DOI 10.36638/1981-061X.2024.29.2.735  
J. Chasin e o estatuto ontológico de Marx*  
J. Chasin and the ontological statute of Marx  
Antônio José Lopes Alves***  
Resumo: O presente artigo tem como objetivo  
principal caracterizar o legado de J. Chasin sobre  
o estatuto ontológico marxiano e a sua  
respectiva resolução metodológica. Para tanto,  
serão analisados os temas específicos que  
compõem a proposta inovadora do autor. São  
eles: a análise imanente; o significado do estatuto  
ontológico marxiano propriamente dito, que  
inclui a afamada tese das “três fontes”, como  
modo tradicional de atribuir às origens do  
pensamento de Marx; o caráter metodológico aí  
decorrente; as possíveis consequências da  
proposta chasiniana, sobretudo, no que diz  
respeito à “metapolítica”, a formação da  
individualidade e, por fim, a denúncia dos limites  
teóricos de Lukács, principalmente em relação à  
“dialética do universal do articular e do singular”,  
que somados a outros percalços, sustenta o  
“vínculo lógico entre para Marx e Hegel”  
presente em determinas obras do filósofo  
húngaro.  
Abstract: The main objective of this article is to  
characterize J. Chasin’s legacy on Marx’s  
ontological  
status  
and  
its  
respective  
methodological resolution. To this end, the  
specific themes that make up the author’s  
innovative proposal will be analyzed. These are:  
immanent analysis; the meaning of Marx’s  
ontological status itself, which includes the  
famous thesis of the “three sources”, as a  
traditional way of attributing the origins of  
Marx’s thought; the methodological character  
resulting from it; the possible consequences of  
Chasin’s proposal, especially with regard to  
“metapolitics”, the formation of individuality  
and, finally, the denunciation of Lukács’  
theoretical limits, mainly in relation to the  
“dialectic of the universal of the particular and  
the singular”, which, together with other  
setbacks, sustains the “logical link between  
Marx and Hegel” present in certain works of the  
Hungarian philosopher.  
Palavras-chave: Marx; Ontologia; J. Chasin; G.  
Lukács.  
Keywords: Marx; Ontology; J. Chasin; G. Lukács.  
Introdução:  
Ao assinalar, de imediato, quase 30 anos após a sua primeira edição, a  
importância e atualidade do livro Marx: estatuto ontológico e resolução metodológica,  
para a devida recuperação do pensamento marxiano, é necessário destacar a  
caracterização crítica de Chasin, contida no livro, acerca do que se entende de modo  
disseminado contemporaneamente por “leitura”. Essa caracterização é de importância  
*
Versão modificada da Apresentação ao livro de autoria de J. Chasin, intitulado Marx: Estatuto  
ontológico e resolução metodológica, publicado em 2009, em segunda edição, pela Boitempo editorial,  
São Paulo.  
**  
Doutora em educação (UFMG) e professora titular aposentada do departamento de  
filosofia da UFMG. Coordenadora do grupo de pesquisa Marxologia: filosofia e estudos confluentes  
(CNPq). E-mail: evaisman@fafich.ufmg.br  
***  
Doutor em Filosofia (UNICAMP), professor titular da UFMG, onde atua como docente no COLTEC,  
PPGE-FaE e PROMESTRE-FaE. Email: ajlopesalves@gmail.com.  
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vital, não apenas para o necessário descortínio crítico do panorama atual no mundo  
acadêmico e no cenário cultural, como também para avaliar corretamente a  
contribuição do referido livro, e, finalmente, dissipar mal-entendidos muito comuns  
quando a matéria em questão é normalmente ventilada.  
De acordo com Chasin. “leitura” tem sido concebida meramente como algo  
idêntico à interpretação, isto é, à atribuição de sentido ao texto ou documento pelo  
pesquisador/intérprete. Do que resulta simultaneamente a equivalência absoluta das  
várias interpretações ou operações hermenêuticas, uma vez que a questão da verdade  
sobre o objeto em exame se encontra totalmente afastada do âmbito da investigação,  
seja como questão sem solução, seja como um falso problema. Postulando posição  
diametralmente oposta, Chasin defende de modo contundente a análise imanente dos  
escritos marxianos. Nas palavras do autor:  
É decisivo, numa época devastada pelo arbítrio e a equivalência das  
“leituras”, ressaltar uma questão fundamental: reproduzir pelo interior  
mesmo da reflexão marxiana o trançado determinativo de seus  
escritos, ao modo como o próprio autor os concebeu e expressou.  
Procedimento, pois, que adquire articulação e identidade pela  
condução ininterrupta de uma analítica matrizada pelo respeito radical  
à estrutura e à lógica inerente ao texto examinado, ou seja, que tem  
por mérito a sustentação de que antes de interpretar ou criticar é  
incontornavelmente necessário compreender e fazer prova de ter  
compreendido. (CHASIN, 2009, p. 7)  
Forma de abordagem de um escrito que o toma em sua concretude peculiar de  
articulação objetiva de sentidos e argumentos, frente à qual cabe proceder a um  
exercício de apropriação mental que consiga, referenciando-se pelo próprio objeto,  
dar conta daquilo que exige e demanda compreensão, ou seja, “a interrogação  
pertinente tem de assumir por alvo a análise ou crítica imanente e sua adequação para  
a leitura das formações ideais” (CHASIN, 2009, p. 8).  
Acerca do modo como o texto em questão foi pensado inicialmente pelo autor,  
é útil esclarecer que Chasin entusiasmado com a possibilidade de urdir um escrito que  
pudesse, ao menos de modo aproximativo, apontar para a existência de um tecido  
teórico em Marx, em que a dimensão ontológica ganha perfil estatutário, Chasin  
acabou por criar um livro que inaugura um novo modo de identificar a natureza do  
pensamento de Marx, ainda que originalmente o escrito tenha sido pensado como um  
grande posfácio, tanto em termos quantitativos quanto, principalmente, qualitativos.  
O próprio Lukács ganhou um capítulo em especial, pois, se o filósofo húngaro  
havia desempenhado papel decisivo para o desdobramento desse veio analítico, tal  
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papel não poderia obnubilar o fato de que Lukács a despeito de suas contribuições  
decisivas nesse terreno tenha incorrido em alguns equívocos no esforço teórico  
monumental ao qual ele se dedicou febrilmente nas últimas décadas de sua vida.  
Passados vários anos após a sua primeira edição em 1995, é forçoso admiti-lo  
como uma colaboração decisiva para aquilo que o próprio Lukács denominou, com  
muita perspicácia, de “renascimento do marxismo”, mas não apenas para o caso  
brasileiro, tendo em vista que contemporaneamente esforços dessa natureza são  
praticamente inexistentes mundo afora. Trata-se, sem dúvida, de uma empreitada no  
sentido de reconhecer o caráter decisivo dessa tarefa para a devida apreensão da  
natureza do pensamento de Marx. Assim é que, guardadas as devidas proporções,  
Chasin dedicou sua vida a um programa de renascimento do marxismo que, como no  
caso do filósofo húngaro, nunca se tratou de um projeto intelectual como um fim em  
si mesmo, encerrado em limites estreitos. Trata-se, acima de tudo, de fazer a obra de  
Marx objeto de estudo rigoroso, com miras reais bem estabelecidas: compreender o  
mundo e visualizar as possíveis vias de sua transformação.  
O estatuto ontológico marxiano  
Para Chasin, após tantos anos debruçado sobre a obra de Marx e de vários  
tipos de interlocução que estabelecera com seus alunos e orientandos, ficara evidente  
que Marx provavelmente teria aprendido com Hegel, em especial, que estava impedido  
de seguir sua trilha. Havia, pois, que perseverar na compreensão positiva da obra  
marxiana, sejam quais fossem seus limites ou mesmo equívocos. Eis, sinteticamente, a  
linha condutora da pesquisa encetada por Chasin: o estatuto ontológico marxiano  
talvez possa ser enunciado do seguinte modo: é o estudo das categorias fundamentais  
em traços essenciais abstratos, em suas determinações mais gerais da existência  
social historicamente constatada ou reconhecida em toda a sua amplitude e riqueza.  
O que significa sinteticamente essa linha condutora que passou a arrimar a  
posição de Chasin frente ao pensamento de Marx e que marcou o caráter de sua  
orientação, que vinha sendo gestada pelo menos desde os anos 1980? Em termos  
breves a resposta é a seguinte:  
Estatuto é a ordem do reconhecimento ou reprodução teórica da identidade,  
natureza e constituição das coisas em si (seres ou entes) por seus complexos  
categoriais mais gerais e decisivos, independentemente, em qualquer plano, de se  
tornarem objetos de prática ou reflexão. Nesse sentido, é a teoria do reconhecimento  
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da objetividade histórico-imanente em suas distintas formas e apresentações (natureza  
e sociedade).  
É o momento mais abstrato do reconhecimento da identidade das coisas por  
si, enquanto tal um dos momentos distintos da unidade do saber, do qual participa  
um segundo, sob forma concreta, que é a ciência.  
