, p. 1).
Com essa consideração, estaria justificada a superioridade do chamado
“pluralismo dialético” que, em uma notória tendência à indeterminação, “admite a
possibilidade de n+1 processos de análise dialética do real e, além disso, não atribui
a nenhum deles um caráter principal a priori. Não é uma dialética fechada, é uma
dialética aberta” (RAMOS, 1955c, p. 1). Para o autor, esse método aberto repudiaria
“toda tentativa lógica que pretenda dominar a priori o desenvolvimento do real”
(RAMOS, 1955c, p. 1). Salta aos olhos como Ramos ignora o fato de que a posição
materialista do marxismo de extração do movimento próprio da realidade e não como
apriorismo metodológico foi construída precisamente sobre a crítica à redução da
realidade objetiva à lógica, conforme a tradição do idealismo objetivo culminante em
Hegel (MARX, 2010).
Não obstante, a postura crítica a Marx foi desdobrada em outros textos de
Ramos. Em Gurvitch e o marxismo (1955), Ramos, seguindo a linha do sociólogo
francês, afirmou que a dialética de Marx “se exaspera numa escatologia profética e
promete uma culminação da história em que se elimina toda espécie de alienação e se
realiza a harmonia social ou desaparição das classes, a cessação dos conflitos”
(RAMOS, 1955b, p. 1). Sendo uma dialética dogmática, alegadamente no marxismo
“confundiram um processo lógico com um processo concreto” (RAMOS, 1955b, p. 1).
Propôs, então, evocando autores da tradição irracionalista, a vinculação entre
“dialética” e “experiência”, com base no “caráter inconcluso do acontecer histórico que
já havia sido proclamado por Dilthey, Heidegger e Jaspers” (RAMOS, 1955b, p. 1). O
Verinotio
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ISSN 1981 - 061X v. 28, n. 2, pp. 232-258 - jul-dez, 2023
nova fase