Ronaldo Vielmi Fortes
por João Paulo Brum, p. 335-360) – ambas formas peculiares do meio homogêneo
estético. Esse último, embora não mencione em seu título o autor húngaro, comporta
o debate fecundo feito por Guido Oldrini com as reflexões de Lukács sobre o cinema,
tomando como foco a análise da cinematografia de Chaplin. Já o primeiro se debruça
sobre uma referência importante mencionada por Lukács no curso de suas reflexões,
ao ressaltar o exemplo do domo construído por Bruneleschi, na igreja de Santa Maria
del Fiore, como um dos ápices da exemplaridade do estético no âmbito da arquitetura.
Demonstra a originalidade técnica de seu idealizador, e como sua obra reflete ao
mesmo tempo – em uma dupla mimesis – a forma e o conteúdo específicos da
edificação efetivada sobre os cânones dos princípios estéticos.
Outros temas em torno do autor presentes neste volume versam sobre suas
reflexões acerca da religião (conferir “A função da ideologia e a dinâmica das
religiosidades a partir da ontologia de György Lukács”, de Sérgio Luiz G. G. Romero,
p. 394-430), acerca dos limites de sua crítica à obra kafkiana (“Lukács, Coutinho e
Kafka: dois críticos e um enigma”, p. 504-528, por Vladmir Luís da Silva) e um terceiro
artigo que se debruça sobre elementos biográficos de Lukács (“Retorno a Budapeste:
Lukács, democracia e realismo”, Paula Alves, ver p. 361-393). Respectivamente, o
primeiro traz à luz as reflexões sobre a religião em Para uma ontologia do ser social,
obra em cujas páginas a religião é apresentada em sua dupla vertente, ideológica e
como fonte de estranhamentos. Consiste em uma rica contribuição sobre a tematização
construída pelo filósofo húngaro, uma vez que tal tratamento ainda carece de reflexões
mais depuradas, lembrando aqui a presença de tal tematização em momentos
importantes de sua obra tardia, vale lembrar o capítulo XVI de sua Estética. O artigo
que trata das considerações de Lukács sobre Kafka, com as devidas e corretas críticas
de Carlos Nelson Coutinho, retoma o debate de décadas atrás, permitindo o resgate
importante dos limites lukácsianos na compreensão da relevância da obra kafkiana. Há
de se considerar, no entanto, para além dos limites das observações de Lukács em
relação Kafka, tão bem retratados no artigo em questão, as mudanças posteriores nas
análises lukácsiana. Em momentos bem pontuais de sua obra tardia, claramente vemos
a posição do filósofo húngaro assumir ares mais positivos em relação à obra kafkiana
como demonstra essa pequena passagem de sua obra Estética, ao confrontar O
processo de Kafka, com Molloy de Beckett:
Em O processo, o incógnito absoluto do homem particular aparece
como uma anormalidade ultrajante e evocativa da indignação da
existência humana, ou seja, - embora negativamente - com base no
Verinotio
XIV |
ISSN 1981 - 061X v. 29, n. 2, pp. IX-XVI – jul.-dez., 2024
nova fase