Por via de consequência, pela própria natureza histórica e processual do ser, a  
ontologia marxiana não corresponde, nem poderia corresponder, por simples  
imperativo de coerência, à forma de um saber universal plantado sobre uma  
racionalidade autossustentada, ou seja, fundado na razão universal, nada mais que a  
versão laica ou profana de deus no dizer de Feuerbach (cf. FEUERBACH, 2007). Ou  
seja, trata-se, em verdade, de uma forma de ontologia sem parentesco com o saber  
absoluto e que, por conseguinte, recusa qualquer tipo de fundamento especulativo,  
pois a absolutização de uma teoria da fundamentação é simplesmente a afirmação  
especulativa da razão autônoma ou de um princípio de inteligibilidade situado para  
além das coisas, que garante a presença e o conhecimento do sagrado e a vitória  
antecipada do idealismo. Não correspondendo a qualquer forma de saber universal, a  
ontologia marxiana sustenta, no entanto, a possibilidade efetiva de um saber real.  
Assim, sempre de acordo com Chasin, a ontologia marxiana não é um sistema  
de verdades absolutas e abstratas, mas, antes de tudo, um estatuto teórico, cuja  
fisionomia é traçada por um feixe de lineamentos categoriais enquanto formas de  
existência do ser social (cf. VAISMAN, 2006). Em termos diretos, como convém nesse  
passo: posta em seu devido lugar, a problemática do conhecimento é, marxianamente,  
uma questão de caráter e resolução ontognosiológica.  
No saber marxiano, poder-se-ia afirmar, a título de exemplificação apenas, que  
a filosofia está inclusa sob a forma de filosofia primeira, ou seja, sob o modo de ser  
de um estatuto ontológico, código ou legalidade do ente social enquanto ente social,  
que é a plataforma das concreções científicas. Há, portanto, entre a ontologia  
estatutária e a própria cientificidade, um plexo de relações movente-movidas –  
estatuto/concreções que inclui, em seus devidos lugares, como departamentos da  
ciência da história, a problemática do conhecimento, a lógica, a epistemologia, a  
linguística etc., onde são examinadas enquanto disciplinas particulares, mas jamais  
como disciplinas fundantes ou separadas de modo arbitrário e excludente.  
A determinação imanente ao ente real ou positivo, bem como o ato mental de  
determinar que reproduz o primeiro , não constituem coações. Enquanto  
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positividade, integra o complexo da lógica objetiva da efetividade; enquanto, figura  
teórica é reprodução mental da primeira.  
Por via de consequência e remetendo a questão à radicalidade que ela exige, é  
lícito afirmar, segundo Chasin, que o corpus teórico marxiano é realizado no âmbito  
de um novo estatuto ontológico. Por essa prática teórica e por um dado conjunto de  
lineamentos explícitos, Marx deixou o legado de um específico estatuto ontológico,  
não de uma ontologia sistemática de talhe convencional ou tradicional, e não apenas  
porque careceu do tempo necessário para a realização de uma obra desse tipo, mas  
fundamentalmente pela distinção de natureza de seu estatuto ontológico, radicalmente  
oposto ao tratamento especulativo do tema.  
Chasin procura demonstrar ao longo das páginas de seu escrito que esse  
estatuto é constituído a partir do universo prático onticamente reconhecido: é um  
estatuto ôntico-ontológico, ou seja, evolve da efetividade histórica das coisas, de suas  
relações e processos para a sua reprodução conceitual, ao nível de uma trama  
categorial em sua expressão mais abstrata. Em suma, trata-se do reconhecimento do  
ontoprático por meio da força da abstração, que se faz presente, portanto, na própria  
consciência cotidiana, no âmbito da atividade sensível em todas os seus diversificados  
modos de ser1.  
A originalidade da crítica à “tese das três fontes” e suas consequências  
O caráter original do livro emerge em vários momentos, embora essa não tenha  
sido de modo algum a intenção de seu autor. Em primeiríssimo lugar, a coragem e a  
desenvoltura sem peias de qualquer ordem com que Chasin analisa a afamada “tese  
das três fontes”. Há quem possa interpretar nesse procedimento como algo irrefletido,  
mas nada mais errôneo. Ao contrário, trata-se da necessidade de debruçar-se sobre  
uma questão de rara importância que restou, por motivos que o próprio Chasin  
evidencia, completamente intocada. Chasin se pôs a analisar um novo modo de dar  
origens ao pensamento de Marx. Julgava, corretamente, que sem um devido acerto de  
contas com o que denominou de “amálgama originário” não poderia encetar um  
1 Em aula no curso de pós-graduação em filosofia da UFMG, no ano de 1998, Chasin chegou a utilizar  
a noção de plenitude categorial com o objetivo de determinar o efetivo caráter do ser, distinguindo-o  
assim de uma mera abstração ou vazio linguístico. Ao contrário, opondo-se à abordagem tradicional,  
em que há um esvaziamento conteudístico, a noção cunhada por Chasin denota a presença de um  
conjunto de categorias com conteúdos diversos. Como resultado dessa importante distinção, se justifica  
a insistência de Chasin em uma ontologia estatutária, rejeitando in limine a noção de sistema para  
designar a tessitura teórica das formulações marxianas.  
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comentário profundo sobre o caráter da obra de Marx.  
Segundo o autor, a determinação das origens do pensamento marxiano não é  
um problema que remeta apenas à historiografia da reflexão ocidental, como o de um  
momento particular desta, mas o correto equacionamento de tal momento condiciona  
o acesso ao caráter específico da obra de Marx. Obra que não deve ser entendida  
como mera contingência devida apenas ao talento pessoal de seu formulador, mas  
como instauração de um novo padrão de cognição e reflexão que herda determinados  
pontos da tradição e se posiciona criticamente frente a eles. Nesse sentido,  
compreender a história de constituição do pensamento marxiano é condição necessária  
para sua apreensão e entendimento, não sendo, portanto, uma interrogação  
puramente acadêmica ou erudita. Ao contrário, a resposta dada a ela possibilita, ou  
não, a apropriação da obra marxiana em seus próprios e verdadeiros termos.  
Ora, como Chasin demonstra com cuidado e rigor, ficam demonstrados a  
estreiteza e o improviso artificial do amálgama, isto é a tese de que a gênese da obra  
de Marx teria sido, no melhor dos casos, uma espécie de “síntese superadora” da  
economia política clássica, da filosofia alemã e do pensamento político francês, tese  
elaborada por demanda contingente por Kautsky (cf. KAUTSKY, 2004), avalizado  
posteriormente por Lênin (cf. LÊNIN, 1988), em lugar de reconhecer o fundamental:  
Marx como herdeiro, na ruptura, de momentos fundamentais da história da filosofia:  
da paternidade de Aristóteles a Hegel como simples padrasto.  
Em outros termos, o modo como se efetuou a apresentação da produção teórica  
marxiana, desde os princípios do marxismo, foi atribuir a esta uma origem resultante  
da mistura ou da fusão de três tradições científico-filosóficas distintas, tanto em suas  
procedências histórico-sociais quanto em seus objetos de exame. Seja tomando, de  
forma abstrata, certas alusões de Marx ao que de mais importante havia em seu tempo  
no quadro da cientificidade e da reflexão filosófica, seja recolhendo pretensos indícios  
de uma comunidade epistemológica, a tese do tríplice amálgama, como a denomina  
Chasin, fez história no campo do marxismo. Considerada como ponto pacífico da  
interpretação, a tripla origem do pensamento marxiano, a proposição em questão,  
raramente foi objeto de um exame mais detido e cuidadoso, parametrizado pela  
compreensão dos próprios textos de Marx.  
Impecável na denúncia das fragilidades da impostura teórica do texto de  
Kautsky, Chasin denuncia também as razões de ordem histórico-social e teóricas  
relativas à recepção da obra marxiana, que conduziram a que as teses esdrúxulas do  
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autor examinado permanecessem intocadas de qualquer análise acurada. De acordo  
com as próprias palavras de Chasin:  
Não fosse o século XX, em suas brilhantes conquistas materiais,  
simultaneamente uma usina multifacética de produção da falsidade  
ideal socialmente necessária, o amálgama kautskista teria se esgotado  
no perímetro acanhado de um erro teórico pessoal. Mas, engrenado  
ao desconhecimento generalizado da obra marxiana e impelido por  
outras urgências, o núcleo da fórmula pôde subsistir, propagado por  
muitos, e sob o prestígio do aval de Lênin. (CHASIN, 2009, p. 34)  
Chasin não deixa intocada a versão leniniana da “tese das três fontes”, ainda que  
reconheça a superioridade de sua análise frente àquela de Kautsky. Entretanto, longe  
de considerá-la correta, recusa qualquer contribuição de Lênin ao devido  
esclarecimento das origens do pensamento de Marx, para ao final afirmar  
enfaticamente o que se segue:  
De fato, o tríplice amálgama é, a rigor, impensável, a não ser como vaga alusão  
metafórica às doutrinas mais notáveis do universo intelectual ao qual Marx pertencia,  
e às quais ele teve o discernimento de se voltar, preferencialmente, a partir de certo  
instante de seu próprio desenvolvimento. Como as faceou, de que modo lidou com  
elas, e de que maneira foram proveitosas na instauração de seu próprio pensamento,  
são, estas sim, questões válidas, que só a direta interrogação de seus escritos –  
necessariamente de seus escritos pode legitimamente dirimir. (CHASIN, 2009, pp.  
36-7)  
Ao dá-la por resolvida, ou, ainda, por não a considerar com uma questão a ser  
devidamente enfrentada, um dos grandes erros dos intérpretes ao longo de décadas  
foi, consequentemente, não terem se ocupado a sério da gênese do pensamento de  
Marx, substituindo a questão por supostos, totalmente desprovidos de fundamentos  
nos próprios textos do autor que perfazem o período de intensa formação de seu  
pensamento próprio.  
Contudo, a correta abordagem dos escritos de Marx no que fere ao problema  
das suas origens e da especificidade impõe o conhecimento das determinações  
histórico-sociais que conformaram o momento no qual tem início o tipo de produção  
teórica propriamente marxiana. Esboço das condições efetivas do caso alemão ao  
tempo de Marx que possibilita tanto situar os modos anteriores à Crítica da filosofia  
do direito de Hegel (MARX, 2005), profundamente marcados pela especulatividade,  
quanto demarcar o efetivamente novo trazido pela posição marxiana como tal a partir  
da referida crítica.  
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Donde o destaque para a importância decisiva de Feuerbach no roteiro de  
constituição do padrão marxiano de pensamento, visto que a crítica à especulatividade  
em geral da filosofia, à hegeliana em particular, era uma tarefa absolutamente  
necessária:  
[a] crítica de Feuerbach à especulação hegeliana e de seus reclamos  
por uma nova ontologia de orientação radicalmente distinta, ou seja,  
de pronunciada inclinação imanentista-naturalista, cuja relevância, no  
impulso a novos rumos filosóficos (evidentes, por sinal, no século XX),  
independe da precariedade e contraditoriedade da polimorfia errática  
dos encaminhamentos, desfechos e irresoluções de seu próprio  
trabalho. [...] Feuerbach, como é muito bem sabido, foi o único dos  
neo-hegelianos, segundo Marx, a acertar contas com a dialética  
hegeliana e a substituir embriaguez especulativa por pensamento  
sensato (CHASIN, 2009, p. 27).  
Ao demonstrar, a partir dos próprios textos de Marx que pontuam seu caminho  
até a formulação de seu pensamento próprio, incluindo nesse itinerário, sua  
autoavaliação contida no afamado “Prefácio de 1859”, é que Chasin identifica  
precisamente o  
caráter e o momento preciso da inflexão intelectual a partir da qual  
passa a elaborar seu próprio pensamento. Trata-se de uma viragem  
ontológica que a leitura de Para a crítica da filosofia direito de Hegel  
comprova indubitavelmente, se dela o leitor se aproximar sem  
preconceitos gnosiológicos, não importa quanto o texto seja  
inacabado e lacunar, por vezes impreciso e até mesmo obscuro, visto  
não ter jamais ultrapassado a condição de glosas para o  
autoesclarecimento do autor. É o início do traçado de uma nova  
posição ontológica que os textos subsequentes de Sobre a questão  
judaica (1843) às “Glosas marginais ao Tratado de economia política  
de Adolf Wagner” (1880) – confirmam, reiteram e desenvolvem num  
largo e complexo processo de elaboração (CHASIN, 2009, p. 57).  
Ao perscrutar detalhadamente tanto os escritos de Marx elaborados no período  
propriamente juvenil, ou seja, anteriores às glosas críticas redigidas em meados de  
1843, quando da estada na localidade de Kreuznach, bem como aqueles que perfazem  
a época imediatamente posterior àquelas, ou seja, um conjunto de elaborações de  
cunho filosófico-político, empreitada diga-se de passagem - a que poucos intérpretes  
se dedicaram, Chasin descobre o caráter da ruptura teórica transcorrida nessa etapa  
do caminho desbravado por Marx. De um lado, a defesa do estado, enquanto  
racionalidade e universalidade máximas, postulação pertencente a uma série de artigos  
da Gazeta Renana, de outro, o questionamento radical dessas “virtudes”, cujo início é  
já claramente perceptível em meados de 1843, faculta uma mudança radical na  
trajetória, cujo resultado é concebido por Chasin como uma:  
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redefinição teórica [...] de tal envergadura que só pode ser facultada  
e ter explicação por uma cabal revolução ontológica. O salto extremo,  
que vai da sustentação ardorosa do estado racional como demiurgo  
da universalidade humana à negação radical de sua possibilidade,  
consubstanciado pela emergência de um complexo determinativo que  
se lastreia como reprodução ideal do efetivamente real, transcende as  
condicionantes mais próximas dúvidas e influências e dá início à  
instauração de uma nova posição filosófico-científica e à sua correlata  
postura prática (CHASIN, 2009, p. 63).  
Cabe, nesse sentido, um importante esclarecimento, pois o fato de Marx ter se  
voltado, tanto antes quanto imediatamente depois da Crítica de 43, a assuntos que  
envolveram a temática política, formulando por essa via a primeira de suas três críticas  
ontológicas, não deve ser entendido como uma escolha meramente pessoal por parte  
do autor, mas como consequência, até certo ponto inevitável, de “ênfases e prioridades  
de um determinado tempo e lugar. Todavia, proporcionou a conquista precoce de uma  
dimensão fundamental ao pensamento marxiano, que foi mantida em seus escritos até  
o fim da vida” (CHASIN, 2009, p. 63), ou seja, a determinação ontopositiva da  
politicidade (cf. CHASIN, 2022/2023; 2013)  
Em virtude do caráter de radicalidade que tal patamar crítico alcançara, note-se  
que sua realização não poderia se dar sem o confronto com a operação lógico-  
especulativa que arrima a noção de estado antes abrigada por Marx. Desse modo,  
pode-se afirmar que a primeira não teria sido realizada sem a outra, ou seja: “A  
vinculação dessas duas críticas é motivada, desde logo, pela natureza filosófica da  
obra centralmente examinada [A crítica à filosofia do direito de Hegel]” (CHASIN, 2009,  
p. 67).  
Enquanto as duas críticas acima ventiladas são, no mais das vezes, alvo de  
polêmica a respeito de sua existência e do seu papel na instauração do pensamento  
marxiano propriamente dito, o mesmo parece não ocorrer com a crítica da economia  
política, visto se tratar do subtítulo de sua obra de maturidade: O capital.  
Entretanto, embora reconhecida como parte substancial da obra marxiana,  
tendo em vista a dimensão que ocupou em seu itinerário, não foi entendida como uma  
crítica de caráter ontológico, muito ao contrário. Vários são os exemplos que indicam  
que a obra de maturidade foi tomada como resultado de exercício de ordem científica,  
cujo método era necessário vislumbrar, a partir de vetores no mais das vezes estranhos  
à própria obra pesquisada (cf. ALTHUSSER, 2015). Ou seja, a crítica da economia  
política raramente foi entendida como uma crítica de caráter ontológico (cf. LUKÁCS,  
2012). Ora, é justamente o que Chasin procura demonstrar, indicando, porém, a  
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inextricável relação dessa “terceira crítica” com as duas anteriores. Em verdade, a  
crítica da economia política  
Beneficiou-se largamente das duas primeiras, das quais nunca se  
divorciou, numa potencialização recíproca que percorreu o conjunto  
da obra marxiana, independentemente dos montantes que cada uma  
delas perfez no conjunto dos escritos. (CHASIN, 2009, p. 74)  
As duas primeiras indicaram o escopo a ser perseguido ao desvendar, de um  
lado o caráter determinante da sociedade civil, contestando a concepção hegeliana da  
demiurgia do estado, e, nesse passo, a afirmação de que “a anatomia da sociedade  
civil deve ser procurada na economia política” (MARX, 1974, p. 135).  
Longe de se configurar em uma aproximação economicista da vida social, a  
crítica da economia política, cujas bases haviam sido enunciadas já na década de 1840,  
seja nos Manuscritos de Paris ou n’A ideologia alemã, “as categorias da economia  
política são ontocriticamente elevadas à esfera filosófica, onde esplendem como malha  
categorial da produção e reprodução da vida humana” (CHASIN, 2009, p. 75).  
Tomadas de maneira ampla e não reducionista, ou seja, não como simples categorias  
econômicas, dimensões de um universo que pouco ou nada tem a ver com a formação  
humana, o enfrentamento marxiano da questão econômica, realizado por meio da  
crítica ontológica, propiciou ao autor identificar a gênese da sociabilidade e do  
indivíduo ativo. Ou dito em outras palavras:  
posta em andamento, a crítica ontológica da economia política, ao  
contrário de reduzir ou unilateralizar, induz e promove a  
universalização, estendendo o âmbito da análise desde a raiz ao todo  
da mundanidade, natural e social, incorporando toda uma gama de  
objetos e relações (CHASIN, 2009, p. 77).  
Como veremos mais à frente, há menções breves, porém necessárias, no  
contexto do presente artigo, acerca da tendência inelutável, porém contraditória da  
formação social da individualidade, em que, ao contrário do que normalmente é  
ventilado a respeito,  
a grande tematização do homem está em Marx os indivíduos sociais,  
a
individuação,  
a
formação social da individualidade.  
O
reconhecimento do forte vínculo entre indivíduo e sociabilidade,  
quando bem fundamentado, amparado nas formulações do próprio  
autor ao longo de sua obra, permite-nos compreender que a categoria  
da individualidade em Marx não é nem pode ser compreendida de  
outro modo, a não ser recaindo em mitos e supostos naturalistas ou  
transcendentais (VAISMAN, 2009, p. 442).  
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ISSN 1981 - 061X v. 29, n. 2, pp. 431-457 jul.-dez., 2024  
nova fase  
J. Chasin e o estatuto ontológico de Marx  
A resolução metodológica  
Chasin inicia o tópico do livro dedicado à “resolução metodológica” declarando  
na contracorrente das vertentes epistemológicas que: “Conferida a natureza ontológica  
do pensamento marxiano, é fértil principiar por uma honesta provocação: a rigor, não  
há uma questão de método no pensamento marxiano”, pois “todo problema  
gnosiológico importante só encontra solução no campo ontológico” (CHASIN, 2009,  
p. 79).  
Ou seja, a questão do saber em Marx está categorialmente subordinada à  
dilucidação ôntica, ao exercício da escavação pelo ser das coisas, e se resolve no plano  
ontológico. Há aqui, portanto, uma questão decisiva a ser indicada: a diferença entre  
Marx e a tradição filosófica, pois se admitirmos que  
[...] todo método pressupõe um fundamento gnosiológico, ou seja,  
uma teoria autônoma das faculdades humanas, preliminarmente  
estabelecida, que sustente ao menos parcialmente a possibilidade do  
conhecimento [...] não há, igualmente, um problema do conhecimento  
na reflexão marxiana (CHASIN, 2009, p. 79).  
O que, confrontado com o modus operandi do pensamento ocidental, poderia  
parecer uma lacuna ou lapso, aparência esta que enredou muitos autores significativos,  
que, de um modo ou de outro, pretenderam enquadrar ou classificar a cientificidade  
ontologicamente talhada da obra marxiana nos marcos das disciplinas filosóficas  
tradicionais. Tal déficit não é nada mais que aspecto ilusório; esse fato se evidencia na  
crítica marxiana mesma da lógica especulativa hegeliana, a qual não é de maneira  
alguma uma crítica de natureza meramente lógica, pois “não terá sido por resquícios  
de hegelianismo que Marx rompeu com o método lógico-especulativo, nem se situou,  
pela mediação do pressuposto ineliminável da atividade sensível do homem, para além  
da fundamentação gnosiológica (CHASIN, 2009, p. 71); é um para além do  
metodologismo, em nome do para aquém do ente.  
Por via de consequência, a determinação da atividade cognitiva é resolvida nos  
seguintes termos: “a atividade do pensamento de rigor como reprodução teórica da  
lógica intrínseca ao objeto investigado”, o que define “a tarefa do sujeito e assinalou  
o lócus da verdade” (CHASIN, 2009, p. 80).  
Tal delimitação se apresenta em sua simplicidade como inicial, fórmula sintética  
que arrima e indica a ruptura com o padrão da reflexão especulativa, sendo o objeto  
reconhecido em sua independência de nexos essenciais com relação a todas as formas  
de ideação, e o sujeito como ente ativo. Contudo, não se encontra ainda aqui a sua  
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completa determinação, tão somente a fixação da exterioridade recíprocas das duas  
instâncias, pois, “nesse momento inicial, sujeito e objeto, porquanto sejam  
reivindicados em sua terrenalidade, não são ainda distinguidos, positiva e  
especialmente, das acepções correntes ou tradicionais, parecendo que se faceiam  
como simples exterioridades” (CHASIN, 2009, p. 80).  
Mais à frente, na análise dos assim chamados Manuscritos de 1844, essas duas  
instâncias serão delimitadas por sua natureza social e ativa, não apenas no registro da  
exterioridade, marca não apagada pela relação eminentemente ativa, mas por esta  
afirmada, a qual sofrerá um processo de aprofundamento, quando “os sujeitos, então,  
serão determinados como os homens ativos e os objetos enquanto atividade sensível”  
(CHASIN, 2009, p. 81).  
O que se assiste nesse passo é a determinação mais precisa do ser que conhece,  
determinação subversiva em comparação com a forma tradicional da res cogitans.  
Seguindo o indicativo feuerbachiano de que “o ser é uno com a coisa que é”, Marx  
enumera as principais características do ser em geral, dos entes, entendido nesse  
sentido como algo mais que uma pura abstração ou fórmula vazia. Em sua  
imediaticidade, o ser não é uma simplicidade muda, mas complexo categorial mais  
geral, tecido por uma rede de determinações:  
o ser, em sua multiplicidade, é objetividade, relação e padecimento.  
Por complexificação aditiva e distintiva, no devir de seu grau  
específico de ser, o homem detém esses traços universais e agrega  
outros que compõem sua diferença específica (CHASIN, 2009, p. 82).  
Desses traços particulares ressalta a constituição prático-social tanto da  
objetividade humana quanto da subjetividade, superação efetiva e efetivadora da  
naturalidade, engendrando uma nova forma de ser objetivo sem dúvida, mas de uma  
outra natureza, como autoconstituição. Daí a importância central da prática, apontada  
como “prática mesma da fabricação do homem, sem prévia ideação ou télos último,  
mas pelo curso do ‘rico carecimento humano’, aquele pelo qual a própria efetivação  
do homem ‘existe como necessidade interna, como carência’”, o que confere ao  
padecimento humano uma fisionomia diversa do carecimento natural ou  
biologicamente determinado, carecimento que difere da mera lacuna, assinalado como  
produção e exteriorização, posição ativa do próprio carecimento humano. A  
delimitação do ser humano ultrapassa em muito aquela relação que constrange o  
singular à mera exemplaridade, pois “o indivíduo é o ser social”, o que afirma por  
consequência as forças individuais de produção de si, dentre as quais se situa a  
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capacidade de cognição, como potências sociais. Potências sociais de entificação, de  
expressão de ser e de engendramento de seres, como “afirmações ontológicas do ser”  
e não enquanto meras determinações antropológicas, realizações de uma essência  
humana tomada a priori, de uma substância que se diferencia entre suas  
singularizações. Como atualização de determinações ontológicas, a atividade dos  
indivíduos se caracteriza por seu caráter de sensibilidade, sendo por isso, multifário e  
em constante mutação, encontrando sua plena realização através da grande indústria.  
Cognição e possibilidade de cognição se acham assim condicionadas e determinadas  
por cada forma particular de entificação humana, de apropriação da multidiversidade  
objetiva do mundo e da produção de si do ser social.  
Em suma, o humano e sua mundanidade são, pois, constituídos ativamente  
pelos próprios homens, o que resulta numa sensibilidade histórica e socialmente  
produzida, bem distante da exterioridade abstrata e sem conteúdo, certeza sensível  
como produção humana, bem como a sensibilidade de seu produtor. Portanto, o  
caráter objetivo e objetivante da atividade humana exigem como pressuposto e resulta  
na posição de uma concretude, diversa da sua face inicial, formatada subjetivamente,  
pelas forças humanas objetivas de exteriorização e produção. A natureza do ato assim  
decorrente entre sujeito e objeto colocando-os em comunicação, não obstante sem  
abolir a independência recíproca de tais instâncias, superando a exterioridade inicial e  
fazendo transmigrar as determinações essenciais entre as partes da relação prática. O  
que, por seu turno, resulta na negação da unilateralidade de posições entre sujeito e  
objeto, postulada tradicionalmente pela história do pensamento, no interior da qual o  
primeiro era fixado como interioridade racional/espiritual e o segundo como  
exterioridade inerte ou conjunto de impressões sensíveis e abstratas. A propositura  
marxiana indica um intercâmbio essencial entre as duas esferas, onde “a subjetividade  
é reconhecida em sua possibilidade de ser coisa no mundo, e a objetividade como  
dynameis – campo de possíveis”, ou seja, alçar da subjetividade ao nível da efetividade,  
da materialidade, do sensível, sem a intervenção de qualquer princípio transcendental  
ou ideal, pelo meio de interação com a mundanidade, na modificação desta última,  
através da potencialização da própria objetividade, e não sob a forma da oposição  
abstrata para com ela.  
Como consequência de todo esse desenvolvimento, a reflexão marxiana, como  
já afirmado anteriormente, situa a problemática do conhecimento em seu lugar próprio,  
como determinado pelo plano esboçado no quadro das determinações ontológicas do  
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ser social, dúplice objetividade, atividade sensível e autoefetivação de si, fato este  
evidenciado no modo mesmo como Marx encadeia a exposição sintética da questão  
em Ad Feuerbach, na sequência das teses em que supera explicitamente os limites da  
filosofia anterior e da cientificidade nela exposta e fundamentada. O saber não é o  
primeiro momento, mas a apreensão mesma das coisas, a efetivação da assimilação  
dos objetos conhecidos, bem como a dilucidação das características distintivas  
principais do ente ativo que executa o ato cognitivo.  
Chasin concebe o fecho de seu texto como “recopilação de testemunhos” acerca  
da “posição ontocognitiva” marxiana. O método marxiano como enfrentamento do  
indivíduo dotado de forças sociais de apropriação do mundo sem a interposição de  
qualquer critério ou instrumento ideal, prévio, que o organiza para a tarefa em tela. A  
não-certeza inicial como ponto de partida da obtenção da certeza e da elucidação do  
real em suas conexões íntimas. Método esse que se revelará adiante como o trânsito  
entre a posição e a negação da certeza sensível, uma vez que se começa daquela, mas  
não pode nela permanecer, pois desembocar-se-ia numa representação caótica do  
todo, como no caso da população, tomado por Marx na Introduçãode 1857.  
Retomando sinteticamente os termos já tratados anteriormente, Chasin reafirma que a  
partir desta é necessário fazer o “caminho ao inverso”, que é o “caminho  
cientificamente exato da concreção ou particularização; em suma, a rota seguida pela  
cabeça no desvendamento da lógica das coisas” (CHASIN, 2009, p. 222).  
É interessante notar que, para Chasin, o padrão marxiano de cientificidade se  
caracteriza pela “inexistência de qualquer tipo de antessala lógico-epistêmica ou  
apriorismo teórico-metodológico”, o que constitui o lado negativo ou expressão da  
propositura teorética de Marx, ou seja, da ausência de todo problema de uma  
fundamentação a priori do saber. Tal expressão, longe de desvelar-se como puro déficit  
ou lacuna, de outra parte, em sua positividade sustenta “a prioridade e a regência do  
objeto ou, mais rigorosamente, da coisa enquanto tal do entificado real ou ideal em  
sua autonomia do ato cognitivo – em todo processo do conhecimento” (CHASIN, 2009,  
p. 222). Desse modo, ato ideal e idealidade não podem ser tomados como atividade  
e produto autossustentados. A prioridade da coisa, em seu irremediável e  
incontornável por-si, que se afirmará, segundo Chasin, por toda obra marxiana o seu  
cunho distintivo, dos primeiros momentos, da crítica à especulação impulsionada pelo  
enfrentamento feuerbachiano do pensamento hegeliano, aos momentos derradeiros  
constantes das Glosas a Adolf Wagner. De passagem, é importante frisar que a  
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identificação assim feita do núcleo gerativo do pensamento marxiano interdita também  
a postulação de uma ruptura ou corte entre as fases de sua constituição.  
Praticamente colado ao texto da afamada Introduçãode 1857, Chasin afirma  
que produzir abstrações e expor o objeto, traçar o perfil de entificação do mesmo,  
ordenando o material recolhido na marcha da investigação efetiva, no corpo-a-corpo  
com o ente, não são compreendidos como atos puros ou formas a priori, mas como  
submissão ativa do sujeito à lógica intrínseca do objeto real. A produção de ideias  
revela aqui uma série de determinações essenciais compartilhadas com todas as outras  
formas de apropriação do real, num conjunto articulado de procedimentos de natureza  
ontológica e não epistêmico-metodológica.  
Por fim, retomando uma passagem do prefácio da edição francesa de O capital,  
na qual se lê “não há estrada principal para a ciência, e apenas aqueles que não temem  
a fadiga de galgar suas escarpas abruptas é que têm a chance de chegar a seus cimos  
luminosos”, Chasin indica a dificuldade como elemento constante e não eliminável do  
processo de escavação do real, seguindo a advertência marxiana de que não existe um  
caminho preconfigurado na trilha da verdade, não sendo possível a suposição nem a  
busca de uma chave que abra todas as portas, facultando-nos a apreensão segura e  
infalível do objeto. Dada a dupla determinação social, de um lado as condições sociais  
da cognição, e, de outro, a existência do objeto enquanto tal, não há método que  
garanta a completa e imediata acessibilidade aos nexos essenciais das coisas. Tornam-  
se patentes todas as consequências da afirmação de que não há em Marx, a rigor, uma  
questão de método; ou seja, a recuperação do rumo tracejado na apreensão da lógica  
das coisas, enquanto caminho do cérebro, é apenas de cunho descritivo, jamais pode  
pretender à prescrição metódica. Nesse contexto, cada entificação concreta teria seu  
método; cada destino, que somente existe como destino a ser alcançado, o verdadeiro,  
não dominado no início, tem sua própria rota.  
Em suma, a elaboração marxiana da problemática do conhecimento, de acordo  
com Chasin, tem três temas específicos e interligados:  
- a fundamentação ontoprática do conhecimento;  
- a determinação (gênese ou formação) social do pensamento e a presença  
histórica do objeto;  
- a teoria das abstrações e a analítica das coisas.  
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Possíveis repercussões do livro  
Dentre as várias repercussões do livro, podem-se identificar pelo menos três,  
além das questões ontoprática e ontognosiológica. A primeira diz respeito às  
polêmicas geradas em torno dos assim chamados Manuscritos econômico-filosóficos  
de 1844; a outra, à descoberta polêmica realizada por Chasin acerca da natureza da  
política em Marx e a terceira às críticas dirigidas à Lukács.  
Um equívoco entre a multiplicidade daqueles cometidos em torno dos modos  
em que a obra de Marx foi recebida ao longo do século XX é partir dos Manuscritos  
parisienses, ignorando completamente a trajetória anterior, e tomá-los de pronto como  
“projeto filosófico”. Por outro lado, em plano bem mais largo: muitos o fizeram com  
Sartre e no seu rastro tem-se a crítica dos althusserianos. Vale como exemplo o livro  
em que Alain Badiou (1979) se pronuncia a respeito do problema em tela em termos  
de um “marxismo fundamental”, que teria como proposição básica uma antropologia  
centrada na noção multívoca de trabalho. Donde ainda, por vezes, o ser genérico  
apareceria como centro de uma antropologia, assim como, por via de consequência, a  
utopia da realização do ser genérico, e a própria política também viria a emergir como  
meio necessário de sua realização. Ao contrário: é facilmente constatável que o ser  
genérico já é hoje, na forma da alienação, não um dever-ser ou uma utopia a realizar,  
uma realização desalienada do ser genérico; não é, portanto, uma tarefa a cumprir,  
mas uma possibilidade objetiva no curso do desenvolvimento das forças produtivas e  
na transformação das relações sociais de produção com a consequente superação da  
apropriação privada dos bens de produção e da superação das formas de dominação  
daí decorrentes, ou seja, a superação do estado político.  
Embora a questão da metapolítica, expressão cunhada por Chasin, tenha sido  
objeto de outros escritos do autor, grande parte deles publicada pela Verinotio –  
Revista on-line de Filosofia e Ciências humanas sob forma de artigos e, também de  
livro, dada a importância da descoberta de tal caminho analítico acerca da politicidade  
em Marx, julgamos oportuno, no bojo do presente artigo, tecer alguns comentários a  
respeito sem, evidentemente, a pretensão de esgotá-lo, em virtude também de seu  
caráter altamente polêmico. Considera-se adequado, na medida em que nessa análise  
é exercitado o posicionamento ontológico frente à questão do estatuto da política.  
Texto marxiano fundamental nesse sentido foram as chamadas Glosas de 44 a  
Arnold Ruge. Nelas, Marx é contundente: não se pode esperar outra ação do estado  
diante das mazelas sociais que não seja administrativa. Chasin, desse modo, chama  
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atenção para a denúncia de Marx frente à tese de Ruge: exatamente por ser política  
tanto a posição da Inglaterra quanto da França, é que a miséria é, respectivamente,  
uma lei natural, uma disposição contrarrevolucionária dos proprietários e, no caso  
alemão, considerada pela falta de sentimento cristão dos ricos. Ademais, consigna que  
para Marx, já em 1844, é enganoso procurar entender um fenômeno social pela  
perspectiva do entendimento político; ressalta também a parcialidade da visão dos  
partidos: tudo é má administração e não se sonha com a reforma da sociedade isso  
exclui a tematização da transformação social ,ou seja, não veem os males no tipo de  
organização da sociedade, pois isso seria admitir sua impotência e nulidade.  
Por que o estado é impotente? Porque ele é determinado pelo caráter  
antissocial das formas da sociedade: ele é engendrado pela “natureza antissocial” da  
sociedade civil, por seus limites, contradições e fraquezas congênitas.  
O entendimento político é incapaz de se perceber como “expressão ativa,  
autoconsciente e oficial” da sociedade civil dilacerada e cindida entre vida privada e  
pública.  
É, portanto, vital nesse passo considerar a limitação do “entendimento político”  
pela via da determinação social do pensamento. No geral: é o entendimento posto  
pelas sociabilidades não emancipadas, incapazes de autonormatização, é o nível  
estreito e ilusório de racionalidade posto por sociedades intrinsecamente  
contraditórias e imaturas, cuja razão é da mesma natureza, ou seja, antissocial, isto é,  
anti-humana-societária. A política posta e exercida sobre o entendimento político é  
incapaz de ver a origem de sua estreiteza e impotência na fonte social que a engendra,  
donde a política é incapaz de senso autocrítico. A política é por natureza conservadora,  
é a conservação de si pela conservação de seus limites, limites que não pode ver e  
que deve supor inexistentes, vale dizer, para manter a ilusão de sua potência e  
universalidade. Desse modo é por excelência, e a história do século XX o comprova, o  
obstáculo objetivo e subjetivo da ascensão teórica e prática ao universo da revolução  
social. Não é casual que, ao final do século XX, com a dissolução da revolução, a  
política tenha reencontrado o ápice de sua ênfase. No particular: na pré-modernidade,  
com a identidade entre público e privado, sem, portanto, estado verdadeiro, a política  
é extensão do poder privado (propriedade privada em desenvolvimento), donde o  
entendimento político é a razão do estado privado; na modernidade, com a divisão  
total entre público e privado, a política é pura ilusão, a abstração real que parasita a  
sociabilidade; com a derrocada do Leste Europeu, em lugar de notar a falência da  
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política, notou-se a falência da pseudotransição para além do capital. Da pré-  
modernidade às pseudossociedades pós-capitalistas, tem-se, pois, o caminho do  
entendimento em termos do entendimento pré-político ao político: tanto mais  
plenamente ele se manifesta mais rombudo ele é. A falta de inteligência da  
pseudoesquerda atual é seu ponto culminante, isto é, o ponto mais raso do  
entendimento político, ao qual corresponde, sob várias formas e níveis, o marxismo  
vulgar, o oportunismo intelectual e a incompetência prática.  
Enfim, a unilateralidade do entendimento político está vinculada à posição de  
conferir prioridade à subjetividade, quando o processo do entendimento das relações  
da sociedade civil. Não há como negar: o entendimento político é fortemente vinculado  
à subjetividade à vontade, vale dizer, é o entendimento unilateralizado pela vontade,  
o olhar cego do interesse particular, e nessa unilateralidade base de todo oportunismo,  
desde o “espiritualismo” dos bem alimentados à voracidade de qualquer arrivismo. É,  
em suma, e de modo direto, promessa de realização do céu na terra pelo encantamento  
da manada de desvalidos. Base suposta dos grandes valores, é, em verdade, a  
plataforma do cinismo do desvalor, da esperteza egóica mascarada de generosidade  
ideológica. A hipóstase da subjetividade é a sagração do indivíduo isolado, reduzido  
à mesquinhez de seus próprios limites, incapaz de ver o outro a não ser como meio  
de realização de sua própria pequenez, incapaz de reconhecer os outros como forças  
sociais a integrar a si mesmos como forças pessoais, aos quais, reciprocamente, são  
disponibilizadas as forças pessoais a serem tomadas por eles, do mesmo modo, como  
forças igualmente sociais.  
De outra parte, na posição ontológica, o vínculo do entendimento é a  
objetividade, que se orienta e objetiva pela escavação do objeto real. Nessa posição o  
estado deixa de ser o lugar e o meio de realização da vontade tudo isso meramente  
um suposto da vontade, mesmo que racional para se revelar como expressão das  
contradições do conjunto da sociabilidade, da contradição configurada entre  
sociedade política e sociedade civil, e assim porque a própria sociedade civil é a  
pletora das contradições entre os interesses particulares ou particulares. O estado é,  
pois, a expressão da miséria humano-societária na verdade de sua impotência, isto é,  
expressão de sua incapacidade de autorregulação.  
Donde, segundo Chasin, Marx não desconfia do entendimento em geral, mas  
distingue formas do entendimento, diferentes em qualidade e alcance, não desliza pelo  
plano inclinado do ceticismo, mas ascende aos patamares efetivos da intelecção, ao  
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J. Chasin e o estatuto ontológico de Marx  
lugar e ao modo pelos quais se realiza e confirma. Distingue entre entendimento  
político, limitado pela subjetividade volitiva, e entendimento social, de qualidade  
ontológica, ou ontologicamente posicionado, donde levar ao ordenamento da  
subjetividade, à confirmação desta em sua natureza, e não à sua hipóstase  
desfiguradora e emasculadora.  
Assim, o entendimento político é o mais ralo e viciado dos entendimentos  
porque parte da subjetividade em seu isolamento “fantástico”. Em oposição, o  
entendimento social é o mais elevado porque é desvelamento objetivo que dá forma  
e conteúdo à subjetividade. Enquanto o primeiro é simples e grosseira manifestação  
de vontade, o segundo é descoberta e perspectivação. Enquanto o primeiro cega e  
ilude, o segundo esclarece, orienta e mobiliza. Enquanto o primeiro é a dogmática do  
querer unilateral, o segundo é a possibilidade da crítica universal.  
Ou ainda, o primeiro é meio de ilusão de si e dos outros(as) em face do  
dominado, faculdade pela qual a dominação é justificada e disfarçada; e (b) em face de  
si mesmo, autoilusão como meio de legitimação do exercício da dominação ou da  
pretensão à dominação. Em ambos os casos, a sociedade política realizada (ou seja, o  
estado) é apresentada como a contrapartida ideal da sociedade civil, a razão contra a  
desrazão, a justiça contra a injustiça, o altruísmo contra o egoísmo, o coletivismo  
contra o individualismo, a conduta ética contra a conduta do interesse pessoal e  
privado, o exercício da convivência ou ordenamento social negociado contra a  
coexistência ou ordenamento imposto; em suma, o consenso em torno da contradição  
amordaçada e congelada. Note-se a perversão: a idealidade conduz à acomodação; na  
melhor das hipóteses, à redução da idealidade ao pragmatismo: da universalidade da  
razão e da liberdade à existência reduzida à mesquinharia da vida inautêntica; é a  
democracia como pobreza de espírito. Nada de estranho, porque política e  
entendimento político são pobreza de espírito, nas quais a democracia é apenas sua  
expressão mais alta, completa e acabada; é a forma e o entendimento políticos levados  
à expressão e significado últimos.  
Ao revés, a posição ontológica, sempre de acordo com Chasin, chega ao estado  
como expressão do conflito social e à democracia como contradição desmascarada; a  
democracia não como um valor, muito menos como um valor universal, mas como uma  
forma cuja virtude está na revelação da realidade social como contradição inaceitável,  
que é preciso criticar, recusar e superar, não por formas políticas, mas contra a forma  
política que a sustenta: a democracia se realiza ao se mostrar como petição de sua  
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superação.  
Ou seja, a posição ontológica pelo desvendamento do real conduz à revolução  
social à subversão da sociedade civil (não à sua organização, mesmo porque ela já  
está perfeitamente organizada), ou seja, à transformação da forma das relações de  
produção.  
Aqui e agora, cabe determinar a relação entre revolução social e política. É  
social porque dissolve a velha sociedade; política porque derruba o velho poder a  
tarefa negativa. Ao remanso do aquário da política Marx oferece o oceano encapelado  
da revolução humano-societária. De sorte que afirmação da política ou irreflexão  
constitui uma relação intrínseca; vale dizer que desenvolvimento e afirmação do estado  
e acriticismo são momentos da unidade indissolúvel entre estado e alienação, pois  
estado e escravidão são inseparáveis”. Nesse sentido, a democracia enquanto  
contradição desmascarada é a denúncia ou desmascaramento da escravidão do estado,  
e enquanto tal a petição de sua superação.  
Além da tematização ontonegativa da politicidade, é válido neste ponto –  
evidentemente nos limites desta apresentação fazer referência a uma questão que,  
embora não tenha sido analisada em todos os seus aspectos no livro, se configura  
como a preocupação central do autor. Não por mero capricho ou opção aleatória, mas  
por se tratar de problema que as páginas da obra marxiana revelam.  
A formação social da individualidade  
Segundo Chasin, a grande tematização da individualidade está presente em  
Marx, vale dizer, os indivíduos sociais, a individuação, a formação social da  
individualidade. E isso a despeito de todas as negativas das interpretações que estão  
e estiveram em voga, no mundo acadêmico e nas agremiações políticas.  
Nesse sentido, é lícito afirmar que várias correntes do marxismo, não  
reconheceram a importância do problema, relegado que foi à condição de resquício  
da assim chamada fase de juventude de Marx, condenado, portanto, à recusa  
permanente em nome do cientificismo. Por via de consequência, trata-se de um tema  
que,  
no mais das vezes, encontrou, mesmo em autores marxistas de  
extrema relevância e competência intelectual comprovada, certo  
desentendimento. Para alguns, o problema da individualidade foi uma  
interrogação marxiana pertinente nos seus primeiros momentos, ditos  
do “Jovem Marx”, mas que se esgota na medida em que seu  
pensamento perfaz o caminho à ciência. Seria então o problema da  
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J. Chasin e o estatuto ontológico de Marx  
individuação um tema “filosófico”, uma preocupação abstrata, que  
desaparece no desenvolvimento da obra marxiana propriamente  
científica. Esta posição comparece, grosso modo, na contraposição de  
uma pretensa “antropologia” marxiana exercitada até 1847, e a  
inauguração de uma dada forma de cientificidade com os escritos da  
maturidade. Para outros comentadores, a categoria da individualidade  
nem sequer se constitui em problema ou objeto de preocupação para  
Marx, ressoando este tão-somente como eco fugaz e incongruente  
com o corpus marxiano (ALVES, 1999, pp. 255-6).  
Trata-se, contudo, de problema vital para o renascimento do marxismo, para  
utilizar a expressão cara a Lukács.  
A esse propósito, Chasin em texto inacabado, publicado postumamente, é  
veemente ao afirmar que posto e reposto em marcha, nas distintas formas de  
sociabilidade e com impulsões mais largas ou estreitas, isto é,  
[...] mais ou menos indutoras ou restringentes do processo de  
individuação, este é, positiva e negativamente, revolucionário. Em sua  
positividade estrutural de longo curso, gera, alarga e qualifica o  
complexo categorial do humano, realiza em dada medida a potência  
desse ser aberto; em suas vicissitudes concretas, no curso efetivo de  
tempos históricos delimitados, se apresenta contraditoriamente, não  
só como restrito mas corruptor de latências contidas na figura dessa  
’abertura’ em vir a ser. Tal como referido por Marx, a individuação vem  
sendo produzida na forma da alienação edifica, faz emergir, bem  
como tolhe e desnatura. Sob todas essas dimensões, positivas e  
negativas, no entanto, a individualidade é estabilidade evanescente,  
compelida à mudança, a transformações constantes, por vezes mais  
rápidas e imperiosas, outras mais lentas e deliberadas, mas  
individuação é assentamento tensionado, para o qual mutação e  
diferencialidade são uma constante. Desde o simples aspecto da  
diversidade de papéis que todo indivíduo desempenha em cada dia  
de sua existência cotidiana, até as mutações dramáticas que dele são  
exigidas pela sociedade civil em suas inflexões, bem como pelos  
andamentos da participação política. Tudo isso compreendido em  
formas sociais que alargam ou estreitam, exaltam ou sepultam toda  
ordem de valores, e ainda sob a dinâmica compreendida e  
propugnada pelo existir, sentir e pensar dos indivíduos, de suas  
satisfações e repulsas, em suma a propensão em ser mais em se  
autogerir. Como ninguém traz amarrado ao peito o embornal de sua  
essência, essa se faz, desfaz e refaz como revolucionamento  
permanente de ser indivíduo (CHASIN, 2017, p. 29).  
Por via de consequência a subjetividade propriamente dita provém da atividade  
humana exercitada. Ou seja, ela se põe na medida em que a mundanidade humana é  
posta ou, ainda, a subjetividade se realiza pela mediação da atividade sensível,  
objetivamente realizada.  
De modo que, conclusivamente, a subjetividade propriamente dita depende da  
atividade humana e esta depende daquela. Cada uma delas só é mediante a outra. Ou  
seja, efetivamente postas/presentificadas ou em ato, são dimensões que, para serem  
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realmente, o são no interior do complexo relacional objetividade/subjetividade  
(humanas ou sociais). Assim, portanto, objetividade e subjetividade humanas estão em  
determinação recíproca.  
De sorte que a subjetividade não é um ser, mas um predicado do ser  
social/humano. Não é uma existência autônoma, independente de um ser. Autonomizar  
a subjetividade (e seus produtos ideais) é transformá-la em “substância mística”,  
prebenda divina ou idealidade natural.  
Ademais, o princípio ou suposto da autonomia da razão invalida a autonomia  
do homem. Ou seja, separa o homem por consequência, a razão da autonomia  
possível (determinada em cada momento) e virtual (potência infinita e crescente de  
objetivação enquanto tal).  
Enfim, a subjetividade determina a objetividade quando faz dessa um “objeto  
de sua vontade e de sua consciência”, nas palavras de Marx. A objetividade determina  
a subjetividade enquanto base e fundamento sobre a qual aquela pode atuar e se  
desenvolver.  
Em Marx Chasin o mostra põe-se um interfluxo entre subjetividade e  
objetividade: no interior dela o ser humano adquire a sua plena subjetividade, isto é,  
na relação com a objetividade. Nesse processo, ao mesmo tempo complexo e  
contraditório, em que pela mediação progressiva da atividade e da sociedade, o ser  
humano se torna objeto para si mesmo.  
Os limites teóricos de Lukács a dialética da particularidade  
Não se deve deixar em segundo plano, ou mesmo esquecer da crítica de Chasin  
a Lukács, muito embora este último tenha exercido não apenas influência nos escritos  
do primeiro, mas sobretudo por ter identificado o caráter ontológico do pensamento  
de Marx.  
Muito mais deleitante seria cobrir com o véu do esquecimento esse importante  
capítulo do livro. Mas, o fato é que, embora Chasin reconheça plenamente o papel que  
a obra tardia de Lukács cumpriu para o devido desvelamento e resgate da questão  
ontológica em geral e em Marx em particular, ele não abriu mão de tecer sérios  
comentários críticos, principalmente, no que diz respeito às questões de ordem lógico-  
metodológica. As ressalvas recaem mormente sobre o fato de Lukács não ter  
reconhecido a existência de uma teoria das abstrações em Marx, tarefa para qual  
Chasin envidou vários esforços no sentido oposto ao longo de várias páginas do livro.  
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O resultado desse empenho, como vimos, evidencia o amparo da referida teoria em  
um tracejamento de caráter ontológico, o que evita e impede que a pesquisa sobre  
Marx seja inspirada por matrizes teóricas estranhas à sua obra.  
Ora, de acordo com Chasin, dada a ausência de tematização sobre a teoria das  
abstrações, Lukács incorre no procedimento contrário, ou seja, lança mão da dialética  
do universal, particular e singular, segundo Chasin, “uma lógica de inspiração  
extrínseca à obra marxiana” (CHASIN, 2009, p. 140).  
Ressaltando tratar-se de tema surgido em seus trabalhos voltados à estética,  
em primeiro lugar sobre a forma do livro Introdução a uma estética marxista, e,  
posteriormente como capítulo 12 da Estética, Chasin sublinha que Lukács não retornou  
ao tema em sua obra postumamente publicada, isto é, Para uma ontologia do ser  
social, o que é deveras sintomático.  
O livro publicado inicialmente em 1956 contém um amplo painel histórico da  
questão da particularidade desde Platão e Aristóteles até Hegel, passando por  
Espinosa e, especialmente Kant. Mas, independentemente, das conclusões que o  
filósofo chega a respeito de como foi tratada a categoria pelos principais expoentes  
da história da filosofia, é sobretudo Hegel que merece destaque, por ter sido  
o primeiro pensador a colocar no centro da lógica a questão das relações  
entre singularidade, particularidade e universalidade, e não apenas como um  
problema isolado, mais ou menos importante ou mais ou menos acentuado,  
mas como questão central, como momento determinante de todas as formas  
lógicas, do conceito, do juízo e do silogismo (LUKÁCS apud CHASIN, 2009,  
p. 150).  
Conquanto, como era de se esperar, dirija ao filósofo alemão sérias restrições  
devido à sua postura idealista, em várias oportunidades no texto analisado por Chasin,  
Lukács insiste em não apenas salientar os seus avanços em relação ao problema em  
tela, mas também em afirmar que o “pensamento hegeliano” seja a “tradução filosófica  
da realidade histórico-social”, quando se trata de “certas tematizações específicas”  
(CHASIN, 2009, p. 151). Tal predicado permite que, do ponto de vista lógico, seja  
possível identificar a presença de uma “dialética histórica ou lógica de novo tipo [...]  
uma lógica de conteúdos da realidade (CHASIN, 2009, p. 156).  
Condicionada à brevidade, a exposição aqui pretendida não possui por escopo  
o detalhamento do argumento chasiniano na sua íntegra, sendo o que basta nesse  
passo, chamar a atenção do leitor para o fato que Lukács, no livro em pauta, não  
obstante sublinhe as debilidades da filosofia hegeliana, não deixa, por isso, de  
reconhecer sua lógica “como lógica da realidade [...]” e, por conseguinte, a lógica  
hegeliana é compreendida pela “dialeticidade entre universal, particular e singular”  
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(CHASIN, 2009, p. 159).  
Na continuidade do livro, encontram-se menções e análises de parte de Lukács  
a respeito da doutrina do conceito, que lhe serve de base para discernir os erros e  
acertos de Hegel, contudo sempre ressalvando a importância do filósofo alemão para  
os avanços da tríade em questão. Chasin é taxativo ao afirmar que, a partir de tais  
considerações, se torna nítido, na propositura lukacsiana, o reconhecimento de um  
lugar especial consignado à lógica. Mas o seu caráter problemático não se reduz a  
isso. Lukács ao atribuir a “validade operatória” da lógica em todo e qualquer “corpus  
teórico”,  
deixa entrever que, de algum modo, Marx está ou poderia estar, em  
última análise, apoiado numa lógica enquanto sustentação operatória  
de sua prática científica, ou, pelo menos, que uma lógica poderia  
legitimar as formas de sua reflexão. Em verdade, trata-se de um  
problema não resolvido em Lukács e condicionado pelas  
contingências de seu próprio desenvolvimento intelectual (CHASIN,  
2009, p. 165).  
O dilema de Lukács se encontra, portanto, em esclarecer os andamentos das  
análises de Marx, que lhe proporcionam elementos fundamentais para a crítica da  
universalidade em Hegel, em especial “a sua generalização indevida”, como também a  
presença da categoria da particularidade, cujo papel pode ser identificado como  
“delimitando a universalidade ou mediatizando o singular”, e enfim, “a particularidade  
é o instrumento do processo determinativo” (CHASIN, 2009, p. 175).  
Reconhecendo a validade do esforço lukácsiano em rejeitar tanto a “divinização  
do universal” presente nas tendências idealistas subjetivas, quanto a “singularidade  
pura”, característica do irracionalismo, Chasin, no entanto, identifica um passo analítico  
problemático no texto lukácsiano, em parte, já criticado anteriormente pelo filósofo  
paulistano, por ter meramente intitulado a última parte do livro como “A  
particularidade no materialismo dialético”, ao invés de intitulá-lo explicitamente com o  
nome de Marx, assim como ele procede nas partes integrantes do livro até aquele  
momento, pois que para cada autor analisado o título do capítulo figura com o  
respectivo nome. Tal lapso não se dá por acaso. O passo analítico a que me refiro,  
seguindo o caminho de Chasin, diz respeito a  
um fato novo, decisivo em seu significado essencial para questionar e  
recusar o núcleo da tese sustentada no escrito: quanto mais  
estritamente lógico vai se tornando o discurso lukácsiano, tanto  
menos ele se ampara em elementos teóricos e, por conseguinte, em  
citações diretas da obra marxiana, até que estas desaparecem por  
completo dos enunciados (CHASIN, 2009, p. 176).  
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Segundo Chasin, o defeito passível de ser identificado no argumento de Lukács  
se encontra, portanto, no âmbito da “teoria ou determinação da particularidade, muito  
especificamente, da tese ou interpretação que busca estabelecer um vínculo lógico  
entre Marx e Hegel, os elos entre a elaboração lukacsiana e o pensamento expresso  
por Marx se dissolvem radicalmente” (CHASIN, 2009, p. 176). A impossibilidade de  
estabelecer tal relação de ordem lógica se justifica tendo em vista que inexistem  
escritos probantes de Marx nesse sentido, muto ao contrário. Ainda de acordo com  
Chasin “os pronunciamentos marxianos a respeito desautorizam essa velha hipótese”  
(CHASIN, 2009, p. 177).  
Que Lukács tenha evidenciado o “caráter particularizador da reflexão marxiana”  
isso é certo, o problema reside no objetivo de “estabelecer um denso vínculo lógico  
entre Marx e Hegel, exatamente porque não há como ligar esses dois autores no plano  
lógico, por meio de arrimos textuais diretos, não só porque esses efetivamente  
inexistem” (CHASIN, 2009, pp. 176-7).  
Para além disso, vale insistir, dada a inexistência de textos de Marx que  
poderiam comprovar sua hipótese, Lukács parte para o que Chasin afirma ser um  
“pensamento desiderativo”, ao lamentar o fato que Marx não realizou seu plano de  
demonstrar o que há de racional na obra de Hegel, projeto cujo único testemunho se  
encontra na carta a Engels de 1858 (CHASIN, 2009, p. 177).  
Ainda nesse mesmo diapasão, ou seja, buscando na obra de Marx possíveis  
passagens que confirmem sua hipótese, Lukács acaba por confundir “método de  
pesquisa e método de exposição”, ao pretender que a dedução da forma do valor,  
presente no capítulo 1 de O capital possua como substrato a lógica hegeliana (CHASIN,  
2009, p. 177). Tal formulação acaba por gerar a “conclusão [de] que a processualidade  
global da realidade econômica é silogística” (CHASIN, 2009, p. 184).  
Chasin, por fim, demonstra o caráter insustentável da hipótese lukacsiana, mas  
denuncia também o modo como o filósofo húngaro se deteve nos “clássicos do  
marxismo”, ou seja, Engels e Lênin, com o fito de buscar amparo para reforçar a tese  
do “vínculo lógico”. Para isso, nosso autor dedica um sem-número de páginas para  
denunciar que o que verdadeiramente está em jogo nesse caso específico, ao Lukács  
tomar determinadas passagens de Engels e Lênin como suporte, é a  
exterioridade desse problema em relação às resoluções marxianas,  
operada no desconhecimento destas e sob a premência de gerar  
respostas na guerra científica e filosófica. Em poucas palavras, é a  
exterioridade em face da obra marxiana, do complexo problemático  
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do conhecimento tomado sob o caráter e a feição em que este se  
manifestou e fixou no universo científico-filosófico extramarxiano, [...]  
ou seja, a maré montante da questão gnosiológica, que acabou por  
ocupar todos os espaços, responderam ao desafio incorporando o  
problema sob forma em que Marx o havia repelido e superado  
(CHASIN, 2009, p. 190).  
O autor do Estatuto, evidentemente, não tem como pretensão igualar certas  
impropriedades, principalmente no livro de Lukács de 1956, a outros autores que  
cometeram erros de maior monta ao introduzir conteúdos de caráter explicitamente  
gnosiológico, e, consequentemente, nitidamente extrínsecos à letra de Marx. E  
exatamente por esse motivo é que dedica algumas linhas a explicar as razões desses  
problemas recorrendo a certos aspectos do itinerário intelectual de Lukács desde sua  
fase pré-marxista, e passando, inclusive, por História e consciência de classe. De  
acordo com Chasin, “foi uma longa trajetória, uma procura árdua que cultivou  
incongruências e que não findou isenta de irresoluções e equívocos” (CHASIN, 2009,  
p. 192).  
Se levarmos em consideração que foi somente com cerca de 70 anos que  
Lukács publica a Estética, em que a questão ontológica finalmente perpassa as suas  
páginas, ainda é possível, no entanto, identificar a presença de tematizações de ordem  
gnosiológica. Trata-se do capítulo 13 em que o filósofo húngaro trata da categoria do  
em-si que “não é reconhecido ontopraticamente como atividade sensível, mas admitido  
como figura epistemológica em sua máxima abstratividade, a partir da qual [...] é  
processado o acesso científico ao concreto” (CHASIN, 2009, p. 193).  
A denúncia chasiniana é grave pois coloca em xeque tanto a assim chamada  
dialética do universal, do particular e do singular, testemunha da posição lukacsiana  
do vínculo lógico com Hegel, quanto da presença de preocupação com o método  
científico a priori uma estrita preocupação gnosiológica, portanto quando o autor  
húngaro, no capítulo 13 de sua Estética, busca fundamentar o reflexo científico no em-  
si gnosiológico. Ocorrências espantosas para quem, em sua obra postumamente  
publicada defende de forma aguerrida a presença de uma ontologia em Marx. Chasin  
não menospreza essa conquista, mas chama a atenção para a resolução parcial. No  
final Chasin como que reconhece a vitalidade da abordagem final a que chega Lukács2.  
2
No nosso ponto de vista, a leitura dessas páginas críticas é de vital importância, pois há aqueles  
leitores de Lukács mais apressados, que estacionam seja no livro Introdução a uma estética marxista  
ou, no capítulo 13 da Estética (esses últimos são minoria, dada a dificuldade do texto!) e esquecem de  
prosseguir a leitura até a Ontologia. Para tais leitores, no primeiro caso, Lukács teria defendido a  
existência de uma dialética da universalidade, particularidade e singularidade enquanto o método de  
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J. Chasin e o estatuto ontológico de Marx  
Trata-se enfim, “de uma crítica a Lukács a partir de Marx, gerada pela inspiração ou a  
própria mediação do último Lukács” (CHASIN, 2009, p. 203).  
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(Mestrado em Filosofia) Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da  
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BADIOU, A. O (re)começo do materialismo dialético. São Paulo, Global,1979.  
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FEUERBACH, L. A essência do cristianismo, Petrópolis, Editora Vozes, 2007.  
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Como citar:  
VAISMAM, Ester; ALVES, Antônio José Lopes. J. Chasin e o estatuto ontológico de Marx.  
Verinotio, Rio das Ostras, v. 29, n. 2, pp. 431-457; jul.-dez., 2024.  
Marx para explicar as formações sociais concretas até o final da vida, e, no segundo, seria uma espécie  
de kantiano “arrependido”.  
Verinotio  
ISSN 1981 - 061X v. 29 n. 2, pp. 431-457 jul.-dez., 2024 | 457  
nova fase